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segunda-feira, 31 de maio de 2021

"Os Velhos" de Vítor Serpa

De há uns tempos para cá tenho escolhido os livros pelo título, autor ou capa (algumas vezes, também porque mos aconselham). Sim, eu sei o que vão dizer, mas é o que me tem apetecido... Que fazer?

À vezes a leitura é uma boa surpresa, outras nem tanto. Quando peguei neste livro pensei que era um romance. Não é. Mas o tom intimista, o facto de ser contado na primeira pessoa e relatar uma situação passada com o autor nestes dias de pandemia, fez com que tivesse lido com gosto.

Vítor Serpa é jornalista, um homem da informação e comunicação. Quem gosta da bola, deve lembrar-se dele... da Bola. Escreve bem, direto e conciso. Um episódio de doença crónica em que foi protagonista e esteve internado no Hospital Santa Maria, serviu de mote para todas as considerações que faz ao narrar o mesmo. Sobre os "velhos" sim, essa faixa etária que abrange vários anos e que se vai distanciando cada vez mais conforme vamos caminhando na idade. Os velhos são sempre os outros... É um comboio que ninguém quer apanhar e, no qual, ninguém se sente bem. A consciência do estorvo é algo muito bem relatado aqui, um pouco também pelos exemplos que observou no hospital.

Mas o autor não tece considerações apenas sobre isso. A pandemia, o confinamento e o isolamento que isso nos trouxe. 

Se gostam de ser surpreendidos e de ler sobre estes temas, eis o livro. Mas não pensem que é romance, não é. Embora a vida nos traga sempre algum.

Terminado em 20 de Maio de 2021

Estrelas: 4*

Sinopse

VELHO NUNCA SERÁ SER, MAS ESTAR

Deveria ter sido, apenas, uma simples consulta de rotina. Foi o começo de um inesperado internamento.

Uma dura experiência de vida, contada na primeira pessoa, onde também se revela o desconhecido mundo dos doentes em isolamento hospitalar e se alerta para o drama escondido do sofrimento dos velhos que nem têm quem os queira de volta.

Cris

sexta-feira, 28 de maio de 2021

"Heather, Absolutamente" de Matthew Weiner

Às vezes um livro pequeno não é sinónimo de rapidez  na leitura e pode arrastar-me para algo que parece não ter fim! Poderá até ser bom,  mas o tipo de escrita lenta, detalhada e/ou lírica faz com que a fluidez não se faça.

Este livro é pequeno. Mas tem TUDO o que gosto num livro: lê-se com gosto porque prende a atenção, as personagens têm carácter e estão bem exploradas nos seus traços psicológicos e a trama, sempre num crescendo de expectativa, termina num twist final que me surpreendeu. 

Duas histórias contadas em paralelo, tão diferentes entre si como muitas há na cidade que nunca dorme, Nova York. Quem tem tudo e quem nada tem. A riqueza e a pobreza extremas, a lucidez e a demência, dois caminhos que poderiam nunca se cruzar mas que o destino quis que assim não fosse. Heather é uma adolescente rica e inteligente que não suporta ser mimada pelos pais, Bobby, um ex-presidiário, com tendências homicidas, criado por uma mãe prostituta e alcoólatra. 

O leitor teme e pressente a desgraça. A surpresa final, diferente do espectável, faz deste livro algo de muito especial. Um livro que me deu muito prazer ler.

Terminado em 18 de Maio de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

A família Breakstone vive num idílio de riqueza e status à volta da filha Heather, e tudo parece correr bem: bonita, compassiva e fascinante, ela é a maior bênção da vida de luxo que têm em Manhattan. Mas à medida que Heather cresce – e que o seu brilho atrai cada vez mais um interesse sombrio – a existência perfeita da família começa a fragmentar-se. Quando os novos vizinhos do andar de cima começam as obras de remodelação da penthouse, um estranho instável, criado na pobreza e na violência, invade a segurança das suas vidas confortáveis, ameaçando destruir tudo o que criaram.

Heather, Absolutamente é um romance deslumbrante e tenso que revela na perfeição o olho clínico de Matthew Weiner para as qualidades humanas que unem e separam a sociedade moderna.

Cris

quinta-feira, 27 de maio de 2021

A Convidada escolhe: "Com Preguiça - crónicas"

Com Preguiça  crónicas, Adelino Correia-Pires, (2014-2015)

Acabei de ler as crónicas do meu amigo alfarrabista (não alfarrobista) Adelino Pires. Se ele ler este meu pequeno texto, poderá achar abusivo que o trate por amigo. Afinal, só estive com ele uma vez, no passado Agosto, quando a Helena me convidou a conhecer um sítio e uma pessoa, dizendo à partida, que eu ia gostar muito. E acertou. Fui conhecer o alfarrabista mesmo no coração de Torres Novas e descobrir os tesouros que só um espaço com história e com coração conseguem ter. Fora os livros, os quadros, as colagens, a pessoa que dá vida a todo aquele espaço, sai-se dali com vontade de lá voltar, percebendo-se que há ali tanto para descobrir.

Folheio as crónicas e logo fico presa ao prefácio de Fernando Alves, um dos membros do Clube das Pessoas Raras. Na badana, o autor das crónicas elucida-nos que o conteúdo deste seu primeiro livro surgiu no Jornal Torrejano ao longo de 2014 e 2015 e, sem rodeios, sugere uma leitura pausada e com a possibilidade de se ficar a meio ou de se chegar ao fim. Cheguei ao fim e com muito gosto. À medida que lia uma crónica, tinha vontade de passar à seguinte. 

O livro tem uma apresentação simples e muito cuidada, direi mesmo muito elegante. Embora as crónicas estejam divididas por três grandes grupos, cada qual iniciado por um poema e por uma ilustração de Alexandra Sirgado, há uma unidade e uma coerência que fazem das crónicas um painel de reflexões e de opiniões de alguém que, com extrema sensibilidade e acutilância não receia ser politicamente incorrecto e definitivamente nada neutro. O abandono dos centros históricos e do pequeno comércio local, o privilegiar do comércio em série nos mega espaços comerciais, a preguiça e a incúria dos governantes ávidos de responder às suas clientelas desbaratando o lado genuíno e específico de cada região, o desprezo pelo potencial que há em cada pessoa… surgem ao longo das crónicas com ironia, com grande domínio da linguagem, com trocadilhos, com jogos de palavras que a nossa língua permite a quem a conhece bem e que com ela sabe lidar. Adelino Pires não esquece os seus escritores e pintores de referência, os meninos e jovens que têm passado pela Livraria d’Outro Tempo e nos quais deposita a esperança dum futuro mais justo. Estou com o amigo alfarrabista quando ele diz “que não há futuro nem sustentabilidade sem o paradigma dos afectos.”

Este é um primeiro livro de Adelino Pires, mas percebe-se que ele tem material para muito mais, deixando-nos na esperança, ao falar do seu avô Adelino que nos anos 30 do século passado foi para Moçambique e lá casou, que isso talvez desse um livro… A última crónica passa-se na maternidade no dia em que a neta Maria Benedita nasceu, mas prolonga-se no capítulo dos Testemunhos, todos eles escritos pelos familiares mais próximos. Um livro que respira amor por todos os poros.

Por fim, a capa é linda ou não tivesse sido escolhido um belíssimo prato ratinho tão comum no Ribatejo e na região de Portalegre de onde Adelino Pires é natural. Para quem já visitou a casa-museu de José Régio, teve a possibilidade de aí encontrar uma colecção incrível daqueles pratos usados pelos trabalhadores beirões que sazonalmente asseguravam a ceifa dos cereais. Também na Livraria d’Outro Tempo, para além de preciosidades livrescas, é possível encontrar pratos ratinhos e outras belíssimas peças de artistas anónimos e de pintores de Torres Novas.

2 de Abril de 2021 

Almerinda Bento

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Experiências na Cozinha: "O Livro das Emoções"


Gostamos muito, eu e a Palmira, deste livro da Daniela. Há um exemplar em cada casa porque não é livro para se emprestar por muito tempo... De vez em quando precisamos dele. As receitas não são nada difíceis e há cá todos os ingredientes.

Sabia que havia uma receita com batata doce aos palitos mas que tinha qualquer pozinho de perlim pim pim que fazia a diferença e fui procurá-la. As fotos são belíssimas e, para a encontrar, bastou folhear um pouco. O cor de laranja saltou logo à vista!

Calhou ter aqui batata doce laranja que por acaso não é a minha preferida porque é bastante doce. Com o tempero que elas levam, ficou perfeita e o doce excessivo desapareceu. Foi-se num instante. Éramos dois apenas. Ficaram muito gulosas!

Ora vejam: 






Palmira e Cris

terça-feira, 25 de maio de 2021

A Convidada escolhe: "A Mulher do Quimono Branco"

1945 pós-guerra,  as tropas americanas ocupam o Japão.

Os navios de guerra americanos aportam aos cais japoneses desembarcando milhares de jovens homens.
A população tenta manter o distanciamento dos ocupantes preservando a sua identidade, tradições e cultura, evitando os contactos com os americanos.

É neste contexto que uma jovem japonesa e um militar americano se vão encontrar e apaixonar. 

A história poderia reportar-nos a tantas outras com este mesmo mote, um  amor impossível, no entanto, a autora leva-nos além do cliché mostrando-nos os costumes, a forma de agir e encarar a vida dos japoneses onde a honra da familia, (que cada membro deve preservar em prol de todos), é o mais importante mesmo que isso implique renunciar a quem se ama.

Um casamento com um estrangeiro e uma criança concebida em tais circunstâncias significava a vergonha e a perda da honra de toda a família. Os Japoneses criaram  estratégias para se desembaraçarem destas mães grávidas e das suas crianças.

Também os Americanos não viam com bons olhos estas uniões, dificultando em tudo os pedidos de licenças de casamento e embarque para os Estados Unidos destes casais.

Inevitavelmente as raparigas ficavam para trás, no Japão, e os seus homens refaziam as suas vidas no seu pais de origem. 

É a filha de um antigo militar americano que nos conta esta história, descoberta depois da morte do seu pai. Os contornos obscuros e contrários a tudo o que acredita ter sido o carácter do seu pai leva-a partir em busca da verdade e de uma possível irmã. 

Marília Gonçalves 

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Para os Mais Pequeninos: "O Jardim"


Apetece ficar numa página deste livro tal é a sua beleza.

Ema foi viver com os pais para uma cidade grande, cheia de arranha-céus. No meio dos caixotes, Ema deu logo conta que não havia verde e que tudo tinha um ar tristonho. Como é que ia conseguir viver sem as suas plantas, os passarinhos, o espaço amplo?

Começou a ficar triste porque não conseguia sentir a alegria que o campo lhe trazia... Fez algumas tentativas: pintou flores e borboletas no chão mas a chuva apagou tudo. Tentou pintar nos caixotes, visitar um jardim mas parecia que não havia solução... Até que conseguiu encher tudo à sua volta de plantas e o seu humor resplandecente voltou outra vez!

Saber criar um ambiente que nos faça sentir bem, não ficar preso ao passado mas melhorar o presente, conhecer a importância do ambiente (espaços verdes) e o seu contributo positivo nas nossas emoções, são alguns aspectos tratados sabiamente neste livro.

As ilustrações são lindas de morrer! Vejam:






Cris

domingo, 23 de maio de 2021

Ao Domingo com... Marta Martins Silva


Desde que me lembro de mim, escrevo. Talvez tenha começado a escrever para me organizar melhor embora sem consciência de que o fazia – ao escrever exorcizava angústias, hierarquizava desejos, registava alegrias ou desalentos. O papel foi sempre uma espécie de confidente que nada pedia em troca pelo ombro amigo e talvez a minha forma de lhe agradecer tenha sido enchê-lo de palavras e nunca o deixar vazio. Não sei quando percebi que queria fazer da escrita a minha profissão porque na verdade nunca quis outra coisa que não fosse escrever. À medida que fui crescendo fui-me descentrando de mim para escrever sobre os outros e percebendo que nada me dava mais prazer do que contar histórias reais mesmo que parecessem ficção. Porque pô-las no papel é partilhá-las com o mundo – e o mundo anda tantas vezes de olhos fechados para as histórias, que precisa de as ler em notícia de jornal. Durante algum tempo, ainda na adolescência, sonhei ser repórter de guerra – mas cedo percebi que as histórias que eu queria contar não estavam à distância de uma viagem de avião. Estavam do outro lado do passeio, nos olhos daquela mãe cansada que carrega os filhos pela mão e que a meio do mês já não sabe o que lhes pôr na mesa para comer porque a renda subiu e o patrão não aumentou. Estavam no corpo
velho que se achou sem dono nem passado numa rua que podia ser a nossa, num prédio que podia ser o nosso, dez anos depois da vida se esvair sem ninguém dar conta, nem sequer o vizinho do lado a quem de quando a quando pedia um raminho de salsa. Estavam nos que se entregam a causas e se dedicam aos outros mais do que alguma vez o farão com eles próprios. E estavam - comecei a descobrir graças ao meu trabalho como jornalista da revista Domingo do Correio da Manhã - nas memórias dos ex-combatentes da Guerra Colonial, baús trancados a sete chaves com muita necessidade de alguém que lhes encontrasse a chave e se dispusesse a mergulhar neste(s) passado(s). As memórias destes homens às vezes surgem durante conversas bem-dispostas e outras vezes vertem lágrimas que ficaram muito tempo (demasiado tempo) por chorar. O país esteve em guerra durante 13 anos e não foi por vontade destes homens – que no início dos seus vinte anos aprenderam a disparar armas que nunca tinham visto num país distante do que eles conheciam, tendo o medo por companhia diária. Muitos destes homens viram morrer amigos ao seu lado. Viram ferido o rapaz com quem na noite anterior beberam cerveja e falaram sobre a pátria. Pisavam a medo o chão minado. E tentavam esquecer as agruras de uma guerra que rapidamente perceberam sem sentido nas cartas que trocavam com as suas madrinhas de guerra, jovens raparigas que levaram a sério a missão de entreter os soldados e por momentos – nem que fosse durante os minutos em que engoliam as suas palavras depois da avioneta poisar em terras do fim do mundo – fazê-los esquecer de que podiam nunca regressar. Foi sobre eles e sobre elas, afilhados e madrinhas, que escrevi o meu primeiro livro, editado pela Desassossego em outubro de 2020 e que se chama precisamente ‘Madrinhas de Guerra’. Nele estão muitas cartas trocadas entre estes homens e estas mulheres e nelas estão dores e medos, mas também, e sobretudo, promessas e futuro. Através das cartas é possível espreitar também o Portugal que fomos nos anos sessenta e setenta do século passado e perceber que mesmo no meio da guerra, no meio das sombras e dos escombros, há lugar para o amor. 

Marta Martins Silva

20-5-2021

sexta-feira, 21 de maio de 2021

A Convidada Escolhe: Margarita e o Mestre

Margarita e o Mestre, Mikail Bulgakov, (1928-1940)

Numa das minhas poucas resoluções para 2021, constava ler um conjunto de livros há muito comprados e ultrapassados na voragem das novas aquisições que acabam sempre por se impor. Na altura, fiz essa lista de livros a resgatar ao esquecimento, que irei ler e intercalar com novidades que entretanto vá adquirindo. 

Nessa lista de livros “esquecidos” na minha estante, “Margarita e o Mestre” de Mikail Bulgakov é considerado a sua obra maior e uma das grandes obras-primas da literatura universal. O livro, que Bulgakov começou a escrever em 1928 e que terminou em 1940, ano da morte do escritor, precisou de 27 anos para poder ser lido pelos leitores russos, tendo sido publicado na revista Moskva, em 1967, numa altura em que as autoridades russas já tinham reabilitado este escritor perseguido e banido da literatura. Tendo escolhido escrever de forma independente, escolhendo os temas e não se submetendo aos cânones impostos pela Associação Russa dos Escritores Proletários, as suas peças teatrais gozavam de grande popularidade junto ao público, mas eram alvo da comissão de censura e dos críticos teatrais, pelo que em 1930 foi totalmente banido das editoras e do teatro. Não podia publicar, mas escreveu sempre. Apaixonado pelo teatro, trabalhou sobretudo como consultor literário, tendo dramatizado “Almas Mortas” de Gogol e “D. Quixote” de Cervantes, duas das referências que nos aparecem em “Margarita e o Mestre”.

Este enquadramento da época em que Bulgakov viveu ajuda-nos a compreender “Margarita e o Mestre”. Aliás, acho que é passível de inúmeras leituras, dada a escrita torrencial, fantástica e a imaginação prodigiosa ao longo de todo o livro, repleto de descrições muito visuais, diria mesmo cénicas. Podemos encontrar três histórias dentro deste livro, separadas mas indissociáveis. O Mestre, que aparece pela primeira vez quase a meio do livro, na instituição psiquiátrica onde se encontra o poeta Ivan, escreveu um livro recusado sobre Pôncio Pilatos e Margarita, a mulher amada que o quer resgatar e provar o seu amor, só aparece mais tarde no livro 2, capítulo 19. A história do Mestre e de Margarita é, quanto a mim, a história de Bulgakov e da sua mulher e da luta das suas vidas pelo reconhecimento e pela sobrevivência num mundo opressivo, que o excluiu assim como os artistas e escritores alvo da censura. Mas antes desta história, temos aquela que vai começar com o poeta Ivan e Mikail Berlioz, editor de uma revista literária e administrador da MASSOLIT, uma das mais importantes associações literárias de Moscovo. Conversam sobre a existência ou não de Jesus, quando são abordados por um “estrangeiro” que lhes vai contar uma história em que Pôncio Pilatos interroga Yeshua Ha-Nozri, condenado à morte, não obstante Pôncio Pilatos querer a sua absolvição. Esta terceira história, que assim se insinua, cria desde logo uma estranheza, até entre Ivan e Berlioz, que se perguntam se tinham mesmo ouvido aquela estranha história, ou se teria sido um sonho. O que é a verdade? O que é a mentira? Esse estrangeiro que vai predizer a morte para breve de Berlioz, o que acontece, é afinal Woland, o Diabo, designado de diferentes formas: turista, estrangeiro, louco, professor de magia negra, criminoso, malfeitor, espião. Woland com a sua comitiva – Behemoth (o gato preto), Azazello, Koroviev e Hella – vão provocar o caos em Moscovo com as suas patifarias, fazendo desaparecer pessoas, criando uma sucessão infindável de acontecimentos estranhos, trazendo ao de cima os males da sociedade onde a corrupção, os favores e a delação imperam. O poeta Ivan, que tentara tudo junto às autoridades policiais para que prendessem aquele perigoso estrangeiro, é internado numa clínica psiquiátrica, diagnosticado de esquizofrenia, por contar a história de Pôncio Pilatos que lhe tinha sido narrada pelo estrangeiro. Margarita, para resgatar o seu amado Mestre, vende a alma ao diabo, transforma-se numa feiticeira que voa sobre Moscovo e vai-se vingar das maldades que fizeram ao Mestre.

Uma história bizarra, com muitas personagens, com imensas cenas algumas até cómicas, uma imaginação prodigiosa, uma sátira, uma alegoria a um tempo e a uma sociedade em que o mal andava à solta, desrespeitando os indivíduos.

 Voltamos ao princípio e à conversa de Ivan e Berlioz, sobre a existência de Jesus, sobre a existência do Bem e do Mal e concluímos que o Bem e o Mal fazem parte da natureza. “Dizes as palavras como se não reconhecesses a existência nem das trevas nem do mal. Mas quererás ter a gentileza de pensar um pouco no seguinte: para que serviria a tua bondade se não houvesse mal e como pareceria a terra se as trevas desaparecessem dela? Afinal, as sombras são projectadas pelos objectos e pelas pessoas. Há a sombra da minha espada. Mas há também as sombras das árvores e das criaturas vivas. Quererias desnudar a terra de todas as árvores e de todos os seres vivos só para satisfazer a tua fantasia de júbilo na luz crua?” (pág. 372).

A epígrafe que abre “Margarita e o Mestre”, extraída do “Fausto” de Goethe, antecipa a dualidade presente na natureza humana: 

“Quem és tu, então?”

“Parte daquela força que eternamente deseja o mal e eternamente cria o bem.”

6 de Maio de 2021 

Almerinda Bento





quarta-feira, 19 de maio de 2021

"Antes que o Café Arrefeça" de Toshikazu Kawaguchi

Algumas amigas livrólicas leram este livro em inglês antes da sua publicação cá e recomendaram-no muito. Mal o  recebi, peguei nele. Não sei se já conhecem a escrita nipónica mas em todos os livros que li, transparece a sua cultura, sendo algo místicos. 

Confesso que me custou entrar na trama, primeiro pelos nomes das personagens. Ajuda escreverem "quem é quem" num papel e irem espreitando até que o nome faça sentido na vossa cabeça. Depois, a premissa em que se baseia esta história também não é muito fácil de ser aceite por alguém que gosta de histórias baseadas em algo verídico. Estranhei, estranhei mas depois entranhei. 

E fiquei a gostar daquelas mulheres que, por alguma razão, queriam ir momentaneamente ao seu passado e se atreviam a viajar no tempo mesmo sabendo que o seu presente não sofreria alterações aparentes. Mas a transformação operada nelas após a viagem é reveladora que a magia pode acontecer no dia a dia. Porque às vezes há coisas que ficam por dizer, fazer, escutar ou falar que, se tivéssemos a oportunidade de as realizar, o nosso "eu presente" ficaria bem melhor! 

Um livro que, embora pareça levezinho, não o é e possui a capacidade nos fazer lembrar que pequenos nadas podem realmente ser deveras importantes. 

É um livro diferente, que me conquistou aos poucos e, precisamente, o que fez estranhar nesta leitura é aquilo que dificilmente me vou esquecer: a cadeira de certa mesa do café "Funiculi Funiculá" que permite viajar para o passado. Mas não esqueçam que o café não pode arrefecer! Curiosos? 

Terminado em 14 de Maio de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

O que faria se pudesse voltar atrás no tempo?

Um romance tocante e inspirador.

Um rumor circula por Tóquio. Escondido num pequeno beco da cidade, dentro de uma cave, há um café com mais de cem anos. Com uma chávena bem quente, se nos sentarmos no lugar certo, oferecem-nos algo mais: a hipótese de voltar ao passado. Em Antes Que o Café Arrefeça, acompanhamos as viagens de quatro mulheres que procuram regressar a momentos determinantes das suas vidas para os mudar: falar com o namorado que partiu, ler a carta do marido com Alzheimer, ver a irmã pela última vez e conhecer a filha que nunca viu. Mas as viagens no tempo têm condições e riscos… E nada do que façam vai alterar o presente.

Uma mesa, um café e uma decisão.

Uma história sobre o amor, o tempo perdido e as oportunidades que o futuro nos reserva. 

Cris

terça-feira, 18 de maio de 2021

A Convidada Escolhe: "A Senhora dos Rios"

Uma trilogia muito boa do período da Guerra das Rosas, de que este é o primeiro livro. 

Philippa Gregory oferece nos uma cativante e muito bem escrita história passada em Inglaterra no século XV, época de guerra e lutas pelo poder a época medieval. 

Para além da pesquisa histórica feita para este livro, a autora teve que desenvolver muito a parte ficcional já que não existem muitos documentos sobre a protagonista do romance Jacquetta, acusada de ter praticado bruxaria para casar a sua filha Isabel Woodville com o rei. 

Esta é a história da sua vida como descendente de Melusina (uma Deusa do Luxemburgo), que transmitiu às mulheres da sua família poderes mágicos de prever o futuro. Tais dons vão  afectar sua vida ao ser usada pelo primeiro marido e pela própria rainha para prever os seus destinos. 

Um belo passeio pela história e pela magia!

Recomendo estes e os seguintes livros desta saga, a Rainha Vermelha e a Rainha Branca que são muito mais fiéis à Historia uma vez que existe mais e melhor documentação sobre o período relatado.

Marília Gonçalves 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

"As Pontes de Madison County" de Robert James Waller

Li este livro tão  rapidamente que só no final é que o consegui saborear com eficácia. O tamanho da letra contribui para essa rápida leitura e o espaçamento entre ela também. 

A história fala-nos de um amor que só teve quatro dias para existir e que não teve como vingar mas que transformou as vidas de duas pessoas para sempre. O antes e o depois. Um fotógrafo da National Geographic vai fotografar algumas pontes em trabalho. Numa quinta no Ohio, Francesca estava só por alguns dias. O marido e os dois filhos tinham-se ausentado para uma feira. E sem ambos quererem está montado o cenário para um amor, um encontro e duas vidas marcadas profundamente por 4 dias felizes mas dolorosos. 

Logo a seguir a ter terminado o livro, fui ver o filme. Tão bom! Façam isso. Leiam o livro primeiro e vejam o filme logo de seguida. A leitura complementa o filme e este em nada deturpa o livro. Complementam-se lindamente e é assim que devia acontecer sempre.  Clint Eastwood e Meryl Streep vão colocar em imagens aquilo que vocês leram, ou melhor, vão acrescentar às imagens que vocês criaram ao ler o livro, outras ainda mais reais. Gostei muito!

Mas, preparem as lágrimas!

Terminado em 11 de Maio de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

Neste clássico da literatura contemporânea, James Waller põe em cena o amor profundo entre Robert e Francesca. Inicialmente, nenhum deles espera que este encontro fortuito conduza a uma aventura, porém, a atração que ambos sentem é inegável e dará lugar a um amor profundo e duradouro.

Cris

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Abril

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Abril.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 20, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

 

Cris

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Para os Mais Pequeninos: "A Estrelinha Que Muda de Cor"


Este livro é especial. Foi escrito a duas mãos por duas psicólogas e o que o torna diferente é a intenção com que foi feito e a forma como a história se proporciona para falar com as crianças de uma coisa que muitas não sabem como lidar: as emoções. 

No final da história existem dicas parentais muito boas que ajudarão os pais em várias situações futuras, como devem agir e reagir, para explicar às crianças emoções que, muitas vezes, elas não sabem explicar. A vergonha, a fúria, a raiva, o medo, o nojo, mas também, a calma, a felicidade e a alegria. Saber que é normal sentirmo-nos assim, às vezes num tumulto, outras numa onda de calma, pode trazer confiança a este ser pequenino que não sabe o que está a sentir nem porque muda tanto de sentimentos ao longo do dia...

Uma história para ser vivida. Vejam as imagens:




Cris

terça-feira, 11 de maio de 2021

A Convidada Escolhe... "Quem é amado nunca morre"

Um livro que me revelou uma parte da História da Grécia moderna e as suas guerras internas no período
posterior à ocupação nazi.

As lutas entre as fações politicas, direita e esquerda, levam à guerra civil fruto das divisões na sociedade e no seio das próprias familias, como no caso da família da protagonista, que assiste ao deteriorar das relações dos que mais ama. 

As diferenças politicas insanáveis, a miséria que se instala no país, a morte da sua melhor amiga, levam a jovem à revolta e a juntar-se ao exército comunista. Será  confrontada com actos de violência extrema e ódio em que tem que participar, mas também com a solidariedade e amizade e com o amor que são postos à prova no meio do caos. 

Gostei bastante!

Marília Gonçalves

segunda-feira, 10 de maio de 2021

"O Segredo dos Prisioneiros" de Maggie Brookes

Começo já por dizer que este livro tem um grande defeito! Faltam-lhe páginas! Um dos meus "eus" diz: "Gostava tanto que ele tivesse mais meia dúzia ou uma dúzia de páginas onde pudesse descansar a minha curiosidade e saber o que terá acontecido a algumas personagens que foram tão importantes neste enredo e que ficaram pelo caminho!" Mas, por outro lado, gosto de colocar a imaginação a funcionar e percebo perfeitamente a razão pela qual a autora optou por acabar assim. E o meu "eu" que gosta de imaginar finais, prefere que a continuação desta história seja escolhida por mim e digo-vos que fiquei um bom bocado a pensar nisso.

Mas, comecemos! Ao ler a Nota Histórica e ao ver uma referência a uma Nota da Autora feita no final do livro, saltei imediatamente para lá. Fiz bem. Aconcelho-vos a fazerem o mesmo. Creio que só vos vai enriquecer a leitura.

Estamos em 1944 na antiga Checoslováquia, ocupada por Hitler, num local chamado Vražné. A populacão é maioritariamente camponesa e fala alemão corretamente. Muitos campos são cultivados apenas pelas mulheres e crianças porque os homens estavam a combater (a favor ou contra os nazis). Os prisioneiros são muitas vezes utilizados para realizarem esse trabalho sob o olhar de guardas nazis. Para além de estarem ao ar livre, a própria comida podia ser melhor pelo que muitos preferiam ir trabalhar no campo do que ficar presos num campo de trabalho. Estamos aqui a falar num campo de prisioneiros de militares ingleses, abrigados pela Convenção de Genebra.

Izzy, camponesa checa, e Bill, militar inglês, conhecem-se nessas condições. E no meio da loucura que é viver num mundo horrível, amam-se, casam e fogem. E são apanhados! 

Depois, é um avolumar de situações que nos agarram à cadeira ou ao sofá que não nos deixam largar este enredo. Esta história relatada foi baseada numa história contada por um ex-prisioneiro que vivia num lar onde a mãe da autora habitava também. A pesquisa posterior feita pela autora traduziu-se num texto muito realista, mostrando até (e isto são os próprios personagens que o sentem na pele quando se cruzam com "os prisioneiros de pijamas às riscas"), como estes prisioneiros militares possuíram condições muito melhores do que muitos outros. Recebiam, por vezes, pacotes da Cruz Vermelha. E, no entanto, a fome, o frio, os maus tratos eram mais que muitos.

Um romance que muito dificilmente vou esquecer. Pelo realismo da escrita que, sendo ficção, conseguiu que a minha atenção não se dispersasse  e se fixasse ainda mais com o decorrer das páginas. Fiquei literalmente presa e adorei isso. Recomendo muito!

Terminado em 8 de Maio de 2021

Estrelas: 6*

Sinopse

«Uma história de amor e sobrevivência baseada no relato de um prisioneiro de guerra britânico capturado pelos nazis.» — Publishers Weekly

Maggie Brookes sentiu-se inspirada a escrever o seu primeiro romance, O Segredo dos Prisioneiros, depois de um ex-prisioneiro de guerra lhe ter contado uma extraordinária história ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial. 

«Nós temos de sobreviver. Para que o mundo saiba aquilo por que passámos. Para garantir que isto nunca mais volte a acontecer na História.»

1944, Checoslováquia. Na calada da noite, Izzy e Bill, uma camponesa checa e um prisioneiro de guerra britânico, casam-se em segredo e fogem através de aldeias devastadas pela guerra, com o sonho de construírem um futuro juntos, longe do jugo nazi. Para conseguirem escapar, Izzy veste-se de homem, corta o cabelo rente e faz-se passar por muda. Porém, a sua sorte não dura muito tempo, e eles acabam por ser capturados pelo exército alemão.

Apesar disso, o disfarce de Izzy funciona. Ambos são considerados soldados fugitivos e transportados para um campo nazi de prisioneiros de guerra, onde irão enfrentar condições extremas. O campo está sobrelotado, não existe comida suficiente e o trabalho é demasiado duro. Mas, no meio das circunstâncias mais desumanas, surge a esperança, pois o jovem casal trava amizade com um pequeno grupo de prisioneiros. Esses homens tornam-se a sua nova família, e estão dispostos a arriscar as suas vidas para proteger Izzy. O perigo que correm é avassalador, pois, se o segredo de Izzy for revelado, ela e Bill — e os homens que decidem ajudá-los — enfrentarão a morte.

«Uma das histórias de guerra mais audaciosas de sempre.» - Daily Express

Cris