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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Novidade Saída de Emergência

A Pequena Livraria dos Recomeços

de Jenny Colgan

Nas terras altas, há uma pequena livraria à sua espera...

Zoe e o seu filho necessitam desesperadamente de uma mudança. Ela quer deixar Londres e construir uma nova vida. Entre o minúsculo estúdio que mal pode pagar e as buzinas que os mantêm acordados, Zoe sente que está prestes a enlouquecer.

Num impulso, ela aceita um emprego nas Terras Altas. A função exige alguém capaz de cuidar de três «crianças dotadas», duas das quais se comportam como pequenos animais selvagens. O pai está de rastos, e os filhos correm livremente pelo enorme castelo em ruínas nas margens de um lago repleto de urzes.

Com a ajuda de Nina, a simpática livreira local, Zoe começa a criar raízes na comunidade. Serão os livros, o ar fresco e a bondade suficientes para curar uma família destruída?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

"O meu Nome é Selma" de Selma Van De Perre

Não há como não dar as estrelas máximas a este testemunho desta sobrevivente judia holandesa do Holocausto. Fico sem palavras depois de acabar de ler estes livros de não ficção, tão cheios de coragem e de resiliência. Selma sobreviveu. No meio, o factor sorte contou muito mas a sua força e esperança em dias melhores foi o que lhe deu ânimo para resistir.

Relato cru, verdadeiro, do que viu e viveu. Muitos anos depois Selma relembra e conta.  Porque o desejo de continuar a viver uma vida o mais normal possível e retomar a vida deixada para trás, levou a que muitos sobreviventes não falassem nas suas vivências durante muitos anos no pós guerra. Aliás, o mundo ainda não estava preparado para as ouvir. Não acreditariam.

A capa deste livro não é apelativa, eu sei. É verdadeira. Uma foto de Selma. Espero que esta obra não se confunda com tantas outras que circulam por aí. Não merece que isso aconteça.

Selma sobreviveu. Como referi, a "sorte" esteve com ela em muitos momentos. O facto de ter, em determinada altura, pertencido à Resistência (Selma era correio) permitiu-lhe o acesso a documentos falsos que a fizeram passar por não judia. Isso fez toda a diferença quando foi presa. Mesmo tendo suportado condições extremas em Ravensbruck, ela soube mais tarde que o tratamento dado aos judeus foi bem pior. 

O relato desta sobrevivente não acaba com a sua libertação. Prossegue e acompanha a sua vida depois disso, o que o torna muito real e podemo-nos aperceber que o fim da guerra não trouxe o merecido descanso. As consequências físicas e psicológicas foram terríveis.

Este é daqueles livros a que temos de dar a nossa total atenção! Não foi escrito para agradar nem para solicitar compaixão ao leitor. Merece ser lido. Possui, também, algumas fotos de Selma e seus familiares dando cara aos nomes.

Terminado em 18 de Fevereiro de 2022

Estrelas: 6* 

Sinopse

As memórias marcantes de uma combatente judia da resistência e sobrevivente do campo de concentração de Ravensbrück.

Selma van de Perre tinha 17 anos quando a Segunda Guerra Mundial começou. Até então, ser judeu na Holanda não era sinónimo de perigo, mas em 1941 tornou-se uma questão de vida ou morte. Selma juntou-se ao movimento de resistência contra os nazis e durante dois anos arriscou tudo. Usando o pseudónimo Margareta van der Kuit e passando por ariana, viajou pelo país a entregar documentos, a partilhar informações e a manter o ânimo entre os colegas — fazendo, como diria mais tarde, o que «tinha que ser feito».

Um poderoso testemunho da luta contra a desumanidade.

Em julho de 1944, a sua sorte acabou. Detida, foi transportada para o campo de concentração feminino de Ravensbrück como prisioneira política. Ninguém ali sabia que era judia. Ao contrário dos seus pais e da sua irmã — que descobriria mais tarde terem morrido noutros campos —, ela sobreviveu. Somente depois do  fim da guerra é que conseguiu recuperar a sua identidade e se atreveu a voltar a dizer: o meu nome é Selma.

Cris

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A Convidada Escolhe: “A Guerra não tem Rosto de Mulher”

A Guerra não tem Rosto de Mulher”, Svetlana Alexievich, 2013


Enquanto fui lendo este livro, fui acompanhando pelos media o aumento preocupante do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Sabendo nós o que os órgãos de comunicação social nos querem fazer crer, com encontros entre líderes, declarações solenes de parte a parte, retiradas estratégicas, receios de provocações, a verdade é que no dia em que terminei o livro, parece que o conflito está cada vez mais eminente. Nem a propósito, a ler um livro sobre a II Guerra Mundial, sobre o sofrimento do povo russo na perspectiva das mulheres, aquelas que estiveram na guerra mas que a sociedade russa fez por as esquecer e silenciar.

Svetlana Alexievich, que ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2015 pela sua “escrita polifónica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época”, é natural da Bielorrússia e a viver em Minsk, com a profissão de jornalista, quis, com este livro, publicado nos anos 80, ouvir as vozes das mulheres que combateram nas trincheiras, que estiveram na linha da frente e que, depois da guerra, não só não foram reconhecidas como fundamentais no esforço de guerra, como, muitas vezes foram ostracizadas e vilipendiadas.

É um livro brutal, duro. A autora quis ouvir na primeira pessoa muitas centenas de mulheres cujas vozes gravou e que depois transcreveu numa polifonia única. Recordações de um tempo em que eram jovens com pouco mais de dezasseis anos, desejosas de combater e derrotar o inimigo nazi. A recolha destes testemunhos, que levou a autora a percorrer todo o país, iniciou-se nos anos 80, sendo que o livro foi recusado durante dois anos pela censura, por “não ter ideias soviéticas” (pág. 35), por “mostrar a sujidade da guerra” (pág. 37) e porque “Não precisamos da sua pequena história, precisamos de uma grande história. A história da Vitória” (pág. 39). Ainda hoje, o governo bielorrusso proíbe a edição dos seus livros que são lidos em russo e vendidos aos milhões.


Começou a perestroika de Gorbachev… O meu livro foi logo publicado, teve uma tiragem vertiginosa: dois milhões de exemplares. Foi o tempo em que aconteciam muitas coisas impressionantes, de novo lançámo-nos com ímpeto não sabíamos bem para onde. De novo, para o futuro. Ainda não sabíamos (ou então esquecemos) que a revolução é sempre uma ilusão, sobretudo na nossa história” (pág. 30)


Este livro é de tal forma único e rico em testemunhos – “um coro de vozes” – que se torna difícil escrever sobre ele, escolher. O meu exemplar está repleto de anotações, sublinhados, dá vontade de transcrever tudo; imagino como terá sido hercúlea a tarefa da autora a “limpar” e deitar fora material de entre tudo o que recolheu, ouviu e gravou, para que resultasse nesta obra incrível.


Os relatos femininos são diferentes e falam de coisas diferentes. A guerra «feminina» tem as suas cores, os seus cheiros, a sua iluminação e o seu espaço de sentimentos. Tem as suas palavras. Nesta guerra, não há heróis nem proezas incríveis, mas tão-só as pessoas ocupadas na sua actividade humana e simultaneamente desumana. Lá, não são só elas, as pessoas, a sofrer, mas também a terra, os pássaros, as árvores. Todos os que habitam a terra connosco. Estes sofrem sem palavras, o que é ainda mais horrível.”

… “Quero escrever a história desta guerra. A história feminina” (pág. 16)


Constituído por dezassete capítulos, o livro começa com o registo de excertos do diário do livro, onde a autora fala da influência que “Sou de uma Aldeia em Chamas” de Ales Adamóvitch teve na sua obra e explica a sua estranheza por tudo o que lera sobre a guerra ter exclusivamente “voz masculina” e perceber que as mulheres, embora sendo protagonistas, estiveram sempre caladas, ninguém quis ouvir as suas vozes, dando como exemplo os casos da mãe e da avó. Os louros da vitória foram para os homens. Elas só foram homenageadas passados 30 anos sobre a guerra. Ao ir ao encontro daquelas que são as protagonistas do seu livro, mesmo passados tantos anos, sentiu que algumas tinham dificuldade em se libertar de uma narrativa da época (a verdade comum), sentindo-se constrangidas a contar a sua história, havia as que em dado momento já não conseguiam continuar “Não me quero lembrar” (pág. 47), mas também as que tinham ânsias de contar os detalhes, como as coisas se passaram (a verdade pessoal). “Por que é que só agora vieste ouvir-nos?” disseram-lhe algumas das narradoras.

De que falam aquelas mais de três centenas de narradoras de “A Guerra não tem Rosto de Mulher”, aquelas raparigas russas de 1941? De solidão, de dúvidas, de medo, de ódio, de amor à Pátria, de vingança, de perdão, de reconciliação, de sentimentos de culpa, da roupa de homem que tiveram de vestir, de amor, de fervor ideológico, de escolhas dolorosas. Da fome e da solidariedade das populações sem o apoio das quais a vitória não teria sido possível. Dos cercos a Leninegrado e Estalinegrado. Os riscos e sacrifícios extremos dos partisans e sector clandestino bem documentados no capítulo “Sobre batatas miudinhas…” talvez um dos mais duros.

Elas ocuparam todas as profissões e não só as relacionadas com a enfermagem. Muitas estiveram na linha da frente, o lugar mais desejado por elas fruto do fervor ideológico e da convicção de que o inimigo seria vencido em pouco tempo, estiveram nos tanques, na Marinha, mas também nos “bastidores”: cozinheiras, lavadeiras, bombeiras, padeiras, fotógrafas, abastecedoras, no serviço postal, engenheiras civis… E as sapadoras, as que ficaram depois da guerra e que tiveram de ficar no terreno a desminar os campos.

Terminada a guerra é o vazio para muitas delas. A esperança de que no fim da guerra todos se amariam rapidamente se esvai. As terras perderam os seus homens, as famílias estão desfeitas, elas sentem-se velhas. Muitos olham para elas com desconfiança, rotulam-nas de EC “esposas de campanha” (pág. 292). Receavam que ninguém quisesse casar com elas e os homens não as protegeram. A guerra terminara, mas para elas ia começar uma nova guerra. Os traumas que trouxeram da guerra ficaram e permanecem.

Termino transcrevendo alguns excertos deste que foi o primeiro livro de Svetlana Alexievich e sobre o qual só tenho a dizer: leiam-no. Não mais o vão esquecer.


Tenho pena dos que vão ler este livro e dos que não o vão ler…” (frase de uma das vozes deste livro. (pág. 33)

Eu tinha uma trança muito bonita, saí já sem ela… sem a trança… Cortaram-me o cabelo à soldado.” “E não me devolveram o vestido. Não me deram tempo de entregar o vsetido e a trança à minha mãe. Ela pedira muito para ficar com alguma coisa minha.” (pág. 51)

A primeira vez é terrível… Mesmo terrível…”(pág. 54)

Mesmo que regresses viva de lá, a alma dói-te” (pág. 62)

Certa vez, durante os exercícios… Não consigo lembrar-me disso sem chorar, não sei porquê… Era Primavera. Terminámos o exercício de tiro e regressávamos ao acampamento. Apanhei umas violetas. Um raminho pequeno, que atei à baioneta.” (pág. 98)

Porque sobrevivi? Para quê? Penso… No meu entender, para poder contá-lo…”(pág. 135)

Recordar é terrível, mas não recordar é mais terrível ainda.” (pág. 159)

Depois da guerra nunca mais voltei a ser jovem.” (pág. 189)

Todos ansiavam chegar vivos ao dia da Vitória” (pág. 277)

Para os sapadores a guerra acabou uns anos depois da guerra… Imagine o que é estar à espera de uma explosão depois da Vitória? Estar à espera daquele instante…Oh, não! A morte depois da Vitória é a mais horrorosa. É como morrer duas vezes” (pág. 279)

Não enterro o meu marido, enterro o meu amor.” (pág. 286)

Acho que, se não me tivesse apaixonado na guerra, não teria sobrevivido. O amor salvava. Salvou-me a mim.” (pág. 292)

Na guerra nunca sorria”

Na altura da minha partida para a frente, as cerejeiras do nosso pomar estavam em flor” (pág. 296)

Será que é possível escrever sobre isto? Dantes não se podia…” (pág. 373)


19 de Fevereiro de 2022

Almerinda Bento



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

"Para os Mais Pequeninos: "As Minhas Amigas Emoções"

Ainda bem que existem bastantes livros sobre como ensinar os pequenitos a gerir as emoções porque, por vezes, elas podem ser avassaladoras para esses pequeninos seres. Reconhecê-las e saber geri-las quando aparecem é tão importante!

A autora é psicóloga com experiência em Neuropsicologia e em Psicoterapia e a história está particularmente bem construída e com ensinamentos preciosos. Saber reconhecer emoções como a tristeza, a alegria, a raiva, o medo, a repugnância e saber lidar com elas.

Achei muito bom! Vejam as fotos. As ilustrações são belíssimas.







Cris


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

"O Vento Mudou de Direcção" de Simone Duarte

Tinha este livro já desde o ano passado nas minhas estantes à espera. Creio não ter visto nenhum comentário sobre ele. E como é bom! É um livro de não ficção. Pelo título e capa podemos intuir sobre qual o assunto que aborda. Não estava à espera de olhar para este assunto e abordá-lo com outro olhar. Não se trata saber quem são os "maus", porque os há em todos os lados, mas como algumas posições/atentados puderam influenciar negativamente a vida de tantas pessoas, de vários países. Afeganistão, Paquistão, Iraque.

Simone Duarte é uma jornalista brasileira e estava em NY quando as Torres Gémeas foram atingidas em 2001, há mais de vinte anos. Chefiava a redação da TV Globo.  Logo no início temos a transcrição do relato oral da sua entrevista em directo para o Brasil. Aos poucos, surgem-nos as sete personagens que farão deste livro algo de muito especial. 

Personagens? Pessoas reais, aliás. Simone entrevistou estas pessoas presencialmente e, depois devido a esta pandemia, via online, durante mais de dois anos e foi acompanhando as suas vidas durante esse tempo. Falam-nos do seu passado e do seu incerto presente. Ainda hoje estão em fuga permanente. Alguns nomes sofreram ligeiras alterações para que as suas identidades não fossem invadidas nem perturbadas. Outras, as figuras públicas (uma escritora, um jornalista e um general paquistanês), aparecem com os seus verdadeiros nomes. Apenas Ahamer, o pequeno rapaz bomba, é uma mescla de três rapazes que a autora conseguiu entrevistar, sempre na presença de psicólogos, e que estavam no Paquistão num centro de recuperação física e psicológica de jovens que fugiram ou foram capturados de campos de Talibãs paquistaneses. Crianças ainda quando entraram para lá.

Que dizer mais? Ainda estou a assimilar o conteúdo e a processar a informação que, não sendo novidade, veio corroborar aquilo que todos nós sabemos: não há vencedores numa guerra. Vítimas em constante fuga, a morte de inocentes. E para quê?

Recomendo muito!

Terminado em 13 de Fevereiro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

Nos últimos 20 anos, houve milhares de relatos sobre os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, mas nenhum resgata as histórias de vida dos afegãos, iraquianos e paquistaneses cujas existências foram estilhaçadas quando, após a queda da Torres Gémeas, o vento mudou de direcção e se abateu com fúria sobre as suas casas e o seu dia-a-dia. Neste livro, a jornalista Simone Duarte reabilita a humanidade de algumas dessas vítimas esquecidas: um rapaz treinado para ser um bombista suicida, outro que atravessou oito países para escapar aos talibãs, uma afegã em fuga da ocupação americana, um espião dos serviços secretos paquistaneses ou o jornalista a quem Bin Laden deu a última entrevista antes dos ataques.

Um livro inesquecível e perturbador que nos mostra uma perspectiva incomum sobre as consequências devastadoras do dia que mudou por completo a face do mundo moderno.

Cris

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

"Histórias do Bairro" de Gabi Beltrán e Bartolomé Seguí - Graphic Novel

Numa ida à biblioteca, sob o pretexto da saga "caminhar faz bem", trouxe esta GN. O título influenciou a minha escolha. Foi um tiro certeiro.

Gabi Beltrán, desenhador e ilustrador, retrata com mestria as suas histórias de menino adolescente, com 14 anos, quando vivia, nos anos oitenta, num complexo bairro de Palma de Maiorca. Simples, não é? Pois não é mesmo. Famílias completamente disfuncionais, onde a profissão mais antiga do mundo funciona como, quase, o único meio de subsistência das famílias dos seus amigos, amigos esses que tinham como principal actividade o roubo para poderem financiar os seus vícios, drogas, brigas entre bandos. É um pouco disto que vamos encontrar nestas páginas. Histórias pequenas que juntas fazem um todo com sentido.

Gabi tanto mostra o seu melhor lado (como quando, por ex., ajuda frequentemente um vizinho que não se pode deslocar) como se mete em confusões, pequenos assaltos com fugas à polícia, com uma mistura de drogas e bebidas. O seu gosto pelo desenho sobressai e entre os seus amigos é conhecido por isso. Não foge ao primeiro amor, nem aos conflitos interiores próprios dessa idade. Nesse meio hostil, descobre e apaixona-se pela literatura. 

É o relato, também, de uma fuga a esse meio social. Com avanços e recuos, sem direcção certa, no começo. Um caminho difícil a percorrer quando as condições ao redor não ajudam, antes pelo contrário.

Intercalando com as histórias dos quadradinhos da novela gráfica, estão páginas de texto corrido onde Gabi relata a história de seu pai, uma figura nada presente na sua vida.

A cor predominante nesta GN é o preto, o escuro sempre presente para retratar vidas difíceis, com muitos apontamentos a vermelho que sobressaem nessa escuridão. As ilustrações são muito sugestivas bem como as pequenas histórias que prendem de imediato o leitor.

Aconselho. Gostei muito.

Terminado em 1 de Fevereiro de 2022

Estrelas : 6*

Sinopse

Palma de Maiorca, anos 80. Cada esquina do bairro chino tem uma história para contar.

Gabi, o ainda adolescente protagonista, percorre as ruas do seu pequeno mundo com os seus amigos, numa constante busca para encontrar… algo.

Assim, experimenta drogas, descobre o sexo, refugia-se na literatura e no desenho.

Mais unido aos amigos do que à família, descobre que as diferenças sociais são também fronteiras, e que estas por vezes são inultrapassáveis.

Cris


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Resultado do Passatempo Mensal "Toca a Comentar"

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Janeiro.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado um vencedora! Foi ela:

Cidália Ferreira

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 28, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

 

Cris

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Para os Mais Pequeninos: "O Regresso de Robinson"

 

Pertencendo à colecção "Aventuras na Floresta", este livro prometia muitas aventuras!

E sim, cumpriu! Gostei muito da sua forma de apresentar as aventuras do coelho Robinson porque as imagens são belíssimas e muito sugestivas e o texto é longo o suficiente para acrescentar pormenores importantes à história. Aliás, texto e imagem complementam-se perfeitamente.

Fez-me lembrar algumas histórias da minha meninice do mesmo autor, "Histórias da Floresta". A foto que se segue foi tirada por uma parceira de crime, a Carla. Alguns lembrar-se-ão dele, de certeza.


Uma bonita viagem esta onde os miúdos podem acompanhar as peripécias e traquinices do pequeno Robinson, alcunha mais que perfeita para este coelho que gosta de viajar e conhecer novos mundos.

Gnomos, animais da floresta, todos contribuem para uns momentos bem passados à volta deste livro! Ora vejam algumas imagens:



 

Cris

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

"Violeta" de Isabel Allende

Gosto muito dos mundos que Isabel Allende constrói. Embrenhamo-nos neles muito facilmente e, mesmo sendo uma mescla de ficção com não ficção, conseguimos visualizar os acontecimentos da trama como se fossem reais, verídicos. 

Como pano de fundo desta história, a História de um século. Desde a gripe espanhola, terminando na pandemia que hoje vivemos. Num país da América Latina, que não esclarece qual, acompanhamos o nascimento de Violeta até à sua morte, cem anos depois. 

É em jeito de memórias que Violeta descreve a sua longa vida e fá-lo directamente a Camilo, alguém que tem o seu amor mais profundo mas que o leitor não sabe quem é. A seu tempo saberá que ligação os une. A primeira página é-lhe dirigida. Uma pequena nota sobre o que vamos (nós, leitores e Camilo) encontrar nas páginas seguintes: um testemunho do que foi a sua vida. Para os leitores mais distraídos fica a nota: tomem atenção à data junto à assinatura de Violeta, Setembro de 2020. Tendo nascido em 1920, facto que narra logo na primeira frase, Violeta tem quase 100 anos e  conta a sua vida. Nada esconde. Os seus erros, as suas conquistas, os seus amores e desamores.

Pelo meio, assuntos como as consequências dos regimes ditatoriais, a emancipação cada vez maior da mulher, os maus tratos físicos e abusos de que muitas estão sujeitas, dão força e conferem veracidade à história. Mesmo sabendo que Violeta não existiu ela representa mil e uma mulheres que tiveram de lutar pelos seus ideais, pela sua família, pelos seus direitos. 

A saga de uma família que teve ao leme do navio uma mulher forte, decidida, muito à frente daquilo que se esperava de uma mulher na época mas que possuía, por outro lado, as suas fragilidades e dependências que a deixaram, muitas vezes, em situações complicadas e em mau estado. Uma mulher real.

Gostei muito!

Terminado em 7 de Fevereiro de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse

Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul. Graças à ação determinada do pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor. Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial. Contado a partir do olhar de uma mulher determinada, de paixões intensas, com uma vida plena de sobressaltos, Violeta é um romance épico, inspirador e emotivo, ao melhor estilo de Isabel Allende.

Cris

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

"Sei Porque Canta o Pássaro na Gaiola" de Maya Angelou

Sei porque li este livro. :) Já tinha algumas, boas, referências tanto deste como de outro (Carta à Minha Filha) que também quero ler! O pretexto para pegar nele e não noutro (tantos!), foi o tema de um clube de leitura a que. recentemente, passei a pertencer.

Já esperava uma leitura que mexesse comigo. Este livro é autobiográfico (1828/2014) e a autora refere um período da sua vida que se estende desde criança até aos seus 16 anos. Filha de uma família disfuncional o seu laço mais forte era o seu irmão que possuía apenas um ano de diferença. Uma vida pautada pela mudança de casas, de terra e também mudança de amor parental. As avós, sobretudo a paterna, tivera muita influência no seu carácter; a mãe, mais ou menos distante, durante esse periodo relatado, também. 

A consciência das desigualdades sociais vividas então e que eram fruto de um marcado racismo, foi algo que Maya desde cedo se apercebeu. A escrita sendo bastante visual deixa muito presente no leitor acontecimentos relatados onde o racismo extremo se encontra tão presente que não é fácil esquecer. Relembro uma frase dita por um dentista que devia favores à avó de Maya e que se recusou a ajudá-las: "Antes preferia meter a mão na boca de um cão do que na de um preto"!

Mas o que mais me marcou foi a sua narrativa de um acontecimento traumático que ocorreu quando tinha, julgo, sete anos e que a deixou sem falar nos anos que se seguiram. A sua inocência que a impediu de saber o que se estava a passar, levou-a a ganhar um complexo de culpa que a marcou muitíssimo.

A fuga de um caminho que se julgava traçado, a sua determinação em conseguir o que queria, o seu amor aos livros, o seu sentido de justiça muito marcado desde cedo numa sociedade racista e sexista, a sua escrita dura, crua mas muito simples fizeram desta autora uma da minhas preferidas.

Os meus parabéns à editora - Antígona - pela beleza física de todo o livro e pelo belíssimo posfácio escrito por Diana Almeida onde podemos esclarecer alguns factos e acontecimentos ocorridos durante o período descrito e sobre a vida da autora.

Terminado em 29 de Janeiro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

Grandioso livro de memórias, Sei porque Canta o Pássaro na Gaiola (1969) é uma poética viagem de libertação e um glorioso bater de asas num mundo opressivo. Este relato inspirador da infância e da juventude da autora, nos anos 30 e 40, devolve-nos o olhar de uma extraordinária criança sobre a violência inexplicável do mundo dos adultos e a crueldade do racismo, na procura da dignidade em tempos adversos. Do Arkansas rural às cidades da Califórnia, Maya Angelou traça neste livro um tocante retrato da comunidade negra dos Estados Unidos, durante a segregação, e de uma consciência que, incapaz de se resignar, desperta rumo à emancipação. Um clássico americano que marcou gerações e que conserva toda a sua actualidade.

Cris

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

A Convidada Escolhe: "Por Este Mundo Acima"

Por este Mundo Acima, Patrícia Reis, 2011

Este foi o último livro que li em 2021, terminado exactamente no último dia do ano, mas sobre o qual só agora tenho oportunidade de escrever. Foi com este livro, um fechar de ano em beleza. Um livro extraordinário, o segundo que leio de Patrícia Reis e a certeza de que é uma autora cuja obra quero continuar a descobrir.

O que é viver, como é viver, depois de um desastre nunca antes visto, um acontecimento que dizima grande parte da humanidade, que nunca é revelado o que é, mas que ao longo do livro é designado por “o acidente”? Há o antes e o depois do “acidente”. Eduardo, o narrador, é um editor, arrogante, com a obsessão de fazer listas a propósito de tudo e de nada. Sobrevivente do “acidente”, procura na sua cidade – uma zona bem caracterizada de Lisboa – os amigos de sempre: Sofia, Lourenço e Jaime. Não os vai encontrar, mas vai descobrir segredos que o vão ajudar a compreender Sofia, a “menina-desastre”, a “rapariga-tesoura” afinal e tão-somente uma mulher só. Eduardo sente-se remetido à animalidade, o computador não serve para nada, as pilhagens aos bens que ainda restam são constantes, a cidade está totalmente destruída e irreconhecível. Sem amigos, sem futuro, desesperado, com saudades da música, como é possível sobreviver? Recorda-se da frase de uma escritora que lhe tinha dito que “em situações limite, somos apenas animais”. Ele é um sobrevivente que perdeu os amigos, que lamenta o que lhes poderia ter dito e que não disse e essa ideia de perda definitiva é-lhe insuportável.

Só a amizade poderá restituir-lhe o sentido da vida. “A amizade é a mais transformadora das forças humanas” (pág. 131) foi a convicção mais forte que tivera quando fora ao hospital ver o amigo Lourenço que tentara o suicídio. Este livro é com efeito “uma celebração da amizade” como a autora escreveu na mensagem que autografou no meu exemplar. Agora, depois d’“o acidente” vai ser uma criança que Eduardo encontra a dormir – Pedro – e um manuscrito que ele rejeitara e nunca publicara que lhe vão restituir a vontade de viver.

Já te contei que encontrei uma criança? Diz coisas espantosas. Não sei como será agora. Tenho um manuscrito e uma criança.

Nunca me senti tão próximo da ideia de felicidade.” (pág. 142)


É preciso transmitir a vida, passar o testemunho, ensinar àquela criança tudo o que sabe, trazer de volta uma ideia de humanidade, abolir a palavra “tristeza” do vocabulário. A biblioteca da avó que ele vai reconstituindo, o clube de leitores que se vai criando, a memória, assim vai ganhando expressão um renascer das cinzas duma sociedade e duma humanidade devastadas. Ao ler este “Por este Mundo Acima” de Patrícia Reis não pude deixar de recordar “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, a força daquela comunidade que resistia, guardando a memória dos livros em que cada pessoa era um livro vivo.

5 de Fevereiro de 2022

Almerinda Bento