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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

"O Maior Segredo do Mundo" de Sofia Pereira e Sandra Serra


Já há algum tempo que não lia um livro infantil! Este chamou-me a atenção sobretudo porque, pela frase que a capa contém, podemos adivinhar, um pouco, a intenção da autora!

A confiança em si é um sentimento que deve ser trabalhado desde pequenino. Confiar e preserverar nos sonhos para que eles se possam tornar uma realidade. Querer é poder mas requer foco, luta e determinação.

Esta é a história de uma estrelinha que se sentia incomodada lá nas suas alturas por não conseguir ajudar mais de perto quem necessitava dela. É o encontro dessa estrelinha amorosa com um menino e como ela conseguiu incutir nele a vontade de lutar pelos seus sonhos. Com trabalho, insistindo sempre.

Com ilustrações lindíssimas de Sandra Serra e um texto com uma musicalidade muito própria que a rima faz, este livro vai certamente encantar os mais pequeninos. Como me encantou a mim!



Cris

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

"Recomeços" de Tembi Locke

Capa a lembrar o verão, romance ligeiro, ligeiramente cor-de-rosa? Pois NÃO contem com isso! De facto o livro superou as minhas expectativas. Saber que se tratou da história de vida da autora fez toda a diferença. 

O que começou por ser um romance ligeiro, transformou-se em algo sério que mudou a vida da autora, a afro-americana Tembi Locke. Após estudar alguns meses em Itália, conheceu Saro, um siciliano, chefe de cozinha e a sua vida passou a ter um paladar diferente. Se me dissessem que esta história era ficção, acreditava. 

Mas como em quase tudo na vida, de vez em quando somos surpreendidos por algo que não esperávamos nem queríamos... e a vida de Tembi sofre uma reviravolta. É necessário recomeçar e não é tarefa fácil. Um livro que nos fala de amor e perda, alegria e sofrimento, família e preconceitos. De recomeços difíceis mas possíveis. 

Mudaria a capa. Que tal com uma bicicleta vermelha, com um cesto e uma campainha em vez da vespa? Depois de lerem o livro, perceberão a ideia. 

Uma história real mas que parece ficção e me surpreendeu bastante! Leiam e digam de vossa justiça.

Terminado em 20 de Agosto de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

Na Sicília, todas as histórias começam com um casamento ou com uma morte. No caso de Tembi Locke, foram ambos. Quando Tembi conheceu Saro, um chef de cozinha, numa rua de Florença, foi amor à primeira vista. Mas a tradicional família siciliana não aceitava o seu casamento com uma mulher negra, norte-americana e atriz. Embora dececionados, não desistem do seu amor e constroem uma vida feliz em Los Angeles. Quando finalmente se reconciliam com a família italiana, ele enfrenta a maior prova da sua vida: um cancro, que arruína todos os sonhos do casal.

Ao longo de três verões no interior da Sicília, Tembi tenta reconstruir a sua vida. Lá, encontra apoio na sogra e descobre os poderes da comida simples, de uma comunidade unida e de tradições ancestrais. Ao longo dessa jornada, reflete sobre o romance que mudou a sua vida — uma história de amor que vai muito além do tempo que passaram juntos.

Recomeços é uma história sobre amor e perda, lar e família. Este livro fala de partidas, mas também de recomeços, repleto de pratos deliciosos em que a comida é sabor, recordação e fonte de alegria.

Cris

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A Convidada escolhe: “Se os Gatos desaparecessem do Mundo”

Se os Gatos desaparecessem do Mundo”, Genki Kawamura, 2012

É sempre com alguma apreensão que começo a ler um livro de um autor japonês… talvez um preconceito desde que li um livro de Murakami há já alguns anos. A minha relação com aquele mundo um bocado estranho em que aparecem poços e pessoas sabe-se lá de onde, leva-me a estar com um pé atrás sempre que leio autores japoneses. Mas, a minha paixão por gatos é por demais conhecida e, de vez em quando, lá me oferecem mais um livro com gatos.

Afinal, um livro despretensioso e simples que é uma alegoria sobre coisas sérias, como o sentido profundo da vida. Um jovem carteiro, confrontado com a iminência da morte a qualquer momento, tenta através de um pacto com o Diabo, adiar o fim, eliminando coisas do seu quotidiano. O que é dispensável? Na verdade, “o mundo está basicamente atulhado de inutilidades” (pág.19) e o romance tem reflexões sobre o valor ou os reflexos nas nossas vidas de objectos como os telemóveis, ou os relógios, ou o cinema… porque, se nos facilitam a vida também nos aprisionaram e retiraram capacidade de dar valor a outros aspectos da vida muito mais importantes. “Quando os seres humanos inventaram o telemóvel, inventaram também a ansiedade de não o termos nas mãos.” (pág. 34)

Se os gatos desaparecessem do Mundo” é um romance sobre o amor, sobre a família, sobre as perdas, sobre o perdão. O jovem carteiro que vive com o gato Repolho como única companhia, descobre através das suas memórias de infância e das palavras da mãe, que morrera havia quatro anos, “Só percebemos o que são as coisas realmente importantes quando as perdemos” (pág.75) que a família não é algo que exista, mas sim algo que se constrói: “Nós «fazemos» a família” (pág. 111). Perante a proposta de os gatos desaparecerem do mundo, de modo a acrescentar mais um dia à vida do carteiro, rompe-se o pacto com o Diabo. O Repolho, como antes o Alface, tinham sido os elos que davam consistência à sua relação com os pais, a família que em certo momento deixou de existir como tal. De novo, as palavras sábias da mãe: “Para ganharmos alguma coisa, temos de perder alguma coisa” (pág. 32), quando em troca de ganhar mais um dia, vai ter de perder o seu querido gato.

Se os gatos desaparecessem do Mundo” é uma longa carta, a primeira e a última que o carteiro escreve ao pai de quem se afastara, como se de um testamento se tratasse. Transcrevo aqui este parágrafo, pensando na possível reacção do pai quando receber a carta do filho: “Antigamente, antes dos telemóveis e do correio eletrónico, teria escrito uma carta. As pessoas imaginavam que as suas cartas chegavam ao seu ente querido e perguntavam a si mesmas como ele ou ela reagiria. Depois, ficariam ansiosamente à espera de uma carta com a resposta, verificando a caixa de correio todos os dias. Os presentes também são assim. Não é a coisa em si que conta, mas aquilo que pode significar para a pessoa a quem a damos, e é a expressão dessa pessoa e a felicidade que terá ao receber o presente que temos em mente quando o escolhemos. (pág. 54).

Por fim, para todos os amantes de gatos, todos os que se afeiçoam aos gatos durante o breve tempo das suas vidas quando comparado com as dos humanos, a mãe do carteiro costumava sempre dizer isto sobre os gatos: “Podemos pensar que somos donos de gatos, mas não é assim que as coisas são. Eles permitem-nos simplesmente o prazer da sua companhia.” (pág. 118).

13 de Setembro de 2023

Almerinda Bento




sexta-feira, 15 de setembro de 2023

"Sem Culpa" de Cara Hunter

Primeiro livro que li desta série do Inspector Fawley. Fiquei com pena de não ter lido os livros anteriores. Não que não se possa ler separadamente mas o  conhecimento de certas particularidades das personagens que são comuns a esta série pode enriquecer a leitura. Mas nada há que me impeça de ler os anteriores que ficaram já anotados como livros a ler...

Gostei de este este policial/thriller porque um acontecimento que ocorre logo no início e que parece ser o cerne da questão e de onde, à partida, partiriam todos os mistérios é, na verdade, só o início de uma grande trama onde nada é o que parece. 

A partir de um assassinato de um aparente ladrão que entrou numa quinta isolada, é aberta uma porta onde acontecimentos do passado, já há muito esquecidos, são desenterrados. 

Contar mais seria desvendar e abrir a porta, coisa que não pretendo fazer de todo. Leitura rápida que prende e sem momentos mortos, com muitas surpresas! Se gostarem do género, façam o favor de pegar nele. Eu gosto de variar!

Terminado a 17 de Agosto de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

É meia-noite. Uma chamada para a polícia dá o alerta: algo de errado se passa numa quinta isolada, nos arredores de Oxford. Na cozinha, é encontrado um corpo baleado à queima-roupa. Tudo aponta para um assalto que correu mal, mas o inspetor Adam Fawley suspeita que há algo mais a contar nesta história. Quando a polícia descobre a ligação com um caso antigo de grande repercussão, que envolveu o homicídio de uma criança e um alegado erro judiciário, a imprensa fica ao rubro. De repente, a equipa de Fawley está sob o maior escrutínio de sempre. E, quando se desenterra o passado, muitos esqueletos começam a aparecer. 

Cris

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

"O Quarto de Giovanni" de James Baldwin

Ouvi falar muito bem deste livro. Em linhas gerais sabia ao que ia e, por isso, não me surpreendeu, pese embora tenha gostado. 

Sentimentos contraditórios os meus. Já explico.

Esta história decorre em Paris por volta dos anos 50 e o protagonista é David, um jovem norte-americano que aí vive temporariamente. A noiva encontra-se em Espanha, em passeio. Conhece Giovanni, barman num bar gay, e a relação que se estabelece entre os dois tem quase tudo para não dar certo. Aliás, sabemos no início do livro que essa trágica relação tem os dias contados, só não sabemos as razões e como termina na realidade.

David aceita passivamente o amor tempestuoso de Giovanni e, por falta de dinheiro, vai morar para o quarto onde este vive. Não se sente resolvido em termos da sua identidade sexual e nunca põe a hipótese de terminar com a sua noiva.

Relato bem narrado, muito cru e seco, tocando em pontos fulcrais no que concerne às questões de identidade, a explanação real de sentimentos intensos de culpa, medo, desejo e remorso. Não senti, contudo, empatia pelas personagens principais. Foi como se lesse uma história com interesse mas ela não tocasse nos meus sentimentos. 

Há uma questão que se coloca, por detrás destas páginas: como decidimos nós viver as nossas vidas? Assumimos quem somos? 

Apesar desta minha falta de empatia, o livro tem todo o mérito possível. Foi escrito na América dos anos 50, retratando uma relação entre dois homens brancos e escrita por um autor negro. Parece pouco hoje em dia, mas não era na altura. 

Terminado em 12 de Agosto de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

Impregnada de paixão, arrependimento e desejo, esta é a história de um trágico triângulo amoroso. E uma obra de culto merecido, que questiona a identidade de vários ângulos. Ao publicá-la em 1956, Baldwin quebrou mais do que um tabu: era um escritor negro a escrever sobre o amor entre dois homens brancos. O seu editor aconselhou-o a queimar o manuscrito, mas volvido este tempo O quarto de Giovanni é uma das obras mais célebres de Baldwin. 

Cris

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

"O Vento Conhece O Meu Nome" de Isabel Allende

Sei que lerei qualquer livro de Isabel Allende. São livros muito reais, pese embora alguns possam não ser baseados em histórias verídicas. Sinto que representam a história de alguém tanto mais que, os que li e se bem me lembro, são baseados em acontecimentos históricos. Normalmente guerras. Absurdas, como o são todas!

Aqui são-nos contadas algumas histórias em espaços temporais diferentes. A forma como elas se vão interligar prende-nos à leitura e tudo encaixa e faz sentido no final.

Em 1938 começamos a seguir a história de Samuel, cujo pai, médico, desaparece na tão triste e conhecida Noite de Cristal, em Viena de Áustria. Como muitas outras crianças, Samuel é enviado para fora do país na esperança que se consiga, ao menos ele, salvar. No seu caminho solitário pela vida fora terá um companheiro sempre presente, o seu violino.

1981/2000. Leticia possui passaporte e cidadania dos Estados Unidos mas era natural de El Salvador. Ela e seu pai foram dos poucos sobreviventes ao massacre de El Mozote, porque não se encontravam lá aquando desse acontecimento. Vejam na Wikipédia informações sobre este terrível massacre.

Selena, mais uma personagem fantástica desta trama, trabalha para um projecto que ajuda refugiados e imigrantes devido à crise humanitária e existente na fronteira com o México. Crianças são separadas dos seus pais e o projecto tem como finalidade reuni-las. Anita é uma dessas crianças, que se viu separada da mãe ao tentar fugir de El Salvador e entrar nos EUA. As suas histórias retratam um pouco da razão pela qual as pessoas tentam emigrar a todo o custo, mesmo quando põem em risco as suas vidas.

A forma genial como a autora interliga estas histórias, prende totalmente o leitor levando-o rapidamente a uma leitura sôfrega! Gostei muito.

Terminado em 10 de Agosto de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Viena, 1938. Samuel Adler tem apenas 5 anos quando o pai desaparece, na infame Noite de Cristal – a noite em que a sua família perde tudo. Procurando garantir a segurança do filho, a mãe consegue-lhe lugar num comboio que transporta crianças judias para fora do país, agora ocupado pelo regime nazi. Samuel embarca sozinho, deixando a família para trás, tendo o seu violino como única companhia.

Arizona, 2019. Anita Díaz e a mãe tentam entrar nos EUA, fugindo à violência que reina no seu país, El Salvador. No entanto, são separadas na fronteira, ao abrigo de uma nova lei que regulamenta a imigração, forçando à separação das famílias. A mãe desaparece sem deixar rasto, e Anita é colocada em sombrias instituições de acolhimento. O caso desperta a atenção de Selena Durán, uma californiana de ascendência latina, e de Frank Angileri, um promissor advogado, que tudo farão para reunir de novo mãe e filha. Juntos, vão conhecer de perto a violência que muitas mulheres sofrem em silêncio, sem que dela consigam escapar.

Entrelaçando passado e presente, O vento conhece o meu nome conta-nos a história destas duas personagens inesquecíveis, ambas em busca da família e de um lar. É uma sentida homenagem aos sacrifícios que fazemos em nome dos filhos e uma carta de amor às crianças que sobrevivem a perigos inimagináveis – sem nunca deixarem de sonhar. 

Cris

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Agosto

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Agosto.
 

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Os Olhares da Gracinha

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 25, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:

 


Cris

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A Convidada escolhe: "Memória de Elefante"

Memória de Elefante, António Lobo Antunes, 1979

Um dos muitos livros que pensei que ainda não tinha lido, mas a verdade é que o folheio e descubro anotações, marcas de leitura antiga. A memória apagou-se; não tenho memória de elefante… mas reparo que, quer as anotações, quer os sublinhados não passaram um quarto do livro, pelo que não o devo ter concluído na altura. Na badana desta edição do Círculo de Leitores, leio que este foi o primeiro romance de António Lobo Antunes.

O narrador é um psiquiatra “vazio de tudo” (pág. 76) a viver um período negro na sua vida. A juntar ao total desprazer pelo sítio onde trabalha ”a inumana máquina concentracionária do hospital” (pág. 49), pelas pessoas com quem trabalha, é crítico do sistema que gera a doença mental e também crítico da própria psiquiatria”aqui estou eu a colaborar não colaborando com a continuação sito, com a pavorosa máquina doente da Saúde Mental trituradora npo ovo dos germenzinhos de liberdade que em nós nascem sob a forma canhestra de um protesto inquieto, pactuando mediante o meu silêncio o ordenado que recebo, a carreira que me oferece; como resistir por dentro , quase sem ajuda, à inércia eficaz e mole da psiquiatria institucional, inventora da grande linha branca de separar a «normalidade» da «loucura»(pág. 46), não consegue suportar a solidão pelo fim do casamento recente que o afastou das filhas e da mulher, que no entanto continua a amar, e as persistentes lembranças da guerra de África onde combateu.

Este é também um romance de Lisboa, das ruas por onde o psiquiatra conduz na sua deslocação ao fim do dia de trabalho, quando vai ao dentista, à sessão de análise de grupo e ao restaurante, antes de se dirigir pela marginal a caminho do seu apartamento no Monte Estoril “uma ilha estrangeira a que se achava incapaz de se adaptar, longe dos ruídos e dos cheiros da sua floresta natal.” (pág. 162)

Agora que o termino acho que percebo por que não o li até ao fim, numa altura em que deveria ainda nem ter quarenta anos. É deveras um livro pesado, carregado de angústia e solidão, profundamente pessimista, numa escrita densa e carregada de metáforas nem sempre fáceis ou acessíveis. Períodos longos, que obrigam a que se volte atrás para se apanhar o fio à meada da ideia principal, não foi um livro de leitura fácil, sobretudo porque o pessimismo é demasiado pesado e por vezes, até asfixiante.

Almerinda Bento





quinta-feira, 7 de setembro de 2023

"Dor Fantasma" de Rafael Gallo

Fui assistir à apresentação deste livro na Casa José Saramago e no geral foi um evento a que assisti com prazer e atenção. Gostei de ouvir o autor e foi num tom coloquial que Luís Caetano, da Antena 2, além de ter lido algumas partes do livro, moderou a simpática e interessante conversa. A minha curiosidade aumentou e só não a atendi mais cedo porque, infelizmente, um outro autor convidado relatou um facto importante que considero spoiler e... 🤐

Que dizer? 

Rafael Gallo construiu um personagem sublime. Frio, determinado, duro. Pianista exímio, professor. Um acidente incapacita-o grandemente mas mesmo assim, Rômulo Castelo não quebra. Não é uma personagem que atrai o leitor pela sua bondade, pela sua forma de estar na vida. Pelo contrário. Age sem escrúpulos, a única meta que possui na vida está relacionada com o seu amor, o piano. Nada mais importa. Como se gosta de um personagem assim? Ou melhor, o que nos leva a não largar o livro? 

A escrita. Sublime. Prende. A necessidade de saber o que vai acontecer, até onde Rômulo vai continuar a ser assim, o que o fará mudar?

Não deixem para amanhã. Leiam este livro. Prémio merecido!

Terminado em 6 de Agosto de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Rômulo Castelo, um pianista virtuoso, dedica-se inteiramente a buscar a perfeição na sua arte e, todas as manhãs, ao acordar, fecha-se na sua sala de estudos. Por trás da porta blindada, que também o distancia de um casamento problemático e de um filho que jamais corresponderá aos seus ideais de excelência, ensaia aquela que é considerada a peça intocável de Liszt, o Rondeau Fantastique. Em breve, Rômulo irá oferecer a sua genialidade ao mundo, numa tournée pela Europa que o sagrará como o maior intérprete daquele compositor. A vida, porém, tem outros planos e, de um dia para o outro, incapaz de se reinventar na adversidade, Rómulo vê fugir-lhe aquele que julgava ser o seu lugar por direito no pódio do mundo.
Partitura de dor, este romance de Rafael Gallo, vencedor do Prémio Literário José Saramago 2022, vem dar a conhecer ao público português um autor que promete deixar a sua marca na literatura contemporânea.

Cris

 

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

"A Casa de Bernarda Alba" de Federico García Lorca

Confesso que peguei neste livro para concluir uma das partes de um passatempo, o Bingo Dona Leitura, para a categoria "Levanta o pano" (peça de teatro). Não o leria se não fosse isso e sair da minha zona de conforto (às vezes!) foi bom! 

Peça de teatro escrita pouco tempo antes da morte do autor por volta de 1936, fuzilado em Granada na Guerra civil espanhola às mãos de nacionalistas espanhóis, que retrata um ambiente muito tenso e repressivo criado sobretudo pela matriarca de uma família, Bernarda Alba, constituída somente por mulheres que submete as suas filhas a um luto forçado (oito anos) após a morte do seu segundo marido e pai de quatro das suas cinco filhas. Ambiente repressor no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade.

Um livro de mulheres sobre mulheres. Estalam conflitos familiares intensos quando a filha mais nova se apaixona pelo noivo da mais velha, quebrando e rompendo totalmente as regras impostas pela mãe e, também, pela sociedade espanhola de então. Destino trágico que Bernarda Alba pretende controlar.

Muito visual. O leitor imagina completamente o cenário e o que lá se sucede. Estranhei no princípio mas depois "entranhei" completamente! 

Terminado em 31 de Julho de 2023

Estrelas: 4*+

Sinopse

A Casa de Bernarda Alba é uma tragédia, severa e simples, como a classificou o próprio Lorca: a tragédia das mulheres das aldeias espanholas, acorrentadas a preconceitos e mitos que um convencionalismo social, tão cruel como vazio de valores, defende a todo o transe, mesmo à custa do aniquilamento das pessoas.
É o que efectivamente acontece aqui, nesta peça trágica, impregnada simultaneamente pelo lirismo característico de Lorca e pelo sopro fatalista que o poeta bebeu na Andaluzia da sua infância.
Federico García Lorca, um dos maiores nomes da literatura espanhola do século XX, nasceu em Fuentevaqueros em 1899. Depois de uma infância vivida no campo, frequentou o Colégio de Almeria e as Faculdades de Direito e de Letras de Granada. O teatro foi a sua paixão, a ele devendo, e à poesia, o lugar que conquistou no mundo das letras. A consagração definitiva como autor advém-lhe com a trilogia Bodas de Sangue, Yerma e A Casa de Bernarda Alba. Federico García Lorca morreu em 1936, fuzilado pela Guarda Civil franquista.

Cris

terça-feira, 5 de setembro de 2023

"Depois a Louca Sou Eu" de Tati Bernardi

A sinopse deste livro interessou-me sobremaneira porque, algures no tempo, sofri de ataques de pânico e sei um pouco o que é estar aterrada sem razão aparente. Fiquei curiosa ao saber que a autora quis colocar no papel os seus sentimentos e acontecimentos que a a marcaram durante muitos anos da sua vida.

No entanto, não me prendeu como supunha. A razão? Não consigo explanar concretamente. A forma como está escrito, decerto, levou a que não sentisse a empatia que esperava. Expectativas demasiado altas, muito certamente!

As suas crises de ansiedade, os ataques de pânico, o uso de medicamentos e como deles ficou dependente, contados com algum humor.

Li, não pensei em desistir porque mantive o interesse com o intuito de saber como acabaria, mas esperava mais. Experimentem e digam coisas...

Terminado em 29 de Julho de 2023

Estrelas: 4*

Sinopse

Sentido de humor para combater a ansiedade, na primeira pessoa. O primeiro ataque de pânico de Tati Bernardi foi num aeroporto em Paris? Ou foi deitada debaixo da cama dos pais da amiga Daniela, quando tinha seis anos? Também pode ter sido no supermercado, no desespero de não conseguir escolher um melão. Talvez não seja possível determinar quando começou, mas a autora foi aprendendo a viver com a ansiedade – com recurso a terapia, vários comprimidos, mantendo-se perto de lugares seguros ou, como acontece em "Depois a Louca Sou Eu" (livro que decidiu escrever num dia em que se convenceu mesmo de que o avião ia cair), através do humor. No Brasil, ficou conhecida primeiro pelas espirituosas crónicas de jornal e pelos seus divertidos guiões para cinema e televisão. Só depois espantou os leitores com a honestidade frenética deste desabafo autobiográfico sobre medos, manias, taquicardias e desesperos que, contra tudo e por vontade da autora, ainda deixa espaço para uma gargalhada. 

Cris


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

A Convidada escolhe: "Rebeldia"

 
Rebeldia”, Cristina Carvalho, 2017

Acabo de ler “Rebeldia” de Cristina Carvalho e penso: quantas Leninhas existem? Quantas vezes não nos sentimos como a Leninha? Até que ponto não nos revemos também na Leninha, por muito que isso nos custe aceitar?

Tirei poucas notas à medida que fui lendo, mas sublinhei e vivi muito este livro. Só conhecia a escrita de Cristina Carvalho de alguns romances biográficos, diferentes deste romance da vida de uma mulher que desde jovem ambiciona outros horizontes que a afastem da vida rotineira da infância e da Pensão Popular dos seus pais. “Sou uma mulher de repentes e de vontades e de cheiros e de apetites, uns dias mais do que outros, é certo, mas sem nunca abandonar estes repentes que, por vezes, fazem com que eu chegue a cambalear de emoções” (pág. 78).

Almerinda Bento 


sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A Convidada escolhe: "As Primas"

As Primas, Aurora Venturini, 2007

Aurora Venturini foi uma escritora argentina que, aos 85 anos, depois de uma carreira com mais de trinta livros pouco divulgados, acabou por ter os holofotes do reconhecimento literário com este “As Primas” com o qual recebeu o Premio Nueva Novela (Argentina) e o Premio Otras Voces (Espanha). Impossível ficar-se indiferente e mesmo perplexo ao ler este livro, como aliás aconteceu com Mariana Enríquez, que escreve o prólogo ao romance e que foi uma das pessoas que trabalhou em 2007 na pré-selecção das obras a concurso ao Prémio Nueva Novela. Tudo saía fora da norma, até o facto de o original ter sido escrito numa máquina de escrever e de os erros ortográficos terem sido corrigidos com corrector líquido.

Um livro delirante mas muito sério, em que não se consegue deixar de rir pelo insólito e crueza das descrições. Vai ser difícil esquecer este livro e Yuna, a narradora, as primas Petra e Carina, a irmã Betina, as tias Nené e Ingrazia e a mãe “professora de ponteiro e bata branca, muito severa, mas ensinava bem…” (pág. 21). Um livro de e com mulheres, mas onde não falta o vizinho, o professor e outros personagens do sexo masculino.

Mas foquemo-nos em Yuna. Logo no início, Yuna diz da sua família “Não éramos comuns, ou seja, não éramos normais.” (pág. 22). Sempre que algo acontecia na sua vida que a emocionava, transpunha esses sentimentos para cartões e mais tarde para telas, uma terapia que a apaziguava. O professor de Belas Artes aposta nela. Ele diz que ela é “a menina da gravata”pela parecença com “a jovenzinha melancólica de Modigliani” (pág. 79) e não a considera uma deficiente, mas sim uma “artista plástica ensimesmada” (pág. 37). Ela luta com as palavras, com a sua dificuldade ao nível da linguagem verbal e, quando escreve, não usa pontos nem vírgulas nem maiúsculas. “Já disse que dentro da minha psique conhecia detalhes e formas, que era muito diferente da tonta de fora que falava sem ponto nem vírgula porque se punha ponto ou vírgula perdia a palavra falada. Às vezes punha ponto ou vírgula para respirar mas convinha-me comunicar de viva voz rapidamente para que me entendessem e evitar lacunas silenciosas que revelassem a minha incapacidade de comunicação verbal porque ao ouvir os barulhos dentro da minha cabeça e o fluir sibilante das palavras ficava confusa e boquiaberta a pensar que existiam palavras gordas e palavras magras, palavras negras e brancas, palavras loucas e criteriosas, palavras que dormiam nos dicionários e que ninguém usava. Aqui por exemplo usei vírgulas. E pontos.” (pág. 64). Explica-se quando dialoga com o/a leitor/a, pede-lhe desculpa quando se repete e faz ironia com isso: “… não repetirei para não cansar quem tiver oportunidade de me ler e digo repetindo a quem tiver oportunidade de me ler e paciência ao mesmo tempo porque eu própria me ouço e se as palavras que escrevo são tão cansativamente patetas como as que digo de mim para mim, quem terminar esta melopeia absurda amaldiçoar-me-á pelo tempo que perdeu comigo sem poder negar que não conseguiu pôr-me de lado porque encontrou entre as minhas estúpidas amarguras de amor e morte muitas das que ele próprio viveu, ou ela caso se trate de uma senhora.” (pág. 74). E algumas páginas mais à frente “Já não vou dizer que me cansam os pontos finais e as vírgulas porque senão pareço ridícula e os bons leitores que simpatizarem comigo deixarão de me ler.” (pág. 89). Sempre que usa uma nova palavra que descobriu no dicionário, põe a palavra dicionário entre parêntesis ou então (idem), esclarecendo “que idem significa dicionário mas por ser um vocábulo mais curto convém-me mais e como nunca fico com nada pendente digo que esse vocábulo corresponde às minhas averiguações da cultura do dicionário que me ajuda a sair da minha deficiência herdada.” (pág. 121). E quando há uma palavra que ela não encontra no dicionário, é à prima Petra que recorre.

Este é também um romance sobre os corpos e sobre os tabús dos corpos disformes ou não. Neste romance há pipis, pénis, maminhas, puns, chichi, vómito, sangrar, nojo, aborto, preservativo, violação, gravidez. Na sua linguagem directa e simples, Yuna desconstrói o mundo dos adultos, dos ditos normais, da sociedade organizada e dos psicólogos. “Eu cresci com má opinião do casamento e da família organizada. Jurei não casar. Jurei viver para pintar. Jurei muitas coisas até que me apercebi de que jurar era pecado e nunca mais jurei.” (pág. 50).

Yuna é um caso de superação, de alguém que, conhecendo as suas limitações, não deixa de tentar ultrapassá-las. Pelas palavras e pela arte.

Sentia-me acabada de nascer, consegui equilibrar-me, expor. Viajar.

Apaguei. Apaguei. Apaguei tudo.

Uma enorme melancolia invadiu as minhas pinturas e valorizou-as porque as pessoas quando se vêem refletidas na dor conseguem consolar-se um pouco.” (pág. 203).


Um livro desconcertante, que consegue oferecer-nos o poder extraordinário da Literatura e da Arte. Escrito por uma jovem de 85 anos!

21 de Agosto de 2023

Almerinda Bento





quinta-feira, 31 de agosto de 2023

"Lugar Para Dois" de Miguel Jesus

Quando serves de intermediária na passagem de um livro de uma amiga para outra, quando as cores quentes da capa te chamam a atenção e a sinopse te aguça o apetite porque afinal aquelas cores te fazem lembrar a infância, o que fazes? Lês o livro de enfiada, pois claro! 

Escrita cuidada, algo poética, trama que desperta interesse passada em três épocas temporais diferentes - 1959 em Lisboa, 1964 em Moçambique e 1991 entre Lisboa e Moçambique. Atrevo-me a dizer que a linguagem utilizada tem as cores e sons dessa terra africana, de quem lá viveu. Capa que traduz na perfeição o texto do seu interior.

O livro fala-nos dos erros que cometemos e da melhor ou pior forma como lidamos com eles. Daniel culpa-se de desatenção e do acidente que provocou a morte de sua filha. Depois de muita dor, de disparate atrás de disparate, foge para um lugar recôndito em Moçambique. Tudo lhe passa ao lado, nada o faz voltar à vida. A vida encarrega-se de lhe povoar os dias com gente boa e com amor que não sabe reconhecer. 

Em relação aos sons que transbordam das palavras, este livro possui outra particularidade que o faz ainda mais musical: o autor é pioneiro na junção da literatura com a música. Os seus livros possuem um QR Code e o leitor vai ouvindo os temas que o músico/escritor compôs para esse efeito.

Um twist inesperado surpreende o leitor, embora outro aspecto da trama nos indique o final.

Fiquei muito curiosa e vou ler o seu livro mais recente, "Os flamingos também sonham".

Frase escolhida: "Tentei dizer-lhe que o inferno não está no mal que nos acontece, mas no mal que fazemos com ele."

Terminado em 25 de Julho de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

Depois do sucesso da inauguração do Metropolitano de Lisboa, Daniel Stoffel, responsável financeiro do projeto, parece poder escolher o futuro que quiser. Porém, a morte da filha num acidente estúpido enche-o de uma culpa que de não se consegue libertar. Desfeito o casamento, começa a afundar-se na bebida, até que um amigo lhe sugere que deixe Portugal, onde tudo aconteceu, e tente recomeçar a vida noutro lugar. Instala-se, então, num lugar recôndito de Moçambique, onde uma velha negra o ajuda nas tarefas domésticas e lhe leva jornais que o põem a par dos movimentos independentistas das Colónias e das mudanças por que a Metrópole vai passando.

Apesar da vontade de ficar sozinho, o frondoso embondeiro que o protege da curiosidade alheia tem uma frase riscada no tronco que parece traçar-lhe um destino diferente, insistindo na paternidade que lhe estava destinada. E, por mais que Daniel a renegue, é nesse caminho que poderá encontrar o próprio perdão.

Belo, duro, mágico e ternurento – com uma banda sonora exclusiva e um toque africano no colorido das palavras e das paisagens –, Lugar para Dois é um romance excecional sobre a culpa, o amor e aquilo que ainda tem para dar quem julga que, afinal, já perdeu tudo.

Cris

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

"1984 A Novela Gráfica" de George Orwell (Autor) e Fido Nesti (Ilustração)

Demorei mais tempo a ler esta graphic novel do que pretendia e não dou mais estrelas precisamente pela dificuldade que me levou a demorar a lê-la... A mancha gráfica é compacta, escrita num fundo escuro. Não é GN para ser lida a correr se quisermos apreciá-la devidamente.

O que quero analisar aqui é a graphic novel em si mas não posso deixar de referir a história em que ela se baseia, escrita em 1948, repleta de imaginação e que revela um sentido crítico apurado de George Orwell. Uma distopia que, naquela altura, poderia parecer um mundo sem sentido mas que continua a constituir os piores receios do mundo actual. 

Londres, 1984. A manipulação extrema das mentalidades por parte de um regime político totalitário (existia uma Polícia do Pensamento), onde a guerra é mantida perpetuamente (de forma a que a população viva perpectuamente amedrontada), os membros do partido são vigiados continuamente e onde é reprimida qualquer atitude que não se coadune com as diretivas dadas. Uma nova língua vai sendo apresentada e introduzida (Novilíngua) sendo que algumas palavras e sentidos vão sendo eliminados. A História vai sendo apagada conforme as intenções do partido. Pensar não é permitido. Há desaparecimentos de indivíduos com frequência. Para que direcção caminha esta sociedade?

Winston é o personagem central. Trabalha para o partido, nada vê para além do que lhe mandam, é obediente. Até que...

A GN é volumosa em termos de páginas e de informação e retrata bem o conteúdo do livro.

Terminado em 26 de Julho de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

No ano 1984, Londres é uma cidade lúgubre, em que a Polícia do Pensamento vigia de forma asfixiante a vida dos cidadãos. O mais grave dos crimes é ter uma mente livre. Publicada originalmente em 1949, a obra mais poderosa de George Orwell é, pela primeira vez, adaptada a novela gráfica, no traço do artista brasileiro Fido Nesti, que capta magistralmente os rostos, corpos e cenários de um mundo que, cada dia, é menos difícil de imaginar.

Cris

terça-feira, 29 de agosto de 2023

"Assombro" de Richard Powers

Não costumo ler ficção científica e, sinceramente, tenho algumas dúvidas se este livro poderá ser incluído nessa categoria, mas, alturas houve durante a minha leitura, que achei que sim. O que é certo é que me apanhou no seu enredo e quero ler mais livros deste autor. Sei que está traduzido pela Editorial Presença o livro "Sobre o Céu" e já o coloquei na wishlist. Vou querer lê-lo!

Theo é um jovem cientista, um exobiólogo (ou astrobiólogo) que descobriu como procurar vida em outros planetas, viúvo e que vive com o seu filho de nove anos, Robin. Ambos sentem muito a falta de Alyssa, esposa e mãe. Os dois. Muito. Este aspecto é central na trama dado que condiciona sobremaneira estes dois personagens, ligados pelo amor que sentiam por Aly.

Outro aspecto que marca o leitor é o amor deste pai que tudo faz para que o seu filho tenha uma vida o mais "normal" possível. O diagnóstico incerto que lhe é atribuído (como Theo refere com "dois votos favoráveis à síndrome de Asperger, um favorável a uma provável perturbação obsessivo-compulsiva e um favorável a uma possível perturbação de hiperatividade e défice de atenção"), os medicamentos que querem que tome que o fazem parecer um zombie, fazem com que Theo resista em aceitar os diversos e contraditórios tratamentos e medicamentos que lhe receitam.

Há histórias que queremos que acabem bem. Esta é uma delas!

A capa é de uma beleza simples e profunda, que traduz muito bem o ambiente descrito nestas páginas. A ligação que Theo e Robin possuem com a natureza, o respeito que lhe têm, faz-nos apreciar melhor esta capa e repensar esse assunto. Adorei!

Terminado em 20 de Julho de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Theo Byrne é um jovem cientista promissor que descobriu como procurar vida noutros planetas a dezenas de anos-luz. Viúvo,Theo é também pai de um menino de nove anos muito peculiar. Robin, o seu fi­lho, é divertido, amoroso e tem mil planos para concretizar. Tudo o que pensa e sente tem enorme profundidade, adora animais e passa horas in­finitas a fazer desenhos muito elaborados. Robin é também a criança que está prestes a ser expulsa da escola por ter agredido um amigo.

Que pode um pai fazer quando a única solução que lhe dão é medicar aquele menino tão raro quanto problemático? Como pode Theo explicar a Robin este mundo em que vivemos, um mundo que parece estar claramente a destruir-se a si próprio? O único caminho para este pai é levar o fi­lho para outros planetas, enquanto acarinha e encoraja a vontade enorme que ele tem de salvar o planeta Terra.

Como poderemos, todos e cada um de nós, dizer a verdade sobre este maravilhoso e ameaçado planeta aos nossos fi­lhos? No mais íntimo de cada um, ecoa a pergunta: porquê este mundo?

Cris

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A Convidada escolhe: "Maria Antonieta"

Maria Antonieta, Stefan Zweig, 1932

Quando há um ano li “Maria Stuart” decidi que queria ler “Maria Antonieta” uma das diversas biografias que o incansável Stefan Zweig escreveu ao longo da vida. Tal como “Maria Stuart”, “Maria Antonieta” é o resultado de um profundo trabalho de pesquisa, aliado a uma escrita irrepreensível e a uma reflexão pessoal sobre a personagem, a história e todo o ambiente na Europa e na corte francesa nos finais do século XVIII. Esta edição do Círculo de Leitores foi traduzida por Alice Ogando, tal como acontecera na biografia de “Maria Stuart”.

Maria Antonieta é uma personagem trágica, usada na infância como moeda para alianças entre famílias reais através de um casamento de conveniência, sem possibilidade de brincar e crescer num ambiente que não fosse regido pela etiqueta e pelas intrigas, fascinada pelo papel que lhe é atribuído, apesar de nem ela nem o jovem marido Luís XVI estarem à altura desse papel – ele mole e indeciso, ela fútil e superficial. São vinte anos de vida estouvada, com gastos exorbitantes e sem limites que geram uma reviravolta na atitude do povo que deixa de lhe ter o respeito e a estima que antes tivera, para a odiar, caluniar e desprezar. Quando o povo desperta, já é tarde demais para a rainha e para a os nobres que viviam na órbita desta jovem rainha que nuca quis ouvir os conselhos da sua mãe Maria Teresa, a imperatriz da Áustria. Aliás, ninguém tinha a noção da amplitude da revolta popular, uma verdadeira revolução. A rainha fica sozinha, todos os amigos desaparecem, excepto Hans Axel von Fersen, o único que tudo fez até ao fim para tentar salvá-la da justiça popular. Após a tomada da Bastilha a 14 de Julho, os acontecimentos precipitam-se e a roda da História nunca mais sorrirá a Luís XVI e a Maria Antonieta. Acaba Trianon, o palácio da evasão e da futilidade da rainha, a última noite em Versailles será a 5 de Outubro, para nunca mais voltarem. Numa viagem de seis horas para Paris, seguidos pela multidão em fúria, vão ficar presos nas Tulherias, desabitadas há mais de cem anos, desde os tempos de Luis XIV. A tentativa de fuga para Varennes, a constituição da Comuna a 10 de Agosto de 1792, o aprisionamento dos reis no Templo e a abolição da realeza com a decapitação do rei são a sequência de um momento histórico decisivo para a França e com reflexos na Europa. Maria Antonieta está completamente só, “todos a abandonaram” (pág. 370); inclusivamente, o imperador Francisco, sobrinho de Maria Antonieta não mexe uma palha para a ajudar. Só mesmo o embaixador Mercy e Fersen, tentam, no exterior, impedir que Maria Antonieta suba ao cadafalso. Mesmo na Conciergerie “a antecâmara da morte” (pág. 399), onde os carcereiros estabelecem relações de simpatia e amizade com a presa, o medo das represálias da Comuna e da Junta de Salvação Pública falam mais forte.

A mudança na vida de Maria Antonieta operou uma transformação radical na sua atitude e é essa capacidade da escrita que torna este livro tão extraordinário e a personagem de Maria Antonieta tão dramática. “Desde a tomada da Bastilha até ao cadafalso, não cessa de se sentir completamente senhora dos seus direitos” (pág. 211) e, tal como me surpreendeu a descrição da morte de Maria Stuart, nesta biografia, a fibra de uma mulher que quis morrer com dignidade sem dar quaisquer trunfos aos que a acossaram e traíram e aos que a julgaram, mesmo sem terem documentos comprovativos, torna as últimas páginas deste livro verdadeiramente inesquecíveis. “ «Quando te resolves a ser quem és?», escrevia-lhe vinte anos antes, Maria Teresa, desesperada. Agora, a dois passos da morte, começa a encontrar em si mesma essa grandeza que só possuía exteriormente. Quando lhe perguntaram o seu nome, responde em voz alta e clara: «Maria Antonieta de Áustria Lorena, trinta e oito anos, viúva do rei de França.»” (pág. 417) Como num filme, Stefan Zweig é exímio na descrição da atitude e dos sentimentos da rainha e na descrição de toda a envolvência no percurso desde a cela na Conciergerie até ao cadafalso na Praça da Revolução, hoje Praça da Concórdia.

18 de Agosto de 2023

Almerinda Bento

Nota: Ao ler este livro sobre a rainha Maria Antonieta, não pude deixar de me lembrar da minha leitura de “As Luzes de Leonor” de Maria Teresa Horta. Lembro-me que D. Leonor de Almeida Portugal, 4ª Marquesa de Alorna estava em França, em Marselha e que partiu para Paris, porque queria viver de perto a revolução francesa que a fascina e atemoriza, porque a questiona sobre o mundo em que sempre viveu. Vai conhecer mulheres fascinantes, mulheres do povo que falam em liberdade e igualdade, em direitos. São tempos de grandes questionamentos, mas que a atraem imenso e nessa altura conhece Olympe de Gouges.

Leonor associa Paris à Roma incendiada por Nero. Sente-se deslocada entre os revolucionários e as amazonas, mas não quer partir. As mulheres encabeçam o cerco a Versalhes. Leonor não toma posição sobre a revolução e considera que nada será como dantes; é uma mera testemunha e regressa a Marselha.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Resultado do Passatempo "Toca a comentar!" - Mês de Julho

 Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Julho.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionada uma vencedora! Foi ela:

Alexandra Guimarães

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 25, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:




Cris


terça-feira, 8 de agosto de 2023

"Viver Depressa" de Brigitte Giraud

Relato autobiográfico desta escritora que possui já dez romances publicados em França mas de quem nada tinha lido, sequer ouvido falar. É um relato confessional sobre os seus últimos vinte anos, altura em que o  seu marido morreu num acidente de moto e que alterou completamente a sua vida. 

Recordações que busca na memória sobre o seu passado em conjunto com um tempo em que era feliz e, sobretudo, a reviver os momentos anteriores ao acidente. Acaso teria ocorrido se?... e são muitos os "ses" que ela questiona e para poucos obtém a resposta pretendida. 

Um exercício de catarse feito muitos anos depois que, creio ter sido importante para a autora arrumar alguns fantasmas que a atormentaram e que levam o leitor a analisar, por comparação, alguns aspectos da sua própria vida.

Escrita segura, simples e direta. Gostei.

Terminado em 13 de Julho de 2023

Estrelas: 4*

Sinopse

«Estava obcecada com aquela dupla missão impossível. Comprar a casa e encontrar as armas escondidas. Era inesperado e eu não pressenti a engrenagem que iria fazer a nossa vida dar um tombo. Porque a casa está no cerne do que provocou o acidente.»

Num relato tenso que é apresentado como uma verdadeira contagem decrescente, Brigitte Giraud tenta compreender o que conduziu ao acidente de mota que custou a vida ao marido no dia 22 de junho de 1999.

Vinte anos depois, faz por assim dizer o ponto da situação e ataca uma última vez as perguntas que ficaram sem resposta. Acaso, destino, coincidências? Regressa àqueles dias que se precipitaram numa série de perturbações imprevisíveis até desembocarem no inelutável. de tal modo empolgado com a perspetiva da mudança de casa, de tal modo desejoso de dar início aos trabalhos de remodelação, o casal tinha-se esquecido de que viver é perigoso. Brigitte Giraud conduz a investigação e põe em cena a vida de Claude e a vida deles, ambas miraculosamente ressuscitadas.

Cris