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quinta-feira, 25 de maio de 2023

"A Fuga da Rapariga Alemã" de Lily Graham

De vez em quando gosto de regressar a este tema. Não importa se se trata de uma história que relate factos vividos por alguém, se bem que gosto mais de ler (auto) biografias. Muitas das ficções escritas poderiam ter sido reais e, a maior parte das que leio, são baseadas em factos verídicos.

Estamos em 1995, no norte da Suécia. Ingrid tenta aproximar-se do avô que vive isolado numa região gélida e que possui já alguns esquecimentos próprios de alguma demência e forte irritabilidade. As discussões são frequentes porque Jurgen não aceita ajuda nem reconhece as suas fragilidades. Numa das vezes, uma frase em alemão (língua que não é suposto saber) alerta a sua neta que procura levar o avô a relatar a sua vida. Após alguma resistência, o amor que sente pela neta vence e ele fala.

Numa analepse perfeita o leitor vai para Hamburgo de 1938. Um casal judeu com dois filhos gémeos de 15 anos, Asta e Jurgen, numa Alemanha que começa aos poucos a limitar a vida dos seus próprios cidadãos que não consideravam gente, sente que pode resistir. A verdadeira história começa aqui e não vos vou falar dela. Emociona, prende e o mistério está sempre presente e é desvendado no final.

Gostei muito desta leitura que se faz fluída e, ao mesmo tempo, nos faz pensar como seria viver em guerra, não ter um porto seguro e perder os familiares mais próximos. Nada que não vivenciemos hoje em dia. Basta olhar para o lado… Também nessa altura, houve gente que enriqueceu com a guerra e as dificuldades passaram-lhes ao lado. Como hoje, numa escala menor.

Terminado em 5 de Maio de 2023

Estrelas: 4*

Sinopse 

Da autora de O Bebé de Auschwitz e O Segredo da Livraria de Paris chega-nos a história comovente e inesquecível da coragem de dois irmãos no mais perigoso dos tempos.

Hamburgo, 1938. O ambiente na cidade é tenso: sinagogas destruídas, ruas estranhamente silenciosas. Saídos da escola, Asta, de 15 anos, e o irmão gémeo, Jurgen, regressam a casa, mas são subitamente parados por uma amiga da família, que lhes conta o impensável: os pais foram levados de casa por soldados nazis apenas por serem judeus e, se eles regressarem agora, também serão capturados.

Ainda que devastada com a perda dos pais, Asta sabe imediatamente que têm de fugir até à Dinamarca, onde vive a sua única familiar, Trine, uma tia que mal conhecem. Mesmo que para isso tenham de arriscar viajar por uma Alemanha que está agora contra eles.

Escondidos num camião sobrelotado com outros refugiados, Asta e Jurgen nada mais podem fazer do que rezar por um milagre que os ajude a atravessar a fronteira, um crime punível com a morte. Contudo, já na floresta que separa os dois países, são apanhados por soldados nazis. Asta consegue fugir, mas Jurgen é capturado.

A Asta resta agora a esperança de, um dia, voltar a encontrar o irmão, a outra metade de si mesma. E tudo fará para que isso aconteça. Seja qual for o preço a pagar.

Cris

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Abril

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Abril.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Cidália Ferreira

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 25, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:


Cris



quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Convidada Escolhe: "O País debaixo da minha Pele"


O País debaixo da minha Pele, Gioconda Belli, 2010

Este livro de “memórias de amor e guerra” é um testemunho vibrante de uma mulher – desde a infância até ao ano 2000 – que muito cedo se emancipou, que conheceu “a alegria de abandonar o «eu» para abraçar o «nós»” e que escreveu “estas memórias em defesa dessa felicidade pela qual a vida e até a morte valem a pena”, como escreve na introdução ao livro. Apesar das vicissitudes, é um testemunho de esperança pois “O importante, percebo agora, não é ver cumpridos todos os sonhos, mas sim continuar, teimosamente, a sonhá-los.” (pág. 421).

Gioconda Belli foi activista da Frente Sandinista de Libertação da Nicarágua. Proveniente de uma família da burguesia nicaraguense, a sua família era, no entanto, opositora à ditadura de Somoza que vigorou entre 1934 e 1979. De personalidade forte e apaixonada, desde nova quis tornar-se independente o que a levou a casar-se muito jovem e a trabalhar. Mas, ao longo da vida percebeu que ser independente é uma realização difícil e, como nunca se acomodou, não temeu fazer cortes com o “sossego” e com as expectativas que a sociedade reserva para as mulheres. Apaixonada e rebelde, não temeu afrontar a família, o marido, os camaradas de luta, os amantes, a sociedade. Por isso se apaixonou perdidamente, escreveu poesia sem amarras, participou em acções de grande perigo, discordou de orientações políticas da FSLN sempre que achava que estavam erradas, questionou o machismo dentro da organização e ao mais alto nível da liderança e no seio de outros países que, advogando a libertação de homens e mulheres, as subalternizavam ou apagavam… Nos anos 70, a revolução e a poesia irromperam na sua vida em oposição à ditadura e a um casamento sem chama. “Tinha criado asas. Sentia-me capaz de voar sozinha.” (pág. 76) Muito sincera neste seu testemunho de vida, não deixa de referir a sua ingenuidade, os momentos de desalento, os sentimentos de culpa quando tem de fazer escolhas definitivas e dolorosas.

Como refere logo a abrir a Introdução “Duas coisas que não escolhi determinaram a minha vida: o país onde nasci e o sexo com que vim ao mundo”. A lupa de género com que analisa inúmeras situações da sua vida é extremamente interessante, tanto mais que ela viveu no período da guerrilha papéis que a puseram ao mais alto nível do perigo e da responsabilidade. Sendo poeta, intelectual e mulher, conseguiu ter uma posição privilegiada que lhe permitiu mover-se de forma insuspeita em certos meios. Mas, após a revolução e no interior da organização, aparecia apagada atrás do chefe, uma subalterna, uma funcionária, não poucas vezes perfeitamente consciente de que se deixava apagar e anular submetida à paixão pelo chefe.

A narrativa é-nos apresentada sem ordem cronológica em dois momentos da vida da autora. Na Nicarágua, no exílio no México e na Costa Rica ao longo dos anos 70 e 80, período em que milita na FSLN e a partir dos finais dos anos 80 e 90 quando, casada com um cidadão norte-americano, vive alternadamente nos EUA e na Nicarágua. Para nos permitir uma melhor compreensão da sua narrativa, Gioconda Belli apresenta uma breve cronologia da história da Nicarágua desde a chegada de Cristóvão Colombo ao território da América Central em 1502, o período da longa ditadura somozista, vitória da FSLN em 1979 até à sua derrota nas eleições de 1990 e a chegada de Violeta Chamorro ao poder. Território estratégico sempre debaixo da cobiça dos governos dos EUA, a Nicarágua é sujeita a uma ofensiva feroz do governo de Donald Reagan com manobras militares provocatórias e sanções económicas duríssimas que minaram uma revolução politicamente frágil e cheia de debilidades sociais, em que a pobreza, o analfabetismo e as necessidades básicas eram profundas. A felicidade colectiva dos primeiros momentos precisava de ver respondidas tarefas gigantescas. Mas a improvisação, a ingenuidade e impreparação dos guerrilheiros, também eles minados por divisões, não conseguiram lograr que a revolução sandinista resistisse por muito tempo. Gioconda Belli não deixa de referir a imensa solidariedade internacional de muitos intelectuais de todo o mundo à causa nicaraguense, quer durante a luta contra a ditadura, quer já no período da revolução vitoriosa e o extraordinário empenho militante e voluntário da juventude da Nicarágua nas acções de alfabetização e nas campanhas do café.

Este livro apaixonante, traduzido por Rui Pires Cabral, chegou-me às mãos por oferta de uma amiga cuja sobrinha, através da venda deste livro, angariou fundos para ir fazer voluntariado numa escola para crianças desfavorecidas na Colômbia. Nunca tinha ouvido falar de Gioconda Belli; aliás, nunca tinha lido nenhum autor nicaraguense e só através deste livro fiquei a saber que Gioconda Belli tem recebido inúmeros prémios literários pela sua obra poética e pelos romances.

Estas memórias terminam no ano 2000, quando Gioconda Belli vivia entre o seu país amado, a Nicarágua, e os Estados Unidos da América, o país do seu último marido. Neste ano de 2023, Gioconda Belli vive actualmente em Espanha, tendo aceitado a oferta do presidente Gabriel Boric do Chile para se naturalizar chilena. Com efeito, ela e mais de trezentos cidadãos da Nicarágua têm sido perseguidos e perderam a nacionalidade ao longo dos últimos cinco anos, na sequência da repressão e silenciamento de todas as vozes dissidentes, por um governo dirigido por Daniel Ortega, antigo combatente e dirigente sandinista que como ela ajudaram a derrubar a ditadura de Somoza. As voltas que o mundo dá!

6 de Maio de 2023

Almerinda Bento

terça-feira, 9 de maio de 2023

"Weyward" de Emilia Hart

Uma das capas mais atractivas da minha estante! Apetece contemplar e descobrir todos os pormenores que ela esconde à primeira vista! Possui o verde como tom de fundo, uma ligação evidente com a natureza e pequenos animais, insectos e aves, pululam na capa e saltam à vista mesmo daquele observador menos atento! Que linda!  Uma campanha de marketing muito bem conseguida, com uma capa que faz todo o sentido para a estória que se quer que o leitor desvende.

É uma história narrada a três vozes, de três mulheres ligadas por laços familiares espaçados no tempo. Altha, Violet e Kate. 1619, 1942 e 2019. A  ligação destas mulheres com a natureza é muito forte, instintiva, que lhe está na pele e no coração. 

Altha é acusada de bruxaria. Estamos em 1612 numa altura em que as mulheres não tinham quaisquer direitos e muitas vezes eram acusadas de bruxaria, sobretudo aquelas que tratavam algumas maleitas com mezinhas naturais. Uma forma de exterminar quem era diferente. Já ouviram falar dos julgamentos de Pendle Hill? Este relato é feito na primeira pessoa o que lhe confere mais autenticidade e força.

Violet, 1942, é uma miúda que vive um pouco alheada, sozinha, com os seus insectos, e vive com o pai autoritário e um irmão cuja ligação já foi mais forte. A mãe é um mistério na sua vida. Pouco sabe dela e não consegue que alguém lhe conte como foi a sua vida. Sabe que morreu e pouco mais. Sente que precisa de desvendar esse mistério que a envolve mas não  sabe como. A visita de um primo mais velho parece que vem iluminar os seus dias mas as expectativas saem-lhe goradas e a sua vida, em pouco tempo, muda drasticamente.

Kate, 2019, está a fugir de uma relação abusiva e refugia-se numa casa herdada por uma tia-avó, Violet, que quase não conhece e de quem nem se lembra. Vai descobrindo aspectos destas suas familiares e vamos ligando as suas histórias, os seus passados que, afinal, possuem muito em comum. 

Um livro de estreia da autora que abraça muitos aspectos sobretudo no que toca a diferenças de tratamento de género. Muito embora esteja aqui espelhada a condição inferior da mulher nas várias épocas, também é um livro revelador da força que ela possui, muitas vezes desconhecida e escondida, que a leva a ultrapassar barreiras pese embora todas as condições adversas.

Envolvente no ambiente criado, é um livro de leitura compulsiva. Não percam!

Terminado em 30 de Abril de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

Em 2019, Kate foge de uma relação abusiva e refugia-se em Crows Beck, uma aldeia remota na Cúmbria. O seu destino é a Casa Weyward, herança da sua tia-avó Violet, uma entomologista excêntrica. Enquanto lida com o trauma do seu passado, Kate descobre um segredo sobre as mulheres da sua família. Uma história que remonta a 1619, quando Altha Weyward foi julgada por feitiçaria… Tecendo as vidas de três mulheres extraordinárias, Weyward é um romance absolutamente maravilhoso sobre o empoderamento feminino, a esteira de violência masculina ao longo de séculos e o poder libertador da Natureza.

Cris

segunda-feira, 8 de maio de 2023

"Limpa" de Alia Trabucco Zerán

Capa sóbria, conectada com o conteúdo de forma simples e certeira assim como o título. Isto pode não parecer importante mas quando vemos tantas capas e títulos enganadores, é algo que nos chama a atenção!

Começamos a leitura com um relato de uma só voz, confissão feita por Estela Garcia, uma mulher que veio do campo para a cidade, de Chiloé, no sul do Chile para a capital, Santiago, para servir numa casa abastada. Profissão: empregada doméstica interna. O contexto de onde vem é marcadamente pobre e a casa para onde vai contrasta em muito com essa pobreza.

Não se percebe bem onde se encontra actualmente mas sabemos que está enclausurada, à mercê de alguns carcereiros. Estela principia por dizer que há uma morte de uma menina de sete anos. Assim, sabemos desde o início que se deu uma tragédia! Como, quando, porquê e devido a quem é o que o leitor quer descobrir nesta prosa escrita com mestria, acalorada, pungente. Intercala partes da sua vida na cidade com outras da sua infância onde a sua ligação e amor pela sua mãe se destacam. Mundos completamente diferentes!

Como pano de fundo estão as diferenças de classes e as lutas internas de um país em convulsão. Muito bem escrita esta confissão que nos prende desde o início e nos deixa a reflectir no final. Algumas perguntas, que o leitor se coloca no decorrer da leitura, ficam, insistentemente, a matutar nas nossas cabeças depois das últimas páginas. Gosto disso. As respostas estão lá, mas a minha pode não ser "aquela"! 

Recomendo muito!

Terminado em 23 de Abril de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Um romance fulgurante sobre os conflitos de classe e a intimidade do trabalho doméstico por uma das vozes mais promissoras da literatura sul-americana.

Vinda do campo para a capital do país, Estela García encontra trabalho junto do abastado casal Jansen como criada de quarto e ama da sua filha recém-nascida, Julia, a mesma que educará e verá crescer. Serão sete anos divididos entre tarefas domésticas invisíveis e repetitivas e a falsa intimidade que estas proporcionam. Entre solidão, afetos, conflitos e segredos, Estela encontrará o seu lugar no seio da família. Porém, quando a tragédia irrompe na vida dos Jansen e Julia aparece morta, os ódios de classe revelam-se sob a forma de preconceitos sociais enraizados.

Cris

terça-feira, 2 de maio de 2023

Para os Mais Pequeninos: "As Irmãs do Pedrito"


Já não é o primeiro livro deste "Mundo do Pedrito Coelho" que vos trago aqui! Podem ver aqui o que já mostrei neste post.

Visualmente gosto muito destas ilustrações tão delicadas, de traços finos e que me lembram os livros de antigamente. Ocupam um espaço primordial e o texto não é nada monótono. Pequenas frases com grafias de tamanhos diferentes que fazem sobressair e acompanham o desenho. 

As páginas possuem uma cartonagem muito dura, própria para mãozinhas desastradas e o seu tamanho pequeno também ajuda a que agarrem bem! 

E a história? Uma delícia! O Pedrito é presenteado não com uma, nem com duas mas com três irmãzinhas! Como é que o Pedrito vai reagir?

Ora vejam algumas as imagens: 




Cris

segunda-feira, 1 de maio de 2023

"Um Muro e Uma Cerca" de Elisabete Martins de Oliveira

Às vezes, sem esperarmos por isso, um livro pode surpreender-nos. Apetecia-me ler algo mais ligeiro e, honestamente fui atraída pela capa deste livro. Depois algumas palavras da sinopse fizeram o resto... criança/velho/solidão. 

E é tão bom quando as páginas viram por si só sem darmos conta! A história decorre a toda a  velocidade e embora possamos temer que estes temas sejam tratados com ligeireza, isso não acontece aqui. 

Esta obra é a primeira da autora e espero que não fique por aqui. A sua formação (em psicologia) deu-lhe, certamente, ferramentas que soube aproveitar para desenvolver algumas questões que considero pertinentes para que o interesse do leitor se mantenha no decorrer de toda a história! 

A solidão em que estes dois protagonistas mergulham no seu dia a dia, a finitude com que se depara Elias ao perceber que se encontra doente, o bullying de que Santiago é alvo na escola, o abandono com que, tanto um como o outro, sofrem por parte dos familiares, tudo nos prende e faz virar sofregamente as páginas.

Senti um pouco que a experiência profissional da autora e a forma como escreve me levou por caminhos emocionais que eu, leitora, não pude controlar mas, sinceramente, adorei isso. Por vezes, o melhor é deixar ir, embrenharmo-nos na história e noutros mundos e passar a fazer parte dela sem grandes reflexões. Essas ficam para quando a última página se fecha!

A trama passa-se aqui às portas de Lisboa. Poderia ser em qualquer lado. Os temas são actuais e prementes. Recomendo.

Terminado em 18 de Abril de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

Pequenos gestos podem mudar o rumo de uma vida.

Elias vive sozinho numa casa demasiado grande, já sem os três filhos, que emigraram, e sem a mulher, que morreu. Quando uma família se muda para a moradia ao lado — entre as muitas que de repente chegaram à Margem Sul do Tejo, desafiando-lhe o sossego —, desenvolve antipatia e desconfiança para com os vizinhos.

Do outro lado, contudo, um rapaz negligenciado pelos pais e pela avidez da vida moderna vai-se aproximando, curioso, apesar das barreiras erguidas por Elias. Com Santiago a começar de forma turbulenta o quinto ano na escola nova, o menino procura consolo e atenção junto do vizinho.

A sintonia entre Elias e Santiago cresce, mas uma notícia perturbadora vem ameaçar-lhes a amizade e trazer ao de cima as vidas difíceis que levam, e os segredos que escondem um do outro.

Cris