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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

"O Mundo Que Conhecíamos" de Alice Hoffman

Posso afirmar, ao fim de tantos livros lidos sobre um tema que me apaixona - o Holocausto - que este livro é completamente diferente do que já li. 

Entre ficção e não ficção, histórias de vida reais ou ficcionadas, muitos foram os livros que passaram nas minhas mãos. Os que mais me marcaram foram sem dúvida as biografias e auto-biografias. Mas em comum, todos possuíam a vontade de retratar a época e o ambiente vivido. Muitos baseados em factos verídicos, outros mais romanceados mas sempre o Holocausto como pano de fundo. 

Esta leitura apanhou-me de surpresa! Desprevenida, porque achei que se trataria de algo dentro do género já lido. O que não tinha nada de mal porque, repito, gosto de ler sobre aquela época. Mas a pitada de realismo mágico com que nas primeiras páginas somos confrontados, surpreendeu-me sobremaneira. E foi tão bom! Encanta-me ser surpreendida desta forma!

Não vos vou contar, obviamente, de que forma a autora soube com mestria utilizar a mística para embelezar esta história mas fiquei muito curiosa com as tradições judias e só achei que faltou no final alguma explicação sobre essa pitada de realismo mágico por parte da autora. Como surgiu a ideia e em que bases ela assenta (ou não assenta)...

Mas, se por algum momento estiverem a pensar que a História sofreu algum desrespeito com esta forma de a contar, enganam-se! Vê-se bem toda a pesquisa efetuada pela autora e que acontecimentos tiveram realmente lugar. Os factos estão lá. Só é recriada uma ficção que os narra de uma forma absolutamente brilhante.

Digo-vos que a meio desta leitura tive "necessidade" de pesquisar que livros Alice Hoffman tinha escrito. Traduzidos creio que não há muitos tanto mais que ela já escreve bastantes, Veio imediatamente para cá morar o "Encantamento" cuja sinopse me agradou e o seu preço irrisório também. Não levará muito para ser lido! 

Uma escrita apaixonante, uma história que prende o leitor, uma pitada de realismo mágico que nos descreve com mestria o bem e o mal, a luz e a sombra que povoaram o nosso mundo, numa época a não esquecer e que infelizmente se tem repetido com contornos muito semelhantes noutros lugares/países.

Recomento porque adorei!

Terminado em 20 de Janeiro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

Berlim, 1941. Durante a hora mais negra da Humanidade, três inesquecíveis jovens devem agir com coragem de amor para sobreviver.

Em Berlim, na época em que o mundo mudou, Hanni Kohn sabe que deve mandar embora a filha de 12 anos, para a salvar do regime nazi. O desespero leva-a até Ettie, a filha de um rabino, cujos anos a bisbilhotar perto do pai lhe permitem criar uma criatura judia mística, um golem raro e incomum que jura proteger a filha de Hanni, Lea. Depois de Ava ganhar vida, ela, Lea e Ettie ficam eternamente ligadas, os seus caminhos predestinados a cruzar-se, os seus destinos ligados.

Lea e Ava viajam de Paris, onde Lea encontra a sua alma gémea, para um convento no Oeste de França, conhecido pelas rosas de prata, chegando a uma escola numa aldeia no topo de uma montanha onde três mil judeus foram salvos. Enquanto Ettie permanece escondida, à espera de se tornar a lutadora que está destinada a ser.

Num mundo onde o mal pode ser encontrado em cada esquina, surgem personagens extraordinárias que nos levam numa jornada impressionante de perda e resistência, entre o fantástico e o mortal, num lugar onde todos os caminhos levam ao Anjo da Morte e o amor não tem fim.

À beira da Segunda Guerra Mundial, com o controlo nazi a apertar sobre Berlim, a coragem e o amor de uma mãe oferecem à filha uma oportunidade de sobreviver.

Cris


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

"A Boa Sorte" de Rosa Montero

É tão bom terminar um livro com um sorriso no coração. Sentir que tudo se enquadrou e encaixou, que as personagens tiveram uma vida "real" enquanto estavam a ser lidas e que vão continuar por mais tempo a fazer parte de mim, que estive envolvida na história, que os acontecimentos narrados fizeram parte da vida dessas personagens mas fizeram também parte da minha. Sentir que estive lá é um dos maiores prazeres que a leitura me dá!

Este livro é fantástico. Adorei este homem de meia idade, cheio de mistérios, com quem sentimos imediata empatia mas que, e talvez por isso mesmo, é cheio de contradições e problemas por resolver. A sua vida, descobrimos com o decorrer da leitura, é um caos a que não sabe dar ordem nem sentido. Mas mesmo assim não deixamos de gostar das suas imperfeições mesmo que elas nos surjam como "defeitos", erros que o levam a atropelar quem o rodeia.

Muito bem escrito, com as palavras certas para nos demorarmos nelas e saborearmos bem os pormenores descritos. A riqueza das personagens, mesmo as secundárias, é fabulosa. Os capítulos curtos, quase sempre, são q. b., e as entradas feitas pelos diversos personagens dão um ritmo próprio que gostei particularmente. Sabemos sempre quem é a voz por detrás do pensamento e essa clareza na escrita agradou-me sobremaneira. O discurso tanto é efetuado na primeira como na terceira pessoa. Esse facto dá movimento à acção, ritmo e mexe com o leitor.

Não foi o primeiro livro que li de Rosa Montero e ja lhe conhecia a queda para estas coisas da escrita mas este livro ficará retido na minha memória. Se me esquecer da história basta falarem-me de um certo arquitecto...

Adorei!

Terminado em 11 de Janeiro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

O que leva um homem a descer de um comboio antes do fim da viagem e ir esconder-se numa cidadezinha decadente? Um desejo de recomeço ou a necessidade de acabar de vez com a vida? Pablo, o protagonista em fuga, é conduzido pelo destino a Pozonegro, um antigo centro de extração de carvão que é hoje uma localidade moribunda. No entanto, há humor nesta cidade triste e maldita, porque a vida é feita de alegria. E de segredos, claro. Todos os habitantes de Pozonegro possuem o seu. Alguns são apenas ridículos. Outros, sombrios e muito perigosos. Há gente que finge ser quem não é ou que esconde a sua verdadeira motivação, num intrincado jogo de espelhos; e há também a luminosa, imperfeita e um pouco louca Raluca, que pinta quadros e cuja vida se cruza com a de Pablo. Um romance sobre o bem e o mal, uma radiografia dos anseios humanos medo e serenidade, culpa e redenção, ódio e desejo , uma história de um amor terno e febril, A Boa Sorte espelha, sobretudo, um profundo amor à vida. No fim de contas, depois de cada perda, pode haver um recomeço. Porque a sorte só é boa se assim o decidirmos. 

Cris

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

"O Retorno" de Dulce Maria Cardoso

Aviso já que este livro foi lido com os olhos do coração e da saudade! Não esperem, por isso, qualquer isenção porque eu própria sabia que ia ser assim desde que ele saiu já há alguns anos.

Leiam a sinopse primeiro se não sabem do que trata o livro.

Foi muito bom retornar a África. Neste caso retornar é a palavra certa. Nasci nessas terras quentes e tive uma infância feliz com uma liberdade grande concedida por quem amava aquelas terras e por quem já lá tinha nascido. Ainda hoje a palavra "retornado" não faz qualquer sentido para mim. Não retornei porque este continente não era o meu. Mas nunca voltei nem tenho vontade. As memórias são coisas minhas e os meus olhos de criança já não existem a não ser nas memórias que guardo e que não quero perder. 

Posto isto que mais dizer? Este livro foi um chegar a casa, uma casa que tinha as portas sempre abertas, onde fui feliz. Se não peguei nele mais cedo foi porque os livros têm um tempo certo para ser lidos e a este, sobretudo este, ainda não tinha chegado a altura. Foi agora e foi muito bom!

Terminado a 6 de Janeiro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

1975, Luanda. A descolonização instiga ódios e guerras. Os brancos debandam e em poucos meses chegam a Portugal mais de meio milhão de pessoas. O processo revolucionário está no seu auge e os retornados são recebidos com desconfiança e hostilidade. Muitos nao têm para onde ir nem do que viver. Rui tem quinze anos e é um deles. 1975. Lisboa. Durante mais de um ano, Rui e a família vivem num quarto de um hotel de 5 estrelas a abarrotar de retornados — um improvável purgatório sem salvação garantida que se degrada de dia para dia. A adolescência torna-se uma espera assustada pela idade adulta: aprender o desespero e a raiva, reaprender o amor, inventar a esperança. África sempre presente mas cada vez mais longe.

Cris

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

"Uma Bala Com o Meu Nome" de Susana Rodríguez Lezaun

Começado ainda no ano anterior, peguei neste livro sem saber para o que ia e sem grandes expectativas, embora tivesse sido emprestado por uma amiga que o recomendou porque era livro para ser lido fluentemente e com uma história interessante.

Foi realmente. É o que eu chamo livro de "repouso" embora os tiros, as balas e as mortes façam parte da trama. Acredito que isso acontece porque a "realidade" do livro é bem diferente da minha mas consegue, através de uma escrita rápida e com sucessivos acontecimentos, não deixar esmorecer o interesse. Bem pelo contrário!

A vida de Zoe é (demasiado) pacata, sem amigos e dirigida somente para os seus interesses profissionais. A sua paixão é restaurar peças do Museu de Belas Artes de Boston, onde trabalha há largos anos. No entanto a sua vida muda drasticamente quando conhece alguém mais novo e se apaixona perdidamente. 

Ora, dizendo isto poderia parecer que a história deste livro tratar-se-ia de um destes casos de amor incompreendido, de partir as pedras da calçada! Se assim fosse teria largado a história porque não sendo um livro onde aprendesse qualquer coisa, também não me parecia que me fosse divertir e entreter com ele... A pitada de sal que vem alegrar esta história de amor que o leitor antevê dar para o torto, é toda uma série de acontecimentos ao estilo de um policial com tiros, furtos e mortes em que Zoe se vê enredada. 

Um livro que agarra, bom dentro do género, que serviu para equilibrar e diversificar as minhas leituras. Se gostam deste género, atirem-se de cabeça mas protejam-se pois podem apanhar com uma bala perdida!

Terminado em 2 de Janeiro de 2022

Estrelas: 4*

Sinopse

Zoe Bennett tem uma vida anódina e rotineira. Com quarenta anos, é uma mulher séria, solitária e com um passado triste, que se refugia no seu trabalho como restauradora no prestigioso Museu de Belas Artes de Boston. Numa festa aborrecida para conseguir doações, conhece Noah, um empregado de mesa jovem e atraente com quem, quase sem se aperceber, começa uma relação louca e tórrida. Demasiado bom para ser verdade? É o que parece.

Uma noite, Noah convence-a a visitar a oficina de restauração quando o museu já fechou as suas portas. Horas mais tarde, a tranquilidade da sua vida rebenta em mil pedaços para se transformar num redemoinho perigoso de avareza e violência onde não poderá confiar em nada nem ninguém e que despertará nela uns instintos e uma força de vontade desconhecidos até então.

Cris

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

"Sinopse de Amor e Guerra" de Afonso Cruz

Este livro de Afonso Cruz fala-nos dos muros que existem no amor e na guerra. Muros que podem ser físicos, mas não só! Há muros invisíveis, coisas silenciadas que não se comenta com o intuito de as abafarmos, de as esmagarmos como se não existissem.

Inserido na colecção do autor Geografias, histórias que escreve após viagens feitas pelo próprio, este livro transporta-nos para Berlim, no pós guerra e, posteriormente, aquando da criação do muro. A este propósito tenho de ler o Princípio de Karenina que nos leva ao Vietname e Camboja (onde antigamente era a Cochinchina), países a que nunca fui. Será que é desta que vou lá dar um pulinho?

Theobald e Bluma, amigos desde sempre, um amor com desencontros, com pausas criadas pelos dois mas, também, com separações que o exterior pode criar. Até que ponto um amor sobrevive aos muros internos e externos criados por nós e/ou pela vida?

Pelos tantos livros que já li, sei bem que o número de páginas não se reflete na qualidade de um livro, não sendo proporcional. Este, por exemplo, é bastante diminuto em páginas e, no entanto, tão grande em sentido, em experiências que tomam de assalto o leitor! E, mesmo estando consciente que estava a ler um livro muito bom e que por isso o desfecho teria a mesma qualidade, fui surpreendida quase no final. Um murro no estômago, algo que não se imagina, acontece. Só posso elogiar a mestria de Afonso Cruz e a sua forte imaginação que faz com que os romances que li não sejam esquecidos.

Gostei tanto desta "Sinopse"! Terminei em beleza o ano de 2021! Uma aprendizagem que fiz com gosto.

Terminado em 24 de Dezembro de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

Theobald Thomas e Bluma Janek estão fadados a ficar juntos desde que vêm ao mundo. Os livros são o seu ponto de encontro. Mas a Berlim do pós-guerra, uma cidade enlutada e dividida, haverá de contrariar o que o destino parecia ter escrito.

Numa noite de Agosto, sem aviso, o chão de Berlim é rasgado pelos alicerces de um muro o mais famoso da História e a promessa do primeiro beijo fica adiada.

O novo romance de Afonso Cruz parte de uma trama real em que o amor e a guerra se entrelaçam para questionar certos limites, encontrando no fado individual de dois amantes o reflexo de algo universal: o que seríamos capazes de fazer por paixão, que barreiras ultrapassaríamos? Pode o amor saltar muros sem que alguém se magoe?

Cris

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Resultado do Passatempo Mensal "Toca a Comentar"

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Novembro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado um vencedora! Foi ela:

Paula Saraiva

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 20, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:



Cris

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

"O Estranho Caso Do Cão Morto" de Mark Haddon

A ideia não é original mas está bem conseguida. É pelos olhos de Christopher que percepcionamos o mundo ao seu redor. Christopher tem 15 anos e sofre do espectro do autismo. É barra a Matemática e a Ciências, detesta que lhe toquem, sendo agressivo caso alguém o faça, não gosta do amarelo e do castanho e o seu animal de estimação é um pequeno rato. A sua mente é lógica pura, onde dificilmente entram os sentimentos porque não os compreende. É-lhe difícil perceber trocadilhos, anedotas. Não sabe mentir, nem compreende quem e porque o fazem e tudo é muito linear no seu raciocínio.

Ler este livro é aprender, entrar num mundo que é desconhecido para a maioria dos leitores. Às vezes, a vontade de sorrir, outras, uma sensação de incompreensão invadem-nos. Compreender as diferenças é tão importante para agir corretamente! É isso que tentam fazer os seus pais mas não é fácil. 

Também, e sobretudo, para Christopher compreender o mundo é uma tarefa hercúlea que lhe exige um comportamento e atitudes que o obrigam a ultrapassar as suas barreiras comportamentais, com mais ou menos sucesso. 

Um livro cheio de ternura que se lê num ápice e com gosto.

Terminado em 28 de Dezembro de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Christopher Boone, o narrador deste magnífico romance, tem apenas 15 anos e sofre de autismo. É excelente a matemática e ciências, adora o Sherlock Holmes, mas custa-lhe compreender a espécie humana; tem uma memória fotográfica, detesta o amarelo e o castanho, e não gosta de ser tocado por ninguém.

Christopher nunca tinha ido mais longe do que ao final da rua - até encontrar o cão da sua vizinha morto, no meio do jardim, com uma forquilha atravessada. Este crime despertá-lo-á para uma longa odisseia que o irá ajudar a descobrir o seu verdadeiro papel no mundo.

Cris

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A Convidada escolhe... "As Boas Intenções"

 “As Boas Intenções”, Augusto Abelaira, 1963

Este foi o penúltimo livro que li em 2021 e o segundo de Abelaira que leio este ano, depois de “A Cidade das Flores”. Quer “As Boas Intenções” quer “Sem Tecto entre Ruínas” que irei ler no início deste novo  ano foram herdados da minha irmã, os quais aguardavam a sua vez há alguns anos.

As Boas Intenções” foi escrito em 1963 e a sua acção decorre num período revolucionário, na transição entre a monarquia e a república, no início do século XX. O valor deste livro é acrescido com um posfácio escrito por Abelaira em Janeiro de 1978, que é o prefácio à 3ª edição, ou seja, quatro anos depois do 25 de Abril, “num dia de excessivo pessimismo, em plena crise governamental”. Em 1963, quando Abelaira escrevera “As Boas Intenções”, vivia-se um período de desalento, após o fracasso das ilusões suscitadas pela candidatura de Humberto Delgado e posteriormente a frustração que foi o golpe de Beja. O desalento do autor era o desalento dum povo sem esperança face a um ditador que parecia imortal. A literatura, aquele livro era uma espécie de “exorcismo”, “uma tentativa de interferir na História recorrendo a palavras mágicas”. “Só um milagre, portanto” podia deitar abaixo o regime de Salazar que parecia eterno. “Agora” (Janeiro de 1978), “que o nosso país caiu na mediocridade sem esperança, a literatura terá talvez de novo o seu papel. A magia ainda que disfarçada, digo.” Céptico em relação à possibilidade de sucesso de todas as revoluções e também da revolução de Abril, Abelaira considera “ingénuo” o seu texto, quase “um acto de superstição”, quando de novo confere à literatura o papel de enganar a História, de fazer magia, como se de um exorcismo se tratasse.

Como anteriormente referi, “As Boas Intenções” decorre no período pré-implantação da República, marcado por conspirações. Se há a crença de que o derrube da monarquia trará uma vida melhor ao povo, que os que apoiarem a República serão recompensados (com uma casa), os protagonistas mostram-se pessimistas: “As revoluções fazem-se com mentiras”. “A República não vai modificar a sorte destes homens. Para que servirá então? Para substituir clientelas?”pergunta Brenda a Vasco que lhe responde “Para entreabrir a porta por onde hão-de entrar os homens de boa vontade. Os das revoluções a sério” (pág. 234).

Maria Brenda, filha de Alexandre a Maria Carlota, envolvida no movimento conspirativo, debate com outros protagonistas a perspectiva que cada um tem sobre a revolução, sobre a mudança, sobre o presente e o futuro, sobre a realização pessoal versus satisfação do colectivo: “Sim, haverá uma revolução quando cada um de nós estiver disposto a fazê-la, só há revoluções quando somos nós que as fazemos.” A incerteza de que a revolução será vitoriosa é a falta de crença nos homens e nas ideias, a convicção de que “não há homens justos.”

O livro é um mosaico de momentos, de diálogos a acontecer entre diferentes protagonistas – Brenda e Vítor, Alexandre e Maria Carlota – que, embora distintos, têm traços comuns, são um continuum. Os anos passam, mas afinal as coisas não mudam, tudo se repete.

Lembrando a revolução de Abril e o que foi o movimento dos capitães que derrubou a ditadura em 1974, o último parágrafo de “As Boas Intenções” é extraordinariamente premonitório e refere-se à queda do regime monárquico a 5 de Outubro de 1910, com a entrada dos revoltosos no quartel de prevenção há várias noites: “Horas depois, com uma facilidade que tantos anos de sofrimento e de lutas não deixariam prever, quase sem resistência, meia dúzia de tiros ou pouco mais, o regime caía. Definitivamente?” (pág. 255)

Um livro que dá que pensar. Um mestre da literatura, atento, pessimista, para quem escrever foi uma forma de agir.


26 de Dezembro de 2021

Almerinda Bento


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

"Um Tempo a Fingir" de João Pinto Coelho

Não me devia espantar com a escrita tão envolvente de João Pinto Coelho.
Percebe-se que domina bem o tema que serve de pano de fundo deste romance - a II Guerra - porque ele surge certeiro, sem que seja despejado à força toda, com sentido e com muita pertinência.

É-nos dado uma visão da II Guerra, diferente da habitual. A trama passa-se no seio de uma cidade edificada no cume de um rochedo, Pitigliano, na Toscana em 1937 e a protagonista, pela qual sentimos uma empatia imediata, é uma italiana judia. É em torno dela que a acção vai girar e ficamos enredados nas malhas dos acontecimentos que sucedem a um ritmo rápido. A guerra encontra-se bem longe e parece que esse lugar vai ficar imune às dificuldades que traz mas aos poucos vai-se intrometendo na vida dos habitantes e sobretudo na vida de Annina.

É impossível largar estas páginas porque o ritmo dos acontecimentos vai num crescendo e já sabem, se conhecem a obra deste autor, que o twist final vai apanhar-vos de surpresa!

Muito bom! Inteligente e criativo, um romance que marca. A visão dos habitantes pertencentes a um país que esteve do outro lado da guerra.

Terminado em 19 de Dezembro de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

Toscana, Itália, 1937. O burgo de Pitigliano assenta, como um ninho de águia, no cume de um rochedo; mas nem a cidade, de túneis e catacumbas, escavada nos seus alicerces consegue abafar os segredos à superfície. É no aperto das suas muralhas que Annina Bemporad, uma judia rebelde, se despede da infância quando acorda a meio da noite com o estampido de um tiro. Se os estilhaços da tragédia acabam por atingi-la, será a partir de então que ambicionará os sonhos mais arrojados, seja na companhia de Cosimo – um rapaz disposto a dar a vida por ela –, de Alessia – a colega excêntrica que não parece encontrar um fato à sua medida, ou mesmo do enigmático Peppino, que monta espetáculos com o lixo que apanha nas ruas e a quem basta uma palavra para resgatar Annina aos seus momentos mais duros. Mas, se a beleza da rapariga gera paixões doentias e ódios desmesurados, nada faria supor que pudessem resultar num ato tão tresloucado… Restam-lhe, pois, o desejo de vingança e a queda para o fingimento para sobreviver no mundo virado do avesso em que se transformou a Itália de Mussolini, onde as Leis Raciais, que têm por alvo os judeus, anunciam a chegada dos nazis.

Profundamente imaginativo e rigorosamente documentado, Um Tempo a Fingir é um romance magistral onde desfilam personagens memoráveis e cujo enredo tem a rara qualidade de ser ao mesmo tempo absolutamente inesperado e completamente verosímil.

Cris

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Os Melhores de 2021

Antes de mais quero desejar-vos um bom ano! Que consigamos ter a serenidade suficiente para levar a bom porto os desafios que este ano nos vai trazer!

Depois, como é habitual nos primeiros dias do ano, deixo aqui as capas dos livros a que atribuí 6 estrelas. Por diferentes razões deixaram-me marcas e não vou esquecer tão cedo a sua mensagem ou o que me fizeram sentir. 

Se quiserem ler a minha opinião só têm de clicar em cima da imagem, ainda há dois ou três que não possuem opinião no blogue mas dentro destes dias vou tratar disso...

 








 

 Cris