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domingo, 28 de fevereiro de 2021

Ao Domingo com... Susana Piedade


Corredores de Saudades

Sabe, Doutor, o que me custa.

Poderá imaginar o que me custa.

Ouvi-lo dizer que está tudo bem, que o medicamento pegou como se fosse um enxerto, quando o meu marido se perdeu num sítio escuro onde não deixa ninguém entrar, porque a determinada altura somos todos estranhos a bater-lhe à porta. Para si é simples pronunciar o alívio, imaginar que o sente como nós, gente de quem daqui a uns tempos mal se lembrará. Quando muito, um registo sucinto no caderninho que traz na pasta; um cumprimento inseguro, se nos cruzarmos na caixa do supermercado e tiver a sensação de que nos conhece de algum lado; a publicação de um caso clínico numa revista da especialidade. Mas as pessoas têm nome, são pais, filhos, irmãos, amigos, conhecidos de alguém; têm gostos e interesses que as definem; sonhos que as motivam; vidas que as preenchem e as tornam invulgares, e isso não quer dizer boas nem más, apenas diferentes umas das outras. Os números dos milhares de cirurgias que vêm nos folhetos publicitários têm nomes por detrás. Talvez os confunda de vez em quando, são tantos que é impossível sabê‑los de cor, convenhamos, sobretudo agora, que os anos vão passando por si e a memória lhe prega rasteiras. Mas compreendo, há que manter o discurso impessoal, defender-se dos avanços da intimidade.

O Doutor, que é um reparador de memórias, deve achar que é fácil esquecer tudo o que sei sobre a doença, a modéstia de resultados, a prudência nas expectativas. E até gostaria de seguir os seus conselhos sábios – na sua armadura branca deve ser fácil dá-los – mas a memória não condescende, não se deixa arrumar como queremos.

Se pudesse, juntava-me aos outros que seguem uma normalidade displicente, com as suas vidas cheias de falhas vulgares e invisíveis. Suturava este buraco que se abriu em mim, não sei se o vê desse lado, a olho nu, por detrás das suas lentes quase impercetíveis. 

Aposto que escolheu neurocirurgia por ser uma área fascinante de que se sabe tão pouco, e o Doutor tem ar de quem aprecia os desafios do conhecimento. Décadas de estudo, de investigação, de prática. O calendário abarrotado de intervenções, implantes de elétrodos para reparar circuitos, tratar perturbações e doenças perversas que esvaziam as pessoas. Milhares de vezes em que entrou e saiu do bloco operatório, procurou os familiares ao fundo do corredor ou nas salas onde fingimos que nos distraímos com a televisão, antecipou as palavras certas sem pigarrear, porque ao fim de tantos anos é natural que as saiba de cor. As pessoas dão tudo por uma nesga de esperança, mas estas coisas mudam de um dia para o outro.

De um dia para o outro somos outros.

E talvez por isso se reserve. Em cima da mesa que nos separa há pouco de si. Uma moldura que resguarda da curiosidade alheia, junto ao computador, a única extravagância emocional a que se permite no trabalho. Um caderno no qual pousa uma esferográfica das mais baratas, a ponta da tampa partida de tanto cair ao chão ou, não sei, vamos supor, das vezes que atirou com ela à parede, nos picos de stresse, e daí os riscos na pintura. Um monte de processos reservados no canto, à espera de que a assistente os venha recolher. Mas não se trata apenas de um móvel, antes a distância de conveniência que se impõe, milhares de vezes em que se calhar a desejou transpor, deixar de lado o atendimento protocolar, despir-se da frieza que o forra da dureza da vida e dos ajustes da profissão, e olhar os seus pacientes nos olhos sem qualquer embaraço, porque vistas de perto as pessoas são únicas.

O Doutor, que é seguramente um especialista nestas coisas da mente, poderá compreender o que é temer pela vida de alguém que é parte de nós, uma espécie de órgão, se quiser transpor para linguagem médica. Viver com o pânico entranhado ao ponto de nos destruir. A dor cortante (calcule o golpe sem anestesia) que é começar por imaginar a perda, traçar‑lhe os contornos até que se afigure uma possibilidade e logo depois uma certeza aterradora. Percorrer corredores de saudades que não desembocam em sítio algum, não trazem nada de volta, e saber que nenhuma porta jamais se abre quando chegamos ao fim. Ficar sem alguém de quem nos apropriamos indevidamente, que olhamos de perto, todos os dias, na sua singularidade insubstituível, sem coragem de lhe dizermos que a sua falta será avassaladora.

Se souber, Doutor, e é natural que me possa ensinar

como se tratam as doenças que nos matam

antes de chegar a morte.

Susana Piedade

fevereiro 2021

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

"O Fim do Alfabeto" de CS Richardson

Quando se vai para uma consulta a pé, pega-se num livro da estante. Qual o critério para seleccionar o livro a levar? Pequeno e leve. E foi este que me saiu na rifa. O que podia ter acontecido? Ter pegado nele e não me ter agradado. O que aconteceu? Li-o metade quando estava à espera e a outra metade depois de ter chegado a casa.

É um misto de sensações o que este livro nos faz sentir. O tema é muito pesado mas a história é-nos contada com uma doçura que nos amolece o coração. Começa e acaba com a mesma frase: "Esta história é improvável.", que no princípio tem um sentido mas que no fim tem outro, completando o ciclo, fechando as pontas.

Ambrose tem os dias contados. Não é velho, mas está sim a meio do que era suposto viver, naquela idade em que se espera, ainda, muito mais do amanhã do que das recordações que se construíram. Mas Ambrose tem um mês de vida. Zipper é o amor da sua vida. De uma vida onde os dois se encaixaram e se foram completando. Quando a vida é encurtada abruptamente, que fazer dos dias que se estendem num futuro que tem fim? Ambrose e Zipper vão viajar, percorrer e encher de recordações o tempo. A primeira cidade começa pela primeira letra do alfabecto.

Escrito com uma delicadeza surpreendente, parecendo que quem escreveu sentiu na pele a certeza e o peso que a morte traz, este livro faz com que o leitor se coloque junto do casal e partilhe os seus sentimentos. Sendo um livro tão pequeno, achei surpreendente como o autor consegue abarcar tanto, com tão pouco. Eis a prova de que, quando as palavras escolhidas são as certas, não é necessário mais. 

Gostei muito. 

Terminado em 18 de Fevereiro de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Ambrose Zephyr descobre de repente que o tempo se está a esgotar quando o médico anuncia que, devido a uma misteriosa doença, lhe resta um mês de vida. Por isso, ele e a mulher, Zappora Ashkenazi, decidem viajar para todos os sítios de que ele mais gostou ou que mais queria ver, de A a Z, começando por Amesterdão. Em Istambul, porém, Ambrose e Zappora dão ao resto do percurso um rumo inesperado, ao fazerem as pazes com o tempo perdido e as muitas perguntas deixadas para trás O Fim do Alfabeto é uma história mágica, evocativa e inesquecível que nos leva numa viagem espiritual até às profundezas do amor, da perda e da vida.

Cris


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Experiências na Cozinha: "Cozinha Vegetariana - Doces e Sobremesas"


É engraçado como as receitas da Gabriela Oliveira dão sempre certinhas. As que fiz, dos seus muitos livros, resultaram sempre muito bem. São práticas, deliciosas mas com um grave defeito: acabam depressa demais!

Estes scones foram exemplo disso. 

Só coloquei nozes (em vez de todos os frutos secos que constavam na receita) mas este fruto seco com a canela juntaram-se para um resultado fabuloso. Fofos e deliciosos, estes scones vieram para ficar.

Farinha (1chav) com pasta de tamaras (1/2 chav) num triturador, onde se acresce mais 1 chav de farinha, 1 colher chá de canela,  1/2 colh sopa de fermento, 1/2 colh café de bicabornato. Junta-se raspa de laranja e limão, 1 iogurte vegetal, 7 colh de azeite, 4 colh sopa de leite vegetal. É  so misturar e colocar mais farinha se necessário. Bolinhas p o forno e já está!






Palmira e Cris

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A Convidada escolhe.: "A Peste"

Poderíamos pensar que este seria um livro a evitar neste período de pandemia em que vivemos, no entanto, despertou a minha curiosidade precisamente por tratar desta temática.

Albert Camus conta-nos esta história de uma forma realista que põe a nu a natureza humana perante uma adversidade comum a todos.
Ali, numa perfeitura francesa na costa argelina, uma doença surge propagada pelos ratos, transformando-se numa epidemia terrível e mortífera: a peste.

Primeiro poucos doentes e a sensação de que só acontece aos outros, a negação...  mais pessoas doentes e a preocupação geral, o aumento enorme dos casos, e por fim muitos mortos. 
Impôs-se a cerca sanitária, a impossibilidade de sair ou entrar na cidade, a inevitável separação entre famíliares, amigos, amantes a crescente revolta e os esquemas para contornar a lei. 

As pessoas fecham-se, também elas sobre si próprias no seu egoísmo olhando com desconfiança os vizinhos e os concidadãos.
Mas há também os que no seu altruísmo preserveram na luta para encontrar a cura, tratar os doentes e enterrar os mortos. Os melhores dos melhores, os que fazem a diferença, que se expõem ao perigo pelo bem comum, à custa da sua própria saúde. 

Surgem mutações da doença que se expande através de novas variantes que atacam uma e outra vez a já fragilizada comunidade assolada pelo medo e desespero.

Tantas semelhanças com o que vivemos e sentimos nestes anos terríveis de 2020/21, a natureza humana sempre tão previsível, capaz do melhor e do pior!

Para mim foi uma leitura muito proveitosa de que gostei e que  recomendo.

Marília Gonçalves 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

"O Amigo" de Sigrid Nunez

Não costumo ler muitos livros com animais. Por nenhuma razão em especial porque os que li até gostei.  Também não fico com nenhuma dor especialmente forte no coração quando o protagonista de quatro patas morre porque (acho eu que é por isto) nunca tive nenhum animal e não sei verdadeiramente que laços tão fortes são esses que se estabelecem. Às vezes, acredito que é melhor assim! 

Este livro constituiu uma leitura especial para mim. Não é idêntico a nenhum que tenha lido, porque aqui, o cão não surge, aparentemente, como o protagonista principal. Está lá sim, como pano de fundo, como se a narradora, também escritora, quisesse falar sobre esse amor que se sente pelos animais mas também sobre outros temas que, um bom livrólico, adora ler: sobre o acto de escrever, sobre escritores e seus pensamentos.  Aborda, também, todos os sentimentos que estão relacionados com a amizade, a morte e o luto.

A meio das suas divagações a surpresa, um twist que faz ler esta história de amor de uma escritora com o seu patudo, mais desafogadamente. 

Uma história na história. Gostei muito.

Terminado em 15 de Fevereiro de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

A protagonista desta obra é uma escritora que perde o grande amigo e mentor e se vê forçada a cuidar do seu cão, um enorme Grand Danois. Este livro narra a comovente história de amizade que se cria entre uma mulher solitária e um cão traumatizado pela inesperada perda do dono.

Cris

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

"A Filha do Mentiroso" de Megan Cooley Peterson

Comecei a ler este livro e depressa fiquei envolvida no seu enredo. A trama sucede-se vertigiosamente entre um "antes" e um "depois", em que a protagonista se vê envolvida na sua pequena vida tão cheia de mistérios. Piper tem 17 anos e relata-nos aquilo que pensa estar a acontecer, segundo os critérios e juízos de valor em que foi criada.

O "antes" passa-se num ambiente fechado ao exterior, num terreno isolado. Numa seita, percebe o leitor. No "depois" já ela se encontra fora da seita, afastada dos seus irmãos e pais, numa casa desconhecida. E está perdida e sente- se sozinha.

O engraçado, que achei muito bem conseguido, é o olhar que Piper tem de si mesma e dos outros, do exterior a que ela não tem acesso, todo um conjunto de situações que o leitor percepciona como tendo sido uma "lavagem ao cérebro". E  foi isso que achei cativante, o facto do leitor saber ou intuir mais do que a própria Piper. E a descoberta que ela faz da verdade, dos seus sentimentos perante aqueles que estão à sua volta, a auto-análise que faz a contragosto, a "verdade" que impingiram e a "verdade" que ela se vai forçando a descobrir, tudo está perfeitamente no lugar. Bem escrito, bem pensado.

É um YA que os mais novos vão gostar de certeza. Se por um lado o facto de ter percebido de antemão o que se tinha passado na vida de Piper me agradou bastante, por outro, isso fez-me esperar um twist no final que acabou por não chegar. Mas se pensar que se trata de um livro destinado a "jovens adultos", considero-o perfeito. 

Aconselho!

Terminado em 12 de Fevereiro de 2021

Estrelas: 4*

Sinopse

Nomeado para o prémio YALSA atribuído pela American Library Association

Perturbador. Intenso. Viciante.

Ela cresceu num culto.

O seu pai é o líder… e um mentiroso.

Chama-se Piper, tem 17 anos e é filha de um profeta. Ela obedece e respeita o pai, e por essa razão cuida das irmãs mais novas e prepara-se para o apocalipse. Porque assim foi ensinada e nunca o deve questionar.

Até ao dia em que arrancam Piper da família que sempre conheceu e a levam para o Exterior: esse mundo que lhe foi ocultado desde criança, um mundo desconhecido e longe de Caspian, o rapaz que ela ama.

Nesta nova realidade, tentam convencê-la de que o seu pai é maquiavélico, um fanático. E há uma mulher que diz ser sua mãe. Mas Piper recusa-se a aceitar e só quer fugir para regressar a casa… Afinal, no que deve acreditar? Nas palavras dos seus raptores? Ou na única verdade que conhece?

«Os leitores seguirão Piper num difícil labirinto psicológico enquanto esta tenta descortinar o que é real e imaginação. A luta pela sua saúde mental é genuína e avassaladora.» - School Library Journal

Cris

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Para os mais pequeninos: "À Procura de Ontem"


Vou pedir-vos para serem curiosos e abrirem este livro! Merece! 

O que fazer quando um pequenito quer voltar  para "ontem", para o dia em que foi feliz o tempo inteiro?  Como explicar-lhe que poderá esperar por muitos dias desses no futuro e que por isso deve olhar em frente? E mais: deve procurá-los no "aqui".

Pois foi isso que aconteceu a este pequenito que andava desesperado à procura de uma forma de voltar para trás. E foi ter com o avô...

Com imagens belíssimas que, só por elas podemos acrescentar pormenores à história, este livro é uma delícia para todos os olhos! E a mensagem está lá. O bom mesmo é sermos felizes hoje, aqui. 

Espreitem para as imagens...




Cris

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Experiências na Cozinha: "Tudo o que comemos conta"


Todas as  receitas que fazemos da Geninha são boas e saiem sempre bem. Pouco há a acrescentar!

O cheirinho que ficou no ar destas espetadas muito especiais foi maravilhoso! 

E dizemos que são espetadas especiais porque o ingrediente rei é pouco conhecido, o tempeh.

O tempeh é produzido a partir da fermentação de grãos de soja ou de outros grãos de leguminosas, como ervilha, feijão, ou grão-de-bico.

Há várias marcas e como em tudo , umas melhores que outras. Para nós a preferida é a Sal's Tempeh.

Esperamos que as fotos vos inspirem...





Palmira e Cris

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A Convidada escolhe... A Cidade das Flores

A Cidade das Flores”, Augusto Abelaira, 1959

Quando se volta a ler um livro que se leu há mais de quatro décadas, percebemos se ele teve influência nessa altura das nossas vidas, se nos conseguimos identificar com o contexto ou com alguma das personagens, se, apesar da distância, permanece como objecto literário ou, se é de tal forma datado que não consegue despertar interesse para quem hoje o leia, sendo jovem como na altura eu era.

Em 1961, no posfácio à segunda edição de “A Cidade das Flores”, Augusto Abelaira faz uma reflexão e uma série de perguntas que considerei muito relevantes. Começa assim: “ A nova edição de um livro significa que esse livro não morreu”. E mais à frente: “Um livro que se reedita é um livro que se esgotou. Portanto: Quem o esgotou? Quem o leu? E porquê?” (…) “Porque leio eu um romance?” (…) “Independentemente de me ajudar a passar o tempo, a leitura dum romance multiplica em várias direcções a minha pobre vida quotidiana, permitindo-me sonhar.” (…) “Essas histórias… ajudam-me a sair de mim próprio e a descobrir o mundo.” (…) “Os romances preocupam-se com homens vulgares, mais próximos de mim, homens que vivem no meu modesto universo.” (…) “Acontece, porém, que, muitas vezes, buscamos num romance as nossas próprias vidas, as vidas confusas dos nossos irmãos, as nossas preocupações.” (…) “… creio que “A Cidade das Flores” documenta qualquer coisa, a reacção de certos homens a uma praga social – o fascismo; a reacção de certos homens a uma situação social adversa.” (…) “ Homens que não crêem no futuro, ou, melhor: homens que, acreditando no futuro, não têm coragem de viver no presente esse futuro.” (…) “… tenho esperança de que, dentro de cinquenta anos, “A Cidade das Flores” já não seja lida. Significará isso que os problemas deste romance já passaram à história e que os homens deram mais um passo no caminho da justiça social.” (…) “Desejaria que “A Cidade das Flores” fosse entendida como um livro de quem acredita no progresso, na justiça, na paz, na possibilidade real de os homens serem todos iguais.” (…) “E no entanto, nós, cidadãos deste ano da graça de 1961, sabemos que a História, apesar de tudo, não deu razão ao pessimismo de Fazio. Sabemos que o Hitler não dominou por mil anos. Sabemos que nenhum Hitler dominará por mil anos.”

A Cidade das Flores” decorre na Itália de Mussolini. Os intervenientes são jovens que vivem em Florença, mais ou menos envolvidos na resistência ao fascismo em ascensão. Augusto Abelaira da geração de escritores da oposição a Salazar a escrever no período negro da censura, transpõe neste romance para o meio cultural, social e literário português dos anos 50 uma realidade paralela, usando personagens doutro país e doutro regime ditatorial com preocupações semelhantes e com ânsias de liberdade.

Logo no início do romance, Fazio observa um casal de ingleses que tiram fotografias junto à estátua de David. Enquanto se sente escravo, prisioneiro, ele inveja aqueles turistas que para ele representam a liberdade. Fazio, Soldati, Domenico, Rosabianca, Renatta, Vianello e no outro extremo Briganti adepto das ideias de Mussolini. Nas suas conversas, nos seus encontros, os grandes temas que os preocupam. O que é resistir? O que é colaborar? Até onde se consegue resistir? O que é ser incorruptível? O que é ser honesto? Pode-se ser feliz, quando há alguém que está a sofrer, que está a ser torturado, que está preso? As ideias justas triunfarão? Quanto tempo dura o amor? O que é ser livre? É possível ser-se livre?

Achei admirável reler este livro, identificar personagens, diálogos, situações, dúvidas com pessoas, diálogos, situações e dúvidas pessoais e de pessoas que fizeram parte da minha vida e da minha juventude. Senti este romance como intemporal, moderno e actual. No entanto, ao contrário do desejo de Abelaira, de que 50 anos depois daquela 2ª edição do romance ele já não fosse lido, a verdade é que os problemas de que fala o romance não “passaram à história”. A história e o percurso da humanidade estão longe de alcançar a justiça social e os perigos que marcaram o século XX continuam activos e sempre à espera que a democracia baixe as suas bandeiras. Resistir é um imperativo.

12 de Fevereiro de 2021

Almerinda Bento

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

"A Espera de Fernanda" de Maria Cláudia Rodrigues

O que mais me custou ler neste livro foi saber que, infelizmente, o que aconteceu foi real. E cá! Onde
anda a justiça? Que interesses serve?

A sinopse conta resumidamente o fundamental da trama. O que não contamos quando lemos este livro é a nossa reação face aos acontecimentos verídicos que se sucedem em catadupa e que nos trazem um sentimento de incredulidade.

O que se destaca aqui, para além de uma morte sem sentido de um jovem, é a perseverança de sua mãe que nunca desiste de procurar a verdade. Fernando sai de casa para ir trabalhar e não volta. Dias depois é encontrado pendurado num bosque, morto. Pesquisas inapropriadas e incompletas sugeriram suicídio. 

Ao desgosto dos pais, sobretudo da mãe, ao saber que perdeu o seu único filho, junta-se o facto das pesquisas se encaminharem logo de princípio para esse motivo. Falhas de investigação que a mãe vai descobrindo. 

Como acham que o livro acaba? 

Vale a pena ler. Mas é muito difícil saber que há segredos que morrem com as pessoas! 

Terminado em 9 de Fevereiro de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Manhã do dia 6 de Junho de 2001. Fernando da Cruz, 24 anos, despede-se dos pais e mete-se no carro com destino ao local de trabalho, localizado a menos de uma hora de distância de casa. Quando tornam a ver o filho, quatro dias depois, já ele está a ser preparado para o funeral. Suicídio, aprontam-se a dizer as autoridades, mas Fernanda, a mãe, não aceita a conclusão e, rapidamente, enceta uma investigação por contra própria para apurar a verdade por detrás da morte do único filho. Contra a lentidão da Justiça, Fernanda espera, luta e resiste a uma inesperada e assustadora conspiração arquitectada por funcionários do Estado.

Este é o primeiro livro da jornalista Cláudia Rodrigues.

Baseado em factos e personagens reais.

Cris

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Ao Domingo com... Rosária Casquinha da Silva


Onde fica o meio do nada?

Se descobrir avise-me.

Hoje sei que estou no meio dos livros da Cristina Delgado e isso basta-me. Estou, também, na sua companhia e quero muito que me conheça. Bebemos um café enquanto falo de mim?

Nasci em Lisboa, mas sempre vivi em Cascais, uma vila charmosa a 20 minutos de carro da capital. Tenho 50 anos, mas sinto-me uma eterna miúda. Corro atrás dos meus sonhos, mesmo quando me dizem que nunca os vou agarrar. Não desisto facilmente. Se sinto que aquele é o caminho que devo seguir para concretizar o que me deixa realizada, encontro sempre forças para remar contra a maré. Aprendi a dizer ‘não’ há uns anos e isso mudou a minha vida para sempre. Aprendi a respeitar-me e a acreditar que sou digna de todas as minhas conquistas. Trago sempre um sorriso comigo (agora escondido por uma máscara… mas os olhos também riem, verdade?). Adoro surpreender quem está perto de mim. Licenciei-me em Relações Públicas e Publicidade, pelo Instituto Superior de Novas Profissões. Desde cedo que a energia das palavras é o meu alimento diário.

Escrevo quase todos os dias. Talvez seja por isso que tenho um blog o “Armazém de Ideias Ilimitada” em parceria com a minha mana de coração, a Susana Figueira. Escrever é ser e viver o que a imaginação me sussurra à alma. É eternizar memórias numa folha de papel. É partilhar com quem me lê aquilo que sou. É ser livre. É ser eu.

Desde muito cedo que o gosto pela escrita me acompanha. Em adolescente escrevia histórias policiais com as minhas amigas. Eram momentos de grande produção criativa. Também gostava de arriscar em grandes mistérios e histórias de amor. Quando me casei, escrevi o diário da minha lua de mel e depois houve uma pausa, talvez necessária, para amadurecer. Em 2019, frequentei um curso de Escrita Criativa e descobri que o meu registo literário é o conto, não mais parei de os escrever. Em Dezembro do mesmo ano, ganhei o Concurso Literário do Farol das Palavras com o texto ‘Estou em Casa’. Um ano depois participei na antologia Palavras Orientadas, Histórias Encontradas (Palavra Editora, coordenação de Laura Mateus Fonseca) com o conto ‘A fuga’. No final do ano passado publiquei o meu primeiro livro No meio do nada (Palavra Editora).

Leio muito, mas tenho sempre livros em fila de espera para serem lidos. Aposto que vocês também. Promovo e dinamizo o Clube de Leitura - Livros à Sexta em parceria com a mana de coração.

Adoro viajar, colecionar memórias, inspirar-me e aprender. Agora estou em modo ‘pausa’. Mas tenho pressa. Preciso de fazer as malas.

Tenho uma paixão incontrolável por escrever cartas e postais, sabendo que do outro lado da caixa de correio alguém vai ficar muito feliz. Lancei este mês o movimento ‘Cartas, atalhos que aproximam”.

Adoro desinquietar as pessoas. Sou casada com um homem fantástico que me ama incondicionalmente e que me apoia a 100% em todas as minhas loucuras. Este meu primeiro livro também é dele.

No meio do nada surgem estórias. Pequenas estórias. Verdadeiras, fictícias. Inspiradas em pessoas, lugares, objetos, sentimentos. Surpreendem, emocionam, soltam o riso, permitem uma lágrima. São o resultado de um ano de escrita, de transformação interior, num mundo estranho.

No meio do nada surgem desabafos, homenagens à natureza, mistérios, gentes, memórias e amores.

Cada short storie revela um pouco de mim. Se estiver atenta/o acabará por me descobrir, num aeroporto, numa noite de insónia, num apelo, numa igreja, junto a uma porta, numa brisa, abraçada a uma árvore, num sonho, numa fatia de bolo… no meio do nada.

Rosária Casquinha da Silva



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

"O Lugar das Coisas Perdidas" de Susana Piedade

Ainda estou meia aturdida com esta leitura! Sabem aquele livro que gostariam de ter conseguido escrever? Como assim, não conhecia a autora? Como me passou despercebida? Lembro-me da capa do seu livro anterior e de uma amiga mo ter recomendado. Mas são tantos os livros que nos entram cérebro adentro que este ficou esquecido. Não me lembro onde adquiri este último, nem tão pouco a razão porque chegou agora a vez dele... Te-lo-ia pegado pela capa? Pela sinopse? 

Só sei que quando dei por mim já estava embrenhada nas personagens desta obra, tão bem conseguida por sinal. Todas elas estão soberbamente desenhadas, com alguns apontamentos misteriosos que colocam o leitor de sobreaviso. São reais. Fazem-nos lembrar alguém.

O tema é pesadote mas que não seja por essa razão que o não leiam! Uma criança desaparece e toda uma vila, pacatamente instalada nos seus afazeres, se envolve na busca que esse desaparecimento despoleta. 

E vai-se compondo a trama... desde as duas amigas, já com uma certa idade, que os desamores da vida juntou; ao casal com uma filha que veio da cidade para o campo por razões aparentemente confiáveis; ao professor enjeitado por todos que busca no lixo memórias de tempos mais felizes e comida também; ao talhante coxo e ao seu ajudante carrancudo; à Isaura, a dona da tasca onde os mexericos tinham lugar; do Jeremias, aquele ser esquisito que não se dava com ninguém; à história da Mariana, sua filha Alice e aos seus tios que a adoptaram e que escondem segredos escabrosos. Todos fazem parte deste enredo que nos agarra, que nos faz desconfiar deste ou daquele!

Mas o final, "Oh God"! Perfeito! Eu sou aquela leitora que deseja que tudo acabe bem mas se isso acontece diz: "Bah! O autor podia ter pensado em algo mais original"... Conseguir balancear entre um final feliz e um mais real sem cair na tragédia, não deve ser tarefa fácil! Parabéns Susana! Um final sublime, mesmo ao meu gosto! Ah, li-o TRÊS vezes por sinal para ter a certeza que não perdia nada e estou desejosa de comentar este livro com amigos livrólicos.

Uma bela surpresa! Nota máxima!

Terminado em 7 de Fevereiro de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

Numa pacata vila de província, uma criança desaparece misteriosamente a caminho da escola, deixando a mãe em estado de choque e os vizinhos incrédulos e alvoroçados. No início, todos se oferecem para ajudar Mariana a encontrar a filha, mas, como sempre acontece nos meios pequenos, as intrigas, os medos e as desconfianças acabam por desenterrar histórias do passado e segredos que se julgavam a salvo, desencantando um culpado em cada esquina. O caso torna-se ainda mais enigmático quando, na manhã em que a Alice sumiu, quase todos os que lhe eram próximos tiveram, curiosamente, atitudes estranhas, pelo que, entre tantos rostos conhecidos, talvez ninguém esteja, afinal, completamente inocente. E o pior é que a única pessoa que assistiu a tudo é também a única que não o poderá contar.

Num romance trepidante que mantém o suspense até à última página, Susana Piedade – finalista do Prémio LeYa com o romance As Histórias Que não Se Contam – regressa ao tema da perda e da culpa, oferecendo-nos uma história profunda e surpreendente, na qual quase nada é o que parece.

Cris

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Para os Mais Pequeninos: "O Mistério da Meia Desaparecida"


Que livro engraçadoooo! Quem não percorreu meio mundo à procura de um dos pares de uma meia?
Quem não? 

A Meia Amarelada perdeu o seu par! E procurou por todo o lado, perguntando às meias que conhecia se a tinham visto! Foi perguntar às meias longas, às meias-calças, às meias de ligas, às meias soquetes, às meias de descanso e a muitas mais e... nada!

Contado de uma forma muito engraçada, com alguns trocadilhos, este livro vai divertir o pessoal meio-grande e mesmo os "grandes-grandes" com uma história cheia de humor que nos vai levar a alguns episódios por que nós todos passámos de certeza! Quem nunca andou pela casa fora à procura de uma meia perdida?

Ilustrações coloridas e engraçadas a fazer "pendant" com o texto! Muito divertido!




Cris

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Experiências na Cozinha: "As Delícias de Ella - O Livro Cem por Cento Vegetariano"


Trazemo-vos hoje um livro de receitas vegetarianas muito fáceis de realizar. O difícil está em escolher apenas uma... são muitas receitas deliciosas e simples na sua preparação.

Pequenos almoços, saladas, hamburgueres, sopas, guisados, doces e receitas para amigos...

Há várias bastante apelativas. Desta feita a escolhida foi a salada de couve flor e lentilhas com curcuma e tahini. Vejam como ficou!






Palmira e Cris

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

"Uma Vida no Nosso Planeta" de David Attenborough

Primeiro livro de não ficção lido este ano. Quem não conhece o nome de David Attenborough? São os filmes, os documentários de toda uma vida dedicada a alertar para os verdadeiros horrores que o Homem tem vindo a perpetrar no único lugar onde pode viver, fazendo com que a Terra adoeça e alguns de seus animais se extingam. 

Mas mais do que apontar o dedo, denunciar, David Attenborough aponta soluções dando exemplos de alternativas já iniciadas com sucesso por alguns países. São tantos os lugares onde o Homem colocou o seu dedo destruidor que, por vezes, parece impossível existir um retorno. Mas há sim! 

Este não é um livro sem esperança, embora seja avassalador compreender as pequenas estatísticas que o autor coloca no início de cada capítulo onde podemos comparar em vários anos o número da população mundial, o dióxido de carbono existente na atmosfera e as áreas naturais que restam... 

Como referi, este livro não é um livro sem esperança! Através da sua vida e do que foi realizando ao longo dela, David Attenborough teve oportunidade de viajar pelo mundo e aqui dá-nos a conhecer alguns gestos, maiores ou menores, que vários países já colocaram em prática.

Este livro é mais um alerta que este Senhor de 94 anos quer deixar ao mundo. Palavras como biodevirsidade, cadeias alimentares quebradas, degelo, desflorestação, lixo (fertilizantes, plásticos, pesticidas) nos rios e nos mares, exploração sistemática dos solos e dos mares, TUDO fica retido na nossa cabeça quando se lê este livro.

Vamos todos fazer a nossa parte? Pode parecer pouco. Mas um mais um e mais um e mais um... Um livro, um alerta. Para ser lido.

Terminado em 31 de Janeiro de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

A verdadeira tragédia do nosso tempo: o declínio em espiral da biodiversidade do nosso planeta. 

«Para a vida prosperar neste planeta, tem de existir uma imensa biodiversidade. Só quando milhares de milhões de organismos conseguem tirar o máximo partido de cada recurso e oportunidade que encontram, e só quando milhões de espécies vivem vidas que se interligam de modo a sustentarem-se umas às outras é que o planeta pode funcionar com eficiência. Quanto maior for a biodiversidade, mais segura será toda a vida na Terra, incluindo nós próprios. Contudo, o modo como nós, seres humanos, vivemos hoje na Terra está a colocar a biodiversidade em declínio. O mundo natural está a desaparecer aos poucos. As provas estão por toda a parte. Aconteceu durante a minha vida. Eu vi com os meus próprios olhos. E irá levar à nossa destruição. Contudo, ainda há tempo para desligar o reator. Existe uma boa alternativa. Este livro é a história de como chegámos aqui, do nosso grande erro e de como, se agirmos já, podemos corrigi-lo.»

Cris

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Janeiro

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Janeiro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado um vencedor! Foi ele:

Marisa Luna

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 15, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:


 

Cris