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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

"Comboio Para o Paquistāo" de Khushwant Singh

Pouco tenho a dizer sobre este livro. Foi-me difícil entrar no tema retratado porque ele próprio é de difícil compreensāo. Muçulmanos, hindus e sikhs. Uma guerra que tem por base a religiāo e em que os ódios se misturam. Como resultado, a morte de gente inocente.

Alguns personagens tomam lugar de destaque sem que haja uns mais importantes que outros. Pequenas histórias das suas vidas sāo descritas e o contexto social em que decorrem é árido, desprovido de amor.

Fiquei incomodada com a temática e, no entanto, sinto que nāo captei toda a História por detrás desta história contada por Khushwant Singh. Nāo domino de todo este período da História da Índia mas sinto que, mesmo após esta leitura, nāo o captei totalmente. Esse período sangrento, o fim do colonialismo inglês na Índia e a criaçāo do novo Estado do Paquistāo, ficou marcado com sangue e ódio. Sente-se isso nestas páginas e, como referi, isso incomodou-me.

Nāo posso dizer que foi uma leitura empolgante e que tenha lido com prazer mas isso deveu-se ao tema tratado e ao ambiente descrito porque nāo cheguei a compreendê-lo bem.

Terminado a 29 de Janeiro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
Mano Majra é uma povoação numa zona remota de fronteira, onde sikhs e muçulmanos viveram juntos e em paz ao longo de séculos. Mas tudo muda quando um dia, no fim do Verão, aparece o "comboio fantasma". A sua carga silenciosa anuncia um período de sombras e de discórdia e traz consigo a ameaça da guerra à tranquilidade idílica da aldeia. A semente do ódio está lançada e Mano Majra não será mais a mesma. No entanto, é neste cenário ameaçador que irrompe na aldeia o namoro entre Jugga, um jovem sikh que passa a vida a entrar e sair da prisão local e de Nooran, a filha do mullah. Uma história de amor impossível que transcende tudo e todos, um «Romeu e Julieta» indiano.
Neste livro, que lançou o seu nome a nível internacional, Khushwant Singh serve-se da sua brilhante prosa para denunciar um dos mais esquecidos e sangrentos episódios da história da humanidade: o fim do colonialismo inglês na Índia e criação do novo estado do Paquistão. Uma história brutal com repercussões que duram ainda nos dias de hoje.

Cris

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Convidada Escolhe: Americanah


Americanah
Chimamanda Ngozi Adichie
2013
Já conhecia Chimamanda de um TED talk em que participou a falar sobre o perigo da história única e também da leitura de “Todos devemos ser Feministas”. Quer um quer outro deixaram-me maravilhada. Desta vez, “Americanah” um volumoso romance em que a personagem principal é uma jovem nigeriana e o seu percurso de vida na Nigéria, nos Estados Unidos e depois de novo na Nigéria. Mas é muito mais do que um romance. É, sobretudo, uma reflexão profunda sobre as sociedades nigeriana e norte americana das últimas décadas. Sobre o estado do mundo. E sim, “Americanah” tem a ver com a cor da pele, mas não é um livro a preto e branco.
Assolada por guerras civis e ditaduras, a Nigéria era para muitos jovens estudantes um país sem futuro, sem perspectivas. Os Estados Unidos da América representavam o sonho de aí poderem estudar e viver. Como dizia a mãe de Obinze, o seu jovem namorado, quando Ifemelu se foi despedir dela “A Nigéria está a enxotar os seus melhores recursos.” Só que quando chega à “gloriosa América”, Ifemelu descobre que a realidade é muito diferente daquilo com que sonhara quando vivia em Lagos. Descobre uma sociedade de consumo, com falsas “necessidades” e “escolhas” que são impostas, nos supermercados, nos hábitos alimentares e de vida. A linguagem cheia de tiques, as palavras fetiche que as colegas usavam tudo isso foi um choque inicial, uma perplexidade, mas a que se foi acostumando. Ifemelu sempre fora considerada insubmissa e crítica e tinha esse filtro que, apesar das transformações a que vai ser sujeita, a levam a preservar a sua identidade, resistindo ao sotaque americano, investindo na leitura e fazendo amizade com a Associação de Estudantes Africanos que a vai ajudar a detectar as diferenças dos relacionamentos dos americanos, quando se trata de afro-americanos ou africanos. Ifemelu percebeu como os Americanos olhavam com comiseração para os Africanos, do alto da sua superioridade. Esta aprendizagem foi relevante e levou-a a iniciar um blogue sobre “estilos de vida”, resultado do que ia observando, mas cujo objecto era o tema “raça”. Esse blogue ajuda-a a sobreviver na América, ultrapassando os momentos mais difíceis, a solidão e torna-se famoso pela acutilância. “Eu sou de um país onde a raça não era um problema; não pensava em mim própria como negra, só me tornei negra quando vim para a América”, escreve num post. O blogue de Ifemelu é irónico sobre os tiques racistas e/ou politicamente correctos dos americanos brancos para com os africanos, catalogados como uma entidade única. No fim de cada post, faz sempre um apelo a que os seus leitores se pronunciem e façam sugestões.
Os cerca de treze anos que Ifemelu viveu nos EUA permitiram-lhe ter vários relacionamentos e conviver com diferentes tipos de pessoas, sobretudo com uma elite intelectual ligada à universidade, também ela com códigos, linguagem e registo fechados, um manancial para o seu blogue. Vive intensamente o período eleitoral da campanha à presidência dos Estados Unidos que desemboca na eleição de Barack Obama. Inicialmente adepta de Hilary Clinton, a possibilidade de a América poder vir a ter um negro como presidente, leva-a a apoiar a campanha de Obama. Uma experiência única. Uma felicidade indescritível.
Mas a sua bolsa de investigação terminou e o apelo do regresso à Nigéria é mais forte. A sua terra natal, entretanto, transformara-se e, tal como anos antes ela se tinha adaptado à sociedade norte americana, agora era preciso adaptar-se à Nigéria actual. Uma sociedade de novos ricos, inundada por telemóveis, seduzida pelo que é estrangeiro, bajulando quem é poder, onde as igrejas manipulam os incautos e onde as aparências é que contam. As suas antigas amigas do secundário só falam em casamentos. Por norma “uma mulher não se casa com o homem de quem gosta. Casa-se com o homem que melhor a possa manter”. O desconforto de Ifemelu fá-la balançar entre a saudade de uma América organizada a que se habituara e a saudade duma Nigéria que tinha deixado quando jovem estudante universitária. O seu primeiro emprego numa revista que não a satisfaz leva-a a entusiasmar-se com a ideia de criar um novo blogue sobre a realidade nigeriana, sobre as pessoas concretas e seus problemas, sobre saúde, religiões, igrejas. Será “As Pequenas Redenções de Lagos”.
Mesmo assim, estava em paz por estar em casa, por estar a escrever o seu blogue, por ter descoberto Lagos outra vez. Sentia-se por fim completamente realizada. “
  • Então, ainda tens um blogue?
  • Ainda.
  • Sobre raça?
  • Não, só sobre a vida. A raça não resulta realmente aqui. Sinto que saí do avião em Lagos e deixei de ser negra.
  • Aposto que sim.”
Para além de Ifemelu, Obinze é a segunda principal personagem de “Americanah”, mas a tia Uju, Dike o seu filho e a mãe de Obinze são personagens muito interessantes. Obinze esbarra com as restrições de acesso a um visto para ir para os Estados Unidos em sequência dos acontecimentos do 11 de Setembro e tem de se virar para Inglaterra. “As pessoas estavam famintas de escolha e de certeza” e imigravam não apenas para fugir à guerra ou à pobreza. Mas, em Inglaterra, apesar da sua formação universitária, ele é um imigrante ilegal, é como se não existisse, pois não tem um número na segurança social que lhe permita trabalhar e viver. O tema da imigração está na ordem do dia e para Obinze a vulnerabilidade é o seu dia-a-dia. “A classe neste país está no próprio ar que as pessoas respiram.” O mundo paralelo é o que permite sobreviver e isso significa fazer negócio com um nigeriano que lhe passa o seu cartão, deixando de ser Obinze para passar a ser Vincent, ou estabelecer contactos com angariadores angolanos que lhe arranjem casamento com uma jovem naturalizada inglesa, para que assim ele possa obter cidadania europeia.
O racismo, difuso ou explícito, a imigração, a corrupção dos governos, e apesar de tudo isso, a capacidade de resistência e resiliência dos seres humanos são alguns dos muitos temas que Chimamananda Ngozi Adichie coloca neste livro. Ifemelu regressou ao seu país natal, transformada, mas não perdeu a sua identidade e as suas raízes. Ifemelu não é uma americanah típica.
“Americanah” é o livro de uma autora com fortes convicções e muito inspiradora.
27 de Janeiro de 2019
Almerinda Bento

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

"A Minha Prima Rachel" de Daphne du Maurier

Depois de ter lido A Casa da Praia e de lhe ter dado 6 estrelas, dei comigo a pensar, a meio desta leitura, que muito provavelmente, esta obra, A Minha Prima Rachel, era merecedora de mais. Prestes a chegar ao final, obriguei-me a ler lentamente, palavra por palavra, impedindo o desejo louco de saltar parågrafos de modo a chegar mais rápido ao final... As minhas suspeitas nāo eram infundadas! Esta obra merece as minhas 6 estrelas ou mais ainda.

A escrita de Daphne du Maurier pautou-se por um aprofundamento psicológico das personagens que me encantou deveras. A história é-nos contada, na primeira pessoa, por Philip, um jovem prestes a fazer os 25 anos, que se vê envolvido no desaparecimento de um primo que o criara desde pequeno e a quem ele amava. Um casamento surpresa, uma doença suspeita, uma carta que mais nāo é do que um SOS, e está lançado o mote para um romance arrebatador que leva o leitor a suspeitar, junto com Philip, das mais intrincadas teias e intrigas elaboradas pela prima Rachel, recentemente casada com o primo deste.

Se umas vezes apetece abanar Philip, outras caímos, também nós, nas teias desta prima de carácter tāo dúbio e tāo díspar. Senti-me completamente à mercê da escrita de Daphne, que me levou para onde quis, odiando ou concordando com Philip, criticando-o ou aplaudindo-o as suas acçōes

Um livro que vāo devorar! Leiam para ver!

Terminado a 25 de Janeiro de 2019

Estrelas: 6*

Sinopse
Sem sequer nunca se terem encontrado, Philip odeia Rachel, com quem Ambrose, seu primo, casou durante uma estadia em Itália. E quando este lhe escreve e lhe transmite a suspeita de que a mulher o quer envenenar, Philip não sente quaisquer dúvidas. Ambrose morre em circunstâncias pouco claras e Philip jura vingar a sua morte. Semanas depois, Rachel visita-o na sua propriedade da Cornualha, e a animosidade que Philip sentia por ela vai dando lugar a um fascínio incontrolável. Quem é Rachel afinal? Uma mulher realmente apaixonada? Ou movida por interesses pessoais? Daphne du Maurier confirma com esta obra o seu enorme talento para escrever histórias com uma grande riqueza narrativa, suspense e intriga permanentes e uma apurada caracterização das personagens. A Minha Prima Rachel é um romance clássico, cativante, com uma escrita belíssima.

Cris

sábado, 26 de janeiro de 2019

Na minha caixa de correio

 

 



Poucos mas bons, os livros recebidos esta semana! O Doutor Givago foi comprado num alfarrabista, os seguintes foram ofertados pelas editoras:

- Da Planeta chegaram A Noite Passada (Alice Brito, uma autora a reter! Adorei os dois livros anteriores dela) e O Rapaz Que Seguiu o Pai Para Auschwitz (meu Deus, este tema...),
- Da Gailivro recebi Dois Guardam um Segredo. Li o livro anterior e gostei muito!
- Da Pergaminho veio o Alternativas Naturais aos Antibióticos. Já folheei e pareceu-me muito bom. Os OE (óleos essenciais) usados com sabedoria podem fazer verdadeiros milagres... Tenho alguns cá em casa e vou experimentar fazer algumas receitas do livro para uso externo, sobretudo. Vocês sabiam que o que colocam na vossa pele demora poucos segundos a entrar na corrente sanguínea? E já agora experimentem ler os rótulos com um diccionário virtual na frente dos cremes que possuem... Derivados do petróleo pululam na composiçāo da maioria deles!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Escolha do Jorge: "Abóboras em Flor"



“Também é possível como pugilista que sejas mais inteligente e hábil, mas venceste-o, meu querido Campeão, porque a tua alma está corrupta. Era mesmo necessário bater-lhe no coração, quando sabes que com isso podias tê-lo matado? Porque é que utilizas esse golpe? Para que é que ele serve no boxe? Isso é que é desporto?” 
(p. 69)
“Abóboras em flor” é a obra mais representativa do escritor sérvio Dragoslav Mihailović (n. 1930), como também a mais importante da literatura sérvia contemporânea. Romancista, contista e ensaísta, Dragoslav Mihailović recebeu vários prémios literários, nomeadamente o Prémio Ivo Andrić, além de ter sido eleito membro da Academia de Ciências e Artes da Sérvia.
Este pequeno romance conta-nos a história de Ljuba Sretenović, um sérvio residente na Suécia com a sua esposa Inge e o filho Arne. A sua história remonta ao período em que o Marechal Tito media forças com a então URSS, nos anos 50 e 60, em que o governante tentava a todo o custo eliminar as diferenças e movimentos separatistas das seis nações que constituíam a Jugoslávia. Mantendo uma certa distância e autonomia face à URSS, a Jugoslávia constituía um estado comunista isolado no contexto europeu, tanto na relação com a URSS e “Cortina de Ferro” como com os demais países ocidentais onde vigorava a democracia.
Percebemos através do relato de Ljuba Sretenović que a falta de expectativas face ao futuro tendo em consideração a asfixia política geradora de uma liberdade agrilhoada, remetia muitos jovens para a prática do pugilismo como forma de evitarem o recrutamento militar.
A prática do pugilismo por parte de muitos jovens foi a forma de brilharem entre os seus pares e, enquanto jovens, terem o reconhecimento das raparigas, assim como de outras pessoas nas pequenas comunidades. Aqueles que chegavam às competições chegavam mesmo a ser estrelas reconhecidas nas várias regiões que constituíam a Jugoslávia, sendo esses acontecimentos e os premiados registados na imprensa de então.

A prática deste desporto a par da ausência de perspectivas face ao futuro conduzia a que se formassem pequenos bandos de jovens que decidiam bater em inocentes apenas porque assim o determinavam, sem nenhuma razão em particular, quase como uma espécie de necessidade de medir forças, havendo mesmo grupos rivais protegidos pelos seus líderes.
Percebemos pelo relato de Ljuba Sretenović que a vida não era fácil naqueles anos. Ainda que controlada em certa medida as diferenças entre as várias nacionalidades que formavam a Jugoslávia, é-nos dado um quadro de parceria e de espírito de entreajuda entre as várias comunidades, na medida em que tudo era regido sob a ideia de um único país.
São inúmeros os relatos de violência descritos por Ljuba Sretenović e, ao longo da narrativa, somos levados a reflectir sobre o conceito de justiça. Ljuba Sretenović assume os seus erros e o seu crime capital, mostrando-se sempre disposto a pagar por ele se for caso disso, mas é o princípio de justiça que nos leva em certa medida a ilibar Ljuba face a crimes maiores e de honra que trouxeram perdas incalculáveis.
“Abóboras em flor” retrata várias situações de violência em relação às mulheres de uma forma sistemática e de uma crueldade atroz. Foi exactamente o que aconteceu à irmã de Ljuba que deixou toda a família vulnerável, principalmente a mãe com uma depressão profunda e o pai a contar os dias para deixar este mundo. “Mas todas as noites é como se estivesse a ser estrangulado. E sinto que o que está para vir é aquilo que todos devíamos estar sempre à espera.” (p. 72) A dada altura, Ljuba apercebe-se que está só no mundo já que o seu irmão Vlada é a única pessoa viva e até ele se encontra num campo de correcção por ser considerado um inimigo do Estado. “«Não é cadafalso nenhum, Campeão. Nós não somos capitalistas. Trata-se de trabalho de correcção; vamos reeducá-lo e, quando estiver melhor, mandamo-lo cá para fora.»” (p. 37)
A ida de Ljuba Sretenović para a Suécia foi casual ainda que por uma questão de sobrevivência e de medo. O facto de viver num país que reconhece a liberdade dos seus cidadãos, Ljuba trabalha numa fábrica tal como no seu país natal, é sindicalista, algo inimaginável na Jugoslávia, e é treinador de uma equipa de boxe local. A par de tudo isto, Ljuba dá apoio aos jugoslavos que, como ele, procuram na Suécia um futuro melhor. “Há mais ou menos seis anos, eu era o único jugoslavo em Östersund. Agora somos quase seiscentos. Quando começaram a aparecer, quase não acreditava. E, agora, falamos um pouco à nossa maneira, cantamos um pouco à nossa maneira, choramos um pouco à nossa maneira, e depois cada um vai para o seu lado.” (pp. 9-10)
Mesmo vivendo em liberdade e tendo as condições que nunca teria na Jugoslávia, Ljuba morre de saudades da sua língua materna, assim como do seu país, sentindo uma necessidade imensa de fazer a viagem desde o norte da Europa até aos Balcãs, nem que seja só pelo prazer de entrar no país por um dia e depois voltar para trás.
“Abóboras em flor” de Dragoslav Mihailović é um hino à saudade, à melancolia, mas também um enorme contributo à literatura na sua essência. O leitor lê as primeiras páginas e fica completamente agarrado à história e à simplicidade da escrita, sendo um daqueles exemplos de que um pequeno livro constitui um livro imenso que nos acompanhará por mais algum tempo.
“Abóboras em flor” é um pequeno livro onde reina o ódio, a raiva e o desejo de vingança, mas que acabam suplantados pelo amor, pela tolerância e por um forte sentimento de felicidade. E a justiça, sim, a justiça… O que é a justiça, afinal de contas?


Excerto:
“Não, não vou voltar. Saí de lá há doze anos, e aqui, em Östersund, já estou há oito. Tenho família. Está a ver aquele rapaz russinho ali? Pois parece, e é mesmo sueco. A minha mulher teve-o em solteira, antes de mim; aqui os costumes são outros. Dei-lhe o nome; o pai, de qualquer maneira, nunca chegou a conhecer. Agora chama-se Arne Sretenović. Custou-lhe muito a aprender a dizer o próprio nome. Estou a ensiná-lo a falar sérvio. E, nem de propósito, aprende mesmo bem, é mesmo esperto. Já o mandei, quatro vezes, para o meu irmão Vlada, em Belgrado, a ele e à mãe. Levam sempre dinheiro, claro. O meu irmão manda-os com os seus, tem um casalinho, para a praia. De que outra maneira podia explicar porque os mando para lá? Os coitados dos suecos, pensam que toda a Jugoslávia é uma grande praia. Não conseguem imaginar que há quem vá à Jugoslávia e não vá à praia. E mesmo quando eu vou, dizem: «Foi para as praias dele. Não pode viver sem elas.»
(…) O meu miúdo adora-me; e tenho de admitir que eu também gosto dele. Uma vez, estava a passar na rua e vi-o com uns amigos, a gabar-se: «Lá, na Jugoslávia, o meu velho era um campeão. Os jornais falavam dele.» Mas eu nunca fui campeão da Jugoslávia. Fui campeão da Sérvia, dois anos de peso meio-médio e médio ligeiro e médio. Também fui campeão de peso médio nas Forças Armadas, quando estava na tropa. E o Arne diz à mãe: «Quando no Verão passado fomos à nossa Jugoslávia…»” (pp. 5-6)
Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

"A Grande Solidāo" de Kristin Hannah

Só tenho ouvido falar bem da escrita desta autora e dos seus livros anteriores, nomeadamente de O Rouxinol. Nāo tenho termo de comparaçāo porque este foi o primeiro livro seu que li. No entanto, posso-vos dizer que fiquei arrebatada, logo deste o início, pela escrita profunda, cheia de pormenores que nos fazem conhecer melhor o ambiente escolhido (neste caso o Alasca) e os personagens com seus problemas psicológicos complexos.

Achei que a parte final poderia ter mais algumas dezenas de páginas, explorando alguns detalhes que achei pouco desenvolvidos, nāo tornando, de forma alguma, o livro pesado e enfadonho. Como referi, a escrita de Kristin é profunda, reveladora de um estudo e pesquisas demoradas e detalhadas, mas nāo é complicada e lê-se muito facilmente. Queria mais folhas no final. O livro merecia-o, a autora saberia como fazê-lo, tenho a certeza. Há livros que merecem ser um calhamaço e este era um deles.

No entando, nāo quero com isto dizer que o achei insuficiente. Pelo contrário! E aprende-se muito. Nada me torna mais feliz, ao ler, como quando expando o meu conhecimento sobre um determinado assunto/sítio geográfico. Pouco sabia sobre o Alasca. Imaginava-o uma zona imensa, branca e fria. Pouco mais. Saber como viviam os alasquianos, como conseguiam sobreviver e ultrapassar as intempéries que grassam durante os nove meses em que a noite dura quase o dia todo e há pouca luz, foi, para mim, um prazer...... Prazer que vocês sentirāo quando pegarem nesta obra. Tenho a certeza disso.

Como dizia, passeei-me pelo Alasca. Vivi momentos de frio intenso, duma luta constante do Homem contra a Natureza. Um e outro, perdem e ganham! Mas, para além disso, senti na pele os dilemas de quem ama e de quem sofre porque o amor, muitas vezes, assume contornos difíceis de aceitar e entender. A violência doméstica, encapotada e fruto de disturbios pós-guerra Vietnam, bate-nos aqui à porta e deixa-nos de rastos...

Um livro a ler que vale bem as minhas 6 estrelas! O próximo será O Rouxinhol.

Terminado em 21 de Janeiro de 2019

Estrelas: 6*

Sinopse
1974, Alasca. Indómito. Imprevisível. E para uma família em crise, a prova definitiva. Ernt Allbright regressa da Guerra do Vietname transformado num homem diferente e vulnerável. Incapaz de manter um emprego, toma uma decisão impulsiva: toda a família deverá encetar uma nova vida no selvagem Alasca, a última fronteira, onde viverão fora do sistema. Com apenas 13 anos, a filha Leni é apanhada na apaixonada e tumultuosa relação dos pais, mas tem esperança de que uma nova terra proporcione um futuro melhor à sua família. Está ansiosa por encontrar o seu lugar no mundo. A mãe, Cora, está disposta a tudo pelo homem que ama, mesmo que isso signifique segui-lo numa aventura no desconhecido. Inicialmente, o Alasca parece ser uma boa opção. Num recanto selvagem e remoto, encontram uma comunidade autónoma, constituída por homens fortes e mulheres ainda mais fortes. Os longos dias de verão e a generosidade dos habitantes locais compensam a inexperiência e os recursos cada vez mais limitados dos Allbright.
À medida que o inverno se aproxima e que a escuridão cai sobre o Alasca, o frágil estado mental de Ernt deteriora-se e a família começa a quebrar. Os perigos exteriores rapidamente se desvanecem quando comparados com as ameaças internas. Na sua pequena cabana, coberta de neve, Leni e a mãe aprendem uma verdade terrível: estão sozinhas. Na natureza, não há ninguém que as possa salvar, a não ser elas mesmas. Neste retrato inesquecível da fragilidade e da resiliência humana, Kristin Hannah revela o carácter indomável do moderno pioneiro americano e o espírito de um Alasca que se dissipa - um lugar de beleza e perigo incomparáveis. A Grande Solidão é uma história ousada e magnífica sobre o amor e a perda, a luta pela sobrevivência e a rudeza que existe tanto no homem como na natureza.


Cris

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

OFERTA ESPECIAL extra do Passatempo de Natal 2018 / Cultura Editora

Foi sorteado entre os 605 participantes um livro infantil extra (A Estrela do Mar) cedido pela Cultura Editora. A vencedora foi Teresa Fernandes de Setúbal.


RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Marcador

O blogue agradece à Marcador, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Luana Santos
da Moita

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Presença

O blogue agradece à Presença, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Daniela Gonçalves
de Alenquer

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Saída de Emergência

O blogue agradece à Saída de Emergência, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Helena Lucas 
de Lisboa

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Esfera dos Livros

O blogue agradece à Esfera dos Livros, a oferta dos livros para este passatempo. Das 605 participações, foram seleccionados os seguintes vencedores:


Teresa Carvalho 
de Estarreja



Maria Fátima Valente 
da Guarda

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Alma dos Livros

O blogue agradece à Alma dos Livros, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Jorge Sá Martins
São Martinho de Sardoura

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Cultura Editora

O blogue agradece à Cultura Editora, a oferta dos livros para este passatempo. Das 605 participações, foram seleccionados os seguintes vencedores:


Carlota Moutinho
de Lisboa


Ana Pedro
de Coimbra


Susana Fajardo
de Palmela

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Porto Editora

O blogue agradece à Porto Editora, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Maria Gabriela Ribeiro
do Cacém

RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Loja Online JB

O blogue agradece à Loja Online JB, a oferta dos livros para este passatempo. Das 605 participações, foram seleccionados os seguintes vencedores:


Carla Dias 
de Faro


João Lemos 
de Aveiro


Joana Figueiredo
da Figueira da Foz


Manuel Arouca 
de Braga


RESULTADO do Passatempo de Natal 2018 / Minotauro

O blogue agradece à Minotauro, a oferta do livro para este passatempo. Das 605 participações, foi seleccionado o seguinte vencedor:


Miguel Santana Domingos 
de Paço d'Arcos

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

"O Sabotador" de Andrew Gross

Leitura feita em poucos dias. A escrita é fluída, directa, sem floreados. O enredo cativou-me, muito embora eu achasse que ler sobre actos de sabotagem nāo fosse propriamente a minha praia. Fiquei, por isso, surpreendida quando me vi em plena Noroega, num manto branco de neve, com frio, enterrada nela, a esquiar, a esconder-me dos "meus" perseguidores... Senti o frio provocado pela neve intensa e quase ouvi o respirar das personagens e a sua andiedade, nervosismo e cansaço.

Este "sentir" o ambiente, o clima, as emoçōes das personagens, é algo que procuro numa leitura. Estar presente. Participar e viajar. Quando isso acontece, dou por bem empregue o tempo dispendido a ler.

Esta história, baseada em factos verídicos, decorre maioritariamente nos arredores de Oslo, numa pequena aldeia, aquando da invasāo de Hitler, e um grupo de noruegueses têm a missāo de desativar em definitivo a produçāo de uma fábrica onde se produzia oxido de dentério, a chamada "água pesada", matéria-prima para o fabrico de bombas nucleares.

É uma visāo diferente sobre a II Guerra daquelas que tenho lido. Actos de sabotagem, preparaçāo militar intensa, clandestinidade, colaboradores, campo de concentraçāo de Grini como "prémio" por nāo colaborar com a ideologia, ou pior, como "prémio" por razāo nenhuma aparente. O resultado final? Um livro cuja acçāo cresce de intensidade quanto mais avançamos na sua leitura, que nos envolve e nos deixa pregados às páginas.

Um livro a ler!

Terminado a 13 de Janeiro de 2019

Eatrelas: 5*

Sinopse
Os Aliados descobrem que os nazis estão perigosamente perto de construir uma arma decisiva para o desfecho da guerra. E têm de fazer tudo para os impedir.
Kurt Nordstrum é um engenheiro que faz parte da resistência que quer livrar a Noruega da influência de Hitler. Após perder a noiva, foge para Inglaterra, levando provas secretas sobre o progresso dos nazis na construção da bomba atómica.

Com o destino da guerra em mãos, e em nome da lealdade e do dever, ele coloca em risco a pessoa que mais quer proteger. No final, o que estará disposto a sacrificar?

Cris

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

"A Provadora" de V. S. Alexander

Esta foi uma leitura feita em conjunto com duas meninas livrólicas. As leituras conjuntas proporcionam conversas interessantes que me agradam muito, sobre o livro, o enredo, a escrita do autor. E sobre livros.

Tinha espectativas muito elevadas quando comecei este livro. Ouvira falar vagamente sobre o facto de Hitler ter quem lhe provasse a comida, tal o medo que possuía em ser envenenado, mas pouco mais sabia sobre isso. Embora a história seja ficcionada, a protagonista foi baseada numa provadora que existiu e que só no fim da sua vida revelou tudo o que fez durante o periodo da II Guerra. Outros factos reais foram, também, introduzidos na história, como explica o autor nas notas colocadas no final do livro. Gostei de as ler. Fez mudar um pouco, para melhor, o que senti com esta leitura...

Passo a explicar: alguns aspectos, alguns acontecimentos pareceram-me um pouco excessivos. Continuo a achar estranho que uma simples provadora tivesse acesso directo ao ditador da forma como Magda o fez no final da guerra, quando Hitler se apercebeu que iria perdê-la, mas percebo a razāo pela qual o autor tomou essa opçāo. Às vezes é a própria história que pede isso, que se alterem os acontecimentos reais para que ela faça sentido.

Nāo é um daqueles livros que nos fazem ir ás lágrimas mas lê-se muito rapidamente. A escrita escorre por entre os nossos dedos. Achei-a, no entanto, um pouco fria, sem emoçāo. É bem verdade que quem trabalhava para Hitler tinha de esconder-se interiormente nāo mostrando os seus verdadeiros sentimentos e, imagino, que quem nāo estava de acordo com a política exercida tivesse de se escudar muitíssimo para nāo dar a conhecer os seus verdadeiros sentimentos. Talvez o autor quissesse exprimir isso mesmo!

No entanto, se pegarem neste livro prometo-vos que ele nāo ficará muito tempo nas vossas māos. Vāo lê-lo rapidamente.

Terminado em 12 de Janeiro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
Em plena Segunda Guerra Mundial, uma jovem encontra refúgio ao lado do homem mais perigoso do mundo. 

Em 1943, alarmados com os constantes raides aéreos dos Aliados sobre Berlim, os pais de Magda Ritter enviam-na para Berchtesgaden, uma remota cidade nos Alpes Bávaros. Aqui ela é recrutada para o Berghof, o refúgio de montanha de Hitler, onde é treinada para desempenhar uma única função: provar a comida do Führer, oferecendo-se em sacrifício para o manter a salvo de envenenamento.
O Berghof parece estar a um mundo de distância da realidade das batalhas e, apesar de a princípio estar aterrorizada, Magda habitua-se gradualmente à sua perigosa missão. Mas o seu amor por um conspirador das SS e a sua crescente tomada de consciência das atrocidades do Reich empurram Magda para uma conspiração que irá testar a sua inteligência e lealdade.

Vividamente escrito, A Provadora desenrola-se no momento mais negro e turbulento da humanidade, oferecendo-nos uma trama plena de intriga e terror, mas também de extraordinária coragem, sacrifício e amor.

Cris

sábado, 12 de janeiro de 2019

Na minha caixa de correio

  

  

  

 

 

Ofertados pelas editoras parceiras:
- A Grande Solidāo - Bertrand Editora
- O Dia em que perdemos a cabeça - Suma de Letras
- A Última Ceia - Cultura Editora
-O Sabotador - Clube do Autor
Mariposa - Editora Saída de Emergência

Comprado num alfarrabista:
- O Mistério do Caso de Campolide

Os restandes foram ganhos nos passatempos do JN.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A Escolha do Jorge: “Cartas a Milena”


“Sim, a tortura, para mim, é extremamente importante, eu não me ocupo com mais nada senão com ser torturado e torturar.” 
(p. 206)

Amar Kafka… Sim, creio que depois de ter lido algumas das obras de Kafka, e de ter mergulhado nestas cartas, é o pensamento que me vem à mente. Um amor literário, por palavras, ideias tendo por base sentimentos e vivências do autor, parece-me ser esse o pensamento a transmitir.

Contextualizando, esta obra corresponde à compilação das cartas de Franz Kafka (1883-1924) enviadas a Milena Jasenská (1896-1944), a sua tradutora do alemão para a língua checa, que residia em Viena, ao longo de 1920, numa primeira fase, quando o escritor se encontrava a recuperar num sanatório em Merano, na Itália, e mais tarde, em Praga.

É notório o tom mais formal nas primeiras cartas na forma como Kafka se dirige a Milena, iniciando as mesmas com “Cara senhora Milena”, mas percebendo a abertura e as dificuldades económicas e até problemas conjugais da sua interlocutora, Kafka rapidamente percebeu haver espaço para o coração de ambos ainda que se tratasse de uma relação condenada à nascença por várias razões. Neste sentido, durante praticamente um ano desenvolveu-se uma relação amorosa, epistolar, platónica em certa medida, entre Kafka e Milena, entrando ambos numa roda viva de cartas e telegramas a circular, chegando Kafka a escrever duas e três cartas por dia, tal era a inquietação do autor à data.

Todos conhecemos o universo de Kafka a partir das obras de Kafka, mas lendo estas cartas, num tom mais intimista, percebemos as ideias que mais caracterizam a sua escrita, como o medo, a sujidade, o sofrimento, a tortura, a inquietação, a burocracia trazida pela modernidade, não esquecendo a culpa, a culpa de existir.

Kafka afirma “Sim, a tortura, para mim, é extremamente importante, eu não me ocupo com mais nada senão com ser torturado e torturar.” (p. 206) Ao longo destas cartas, compreendemos que é o próprio Kafka quem transforma a sua vida num inferno. Kafka é um herdeiro exemplar da cultura judaica e lemos inúmeras vezes a sua fragilidade física, mas também a sua incapacidade de compreender o mundo. Kafka quase pede perdão por existir e, como tal, é-lhe imputada uma expiação, mas carece de força para tal. Há uma passagem em que de certa forma podemos comparar Kafka a Atlas que carrega o peso do mundo e também a Jesus que expia os pecados da humanidade. “(…) Não posso trazer o mundo aos ombros, aos ombros mal suporto o meu sobretudo.” (p. 208)

Esta ideia em torturar e ser torturado ‘ad eternum’ acompanha, de um modo geral, estas cartas. Um dos exemplos, talvez o mais marcante, é a dificuldade em marcar a visita de Kafka a Milena, em Viena, durante quatro dias. Chega a ser cómico tanto quanto desesperante determinar o dia, o transporte, a ligação, o horário, o encontro, e quando aparentemente combinado, eis que surge a indecisão em relação à partida para Viena. O medo que rói e mina por dentro a consciência que se vê culpada e que reflecte uma culpa milenar está sempre presente nas palavras de Kafka.

Se por um lado ficamos a conhecer o lado mais doce e terno de Kafka, e também sedutor, percebemos também da sua necessidade de amar e ser amado urgente e incessantemente, não esquecendo o facto de Kafka ter rompido dois noivados com outras duas jovens antes de ter conhecido Milena. Kafka surpreende-nos com uma declaração de amor a Milena ao ponto de a mesma ter sido sublinhada pelo próprio, como forma de enfatizar as palavras e sentimentos. E sim, como leitores, talvez não esperássemos conhecer este lado mais terno de Kafka, o que lhe confere uma dimensão mais humana em contraponto com a natureza das suas obras. “(…) E eu amo-te, ó de compreensão lenta, como o mar ama um seixo minúsculo que tem no fundo, é exactamente assim que o meu amar-te te inunda (…).” (p. 149) “Já dantes, antes de dizeres que às vezes, ao escrever, pensas em mim, eu sentia que os teus artigos tinham relação comigo, quer dizer, apertava-os contra mim, agora que o disseste expressamente, sinto-me quase mais receoso nesse aspecto e quando, por exemplo, ouço falar, no artigo, de uma lebre na neve, quase me vejo a mim próprio a correr.” (p. 166)

É ainda no sanatório, em Merano, na fase inicial desta relação epistolar, quando Kafka ainda se dirigia a Milena na terceira pessoa, que o próprio se refere ao medo como uma característica comum a ambos. O medo funcionou como o elemento catalisador desta relação face à necessidade de encontrar alguém semelhante e que tão bem compreendia o outro. “Somos tão tímidos e ansiosos que quase todas as cartas são diferentes, quase todas se assustam com a anterior e, mais ainda, com a carta de resposta. A Milena não é assim por natureza, é fácil de ver, e eu, talvez mesmo eu não o seja por natureza, mas já quase se transformou em natureza, só passa com o desespero e, no máximo, também com a ira e, não esqueçamos: com o medo.” (p. 45) Nesse mesmo dia, a 10 de Junho de 1920, numa segunda carta dirigida a Milena, Kafka dirige-se-lhe na segunda pessoa, passando a ser regra doravante.

Sensivelmente a partir desta data, Kafka entra numa roda viva de ansiedade em registo quase desesperante com o envio de cartas a Milena. Percebemos da sua inquietação no que respeita ao envio e receção das cartas e telegramas ao longo de vários meses devido às múltiplas referências sobre o serviço de correios. Esta ansiedade é uma das características sobejamente conhecida das obras do autor, mas que, também, na vida privada, se torna superlativa, a ver pelo seguinte excerto: “Estive todo o dia ocupado com as tuas cartas, em sofrimento, em amor, em cuidados e num medo completamente indefinido, cuja indefinição consiste sobretudo em ser desmedidamente superior às minhas forças.” (p. 168)

Este medo, sofrimento, esta incapacidade de compreender o mundo, de certa forma a alienação com que Kafka se vê a braços reflectem a corrente expressionista que, a partir da pintura, também veio a ter eco na literatura, como é visível nas obras do autor. As suas obras fazem, contudo, a fusão entre o expressionismo e o surrealismo, corrente que surge nos anos 20, mas que, atendendo à natureza das obras de Kafka, podemos afirmar que o autor se inscreve como um dos precursores desse movimento.

O medo, o medo, sempre o medo e novamente o medo é a palavra-chave destas cartas dirigidas a Milena. À medida que Kafka se torna obsessivo nesta relação epistolar com Milena, ficamos com a sensação que, em certos momentos, o autor sente a necessidade de aludir ao peso da herança judaica e tudo aquilo que ela representa na contemporaneidade e na forma como os judeus são vistos perante os outros. Neste sentido, à medida que Kafka ganha consciência do amor que nutre por Milena, aumenta também a ideia da sujidade, uma sujidade ancestral, e à medida que esse amor se desenvolve, mais difícil se concretizará a ideia de salvação, daí que a perda seja iminente, inevitável. “Sou sujo, Milena, infinitamente sujo, por isso faço uma tal gritaria sobre o asseio. Ninguém canta de maneira mais pura do que os que estão no mais fundo dos infernos; o que julgamos ser o canto dos anjos é o canto deles.” (p. 167) “O que é terrível é tu fazeres-me tomar muito mais consciência da minha sujidade e – sobretudo – isso tornar-me a salvação tanto mais difícil, não tanto mais impossível (é impossível de qualquer maneira, mas aqui o impossível intensifica-se).” (p. 195)

Esta consciência de impossibilidade em concretizar o amor para lá da relação epistolar vai gerar o ressentimento e, com ele, o fim desta relação que, na verdade, nunca existiu. Este amor em tormentas que despertou todos os medos e fantasmas de Kafka conduziu também à inevitabilidade da perda. No início de Outubro de 1920, Kafka tem um laivo de consciência pondo fim a toda esta situação para bem de ambos, tornando-se parca a correspondência entre os dois a partir de então. O medo em concretizar o amor é substituído pelo amor face ao indeterminado. “Milena, porque é que falas na tua carta do futuro em comum, que nunca vai existir, ou é por isso que falas dele? Já quando uma vez à noite, em Viena, falámos por alto disso, tive a sensação de que estávamos à procura de alguém que conhecíamos muito bem e de quem sentíamos muito a falta e a quem, portanto, chamávamos com os nomes mais belos, mas não veio a resposta; como é que ele podia responder, se não estava ali, nem em nenhum sítio ao nosso alcance.” (p. 197)

À medida que as cartas vão sendo redigidas, somos levados a crer na inevitabilidade do fim da relação epistolar entre Kafka e Milena dado que, várias vezes, Kafka apela a Milena para que não lhe volte a escrever. Por vezes o apelo é sério, mas também acaba por se tornar contraditório, ora não se tratasse de Kafka que, não estando bem com a situação, também não iria ficar melhor pondo cobro à relação, tornando-se assim numa situação caricata, cómica, mas tortuosa, para si, para Milena, mas também para o leitor. Creio que é este misto de inquietação e loucura, mas também imprevisibilidade que está na origem daquilo que comummente se passou a designar por kakfiano. “Ontem, aconselhei-te a não me escreveres todos os dias, continua a ser essa a minha opinião hoje, e seria muito bom para nós ambos e aconselho-to hoje outra vez e ainda com mais insistência – mas, por favor, Milena, não faças como eu digo e escreve-me todos os dias, pode ser só uma carta muito curta, mais curta do que as cartas de hoje, só duas linhas, só uma, só uma palavra, mas a falta desta palavra provocar-me-ia sofrimentos atrozes.” (pp. 104-105)

São muitos os elogios que Milena Jesenská (Pollak, nome de casada) tece a Frank (nome como habitualmente se dirigia a Franz Kafka) nas cinco cartas dirigidas a Max Brod, aqui também compiladas, entre Julho de 1920 e Julho de 1924. Durante os meses em que durou aquela relação epistolar, num jogo de gato e rato, a ver pelas cartas de Kafka, Milena fez um retrato fiel do seu correspondente, o que nos permite construir a ideia de um Kafka de carne e osso para lá do Kafka escritor, ainda que o primeiro seja o motor do segundo. “É absolutamente incapaz de mentir, tal como é incapaz de se embebedar. Não tem o mínimo refúgio, não tem abrigo. Por isso está exposto a tudo aquilo de que nós estamos protegidos. É como uma pessoa nua no meio de gente vestida. (…) Os livros dele são espantosos. Ele próprio é muito mais espantoso.” (p. 233) O que eu acho é que todos nós, o mundo inteiro e todos os seres humanos, estamos doentes e ele é o único são, que compreende as coisas correctamente e as sente correctamente, é o único ser puro.” (p. 236)

No obituário de Kafka, publicado no ‘Národní Listy’ a 6 de Junho de 1924, dois dias após o falecimento do escritor, Milena Pollak escreve: "Era tímido, ansioso, doce e bom, mas os livros que escreveu são cruéis e dolorosos. Via o mundo cheio de demónios invisíveis, que fazem o ser humano desprotegido em pedaços e o destroem. Era demasiado lúcido, demasiado sábio, para poder viver, demasiado fraco para lutar, fraco como são as pessoas nobres e belas, que são incapazes de travar combate com o seu receio da incompreensão, da falta de bondade, da mentira intelectual, já que conhecem antecipadamente a sua impotência e envergonham o vencedor ao sucumbir. Ele conhecia as pessoas, como apenas alguém com grande sensibilidade nervosa pode conhecer, alguém que está só e reconhece o outro de modo quase profético por um único brilho momentâneo do olhar. Conhecia o mundo de uma forma incomum e profunda, ele próprio era um mundo incomum e profundo. Escreveu os livros mais significativos da literatura alemã recente (…). (…) Todos os seus livros descrevem o horror de uma incompreensão misteriosa, de uma culpa inocente entre os seres humanos. Ele era um artista e um homem com uma consciência de tal forma sensível que conseguia ouvir mesmo lá onde outros, surdos, se julgavam em segurança.” (pp. 240-241)

Milena Jesenská foi presa pela Gestapo, em 1939, tendo sido deportada para o campo de concentração de Ravensbrück onde viria a morrer em 1944.

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

A Convidada Escolhe: "Gaspar, Belchior & Baltasar"



Gaspar, Belchior & Baltasar
Michel Tournier
1980
Um livro para ser desvendado em Dia de Reis. Uma revelação. Quem não sabe os nomes dos três Reis Magos? Que prendas levavam? E quais as motivações iniciais? Queriam mesmo homenagear o menino nascido em Belém? E se afinal houvesse outro rei de que não reza a história, porque não chegou a tempo de adorar o menino que, entretanto já tinha partido?
O primeiro narrador é Gaspar, o rei negro de Méroe. Logo no início, o seu astrólogo revela-lhe a chegada de um cometa. Numa ida ao mercado de Baaluk para comprar camelos, compra também dois escravos fenícios, louros, um rapaz e uma rapariga. A verdade é que Gaspar se apaixona por Biltine a rapariga fenícia, mas descobre-se que ao contrário do que diziam Biltine e o outro fenício não eram irmãos, mas sim amantes. O rei ficou desnorteado e o astrólogo sugeriu-lhe que partisse em viagem, que seguisse o cometa e assim esquecesse aquela paixão não correspondida.
No caminho, encontrou Baltasar o rei de Nippur. Baltasar era um esteta. Amante da arte e coleccionador. Era já velho, mas gostava do luxo, do prazer e da alegria. A sua viagem tinha como objectivo adquirir arte. Os tesouros que coleccionara tinham sido destruídos pelo fanatismo do clero que se opunha às imagens, tal como cinquenta anos antes, quando era criança e tinha a paixão de caçar borboletas, lhe tinham destruído a sua mais bela borboleta: a Cavaleiro-Baltasar. A ideia de seguir o cometa, que para os astrólogos era sinal de desgraças, era para Baltasar um bom augúrio. Seguiria a cavalo aquela “borboleta de fogo” e levava mirra que era usada pelos embalsamadores egípcios. Estava a dois dias de chegar a Hébron quando encontrou a caravana de camelos do rei Gaspar.
Por fim, Belchior, o príncipe de Palmira. “Sou rei, mas sou pobre. Estou só, se exceptuar um velho que nunca me abandonou.” O velho é Baktiar, o seu antigo preceptor. Belchior, filho do rei Theodeme teve de fugir de Palmira para evitar a morte certa por parte do tio que usurpou o trono que devia ser dele. Belchior apenas traz consigo uma moeda de ouro com a efígie do pai. De resto, ele e Baktiar não passam de dois vagabundos deslocando-se a pé. Vão encontrar os outros dois reis – Gaspar e Baltasar – em Jerusalém, que aguardam ser recebidos por Herodes. Baktiar vai interceder junto a Gaspar e Baltasar para que Belchior os possa acompanhar e se faça passar por um pajem da sua comitiva.
Herodes é um rei cruel e sangrento, há 37 anos no poder. Está velho, doente e só. Todo o seu reinado foi marcado por discórdia, traições e luta pelo poder por parte da família e da corte e Herodes chega aos 74 anos com um grave problema de sucessão. Herodes recebe os três reis e conta-lhes a história de outro rei Nabunassar III sem sucessor cuja barba foi sendo arrancada pelo a pelo por um pássaro branco para construir o ninho. Para Herodes, o cometa não é senão o tal pássaro branco que o rei Nabunassar perseguiu. Há que seguir esse cometa até Belém onde parece que nasceu o salvador do povo judeu. Herodes nomeia Gaspar, Baltasar e Belchior plenipotenciários do reino da Judeia e pede-lhes que depois de encontrarem esse reizinho dos judeus regressem à corte para lhe contarem o que viram.
Caminharam na direcção da estrela eriçada de agulhas no ar gelado. Avançaram com um passo sideral e cada um deles possuía um segredo e uma maneira de andar. Havia o que se deixava embalar pelo furta-passo do seu camelo e que via no céu negro tão-somente o rosto e os cabelos da mulher que amava. Havia o que inscrevera na areia o traço diagonal do trote da sua égua e que via tão-somente no horizonte o borboletear de um grande insecto cintilante. Havia o que andava a pé porque perdera tudo e sonhava com o impossível reino celeste. E os três tinham ainda os ouvidos cheios de uma história pejada de gritos e de horrores que lhes fora contada pelo grande rei Herodes, e que era a história deste, a história de um reino feliz e próspero, bendito pela arraia-miúda de camponeses e artesãos. E os três tentavam imaginar, cada um à sua maneira, o reizinho dos Judeus para o qual Herodes os remetera na companhia do seu pássaro branco.”
Regressados de Belém, de adorarem o menino Jesus, aquela visão de uma criança duma família humilde, aquecida por um burro e um boi, foi para os três reis uma revelação. Os motivos que os tinham conduzido até Belém – o amor, a arte e a política – tinham ficado ofuscados por aquela lição de amor, de respeito pelos outros, de humildade e grandeza. “Mas então tudo se tornava confuso nos seus espíritos, porque esse Herdeiro do Reino misturava atributos incompatíveis, a grandeza e a pequenez, o poder e a inocência, a plenitude e a pobreza. Era preciso caminhar. Ir ver. Abrir os olhos e o coração às verdades desconhecidas, apurar os ouvidos às palavras extraordinárias. Caminhavam, pressentindo com um terno júbilo que talvez uma nova era se estivesse a abrir sob os seus passos.”
É no regresso de Belém e de partida para os seus destinos que encontram Taor, príncipe de Mangalore. Muito jovem, despreocupado, os seus interesses não vão além da arte da pastelaria. O objectivo que o tinha levado a preparar uma caravana de cinco elefantes apetrechada com os melhores doces era encontrar o Divino Doceiro que lhe desse a receita de uma iguaria que tinha provado à base de açúcar e pistácio.
Quando chegou a Belém, Taor já não encontrou o Menino Jesus e os pais que tinham partido para Nazaré. O recenseamento já tinha terminado e Belém estava calma. Enquanto Taor dava um grande banquete com todas as guloseimas que os seus elefantes transportavam às crianças com mais de dois anos no jardim dos cedros, em Belém os exércitos de Herodes massacram todas as crianças recém-nascidas e até aos dois anos de idade. Este acontecimento trágico é o ponto de viragem na vida de Taor, até então tão alheado do mundo real e só virado para os prazeres da doçaria. Decide seguir sozinho e libertar a sua comitiva para poderem regressar a casa. “Metemo-nos numa viagem que prometia ser agradável, prevista, limitada, sobretudo pela frivolidade do seu objectivo. Esta viagem foi assim alguma vez? Tenho dúvidas. Em todo o caso, terminou numa certa noite em Belém, quando as crianças se regalavam e os seus irmãos morriam. A partir daí, foi outra viagem que principiou, a minha viagem pessoal, que não sei onde me levará nem se a cumprirei sozinho ou com um companheiro. Cabe-vos decidir. Não vos despeço nem vos retenho. Sois livres!»
Chega ao Mar Morto e a Sodoma. Apenas o seu tesoureiro guarda-livros o acompanha. Depara-se com o caso de um homem casado e com filhos que foi a julgamento por motivo de uma dívida e que se arrisca a ser condenado à morte. Em face disso, Taor oferece-se para pagar a dívida em falta, mas como o dinheiro que ainda possuia já era muito pouco, fica como prisioneiro a trabalhar nas salinas. Serão 33 anos de trabalho e sacrifício extremos. Entretanto, começa-se a falar de um pregador a quem chamam de Nazareno e que faz milagres, alguns relacionados com alimentos que distribui às multidões que o seguem. Terminada a pena, Taor é libertado e busca o tal Nazareno. Primeiro Lázaro e depois José de Arimateia falam-lhe que Jesus e os amigos estão a celebrar a festa pascal.
Mas mais uma vez, Taor chega tarde. Jesus e os doze apóstolos já tinham abandonado a sala do jantar. Cheio de cansaço e de fome, Taor bebeu algum do vinho deixado nas taças semi-vazias e comeu restos de pão ázimo deixado sobre a mesa. Desfalece, mas é amparado e levado por dois anjos.
A espiritualidade perpassa este livro maravilhoso de Michel Tournier, em que é recriado o tema dos Reis Magos. Gaspar, Belchior e Baltasar seguiram o cometa, movidos pelo amor, pelo poder e pela arte e ofereceram o que tinham – incenso, ouro e mirra – a uma criança humilde a que chamavam salvador do povo. Taor, um jovem frívolo e impreparado, ganha o papel da personagem que melhor sintetizou o espírito do menino nascido em Belém, sem nunca ter conseguido vê-lo nem chegado perto dele. Buscava o segredo de uma iguaria rara e confrontou-se com o massacre de crianças. O seu sacrifício extremo foi para salvar a vida de um homem que nem conhecia. O tema da viagem, do confronto com a realidade, da Epifania, aqui protagonizado por alguém que conseguiu ir mais fundo na procura daquilo que realmente interessa e importa e que se pode resumir ao amor desinteressado pelos outros.
Não é meu hábito resumir o que leio. Mas desta vez, não consegui deixar de o fazer. Um livro muito interessante que é uma original recriação das figuras dos Reis Magos. Não três, mas quatro!

17 de Dezembro de 2018
Almerinda Bento

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

"A Casa na Praia" de Daphne du Maurier

Fa-bu-lo-so! É o meu veredicto final sobre esta obra de uma autora que praticamente desconhecia pois nada tinha lido dela. Tenho o Rebecca mas nāo me recordo de o ter lido.

Nāo foi fácil ler com ritmo continuado as primeiras páginas deste livro talvez porque a premissa nāo fosse para mim algo fácil de aceitar... Nāo sou grande fā de ficçāo científica (que mais lhe poderia chamar?). Sem querer fazer spoiler, pois é informaçāo que consta na sinopse, digo-vos que o enredo central deste livro baseia-se nalgumas viagens no tempo que Dick, o personagem principal, faz ao experimentar uma droga que Magnus, o seu amigo cientista, lhe dá a provar... Dick recua no tempo seiscentos anos, viajando para a primeira metade do séc. XIV, precisamente para o mesmo local onde se encontra, na Cornualha, com as diferenças físicas inerentes à época. No início, e precisamente porque nāo sou dada e estas histórias, achei a premissa estranha, diferente do que leio habitualmente é certo, mas acreditei que nāo me iria convencer. Adoro quando uma história me parece verídica mesmo quando o nāo é. O nome da autora fez com que insistisse. Opçāo que se viria a confirmar ser a certa.

Abro agora um parêntesis em relaçāo à sinopse. Se pegarem no livro nāo leiam mais do que aqui refiro, sendo que o último parágrafo da sinopse nāo deveria existir. Há informaçāo que é desnecessária e avança com dados que, acredito, esmorecem o factor surpresa quando lidos!

Mas voltando ao enredo e à escrita, sobretudo à escrita... Ela é realmente fabulosa de tāo simples que é e, ao mesmo tempo, tāo envolvente. Eu, que nāo morro de amores por este tipo de "viagens" fiquei fascinada e enredada nas duas histórias que decorrem nos dois momentos temporais diferentes! Fiquei deveras presa a Dick e ao seu alter ego, Roger, que teria vivido noutra época.

Pouco tenho a acrescentar. Refiro apenas e para terminar que o final achei estrondoso. A dúvida com que se nos depara a nossa mente após o último parágrafo é perfeita para um final. Adorei! Super recomendo! Fui agradavelmente surpreendida porque as minhas espectativas, ao ler a sinopse, eram baixinhas mesmo.

Comecei esta leitura o ano passado. Teria sido um excelente livro para acabar o ano mas foi certamente um óptimo começo de leituras para 2019! 

Terminado em 4 de Janeiro de 2018

Estrelas: 6*

Sinopse
Dick Young vive na Cornualha, em casa do seu amigo Magnus Lane, um cientista que faz investigação química na Universidade de Londres. Dick sente-se intrigado quando Magnus lhe pede que sirva de cobaia de uma nova droga que este descobriu, mas aceita participar na experiência. A droga fá-lo viajar no tempo, transportando-o para o século XIV, no local exato onde vive: Kilmarth.

A cada viagem proporcionada pela misteriosa droga, Dick vai-se envolvendo mais profundamente nos assuntos de pessoas que morreram há seiscentos anos, enredadas numa teia de amor, ciúme e intrigas. Progressivamente, vai perdendo o controlo da sua vida o do seu próprio tempo. Quando surge a chocante notícia de que Magnus fora assassinado quando se dirigia a Kilmarth, apenas Dick se apercebe da causa aparentemente inexplicável da morte do amigo. Mas tendo Magnus desaparecido, o que acontecerá à experiência em curso? E a Dick?

Um romance clássico notável, de um dos maiores nomes da literatura britânica.

Cris