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sábado, 30 de novembro de 2019

Na Minha Caixa de Correio

  

Comprados num alfarrabista:
- Istambul, Istambul
- Sozinho Nas Montanhas

Oferta da editora:
- O Papagaio de Flaubert, Quetzal

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

"Tundavala" de Paula Lobato de Faria

Não vos quero falar da terra onde nasci e vivi os meus primeiros onze anos, nem como a mudança abrupta de continente me marcou. Digo-vos apenas que o nome que dá título a este livro estava gravado bem cá dentro porque mal o vi percebi que tinha de ler esta história.
Não ia com expectativas criadas, queria somente ler e, se possível, relembrar sítios, cheiros e cores.
Gostei. Sobretudo, aprendi. Mais do que o enredo, que achei fidedigno da época apresentada,  gostei de relembrar a História do Portugal de 1966. Pormenores desconhecidos e que encaixaram na visão que tinha dessa época. O ambiente claustrofóbico que se vivia então, o medo e a repressão silenciosa, tudo é representativo de um país fechado em si mesmo.
Para quem não viveu nessa época e nasceu já em plena democracia, creio que esta leitura é espectacular para lembrar ou relembrar que a liberdade foi conquistada com muito sacrifício e com o peso de muitas vidas.
Senti que o final chegou depressa demais. Tinha preferido mais umas quantas páginas  que me pudessem sossegar quanto ao destino dos três irmãos, de Luisinha e de Amir  (creio que ao afirmar isso não estou a fazer nenhum spoiler)!
De resto, adorei fazer parte de uma época que conhecia só de ouvir falar! Recomendo!

Terminado em 14 de Novembro de 2019

Estrelas: 5*

Sinopse
O destino separa as duas primas, Cristiana e Lourença, próximas desde crianças. Estamos em 1966, e a primeira é dona de casa e mãe de três filhos em Lisboa, enquanto a segunda segue a carreira de enfermeira-páraquedista na guerra em Angola. O quotidiano das suas vidas desenrola-se em cenários opostos, tal como acontecia entre a Metrópole e as Colónias durante a guerra do Ultramar.

Portugal encontra-se na agonia do salazarismo; o país vive a censura e a repressão da PIDE, abafando escândalos sexuais, massacres e atentados aos direitos humanos nos territórios em guerra. As únicas notícias credíveis chegam através da imprensa estrangeira.

Enquanto os acontecimentos políticos fervilham no final do regime, as vidas de Cristiana e de Lourença sofrem o embate de encontros e reencontros inesperados que as podem transformar para sempre.

Miguel, o marido de Cristiana, não é quem ela pensava e a descoberta de uma carta antiga fá-la perceber como ele manipulou o seu futuro com Nils, o seu grande amor. Por seu turno, Lourença, refugiada em África há anos, teme não conseguir libertar-se da paixão pelo primo João, casado e a viver em Lisboa.

As histórias das personagens deste romance enlaçam-se com a própria História. A autora cria uma narrativa complexa, cativante, com um ritmo que imita o da própria vida.

Cris

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A Escolha do Jorge: Gelo


 “Gelo” – Anna Kavan (Cavalo de Ferro)
A neve tornou-se mais espessa e continuou a cair inexoravelmente, espalhando um lençol de brancura estéril sobre o rosto do mundo moribundo, enterrando os violentos e as suas vítimas numa vala comum, obliterando o último vestígio do Homem e das suas obras.” (p. 163)
“Gelo” é o romance mais representativo do percurso literário da escritora inglesa Anna Kavan, pseudónimo de Helen Emily Woods (1901-1968), que foi publicado recentemente em língua portuguesa, mais de seis décadas após a sua edição, em 1967.
Com um tom quase profético, Anna Kavan apresenta-nos uma distopia com características totalmente diferentes às demais congéneres escritas até então. Em “Gelo” percebemos nas primeiras páginas que é a própria Natureza que assume os comandos do planeta, sobrepondo-se a qualquer regime totalitário de esquerda ou de direita. Visionária ou atenta às transformações que o mundo estava a ter à data da publicação de “Gelo”, o certo é que com o arco temporal entre a sua publicação e a sua recuperação com a recente edição, é impossível não remetermos todas as transformações a que assistimos nos últimos anos para as “mudanças climáticas” (p. 163) fruto da acção nefasta do Homem na sua relação directa e indirecta com a Natureza.
Numa época em que a Guerra Fria se fazia sentir ao nível da política internacional, como confronto de posições e de poder por via do recurso ao armamento, essa ideia é transposta no romance à medida que o mundo entra em colapso fruto do avanço do gelo e frio árctico que destrói tudo e todos, arrasando por completo todo e qualquer vestígio da acção humana. “Deixou de haver estações do ano – tinham sido substituídas por um frio perpétuo.” (p. 125) “Era impossível deter os gigantescos batalhões do gelo, que marchavam a um ritmo imparável pelo mundo, esmagando, obliterando, destruindo tudo o que encontravam pelo caminho.” (pp. 101-102)
Percebemos que o gelo começa a avançar a partir das regiões mais a Norte do planeta em direcção ao Sul, fazendo com que países inteiros deixem de existir, obrigando as populações, as que conseguem, fugir em direcção a território ainda não abrangido pelo avanço do gelo. A crise de refugiados em luta pela sobrevivência é intensa e os países reorganizam-se tentando a supremacia perante outros. Os recursos naturais tornam-se cada vez mais finitos, principalmente a alimentação que escasseia porque também as trocas comerciais cessam fruto do frio intenso ao ponto de os transportes deixarem de funcionar. Tudo se transforma num verdadeiro mar branco congelado.
A luta pela sobrevivência é em si mesma uma ideia relativa porque o que sobra da humanidade vai acabar por sucumbir face ao avanço da massa de gelo. Trata-se de um cataclismo que ditará o fim da humanidade e da civilização. Por onde quer que as pessoas se voltem ou se dirigem, a morte é inevitável. “O mundo girava em direcção à morte. O gelo já tinha sepultado milhões de pessoas; os sobreviventes distraíam-se com combates e fugas, mas sempre conscientes de que o inimigo invencível estava a avançar e que, para onde quer que fossem, o gelo lá estaria, como conquistador final.” (p. 156)
São vários os momentos que se nos gravam na mente, sobretudo as descrições alusivas ao avanço do gelo e destruição de tudo quanto se lhe depara, devido à sua intensidade imagética, contudo, há uma passagem que traduz o sublime kantiano e que colide com a ideia de surreal deixando o leitor perplexo tanto quanto esmagado face à sua fragilidade e incapacidade de acção. “Vi ilhas espalhadas pelo mar, uma vista aérea normal. Depois, algo de extraordinário, não pertencente a este mundo; uma parede de gelo com as cores do arco-íris a subir do mar, a avançar, empurrando uma crista de água à sua frente ao mover-se, como se a superfície pálida do mar fosse uma carpete a ser enrolada. Era uma visão sinistra e fascinante, que não parecia destinada aos olhos humanos. Fiquei a olhar para baixo e vi outras coisas ao mesmo tempo. O mundo do gelo a espalhar-se pelo nosso mundo.” (pp. 145-146)
Não há força humana ou tecnológica, leis ou poder político capazes de fazer face ao poder da Natureza cujo planeta ficará sob a ditadura do gelo. Parece que Anna Kavan foi bastante clarividente quanto a este aspecto na medida em que a Terra, aos poucos, começa a dar sinais de não conseguir dar resposta e de se renovar mediante a actividade intensa do Homem. Hoje, mais do que nunca, as mudanças climáticas são mais do que evidentes e a humanidade tem sido alertada de que corremos o risco de a situação se tornar irreversível. As medidas implementadas até ao presente têm sido insuficientes num contexto global no que concerne à consciência cívica, moral e ambiental dos cidadãos. “Os glaciares estavam a aproximar-se. Em vez do meu mundo, em breve só haveria gelo, neve, quietude, morte; acabar-se-iam a violência, as guerras, as vítimas; só restaria silêncio gelado, ausência de vida. O último feito da Humanidade seria não apenas a autodestruição, mas a destruição de toda a vida; a transformação do mundo vivo num planeta cadáver.” (p. 157)
“Gelo” é um manifesto que procura alertar os políticos e a sociedade a nível mundial no intuito de racionalizar os recursos para as gerações futuras face à iminência do colapso civilizacional imposto pelo poder da Natureza. Com “Gelo”, Anna Kavan conduz-nos à conclusão de que não existem ideologias acima do poder e da força da Natureza. “Sentia-me oprimido por uma sensação de estranheza universal, pelo calafrio da catástrofe iminente, pela ameaça das ruínas suspensas; e também pela enormidade do que tinha sido feito, pelo peso da culpa colectiva. Tinha sido cometido um crime aterrador contra a Natureza, contra o Universo, contra a vida. Ao rejeitar a vida, o Homem tinha destruído a ordem que reinava desde o princípio dos tempos, tinha destruído o mundo; agora, estava tudo prestes a ficar em ruínas.” (p. 157)
Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Experiências na Cozinha: Sabores do Viajante

Os livros de receitas da Daniela não são apenas livros de receitas, são livros de viagens também. Para além de receitas diferentes, adaptadas aos nossos paladares, constituem também a abertura de mundos  que habitualmente não visitamos. Uma outra forma de viajar nas páginas de um livro, de saborear novos paladares e odores, de nos enriquecer.

Este livro é, pois, uma viagem que fazemos quer ao nosso país quer a outros, visitados por Daniela, de onde adaptou algumas receitas com ingredientes mais sustentáveis e "nossos", sem carne e lacticínios, etc...

A receita que vos trazemos é muito simples de fazer mas deveras deliciosa. Se forem como nós, não apreciam a cenoura cozida. É um pouquinho... Bah! Mas, assim cozinhada é muito boa mesmo! O único ingrediente que talvez seja mais "esquisito", sendo que na cozinha da Palmira e na minha já existe há muito, é o vinagre de ameixa. Como é salgado, quando o utilizo, já não coloco sal.

O vinagre de ameixa é feito a partir da ameixa umeboshi. Este vinagre é muito usado na cozinha macrobiótica pelos seus muitos efeitos terapêuticos na ajuda de muitos desequilíbrios. Ajuda na digestão e beneficia a função do fígado e vesícula. É um dos remédios caseiros TOP da macrobiótica. Como a ameixa em si é muito cara, utiliza-se mais frequentemente o vinagre e a pasta de ameixa.

Aqui ficam, então, as imagens e receita das "Cenourinhas à Algarvia":




 



Palmira e Cris

terça-feira, 26 de novembro de 2019

"Um Fio de Sangue" de Ann Yeti

A autora deste livro tinha-mo enviado para eu ler e, embora pequeno, acabou por ficar na estante esquecido...
    É uma história pequenina que no início não estava a cativar-me.  Talvez porque os personagens pouco ou nada me dissessem. Mas, eterna romântica, deixei-me contagiar pelo amor que Joana, a protagonista, começou a sentir pelo Tomás.
    O final foi o que devia ser para que este romance não se tornasse lamechas. A vida, às vezes, prega-nos partidas. É preciso estar atento e não deixar passar as oportunidades porque o amanhã pode já não ser possível.

Terminado em 11 de Novembro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
Ela tem uma paixão secreta. Ele, um trauma profundo. Ambos ergueram barreiras dolorosas de transpor. A história de um amor maior do que a vida.


A obra Um fio de sangue faz-nos mergulhar no desconhecido que leva ao amor, à fantasia e à entrega. A narrativa pauta pela intensidade de emoções, sensações, apelando aos nossos sentidos. A autora guia-nos na viagem surpreendente da relação entre os personagens principais. Uma história de desejo, fantasia, entrega e amor com um final de cortar a respiração.

Cris

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A Convidada Escolhe: Um Muro no Meio do Caminho


Um Muro no Meio do Caminho, Julieta Monginho, 2017
Um livro extraordinário.O primeiro que li de Julieta Monginho e que recebeu por unanimidade o prémio Fernando Namora. Já antes, em 2008, recebera o Grande Prémio de Romance e Novela da APE por outro livro, sendo significativa a sua produção literária. Depois de ter lido “Um Muro no Meio do Caminho” só posso dizer que tenho andado distraída, pois Julieta Monginho é uma escritora que merece ser conhecida e divulgada.
No Verão de 2016 aportou a uma ilha grega, não como turista, mas como voluntária num campo de refugiados. Este livro para o qual alerta os leitores que se trata de ficção (será mesmo?) traz-nos uma série de personagens cujas vidas estão suspensas numa “ilha que é uma prisão disfarçada de paraíso”. No meio do pó ou da lama, do calor asfixiante ou do frio inclemente que fustiga as tendas e os contentores onde se amontoam, dos ratos ou dos escorpiões, os refugiados são sobreviventes que ousaram fugir do inferno da guerra em Alepo, ou no Afeganistão e continuam a sonhar com uma Europa que os olha de lado, que os cerca de arame farpado, onde a roupa a secar é o sinal da dignidade daqueles seres humanos que estão ali para lembrar ao mundo o direito de asilo que lhes assiste por direito e a Declaração Universal dos Direitos Humanos que orgulhosamente a Europa assinala a cada 10 de Dezembro e que está na génese daquilo a que se convencionou chamar construção europeia.
As personagens que nos traz são a paleta do mundo que se encontra confinado num espaço exíguo que sendo Europa é como se não fosse e que aguardam o salvo-conduto até Atenas para daí seguirem para poderem concretizar os seus sonhos: jovens mulheres de hijab, rapazes rebeldes ou sonhadores (lunáticos?), mulheres sem chão porque perderam tudo, crianças não acompanhadas “sem casa nem futuro”, crianças abusadas, intérpretes, cineastas, voluntários incansáveis também eles “náufragos de idênticas perdas…”. São pessoas de carne e osso, escrevem e desenham em cadernos, trouxeram um telemóvel e um computador protegidos dentro dum saco de plástico, guardam a t-shirt que o filho vestia quando foi abatido, gostam de dançar e de fazer filmes, apaixonam-se. Revoltam-se, inventam esquemas para fugir, fintam a burocracia, desesperam. Quem é refugiado? Quem procura auxílio? Quem é livre?
Claramente identificada com valores de solidariedade e igualdade entre as pessoas e com especial atenção e sensibilidade para as barreiras que se erguem à emancipação e liberdade das mulheres, Julieta Monginho questiona os estereótipos, quer levar para aquela ilha e para aquelas raparigas e mulheres no Athena Centre for Women toda a bagagem teórica que trouxe de Portugal, mas coloca-se numa posição humilde, de questionamento e de profundo respeito por aquelas pessoas. “O que é que faço aqui se não lhes valho?” “… mas pouco podia fazer para ajudar.” ”Em que fresta da sua identidade entrava o meu paleio ocidental?” Afinal o testemunho escrito contido neste livro, com personagens e situações ficcionadas ou não, é por ventura o apoio que perdurará no tempo para a causa dos refugiados. Enquanto leitores/as não esqueceremos o apelo de Ashmahn, a jovem grávida, quando se despede da ilha ao encontro do marido na Alemanha “Vê e não esqueças. Vê e dá notícia.”
Este livro é uma denúncia. Um testemunho comovente. É o pulsar do real, dos nossos dias, das nossas vidas, do nosso mundo. Um abanar do acomodamento, da distância, daquilo que está longe e não me diz respeito, da insensibilidade. “O mundo já não se choca com nada.” Valha-nos a literatura para derrubar os muros que estão no meio do caminho.
18 de Novembro de 2019
Almerinda Bento

domingo, 24 de novembro de 2019

Ao Domingo com... Margarida Pereira-Müller


Fiz o ensino secundário num colégio interno feminino, o Instituto de Odivelas. Uma escola onde só havia mulheres: alunas, professoras, funcionárias. Tudo rodava à volta da dignificação da mulher e do seu importante papel na sociedade, tanto na família como na vida profissional. E, nós, alunas, tínhamos como exemplo grandes mulheres que se tinham realçado nas suas profissões, como por exemplo, a nossa professora de Desenho, Maria José Estanco, a primeira mulher a licenciar-se em Arquitetura em Portugal, a Luna Andermatt, antiga aluna em grande bailarina e que tinha o impulso necessário para o desenvolvimento do ballet no nosso país ou a Adelaide Cabete, médica e professora de Higiene e grande defensora da causa feminista, entre muitas outras mulheres.

Também em casa dos meus Pais, os exemplos eram femininos. Éramos três irmãs. Os pais tinham uma mentalidade aberta e à frente do seu tempo: as mulheres tudo podiam, bastava trabalhar e aplicar-se. Eu era a mais nova e as minhas duas irmãs foram sempre um marco nas suas carreiras académicas e profissionais.
Não é assim de admirar que os temas “mulheres” e “paridade” sempre tenham estado no topo dos meus interesses. A Luísa Paiva Boléo, que tinha lido alguns dos meus artigos biográficos sobre mulheres publicados em diversas revistas, desafiou-me para escrevermos um livro sobre mulheres pioneiras. Aceitei de imediato.
Urge dar a conhecer ao grande público o trabalho das mulheres, que muitas vezes (digamos, quase sempre) ficam na sombra, parecem invisíveis - ainda até nos dias de hoje.
No nosso livro “As Primeiras - Pioneiras Portuguesas num Mundo de Homens” (Esfera dos Livros) apresentamos somente 59 pioneiras. Muitas mais existem. A escolha não foi fácil. Mas já estamos a preparar um 2º volume com outras mulheres pioneiras que desbravam caminho neste mundo que os homens querem dominar em vez de partilhar.

Como escrevemos na Introdução do livro, “As mulheres, salvo raríssimas exceções, têm sido votadas a milénios de invisibilidade surgindo maioritariamente em papéis secundários. Tradições seculares e preconceitos sociais impediram-nas de expressar as suas opiniões, de realizar determinados trabalhos e de viver livremente. No entanto mulheres houve que ousaram enfrentar essas proibições e conseguiram vingar em profissões “masculinas”. As religiões, eivadas de ancestrais mitos, também em nada as favoreceram e eternizaram a menoridade das mulheres. (…) O objetivo desta nossa obra “As Primeiras - Pioneiras Portuguesas num Mundo de Homens “ é ajudar a retirar da sombra as vidas, vivências e legado de mulheres portuguesas que tiveram a coragem de se emancipar e serem pioneiras numa determinada área, muitas vezes contra tudo e contra todos. (…) Esperamos que estas histórias verdadeiras de mulheres que se não renderam às normas e à tradição e que escolheram ousar e seguir os seus talentos, os seus interesses, os seus sonhos, sejam inspiradoras de mudança na senda da igualdade de oportunidades.”
M. Margarida Pereira-Müller
2019/11/09












sábado, 23 de novembro de 2019

Na Minha Caixa de Correio

  

  

  

 

Oferecido por uma amiga: O Labirinto de Água
Comprados em alfarrabista e leilões na net: Marmitas Vegan, Mais Sabor Menos Desperdício, O Relartório de Brodeck (já li e saiu esta semana a minha opinião sobre este fantástico livro!) e Verity
Ofertados pelas editoras parceiras:
- O Arquipélago do Cão, Sextante
- Trieste, Sextante
- Bem Vinda a Casa, Alfaguara
- Beauty Food, Arte Plural
- 101 Histórias do Tio Julião, Marcador
- Recorda-me, Harper Collins

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

"Os Pecados do Pai" de Jeffrey Archer

Pelo que senti no decorrer desta leitura, tenho de ir-me habituando à ideia de dar seis estrelas a esta saga ... Dizia a almas amigas que costumo dar seis estrelas quando a leitura corre depressinha, quando reconheço as personagens  um ápice mesmo sendo muitas e quando as páginas voam de avião a jacto pelas minhas māos.

Ė um dos meus critérios, sendo que outro é o facto de ir aprendendo enquanto leio. Tudo encontro aqui neste segundo volume da saga dos Clifton pelo que, mais uma vez, atribuo as estrelas máximas.

Não posso afirmar que, acabados os sete volumes,  lembrar- me-ei da história na sua totalidade porque a trama, sendo completamente viciante, é de uma complexidade de situações que não se torna fácil recordarmo-nos de tudo.

Para além de acompanharmos Harry Clifton nos atropelos familiares em que se vê metido com segredos e escândalos revelados, acompanhamos a situação política da Grã-Bertanha (pois está prestes a declarar guerra à Alemanha) e também dos EUA. Está-se em 1939. 

Este livro foi, tal como o primeiro (cuja opinião podem ler aqui), uma leitura viciante que recomendo sem reservas para quem gosta de pegar num livro e embrenhar-se nele.

Terminado em 10 de Novembro de 2019
Estrelas: 6*

Sinopse
A Grã-Bretanha está na iminência de declarar guerra à Alemanha. Harry Clifton, na esperança de fugir às consequências de um escândalo familiar e percebendo que nunca poderá casar com Emma Barrington, alista-se na marinha mercante. Quando um submarino alemão afunda o seu navio, Harry e um punhado de marinheiros, entre eles um americano chamado Tom Bradshaw, são salvos pelo Kansas Star. Nessa noite, quando Bradshaw morre, Harry aproveita a oportunidade para enterrar o seu passado e assume a identidade do morto.

Nova Iorque, 1939. Tom Bradshaw é preso por homicídio qualificado. É acusado de matar o irmão. Quando Sefton Jelks, um advogado de renome de Manhattan, lhe oferece os seus serviços a troco de nada, não resta grande alternativa a Tom, que não tem dinheiro a não ser aceitar a sua garantia de uma sentença mais ligeira. Depois de julgado e condenado, Jelks desaparece e a única maneira que Tom tem de provar a sua inocência é revelando a sua verdadeira identidade, algo que ele jurou nunca fazer de forma a proteger a mulher que ama.

Entretanto, a jovem em questão viaja até Nova Iorque, deixando para trás, em Inglaterra, o filho de ambos. Recusa-se a acreditar que o homem com quem ia casar tenha morrido no mar e está decidida a fazer o que for preciso para o encontrar. A única prova que tem é uma carta, que ficou por abrir numa cornija de lareira em Bristol durante mais de um ano.
Jeffrey Archer dá seguimento à saga dos Clifton com este romance épico.

Cris

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

"O Relatório de Brodeck" de Philippe Claudel

Ponderei uns instantes antes de deixar a tinta fluir com os meus pensamentos em turbilhão. Posto isso, afirmo: Esta foi a minha melhor leitura de 2019 e será um livro que levarei para a vida. Tinham-me dito que era bom, este livro. As expectativas eram, por essa razão, altas. Às vezes isso é o bastante para que a leitura não corra bem. Espero que, com estas minhas palavras, isso não aconteça com vocês. Cheguei ao fim desta obra com o coração cheio! Foi, de facto, um livro ****** estrelas! Nunca tinha lido nada deste autor e, com uma breve pesquisa, fiquei a saber que há muitos mais livros dele para ler e todos com boas referências. Vamos ver! Lerei em breve o Arquipélago do Cão, editado pela Sextante e tirarei algumas conclusões sobre este autor, para mim, até agora, desconhecido.

A trama desta história passa-se num local físico e temporal não definido com clareza. Apercebemo-nos, com o decorrer da leitura, que decorre numa aldeia junto à fronteira com a Alemanha e os acontecimentos têm lugar depois da II Guerra. Brodeck é o escrivão da aldeia e é incumbido (aka, forçado) de escrever um relatório sobre o "desaparecimento" de um viajante que se tinha instalado há pouco tempo na aldeia e sobre o qual ninguém sabia grande coisa. Brodeck desconfia de assassínio.

Paralelamente à escrita desse relatório, ao qual nós leitores não temos acesso, Brodeck vai escrevendo esta história, este livro. É, pois, o narrador e é com o seu olhar atento que vamos descobrindo segredos que envolvem a sua infância, juventude e, mais recentemente, a sua "estadia" num campo de concentração. A narrativa está muito bem escrita e pode, em certas alturas, ferir a sensibilidade do leitor pois alguns aspectos são impressionantes, fortes e intensos. A aldeia e os seus habitantes estão envoltos numa aura de mistério que muito me agradou.

O passado e o presente da história de vida de Brodeck estão bem interligados e são narrados com mestria, dando ao leitor uma perspectiva da época história onde se realizaram esses acontecimentos sem, contudo, os definir concretamente. Segredos que se interligam e que envolvem Brodeck e a sua família (mulher, filha e uma senhora que o criou). Considerações fabulosas sobre a vida, a morte, o poder de uns homens sobre outros, fazem deste livro um dos livros da minha vida.

Um livro para se ter na estante, sem sombra de dúvida! Pena que esteja esgotado…  Este exemplar foi um empréstimo das Bibliotecas Municipais, um serviço que agradeço e aprecio.  

Terminado em

Estrelas: 6*

Sinopse
De regresso à sua aldeia, Brodeck retoma o seu antigo trabalho de escrivão. Um dia, um estrangeiro vai viver para a povoação, mas os seus modos e hábitos estranhos levantam suspeitas; o seu discurso é formal, faz longas e solitárias caminhadas e, apesar de ser extremamente cordial e educado, nada revela sobre si próprio. Quando o estrangeiro começa a retratar a aldeia e os seus habitantes em quadros pouco lisonjeiros mas perspicazes, os aldeãos matam-no. As autoridades, que assistiram impávidas ao linchamento, ordenam a Brodeck que escreva um relatório que branqueie o incidente.

À medida que escreve o relatório oficial, Brodeck passa também para o papel a sua própria versão da verdade numa narrativa paralela. Numa prova ponderada e evocativa, ele entrelaça a história do estrangeiro na sua própria e dolorosa história e nos segredos sombrios que os habitantes da aldeia cuidadosamente escondem. Passado num tempo e lugar não definidos, O Relatório de Brodeck mistura o familiar com o desconhecido, mito e história, num romance poderoso e inesquecível.

Cris









quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Experiências na Cozinha: O Livro de Cozinha da Marta


Desta vez trazemos-vos um sopa. Reconfortante e deliciosa para estes dias de frio e chuva. Gostamos muito do livro da Marta. As suas receitas são fáceis e muito boas. Tanto servem para o dia a dia como ficam bem numa mesa mais requintada!

Fiquem então com a Sopa de Couve-flor com Cogumelos, fotos e receita. Ponham as mãos à obra e experimentem que não se vão arrepender.






Palmira e Cris

Para os Mais Pequeninos: "O Mata-Pesadelos" de Isabel Stilwell


Quem está próximo de crianças sabe que, muitas delas, frequentemente, acordam de noite com pesadelos. Assustadas, gritam pelos familiares, vivendo com horror um monstro que subitamente instalou-se no seu quarto ou algo semelhante!

Este livro aborta este tema e consegue que o João enfrente esses medos que não o deixam dormir de noite, sugerindo que os pais arranjem um "mata-pesadelos" que mais não é que um simples mata-moscas mas com poderes especiais!

Uma história que vai agradar aos pequeninos, fazendo-os sentir que os seus maiores medos podem-se combater com um "mata-pesadelos" semelhante, fruto da imaginação de alguém que sente por ele um amor maior e que sabe incutir na criança, confiança e força.

As ilustrações fazem jus à história e são (só!) espectaculares! Vejam:






Cris

terça-feira, 19 de novembro de 2019

"Morreste-me" de José Luís Peixoto

É-me muito difícil falar deste livro. Ele traduz por palavras os sentimentos do autor aquando da morte do seu pai. Saber que é um livro baseado num facto verídico e que, muito provavelmente, foi a forma que o autor encontrou para fazer um pouco do seu luto, torna a minha reflexão um pouco mais difícil. 
    Os sentimentos face à morte de um ente querido são algo de muito particular e cada pessoa sente e manifesta-os  de forma diferente. Posto isto, o que senti ao ler este livro nada tem a ver com o que acabei de dizer, ou melhor, os meus sentimentos face a esta leitura nada têm a ver com o respeito que senti ao mergulhar nos sentimentos de perda do autor.
    A escrita é poética o bastante para eu não me rever o suficiente nela. Não é o meu género de eleição e não me senti confortável ao ler o texto. Está bem escrito, sem dúvida, mas não me senti tocada.
    Sei que muita gente tem este livro como referência e as minhas expectativas eram altas em demasia. Gostei sim mas para ser sincera esperava emocionar-me com esta leitura, o que não aconteceu.

Terminado em 2 de Novembro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.

Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português.

Cris

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A Escolha do Jorge: “Milkman”


Conhecendo-te como conheço, o mais certo é não teres feito nada, mas, segundo os rumores, ao que parece fizeste tudo.” (p. 215)
Mesmo quando já ultrapassaram todas as fronteiras do absurdo e do contraditório, as pessoas são capazes de inventar seja o que for. E depois acreditam e ainda empolam esse «seja o que for».” (p. 335).
Vencedor do Man Booker Prize 2018, “Milkman” de Anna Burns (n. 1962) foi publicado há poucas semanas em Portugal recuperando a temática do conflito das duas irlandas no final dos anos 70. Uma narrativa intensa e toda ela política que arrasta o leitor para o interior do conflito que se faz sentir numa pequena localidade da República da Irlanda com todas as vicissitudes que denotam a mais pura esquizofrenia social, política e religiosa que, tratando-se de ficção, é o reflexo das vivências no período do conflito.

Numa pequena localidade em que cada gesto é medido criteriosamente, cada palavra é proferida à cautela, os nomes das crianças, sobretudo os dos rapazes são escolhidos a preceito da identidade nacional, a compra dos automóveis e até de bens de consumo devem reflectir essa mesma identidade, o mesmo acontecendo com a religião e as orações, tratando-se da denominação católica ou protestante, tudo no quotidiano deve ser o espelho do grupo a que se pertence ainda que nunca se verifique numa única linha a indicação à Irlanda e ao Reino Unido. Viver cada dia é sobreviver à loucura instituída pelos homens que tornaram a política e a religião como focos de instabilidade e de desconfiança generalizada por parte de todos os cidadãos, culminando, com frequência, com a aplicação de justiça pelas próprias mãos, fazendo vítimas em todas as famílias através da prática continuada de assassinatos em nome da ordem e de todo um quadro de valores que se pretende manter em detrimento da facção oposta.
Numa narrativa em que ninguém é chamado pelo nome (a não ser dois personagens), nem tão-pouco a personagem principal, uma jovem de dezoito anos, que relata a sua experiência terrível na sequência de ter sido empurrada para o meio de um enredo fomentado por um dos seus cunhados que misturou factos com invenções e que, num ápice, se tornou numa bola de neve, com o acréscimo de informações totalmente erradas que quase conduziu à morte da protagonista.
A frase inicial de “Milkman” não poderia ser mais clara e objectiva face ao que decorrerá no decurso da narrativa. “O dia em que o Coiso e Tal me encostou uma pistola ao peito e me chamou assanhada e ameaçou dar-me um tiro foi o mesmo dia em que o leiteiro morreu.” (p. 7) O leitor é assim confrontado com este género de violência que acompanhará toda a narrativa até os acontecimentos descritos na frase terem lugar efectivamente.
Numa comunidade em que desconfiar da própria sombra é algo tão natural como respirar, transformar boatos em mentiras faz também parte do modo de vida das pessoas, cujo interesse pela vida alheia adquire um tom deveras importante na medida em que todos os gestos, todos os movimentos são observados de modo escalpelizado no intuito de proteger o lado católico em detrimento do lado protestante, fomentando o conservadorismo irlandês em oposição a tudo o que vem do “lado de lá do canal”, a referência habitual ao Reino Unido.
A jovem protagonista torna-se alvo do olhar atento da pequena comunidade devido à particularidade de ler na rua no percurso do trabalho para casa, actividade avaliada como perigosa e considerada, por essa razão, uma pessoa “para lá” (alusão às pessoas pró-Reino Unido), sendo rotulada de “esquisitóide anormal” (p. 218).
“- Tu lês livros ‘do princípio ao fim’, e tiras notas e lês as notas de rodapé e sublinhas passagens, até parece que estás sentada à secretária ou assim, no teu gabinete ou assim, de cortinas fechadas, com o candeeiro ligado e com uma chávena de chá ao lado, a redigires os teus ensaios e dissertações e meditações. É perturbante. É vicioso. É oticamente ilusório. É anticomunidade. Revela falta de instinto de autopreservação. É um hábito que chama as atenções sobre si e porque haveria alguém de querer chamar as atenções sobre si aqui, com inimigos à nossa porta e a nossa comunidade sitiada, quando temos de nos manter unidos?
- Espera lá – interrompi. - Estás a dizer que não há problema em ele andar aí com explosivos na carrinha, mas que já há problema em eu ler a ‘Jane Eyre? em público?” (p. 219)
Ao longo da obra, são inúmeros os diálogos como o acima transcrito que nos leva a considerar a linha de pensamento surreal das pessoas face ao instinto de sobrevivência. Tentar encontrar erros ou falta de sentido em simples gestos ou actos que não prejudicam nada nem ninguém ou simplesmente procurar a lógica no absurdo é algo que acompanha o leitor ao longo de “Milkman”.
Mas o enredo em que a protagonista estava envolvida era ainda mais complexo sobretudo quando a confusão das pessoas é tanta ao ponto de um boato se tornar como verdade absoluta e, neste caso, falamos das questões relacionadas com o foro afectivo e sexual na medida em que o “diz-que-diz” que partiu de um dos cunhados da jovem e que encontrou eco na comunidade, foi o de ter surgido o Leiteiro (que afinal não era leiteiro) como seu amante, quando se tratava de um indivíduo de 41 anos e casado, situação vergonhosa no seio da pequena comunidade católica. A jovem protagonista vive dias de angústia sem saber para onde se virar porque, a par do seu “namorado mais ou menos” com quem mantém uma “relação mais ou menos”, vê-se agora vítima da comunidade que lhe “arranjou” o Leiteiro como amante, evitando, a todo o custo que o boato chegue aos ouvidos do seu “namorado mais ou menos”.
De enredo em enredo, de personagem em personagem, o leitor vai sendo massacrado ao longo de quase 400 páginas de conversas e pensamentos ao nível do “diz-que-diz” onde tudo vale menos apurar onde está a verdade. O leitor mergulha a fundo naquilo que pode ser entendido como a racionalidade do absurdo porque, mesmo não parecendo, tudo se desenvolve dentro de uma determinada lógica comportamental.
Tanto do ponto de vista político como religioso, são inúmeras as situações em que somos levados a concluir que nem Estados, nem Igrejas (Católicos e Protestantes) pretendiam o fim do conflito, bem pelo contrário, alimentavam-no porque sabiam que, de ambos os lados das barricadas, havia sempre extremistas prontos a atacar em nome de uma causa mesmo que possam pagar com a vida.
“Milkman” é um livro violentíssimo que, a par dos temas expostos, apresenta uma escrita que nos impõe uma certa cadência, morosidade, como se nos arrastasse para dentro do conflito e de toda aquela parafernália de preconceitos absurdos.
É importante referir que tratando-se de uma democracia, há direitos dos cidadãos que são parcial ou totalmente usurpados, sobretudo no que concerne à liberdade de movimentos, mesmo nas situações mais banais do quotidiano, a liberdade de expressão, toda a população encontrar-se sob vigilância e escuta telefónica quer pelo Estado, quer por grupos antigoverno. É o medo instalado nas cabeças dos cidadãos, um medo que, de geração após geração, já nem é encarado como tal, mas como um modo de vida, restando o instinto de sobrevivência.
Texto da autoria de Jorge Navarro

domingo, 17 de novembro de 2019

Ao Domingo com... Elisabete Lucas


Poucas e ténues são as primeiras memórias da infância. Mas há escrita nalgumas delas e, claro, muita leitura (hoje e sempre).
Com uma mente que rima por tudo e por nenhuma aparente razão, levando-me a dar por mim a fazer continuamente associações de palavras e pensamentos, estranho não será que a minha primeira «obra» (a que me terei dedicado com a seriedade que o acto de criar/de imaginar sempre me mereceu) tenha sido um caderno cheio de poemas, que redigi ainda não tinha completado o quarto ano de escolaridade. Desconheço a sua actual morada, coisa de fraca importância para quem prefere a partilha dos escritos e das ideias.
Se alguma revelação há aí é de que a escrita é para mim uma necessidade. Pensar em mim sem escrever é pensar-me incompleta. O meu mundo precisa de outros mundos, nos quais possa inventar personagens, contextos, problemas e soluções, reviravoltas, mudanças, finais.
O que me traz a escrita? Seguramente um terreno enorme de possibilidades: de rir e de chorar, de pensar a dor e de a superar, de morrer e viver outra vez, de esquecer a realidade que me rodeia, que nos rodeia, ou transformá-la. Sobretudo, de ir além de mim própria. Talvez por isso, quando observo o mundo tenha tanta dificuldade em limitar-me aos factos. Não raramente, ao olhar estou a imaginar. Atento num pormenor que provavelmente não interessa a mais ninguém e de lá sigo rumo a uma narrativa.
Escrever é como um voo, por vezes arriscado, outras sossegado. Quem entra nele enfrenta com frequência o desconhecido, seja porque a rota nem sempre se conhece à partida, seja porque muitos são os imponderáveis que podem surgir, tanto nas histórias como na vida.
Já escrevi ficção e não-ficção. Já escrevi para adultos e para crianças. Todos os desafios que me levam à escrita são bem-vindos. Por isso, escrevo com a imaginação à solta, algumas vezes, mas também já o fiz para contar histórias reais (na sequência de entrevistas, por exemplo), outras vezes para apresentar ideias (ou mesmo para as perceber melhor, dado que redigir ajuda a interiorizar, obriga a parar mais, a pensar com uma consistência diferente).
De um lado o acto de escrever, relativamente solitário, ainda que possa ver-se acompanhado de um turbilhão de emoções e de um certo alheamento da realidade envolvente. Do outro, o partilhar. E um livro é aquele objecto fantástico com o dom de ser tantas coisas diferentes quando chega às mãos dos leitores. Nenhuma narrativa tem exactamente o mesmo impacto em todos ou suscita as mesmas emoções ou desperta as mesmas apreciações.
Para mim, escrever constitui uma certa forma de ser e de ver o mundo. Contudo, ninguém duvide de que os leitores tornam tudo bem mais interessante!

Elisabete Lucas
autora de A Gravidez do Meu Vazio e Outros Contos

sábado, 16 de novembro de 2019

Na minha caixa de correio

  

 

Oferecidos pelas editoras parceiras:
- A Queda do Muro de Berlim, Esfera dos Livros
- As Primeiras, Esfera dos Livros
- Amor em Fatias, Esfera dos Livros
- Última Paragem, Auschwitz , Planeta
- As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério, Manuscrito

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

"Meu Amor, Meu Segredo" de Julie Cohen

Esta foi uma leitura maravilhosa. Cheia de segredos revelados pouco a pouco e com uma estocada final que me deixou em choque! Muito bom! 

Nāo posso revelar muito mais sobre a história sob pena de vos contar em demasia. Trata-se de uma história de amor entre um casal já com uma idade avançada, que ultrapassou vários contratempos que os afastariam se nāo fosse o seu amor e a sua vontade de permanecer juntos. Falam logo de início de um segredo a que poucos têm acesso e que influenciou a sua vida em conjunto.

A história é contada do momento presente para várias etapas relevantes do passado e em cada uma delas vão sendo desvendados alguns segredos. De tal forma que, quando o segredo final nos é  revelado, já eu o não esperava e caiu-me de surpresa em cima.

Aflora também a questão da demência, problema frequente em idades avançadas. Não é um facto inédito mas custa sempre ler estas abordagens tão actuais e verificar que a realidade pode ser absurdamente terrível e cruel.

Um livro a que poucos ficarão indiferentes. Para ler!

Terminado em 01 de Novembro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
Robbie e Emily estão juntos desde sempre, mas o seu amor permanece vivo e forte. Ao longo da vida, têm partilhado a cama, a casa e uma ligação tão profunda que parece indestrutível. Mas há coisas que eles não partilham com ninguém, para bem de todos.

Numa manhã como qualquer outra, Robbie acorda, veste-se, escreve uma carta a Emily e sai de casa. Para sempre. Há um segredo que ambos guardam desde o dia em que se conheceram. Os sacrifícios e as escolhas que fizeram ao longo da vida podem agora ser expostos perante todos e esta é a única maneira de os preservar.

Cris