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terça-feira, 31 de março de 2020

A Convidada Escolhe: "Beloved"


“Beloved”, Toni Morrison, 1987

“Beloved”, que deu a Toni Morrison o Prémio Pulitzer em 1988, é considerada uma das obras mais significativas da escritora norte-americana e com grande peso na atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1993.
É um livro poético, forte e duro. Precisa de atenção e concentração, pois, sobretudo ao princípio, há elementos que causam estranheza e que me obrigaram a voltar atrás e a reler para tentar perceber certos elementos. Embora só com o desenvolvimento da narrativa alguma dessa estranheza vá sendo superada com o desvendar de detalhes apenas aflorados inicialmente, tenho de reconhecer em mim, como leitora, a dificuldade de concentração na nova situação de confinamento, por motivo da pandemia do vírus global.
É uma história dura que se passa no período pós-escravatura, depois de terminada a Guerra de Secessão, em que as marcas deixadas pela escravatura são tão fortes que não se apagam, antes corroem e destroem. Enlouquecem quem não consegue esquecer que foi escravo, que tenta aprender a liberdade soltando-se das amarras dum passado indizível. Porque o racismo não desaparece por decreto, nem na atitude do opressor nem na cabeça do oprimido.
“Todos lhe ensinaram como era acordar de manhã e poder decidir o que fazer com o dia. Pouco a pouco… juntamente com os outros, afirmara-se. Libertar-se era uma coisa; reclamar a propriedade do próprio corpo era algo bem diferente” (p. 131)
“Ele sabia exactamente o que ela queria dizer: chegar a um lugar onde se podia amar tudo aquilo que se escolhesse – sem precisar da autorização para o desejo –, ora bem, isso era liberdade.” (p. 217)
Muito poucos tinham morrido na cama, como Baby Suggs, e nenhum daqueles que conhecia, incluindo Baby, tinha vivido uma vida sofrível. Até os negros educados: aqueles que tinham andado muito tempo na escola, os médicos, os professores, os que escreviam nos jornais, os que tinham negócios, até esses tiveram um difícil caminho a percorrer. Para além de precisarem de usar a cabeça para avançar, carregavam aos ombros o peso de toda a raça. Os brancos achavam que quaisquer que fossem os modos, sob cada pele escura existia uma selva. Águas rápidas e intransitáveis, babuínos que se baloiçavam aos guinchos, serpentes adormecidas, gengivas vermelhas preparadas para o seu sangue doce e branco. De certo modo, pensou, tinham razão. Quanto mais os negros se desgastavam a tentar convencê-los que eram amistosos, que eram inteligentes e afectuosos, que eram humanos, quanto mais se cansavam a convencer os brancos de algo que achavam que nem devia ser questionado, mais a selva crescia e se adensava.” (págs. 262 e 263)
É, sobretudo, uma história de mulheres. De raparigas que foram violadas sistematicamente, que tiveram vários filhos de pais diferentes, de mulheres que mataram as filhas à nascença para evitar que lhes  acontecesse o mesmo que a elas, de mulheres grávidas que foram amarradas e açoitadas, de mulheres que foram queimadas, de mulheres que se prostituíram para dar de comer aos filhos, de mulheres reprodutoras para darem filhos para serem vendidos, de mulheres que quase enlouquecerem porque não conseguem esquecer. Sethe, que “traz às costas uma árvore”; Baby Suggs, a memória viva da escravatura, cujo filho lhe comprou a liberdade quando já não lhe servia de nada; Denver, a menina triste, solitária, com saudades dos irmãos, que nasce numa canoa, ajudada por Amy, uma rapariga branca que ia para Boston; Beloved, a menina fantasma que se vem vingar por uma vida que lhe foi roubada. Mas é também uma história de solidariedade das mulheres da comunidade que ultrapassam comportamentos e se juntam quando não pode deixar de ser.
Sendo uma história de mulheres, os homens não estão ausentes e o inimaginável que um ser humano possa fazer a outro, só por uma questão de cor da pele, é-nos revelado por Paul D. Nos dezoito anos em que esteve fora, conheceu os trabalhos forçados acorrentado a outros homens, as canções de trabalho, a prisão, as fugas sempre à procura de um lugar melhor para viver, o sol ardente, as chuvas torrenciais, a lama, a terra, a palha e as cascas das árvores como cama. E quando, pela primeira vez, um branco lhe pediu ajuda para descarregar duas arcas de uma carruagem e no final lhe deu uma moeda, ele ficou a olhar para a moeda e perguntou-se o que fazer com ela.
Uma história dolorosa e complexa, com as marcas da culpa e do remorso, mas com a força redentora de que a solidariedade é a salvação. Mesmo a terminar, o diálogo de Paul D com uma Sethe desinteressada da vida:
“ – Sethe – disse –, tu e eu, temos mais ontens que qualquer pessoa. Precisamos de alguns amanhãs.
Inclina-se para a frente e pega-lhe na mão. Com a outra, toca-lhe no rosto.
 – Tu és a tua melhor coisa, Sethe. És tu. – Os dedos dele seguraram os dedos dela.
– Eu? Eu?” (p. 354)


22 de Março de 2020

Almerinda Bento
           

sexta-feira, 27 de março de 2020

"A Prenda de Natal" de Glenn Beck

Peguei neste livro para continuar a participar nalguns desafios de leitura onde pediam um livro que se passasse no Natal... (se quiserem ver quais, vejam no meu instagram - cris.delgado1)!

Esta história é de uma ternura imensa e destina-se a um público mais jovem mas gostei imenso de o ler também. Creio que é muito abrangente podendo ser lido dos 7 aos 77...

O narrador é Eddie, um menino de 12 anos que perdeu o pai há pouco tempo e que vive com muita raiva dentro de si, não sabendo geri-la convenientemente. Faz-nos pensar, a nós mais velhos, como os mais novos dificilmente conseguem gerir as suas emoções e como podemos nós ajudá-los.

O autor baseou-se em muitos factos da sua vida para criar uma história cheia de ternura e com muitos ensinamentos. Aconselho sim. Já pensaram que pode ser um livro para pais e filhos lerem em conjunto? E falarem sobre ele e sobre os assuntos que aborda? Época de FICAR EM CASA, toca a aproveitar!

Terminado em 19 de Março de 2020

Estrelas: 5*

Sinopse
Eddie sonha com uma bicicleta há muito, muito tempo. Apesar de ter apenas doze anos, sabe que o sonho vai ser difícil de concretizar, pois a família debate-se com problemas financeiros desde que o pai morreu. Ainda assim, acredita que a sua mãe vai conseguir o milagre, e que na manhã mágica do dia 25, junto à modesta árvore de Natal, encontrará a tão desejada prenda… Em vez disso, depara-se com um pequeno embrulho. Lá dentro uma camisola, "uma estúpida e feia camisola tricotada à mão", que o rapaz enfurecido atira para um canto do quarto.
Demasiado novo para perceber o valor simbólico da prenda que a mãe lhe tricotou com tanto amor, Eddie inicia uma dura caminhada para a idade adulta, que o levará a questionar tudo e todos. Até que, no mais profundo momento da sua revolta, conhece um enigmático vizinho, que aparece e desaparece sem deixar rasto. É um homem sábio, de idade indefinida, que ensina ao rapaz um segredo: na vida, há sempre uma segunda oportunidade, podemos sempre voltar atrás e desfazer todo o mal que fizemos.
A Prenda de Natal é um romance mágico, uma história que ficará para sempre na nossa memória.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Para os Mais Pequeninos: "Narval, o Unicórnio dos Mares"


Ora cá está mais um livrinho que, acho, vai fazer as delícias da pequenada! Já sabem que é um tempo de qualidade, este, que vos leva a contar uma história aos mais pequeninos e como tal, VAMOS FICAR EM CASA, sim?

O nosso protagonista, o Narval encontra a Alforreca e ficam amigos. Não se conhecem bem e por isso partilham informações sobre eles próprios para que a amizade se estabeleça (com isso ficamos a conhecer muitos factos sobre estes dois seres tão diferentes!). Até decidem formar um bando já que os narvais vivem em bando. Mas como não há mais nenhum por aqueles mares, convidam o tubarão, a tartaruga, o polvo...

Desenhos simples mas muito expressivos fazem deste livrinho uma boa opção para uma noite, ou tarde, de leitura. Vejam alguns deles:





Cris

quarta-feira, 25 de março de 2020

Experiências na Cozinha: "A Cura Pela Alimentação Alcalina"

Hoje trazemo-vos uma receita que devem mesmo experimentar: Arroz Integral com Raiz de Curcuma e Tomilho.

Sabemos que não é tão fácil cozinhar o arroz integral como o "outro" arroz mas é somente porque demora mais tempo. E porquê?, perguntam vocês...  É precisamente porque possui ainda a casca que contém tanta fibra que demora mais tempo a cozinhar mas que tem propriedades que o arroz refinado não tem. Demora, também, mais tempo a ser processado no nosso organismo e ficamos com a sensação de saciedade por um espaço de tempo mais prolongado.

Sabemos que a fibra é benéfica para o nosso intestino e, nesta época de ansiedade provocada por este bicho invisível, devemos privilegiar tudo que é integral em detrimento dos alimentos refinados para fortalecer o nosso sistema imunitário.

Um truque que usamos sempre que cozinhamos arroz integral é colocá-lo de molho de um dia para o outro. Descartamos essa água da demolha e fica mais macio não demorando tanto tempo a cozinhar...

Acho que já vos falámos aqui da acção curcuma e da pimenta preta. A curcumina, presente na curcuma, tem propriedades anti-inflamatórias e a piperina, presente na pimenta preta, vai potencializar a acção da curcumina. Logo devem ser usadas as duas em conjunto em tudo o que puderem: refogados e até nas sopas! A proporção é usar 1 parte de pimenta para 2 partes de curcuma (ou açafrão das índias).

Ora vamos lá à receita e às fotos:





Palmira e Cris

terça-feira, 24 de março de 2020

"A Coragem de Cilka" de Heather Morris

Tinha a opinião deste livro pronta e depois... puff! Aqueles contratempos informáticos que nos deixam aborrecidos tanto mais que a tinha feita logo que terminei e já não me lembro do que escrevi... Mas, aprender a relativizar é algo que esta época nos está a ensinar!

O essencial aqui vai: gostei muito. É uma história baseada em factos verídicos sobre uma jovem judia de 16 anos que sobrevive a Auschwitz e com 19 é levada para um campo de trabalho (gulag) na Sibéria, em Vorkuta, acusada de ter colaborado com os nazis e de "ter dormido com eles".

Sai de um horror para entrar noutro, igualmente terrível e onde permaneceu cerca de 10 anos. A sua força de vontade é algo verdadeiramente inspirador e impressionante.

Esta história faz-nos refletir sobre o que faríamos para sobreviver, até onde chegaríamos. Desta autora li "O Tatuador de Auschwitz", que recomendo de igual forma. Estes dois personagens (verídicos) tiveram contactos no campo de concentração e o destino quis que chegassem a salvar a vida um do outro. Bom, o destino não! A vontade destes dois seres impressionantes e com uma força tal que os fez sobreviver. Não convém esquecer que quem lá viveu, os prisioneiros, e que fez os possíveis por sobreviver, não foram os maus da História. Os maus eram outros.
Fazer por arranjar um trabalho onde conseguissem arranjar mais um pouco de comida não era crime. Crime era estar na posse da comida e não a fornecer.

Cilka teve direito à felicidade. Pagou-a bem caro. Depois de sobreviver a Auschwitz, ainda viveu muitos anos num gulag. Aqui não se matava por gás, como na maioria dos campos de Hitler. O frio, a fome e a exaustão substituíam-no na perfeição. Estaline ou Hitler, venha o diabo e escolha!

Um livro recomendadíssimo!

Terminado em Março de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
«É um privilégio trazer esta história de incrível coragem, paixão, e triunfo do espírito humano» - Heather MorrisA beleza salvou-lhe a vida - e condenou-a.

Em 1942, com apenas 16 anos, Cilka Klein é levada para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. O comandante do campo, Johann Schwarzhuber, sente-se de imediato atraído pela beleza dos seus longos cabelos e decide separá-la das outras prisioneiras. Cilka depressa aprende que o poder pode ditar a sobrevivência.

Após a libertação, Cilka acaba por ser condenada pelos russos por ter colaborado com os nazis e é enviada para Vorkuta, um desolado e horrendo campo de trabalhos forçados na Sibéria, no Círculo Polar Ártico.

Inocente, mas de novo prisioneira, Cilka enfrenta novos desafios, igualmente aterradores, numa batalha diária pela sobrevivência. Trava amizade com uma médica de Vorkuta e aprende a cuidar dos prisioneiros doentes esforçando-se para tratar deles, sob condições inimagináveis. Mas é ao cuidar de um homem chamado Aleksandr que Cilka descobre que, apesar de tudo, ainda há espaço no seu coração para o amor.

Baseado em factos conhecidos sobre o período em que Cilka Klein esteve detida em Auschwitz e nos testemunhos de prisioneiras nos campos de trabalhos forçados na SibériaA Coragem de Cilka é a continuação da narrativa do bestseller internacional O Tatuador de Auschwitz. É uma obra de cortar o fôlego, uma poderosa homenagem ao triunfo da resiliência, um romance que nos leva às lágrimas. Mas é também uma história que nos deixa estarrecidos e encorajados pela feroz determinação de uma mulher que, contra todas as probabilidades, sobreviveu.


Cris

segunda-feira, 23 de março de 2020

Passatempo FICAR EM CASA: "Os Leões de Sicília"


Em tempo de ficar em casa, o blogue quer dar-vos um miminho e sortear um livro com o apoio da Editorial Presença.

É um livro que desejo ler muito em breve e que possui uma capa, a meu ver, lindíssima: "Os Leões da Sicília".

O passatempo vai decorrer até dia 12 de Abril.

Basta mandarem um mail para otempoentreosmeuslivros@gmail.com  com o vosso nome e morada e nick do seguidor do blogue e FICAREM EM CASA!

O livro será enviado via CTT na melhor oportunidade.

Cris

domingo, 22 de março de 2020

Ao Domingo com... Helena de Macedo


Nasci e vivi numa ilha, literalmente no meio do mundo, da qual mesmo que - e talvez porque -  fosse tão pouco o tempo , me ficaram ténues memórias maravilhosas e a sensação de que foi um privilégio. O clima e a maneira de  estar proporcionavam um sentimento de  liberdade que  não voltei a viver.

Criada numa roça por uns avós, por um lado exigentes, por outro estragando-me com mimos, quem mandava era eu. Em mim e nos filhos dos trabalhadores, meus inseparáveis amigos e cúmplices.

A família era relativamente grande, formávamos um grupo de irmãos e primos traquinos que se  juntavam ao fim-de-semana e durante as férias, para alegria e dor de cabeça dos avós, pois aconteciam sempre tropelias no mínimo fantásticas.

Quando em 1974 viemos para o continente, fomos viver para o norte. Do frio à alimentação, foi um verdadeiro choque cultural. Passei a estar mais tempo fechada dentro de casa e refugiei-me um pouco na leitura. Adorava livros de aventuras, transformava-me numa das personagens e isso ajudava-me a passar o tempo, a substituir a liberdade  perdida. À noite, quando me mandavam dormir, não tinha sono. As aventuras continuavam na minha cabeça e ajudavam-me a descontrair até adormecer. Não sei bem como, passei a imaginar histórias minhas, que começaram a crescer e, para não me esquecer dos pormenores, comecei a escrever, sentada na cama, com o caderno escondido num livro da escola – proeza que não demorou muito a ser descoberta. Quando dei por ela, estava a escrever um romance.

Desde então, tornou-se no que mais gosto de fazer.

As minhas histórias são sonhos onde a realidade e a ficção se confundem. Se, por um lado, a história é fictícia, por outro, tem muitas experiências e peripécias, vividas, presenciadas ou contadas.

Comecei por ver esta minha faceta como uma libertação, uma forma de me abstrair da realidade e inventar um mundo só meu. Talvez por isso não lhe tenha dado importância quando devia. O meu lado rebelde e aventureiro puxava-me ainda mais para esse mundo de faz de conta, onde não existiam limitações. Sentia uma pena imensa de não poder ingressar na Marinha, partir em busca do desconhecido. Quando se tornou possível, já era demasiado tarde para mim. Como o destino tem a sua força, acabei por trabalhar em navios, de passageiros, mas dei as mesmas, ou mais, voltas ao mundo que me mostraram coisas, lugares e pessoas a explorar. Talvez o Universo achasse que para o meu espírito  irrequieto era importante abrir  horizontes e estimular a imaginação.

Embora não acreditando que pudesse algum dia publicar, nunca deixei de sonhar acordada e imaginar as minhas histórias, mesmo quando não as escrevi. Permanecem num universo só meu, aguardando o momento certo.

Considero-me uma loba solitária, com dificuldade em conviver com o rebuliço da alcateia. Não encontro outra forma de descrever a Helena enquanto membro da sociedade. Mas é nos meus sonhos transformados em histórias que me encontro. Cada um dos meus romances tem entre linhas uma parte de mim, encriptada. Quando escrever o último, o puzzle estará completo.

"Cartas com amor", o primeiro a ser publicado, é uma história que envolve quase todos os tipos de amor que conhecemos. Do passional ao maternal, à amizade, lealdade. É pura ficção embora pudesse ser verdade.

Como quase todas  as histórias que escrevi, começou ao contrário; inspirei-me num casal de irmãos de 8 e 9 anos que um dia entrou numa loja onde trabalhava e me encheu completamente a tarde com aventuras passadas em Angola. Comecei por achar que seriam personagens muito giras. Essas personagens mereciam uma família especial com uma história original e resolvi baralhar completamente as coisas escrevendo uma história diferente; em vez da história banal entre um homem e uma mulher, porque não 2 mulheres? Foi um pouco o querer provocar emoções, fazer pensar e questionar até que ponto somos capazes de aceitar as diferenças nos outros.

Não é uma história sobre sexualidade, é sobre sentimentos. Quando se fala em homossexualidade pensa-se no lado físico, mas como em qualquer relacionamento também é importante o que se sente, é por aí que tudo acontece.

É um livro pequeno mas condensado e intenso, rico em  pormenores, sobre o qual  a frase “… posso atravessar meio mundo e o que mais vier…” vale por mil palavras.

"O binóculo mágico" é também uma história de amor, ficcionada, mas com muito de real.
O cenário existe, posso arriscar dizer que foi o meu mote. Parte do que descrevo é real, mas foram necessárias modificações para criar romantismo, alguma originalidade e adaptar ao que pretendia escrever.

Foi um desafio porque, resolvi estruturar a narrativa por personagens, que, tendo cada uma a sua história e o seu espaço, estão interligadas na trama central. Precisei de dar movimento e equilíbrio ao passar de umas para as outras e foi na ligação de factos e personagens que procurei a originalidade.

Foi um romance que me deu algum trabalho, mexeu com as minhas emoções e pôs à prova a minha imaginação. A frase “… Apetece-me dançar esse tango contigo…” deixa no ar o espírito envolvente da narrativa.

Ambos pertencem ao mundo onde tudo é possível.

Helena de Macedo

quinta-feira, 19 de março de 2020

Para os Mais Pequeninos: "Telma, o Unicórnio"

Primeiro tenho de vos alertar para o facto deste livro parecer ser dedicado às meninas... puro preconceito da minha parte, mas logo vi que estava errada quando comecei a ler esta história encantadora!

Sim, a capa tem brilhantes e é cor de rosa q.b. mas a história é universal! A Telma é um pónei bem amoroso mas não está contente consigo e gostava muito de ser um unicórnio. Andava triste e nem o seu amigo Óscar conseguia animá-la. Até que, certo dia, por um acaso que ela considerou um milagre...

Uma história divertida, que ensina aos mais pequeninos a apreciarem as coisas que possuem e não desejar, em excesso, coisas mirabolantes porque elas podem mesmo acontecer e às vezes nem tudo é o que parece. Ensina, também, o valor de uma amizade verdadeira.

Ilustrações sugestivas e muito expressivas. Adorei esta Telma que sabe reconhecer quando errou e recomeça no ponto de partida!






Cris

quarta-feira, 18 de março de 2020

Experiências na Cozinha: "As Delícias da Ella Para os Amigos"

Em tempos de uma guerra em que temos pela frente um inimigo invisível há que reforçar o sistema imunitário. Há muitas forma de o fazer mas os legumes de folha escura estão de entre os mais considerados. São muito ricos em cálcio e possuem muita fibra que ajuda ao bom funcionamento do intestino para que não se acumulem toxinas e é um dos pilares do nosso sistema imunitário. Há quem defenda até que o intestino é o nosso segundo cérebro.

Por nos lembrarmos disso, a Palmira e eu, trazemo-vos  uma receita de Verduras Salteadas com Tamari (molho de soja sem glúten). Fácil e saboroso.  Acompanhamos com arroz jntegral. Vejam:






Palmira e Cris

terça-feira, 17 de março de 2020

"As Aves Não Têm Céu" de Ricardo Fonseca Mota

Há livros que não nos pertencem, que não são para nós. E não há problema algum com isso. Li este livro conjuntamente com duas amigas livrólicas. Estabelecemos metas diárias e vamos comentando num grupo criado para esse efeito. Às vezes gosto de ler assim: incentiva a leitura e os comentários servem para melhor percebermos o que estamos a ler. Aqui foi necessário. Uma amiga gostou muito, a outra estava como eu, um pouco às aranhas.

A escrita é algo poética mas a história achei difícil de se perceber no seu todo. Mesmo no final, creio ter ficado com a ideia correta do enredo mas fiquei aberta a outras e diferentes opiniões. Talvez possam existir outros entendimentos e gostava de conversar sobre isso.

Um dos temas tratados é a dor da perda. Um pai sente-se responsável pela morta da sua filha num acidente de carro. Não dorme. Vagueia pela vida sem ter um sentido para ela. Depois existem outros personagens que estão com ele relacionados.

Mas no final do livro, um twist

Terminado em: 9/10 Março de 2020

Estrelas: 4*

Sinopse
Um homem vagueia pelas noites insones, revisitando o passado e a culpa que lhe vai consumindo os dias. A mulher trocou-o por outro e levou consigo a sua única filha, ainda pequena. Na semana de férias em que finalmente pode estar com ela, sofrem um acidente de viação que resulta na morte da filha.

A culpa e o passado cruzam-se neste romance feito de gente que vive no escuro, como o taxista que várias vezes apanha este pai e o transporta pela cidade silenciosa, e os dois companheiros com quem desde a morte da filha partilha o espaço.

Vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís 2015, Ricardo Fonseca Mota regressa à ficção com As aves não têm céu, um romance lírico que vem dar voz às sombras que se escondem nos recantos mais obscuros da alma humana.

Cris

segunda-feira, 16 de março de 2020

A Convidada escolhe: “A Mulher que correu atrás do Vento”

A Mulher que correu atrás do Vento”, João Tordo, 2019

Um romance longo, talvez até demasiado longo, constituído por partes datadas, distantes no tempo, mas que se encaixam e formam um puzzle de muitas peças. Tal como os puzzles, tem zonas mais difíceis de completar, outras mais fáceis, peças enganadoras, personagens sobreponíveis e às vezes, quando pensamos que já estamos a chegar ao fim e temos o puzzle resolvido, há um volte face e percebemos que afinal aquele desfecho do puzzle estava errado. O que é romance? O que é fantasia? O que é realidade? O título do livro e a epígrafe, retirada do Eclesiastes «Vi tudo o que se faz debaixo do Sol e achei que tudo é ilusão e correr atrás do vento» são a chave deste romance que tem o vento lá dentro.
No longo posfácio, Beatriz, a narradora, dirige-se a quem a está a ler, como que se explica e escreve a certa altura (p. 428) “Qual é o interesse de uma narrativa? Sobretudo de uma narrativa como esta, que já vai longa e confusa, dividida em múltiplas perspectivas, escrita em vários tons, repleta de vozes diferentes e, por vezes, contraditórias? … Chego à conclusão de que esta narrativa – como todas as narrativas – não trata do que é, mas do que poderia ter sido; não do que foi, mas do que deveria ser.” E à pergunta de Luciano sobre o que ela anda a traduzir/escrever, ela reflecte: “Como podia eu explicar-lhe isto, se não com a enorme perda de tempo de que falava Luciano, esta compulsão inútil de que padecem os escritores, aqueles que escrevem mesmo que ninguém os leia, os que escrevem porque, se não o fizerem, continuarão a correr infinitamente atrás do vento? O tempo perdido de que falava Luciano é a coisa mais importante que existe.” (p.431) Quando no último dia de trabalho no escritório de advogados, Luciano quis saber o que Beatriz ia fazer do resto da sua vida, ela respondeu-lhe: “Vou escrever um livro. Ele riu-se com a sua boca de parvo e perguntou-me sobre o que era. E eu respondi que aquela pergunta era a mais ridícula de todos os tempos, porque os livros não eram sobre nada, nunca ninguém escreveu um livro sobre coisa nenhuma. Os livros eram sobre si mesmos, disse eu, sobre o próprio acto de os escrevermos.” (p. 435). Mas, mais à frente, a narradora dirige-se-nos a nós, leitores/as: “Então chega o momento em que eu explico a razão deste livro, que não é sobre o que foi, mas sobre o que poderia ter sido.” (p. 436)
A Mulher que correu atrás do vento” é um livro sobre a culpa, o remorso, o abandono, a solidão. Um livro que quer resgatar a memória de alguém que ninguém recorda, de alguém que passou pela vida sem ser amado e que partiu cedo de mais. Uma sem-abrigo a quem as instituições não têm a obrigação de dar cama, quando atingem a maioridade. Uma sem abrigo a quem as instituições dão um banho, uma refeição e uma muda de roupa lavada. Lia. Lia poderia ter sido uma mulher com casa, afecto e dignidade.
Beatriz lutava desde o seu tempo de estudante universitária com a tradução de “Ulisses” de James Joyce, ao mesmo tempo que se divide entre gostar e odiar “A História do Silêncio”, um bestseller na época. Carrega a sua bagagem livresca e literária, não se poupando a referências a personagens que se colam às personalidades das personagens do livro, como por exemplo Lisbeth Lorenz ou Graça Boyard, a Violet Venable de Subitamente no Verão Passado de Tennessee Williams. “A Gaivota” de Tcheckov, a obra de Munch ou de Kafka, os escritores malditos Rimbaud, Baudelaire ou Bukowski, “Crime e Castigo” e os clássicos russos, “Um Eléctrico Chamado Desejo” de Tennessee Williams, ou mesmo o filme “Filhos de um Deus Menor”, entre muitos outros, surgem ao longo das páginas do romance e obrigam-nos a que os revisitemos ou conheçamos, para uma melhor compreensão das inúmeras personagens deste extenso romance de João Tordo.
Termino com mais uma citação que considero pertinente e ajustada ao romance: “As coisas começam num lugar distante no tempo e na geografia e, depois, parecem repetir-se infindavelmente, tal qual um relógio cujos ponteiros atravessam a mesma hora todos os dias. Assim é a vida humana: a repetição dos mesmos erros, dos mesmos atalhos, das mesmas esperanças.”


Mouriscas, 24 de Fevereiro de 2020
Almerinda Bento


domingo, 15 de março de 2020

Ao Domingo com... Isabel Tallysha-Soares


Escrever sobre o real
Isabel Tallysha-Soares
(Autora de Eu, do Nada; Da Gaveta e O Homem Manso)

Creio que nenhuma ficção consegue ser mais interessante do que a realidade. O real é tão polivalente, tão inesperado e tão surpreendente que a ficção mais não é do que uma dissimulação da realidade. É por isso que quando me perguntam sobre os meus livros digo que escrevo pseudo-ficção e é, se calhar e também, por isso, que resolvi ter um canal para abraçar a realidade e a encapsular de digital, o House of Tallysha.

Escrevi o meu primeiro romance, Eu, do Nada (Coolbooks, Porto Editora) depois de o jornalista Pedro Rolo Duarte me ter desafiado a escrever o relato romanceado da minha família materna. Nos anos ’90, o Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica deliciosa sobre nomes estranhos de terras portuguesas. Uma delas era um tal de “Nada” (com um outro nome igualmente nada na vida real) que era a quinta dos meus antepassados e foi sobre o porquê de esse lugar se chamar “nada” que surge o Eu, do Nada. A Porto Editora pegou no livro e publicou-o através da chancela Coolbooks. Depois eu traduzi-o e agora uma editora britânica vai lançá-lo com o título I, from Nothing. Foi a realidade que fez este livro aparecer e a realidade leva-o, agora, a saltar as fronteiras da língua em que nasceu.

O mesmo germinar da realidade sucedeu ao meu segundo livro, Da Gaveta, também publicado pela Coolbooks, como têm sido todos os meus livros em Portugal. Neste caso, o registo veste-se de autobiográfico. Trata-se de uma viagem de auto-descoberta e o romance tem a particularidade de as personagens e os locais não terem nomes. O leitor fará a sua interpretação e, através das paisagens e dos exotismos descritos fará também a sua viagem. Posso dizer que a gaveta que dá nome ao livro existe mesmo e que foi essa gaveta uma das inspiradoras para o romance que começa com a frase enigmática “A Mãe vivia numa gaveta.”

Já no que toca ao meu mais recente livro O Homem Manso, é também baseado em factos e pessoas reais. Aqui, a personagem principal é ficcionada sobre alguém com existência verídica e tão superlativa que todos os episódios cómicos descritos no livro são apenas e só verdadeiros. Não foi precisa imaginação literária para os inventar. O título do livro, por seu lado, é um paradoxo. O homem manso é sobre coragem, é sobre como a mansidão de carácter leva alguém a actos heróicos de profundo amor ao próximo. É também um livro de resgate histórico sobre coisas, pessoas e factos alheios ao conhecimento público e que devem vir a lume para não ficar esquecidos. Foi essa espécie de salvação da memória que também tentei neste livro.

Em suma, o real é apaixonante e tão inspiracional que até parece ficção. Convido-vos, pois, a conhecerem melhor o real que se esconde sob ficção nas páginas dos meus livros.

Um beijinho a todos e um agradecimento especial a “O Tempo Entre os Meus Livros” (que me lembra dos meus blogues, a que não dou atenção por falta de tempo, essa matadora de coisas de gente). Vemo-nos por aí, quem sabe se entre páginas?

Isabel Tallysha-Soares

sábado, 14 de março de 2020

Na Minha Caixa de Correio

  

  

  

Comprados os 2 livros sobre Reiki.
Os restantes foram ofertas das editoras respectivas.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Para os Mais Pequeninos: "O Avô Tem Uma Borracha na Cabeça"


Este deve ter sido o livro infantil mais tocante que li. Talvez porque também eu, à semelhança do autor, senti proximo de mim o terror que é a demência, ou mais concretamente o Alzhaimer, num familiar mais próximo.

Foi com uma grande sensibilidade que Rui Zink tocou neste tema que atinge maioritariamente os mais idosos, os "avós"... As ilustrações, também elas, são muito cuidadas, revelando uma delicadeza que surpreende.

Pouco mais há a referir. Precisam de lê-lo para verem a que me refiro. O título está maravilhosamente atribuído: porque é que o avô tem uma borracha na cabeça e o que podemos fazer para minimizar isso, já que a cura não é possível?

Finamente elaborado, o livro explica a demência aos mais pequeninos. E bem!

Recomendo vivamente.


 




Cris