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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

"Os Trilhos do Acaso", volumes 1 e 2, de Paco Roca (GN)


Voltar a um autor de Graphic Novels que conheço de outros livros e de quem gosto muito é sempre uma aposta certeira. Fui à Biblioteca das Galveias e encontrei lá os dois volumes desta GN da qual já tinha ouvido falar bem e foi a oportunidade perfeita para os ler.

Paco Roca foca-se aqui em vários episódios verídicos ocorridos no fim da Guerra Civil Espanhola e durante a II Guerra Mundial. Como diz Pedro Bouça, na introdução preciosa que faz para um melhor entendimento destes dois volumes, os refugiados republicanos que fugiram de Espanha e tão mal recebidos foram pelos países que os acolheram, "acabaram por se revelar afinal extremamente preciosos para o país que os acolheu". É em torno destes refugiados espanhóis que Paco Roca, uma vez mais, transforma uma história da História numa obra prima das artes.

1939, fim da Guerra Civil Espanhola, fascistas no poder e republicanos em debandada para França. Aqui cabiam-lhes 3 hipóteses: ou eram repatriados para Espanha, ou alistavam-se na Legião Estrangeira ou eram condenados a trabalhos forçados. Aquando da II Guerra, muitos dos condenados a trabalhos forçados, optaram por pegar em armas de novo contra os nazis. Formou-se a 9ª Companhia, conhecida por "La Nueve", e que acabou por ser a primeira unidade a entrar e libertar Paris no fim da guerra. 

Miguel Ruiz terá sido um destes homens. Intercalando passado e presente, Paco Roca surge como um personagem na actualidade, entrevistando Miguel Ruiz, ácerca da sua participação em "La Nueve".

Um dos aspectos que mais gostei nesta obra foram os dois espaços temporais diferenciados pela mancha de cor: o passado surge com cores escuras e o presente é monocromático, o que faz com que o nosso cérebro se habitue rapidamente e distinga na perfeição os dois espaços temporais. 

Gostei muito.

Terminados em 19 de Novembro de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse

Nomeação Melhor Álbum de Autor Estrangeiro editado em Portugal no Amadora BD 2018 Através das recordações de Miguel Ruiz, republicano espanhol exilado em França, Paco Roca conta-nos a história de La Nueve, uma unidade militar formada maioritariamente por veteranos espanhóis republicanos da Guerra Civil, que participou em momentos chave da Segunda Guerra Mundial, desde o desembarque na Normandia à libertação de Paris.

Ao longo de alguns dias de conversas com um sobrevivente da Guerra Civil espanhola e da Segunda Guerra Mundial, o autor evoca a história de um grupo de espanhóis republicanos que lutou sob as ordens do General Leclerc contra o nazismo.

Entre a quase monotonia dos dias que Paco Roca passou junto desse veterano, e os momentos de violência e emoção da guerra, o leitor descobrirá o destino de um grupo de homens que os trilhos do acaso lançaram na história contemporânea.

Cris

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Para os Mais Pequeninos: A Magia em Mim


Maxy gostava de pintar. O seu pai construiu-lhe um pincel mágico e com ele ela criava  criaturas coloridas e diferentes. Todos gostavam das suas criações menos ela. "Nada era bom o sufuciente"! Preocupada por não conseguir melhorar, Maxy vivia preocupada. Nada a satisfazia.

Mas um dia o pincel deixou de funcionar e então os verdadeiros problemas para Maxy começaram. Queria pintar e nada conseguia fazer. Zangada, Maxy partiu o pincel!

Como acham que continua esta história? Algo vai acontecer e Maxy vai perceber que tudo o que nos sai do coração possui uma verdadeira magia mesmo que não saibamos isso.

Com imagens muito coloridas, desenhos apelativos e imaginativos, todo o texto se conjuga lindamente com a imagem! Esta história é inspirada na vida de Maysoon Zayid, uma das primeiras mulheres comediantes, com um diagnóstico de paralisia cerebral e que tudo fez para que isso não a impedisse de realizar o seu sonho!

Vale a pena oferecerem este livro e explicarem aos pequeninos todos os mundos que eles podem conquistar se acreditarem!



Cris

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

"O Acontecimento" de Annie Ernaux

Quem não leu Annie Ernaux, Prémio Nobel deste ano, pode começar por este livro. É pequeno, não tem mais de noventa páginas e lê-se em poucas horas. E, acima de tudo, é bom!

Annie recorda um episódio de sua vida ocorrido quando tinha 23 anos e era uma brilhante estudante universitária. Não é spoiler se vos disser que Annie engravida e relata aqui o que esse acontecimento lhe provocou. Estava-se em França , em 1963, e o aborto era ilegal. 

Quarenta anos mais tarde, as suas memórias estão ainda vivas e apoia-se nas frases singelas, mas que não a trairiam se fossem descobertas na época, dos seus cadernos de apontamentos de então. 

Que dizer?

Primeiro que está brilhantemente bem escrito, depois a autora consegue captar com exactidão o ambiente externo e interno vivido por ela. A onda de crítica velada com que foi brindada pelos seus pares, as condições insalubres existentes para quem se atrevia a contrariar as leis, as suas próprias sensações. Um voltar ao passado que não deixa o leitor  indiferente. 

Tão pequeno e tão bom este livrinho! Fiquei curiosa com o seu livro "Um Lugar ao Sol" e pretendo ir buscá-lo à biblioteca.

Terminado em 17 de Novembro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse 

Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer.

Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual.

Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.

Cris

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

"Naufrágio" de João Tordo

O mote para pegar neste livro foi um encontro com o autor no âmbito de um clube de leitura nas Caldas da Rainha, moderado por uma amiga. Já li alguns livros de João Tordo e, como em tudo na vida, uns livros foram mais do meus agrado do que outros, se bem que como já foram lidos há algum tempo (sobretudo os mais antigos) não consigo lembrar-me com nitidez quais é que me ficaram no coração. Coisa estranha é verdade, mas às vezes acontece. A ideia no geral é positiva pelo que foi com alguma expectativa que peguei neste "Naufrágio".

O autor não podia ter escolhido título melhor! Está perfeito!

A trama gira à volta de um escritor de sucesso, sexagenário, que não escreve há mais de dez anos. É uma narrativa feita na primeira pessoa, intimista, que gera no leitor uma empatia natural face a este escritor. Jaime Toledo, pelo que ouvi, já apareceu noutro romance mas como personagem secundário, ganha aqui uma dimensão e profundidade bem maior. Para além de sofrer de um bloqueio que nenhum escritor quer possuir, sofreu de um cancro que o deixou bastante debilitado e com fracos recursos financeiros. No topo da pirâmide, está o seu (mau) feitio e um passado de abusos, assédios e pressões sobre as mulheres com quem se envolveu. O declínio, o isolamento, o arrependimento e a loucura.

Temos aqui uma personagem ao estilo de João Tordo. Uma escrita que nos envolve, rica em pormenores, possuidora de uma fina ironia, que nos obriga a questionar alguns valores. Queremos não simpatizar com esse Jaime e algo nos impede de o fazer. O seu percurso de auto-análise é fascinante e somos atraídos por essa mente que tanto se desculpa como se arrepende. O caminho do crescimento não é mais do que isso, não acham?

Leiam, vale muito a pena!

Terminado em 12 de Novembro de 2022

Estrelas: 6*

Sinopse

O novo romance de João Tordo conta-nos a história de um homem à deriva, enredado nos seus fantasmas e obrigado a enfrentar a mais terrível das acusações.

«Quão longa é a penitência de um homem, quantas semanas e meses e anos demora a expiação dos pecados?»

Aos sessenta anos, o romancista Jaime Toledo enfrenta vários problemas. Não escreve há uma década, foi diagnosticado com cancro e, de repente, dá por si no epicentro de um escândalo. Escritor de renome em Portugal, a polémica lança-o para o abismo – sem carreira, sem dinheiro e sem casa, com os livros a ganhar pó nos armazéns, depois de banidos pela sua editora, toma uma decisão radical: deixar tudo para trás e mudar-se para um barco decrépito, fundeado nas docas de Lisboa. É no Narcisse – um minúsculo «barco mágico» –, na companhia de uma velha guitarra e de um cão chamado Sozinho, que Jaime procurará devolver o sentido à sua vida, reconciliando-se com o passado: as relações conturbadas com as mulheres, o abandono da escrita, a culpa que o corrói.

Até que, um dia, a aparição de uma figura do passado mudará tudo, desviando a narrativa para um lugar inesperado. Estará nas mãos de Jaime decidir se este naufrágio é o fim ou um caminho para algo novo.

Este é um romance corajoso sobre o amor e as relações entre os sexos, uma reflexão sobre a memória e a culpa, e as linhas difusas que definem as fronteiras pessoais, sociais e morais. Através de Jaime Toledo, João Tordo traça o perfil de um homem em busca da redenção possível, num mundo mais rápido a julgar do que a reflectir e onde é mais fácil condenar do que estender a mão.

«Por vezes, a ausência de esperança é uma forma de esperança; a paciência surge quando se esgota a paciência; o amor nasce, estranhamente, do mais profundo desamor.»

Cris

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

"As Pequenas Virtudes" de Natalia Ginzburg

Como já tinha lido dois livros desta autora (opiniões aqui e aqui) e ela foca-se muito em retratos e acontecimentos da sua vida, foi delicioso ler estas "Pequenas Virtudes". Pequenos nadas, aqui e ali, fizeram todo o sentido para mim porque tinha conhecimento de acontecimentos da sua vida, por ter lido sobretudo o "Léxico Familiar" e consegui relacioná-los com estas crónicas tão assertivas e íntimas, que nos falam de si, da perda inevitável que a vida acarreta, mas também do seu crescimento inerente, do ofício da escrita, etc. 

Se em "Léxico Familiar" achei a escrita desprovida do "eu", quando relatava episódios ocorridos durante a sua vida, aqui o tom é mais a meu gosto, um pouco mais pessoal muito embora Annie não tropece nunca num tom lamechas que não lhe cairia bem! Mas os sentimentos e as emoções estão aqui mais  representados, facto que me fez gostar mais que o livro referido anteriormente.

Pequenas crónicas que gostei muitíssimo de ler. E olhem que textos pequenos não são a minha praia! Livro e autora abordados num clube de leitura o que enriquece e nos dá outras visões e outros sentires.

Terminado em 6  de Novembro de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse 

Entre 1944 e 1962, Natalia Ginzburg escreveu um conjunto de onze ensaios de pendor autobiográfico. São textos essenciais, o legado de uma das mais importantes escritoras do século xx, que viveu retirada no campo com o marido durante o governo de Mussolini e nos anos 60 se deslocou para Londres.

Por eles, passam as suas impressões sobre a juventude e a idade adulta, as consequências da guerra, o medo, a pobreza e a solidão, as recordações de Cesare Pavese e a experiência de ser mãe e mulher quando se é escritora.

São páginas de uma perturbadora beleza, lúcidas, plenas de sabedoria, testemunho de uma escrita capaz de transformar objectos e experiências quotidianos em assuntos de grande significado sobre os quais o tempo parece não passar.

Cris

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Resultado do Passatempo Mensal "Toca a Comentar"

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Outubro. 

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado uma vencedora! Foi ela:

 
Maria

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 25, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros: 

Cris

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

"Três Mulheres no Beiral" de Susana Piedade

Susana Piedade foi uma escritora que me conquistou já há muito com os seus livros "As Histórias Que Não Se Contam" e "O Lugar das Coisas Perdidas" (opinião aqui e aqui).

Esta sua obra despertou desde logo a minha curiosidade e o facto de ter sido escolhida para o grupo de leitura da Leya foi o impulso que precisava para a ler. Neste grupo, o autor, sempre que possível, também participa o que torna a conversa ainda mais enriquecedora. 

E o livro?  Olhem, gostei muito. Retrata, entre vários temas, a questão da especulação imobiliária na cidade do Porto e a pressão exercida sobre pessoas idosas, normalmente solitárias, para que vendam/saiam das suas casas situadas em zonas nobres mas em prédios muito velhos. Uma situação que infelizmente não é ficção, e que raia a violência psicológica, fisica e que desconhecia totalmente. Os idosos sofrem pressões de vários tipos que os amedrontam e acabam por os levar a sair das suas casas, perdendo a vontade de viver, os seus poucos amigos e as referências de toda uma vida.

Mas para além de possuir este assunto como pano de fundo, outros transparecem. As dores do luto e as consequências muitas vezes irreparáveis que uma perda traz; a violência e o abandono a que os mais indefesos estão sujeitos; a maldade, que algumas vezes brota dos homens sem que nada nos seus passados o justifique (contrariando aquela célebre frase que só as "Pessoas magoadas magoam pessoas"); as vivências, as memórias e o amor/desamor de toda uma vida.

Piedade, a sua neta Madalena e a bisneta Catarina conquistam-nos e sentimos uma empatia imediata e uma ligação de amor profundo entre estas três mulheres. 

Um livro nosso que sabe muito bem ler e que apetece sublinhar! O que gostei mais? A linguagem trabalhada mas que parece tão simples, a construção das personagens que nos parecem tão reais, a sensibilidade com que os temas são tratados. Muito bom!

Terminado em 31 de Outubro de2022

Estrelas: 5*

Sinopse

Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando – ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo – os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.

Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.

Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.

Cris

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

"Léxico Familiar" de Natalia Ginzburg

Como tinha lido "A Caminho da Cidade" (opinião aqui) e gostado muito, tinha expectativas muito altas sobre este livro. Estava à espera de um relato mais pessoal sobre a vida da escritora, pese embora ela tenha esclarecido, no princípio do livro, numa Advertência, que não era isso a que se propunha. "E há ainda muitas coisas que, apesar de as recordar, deixei por escrever; e entre elas muitas que me diziam diretamente respeito."

Foi precisamente disso que aqui senti falta. Muitos acontecimentos familiares e ocorridos entre amigos, alguns escritores, e os aspectos de sua vida contados de uma forma rápida, fria, distante. Sei que muitos amigos gostaram muito desta obra mas eu queria um pouco mais de emoção na escrita. Mas depois de termos comentado a vida desta autora num grupo de leitura a que pertenço, fiquei a perceber melhor o quanto esta escrita é trabalhada, no sentido de ser muito vivida, e o quanto é fruto de uma reacção natural a várias vivências muito marcantes. A reacção a traumas, muitas vezes, leva o indivíduo a falar ao de leve nesses assuntos, pondo um ponto final nos mesmos. Esta escrita, que senti fria, creio ter sido a forma encontrada pela autora de seguir em frente com a sua vida. 

Para além deste aspecto gostei muito de conhecer o ambiente vivido em Itália durante o século XX,  através dos elementos da sua numerosa família de descendência judia e antifacista, os anos marcados pelas políticas de Mussolini, da II Guerra.  As torturas, a fome, as prisões mas também a luta pela liberdade. 

Experimentem e digam de vossa justiça. Estou curiosa com outra obra, "Foi Assim", e quero ver se a descubro em segunda mão.

Terminado a 23 de Outubro de 2022

Estrelas: 4*

Sinopse

Léxico Familiar é o principal livro de Natalia Ginzburg e um clássico da literatura italiana contemporânea. A narrativa acompanha a vida dos Levi, que viveram em Turim entre 1930 e 1950, período em que se assiste à ascensão do fascismo, à Segunda Guerra Mundial e aos acontecimentos que se lhe seguiram. Natalia, uma das filhas do professor Levi, foi testemunha dos momentos íntimos da família e dessa conversa entre pais e irmãos que se converteu num idioma secreto. Nesta narrativa de pendor autobiográfico, os acontecimentos quotidianos misturam-se com reflexões que mantêm toda a atualidade.

O livro venceu em 1963 o Prémio Strega.

Cris

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

"Todos os Lugares Desfeitos" de John Boyne

Sei que é possível ler este livro sem ter lido O Rapaz do Pijama às Riscas (opinião aqui) mas não sabem o que perdem se considerarem essa hipótese! É um livro que fica na memória e o final não é esquecido. Nunca! E eu que sou a esquecida mor e que passado um tempo fico só com a sensação positiva ou negativa que um livro me fez sentir, não esqueço esse livro. Tampouco esse final.

Lógico que queria ler, um pouco receosa acreditem, esta sequela. Parabenizo, desde já, o autor porque soube pegar na história de uma forma muito especial e faz com que o leitor se coloque empaticamente ao lado de Gretel e as analepses constantes fazem-nos caminhar para o seu passado e para esse primeiro livro tão especial. Ao longo de toda a narrativa são desvendados pequenos mistérios que fazem com que o puzzle final faça todo o sentido.

Gretel tem 91 anos, é alemã, e vive em Londres há muitos anos, num apartamento que não quer vender por razões que, ainda, desconhecemos. O seu corpo dá sinais de fraqueza mas a sua mente está activa. Não fala do seu verdadeiro passado. Criou uma história que repete quando a questionam sobre a Segunda Guerra e sobre o que lá se passou. Não conta nunca quem foi o seu pai, como ultrapassou junto com a mãe os anos do pós guerra. Nem eu aqui vou contar, e, se conseguirem, caso não tenham lido O Rapaz do Pijama às Riscas, não leiam a sinopse. 

Contada em discurso directo, esta história tem tudo para vos envolver completamente como me aconteceu a mim. Às vezes, o passado volta para nos obrigar a repensar o presente, as nossas atitudes e resoluções e, para nos lembrar que podemos sempre alterar e mudar para melhor.

Só houve um pequeno detalhe no desenlace desta história ficcionada que me pareceu excessivo mas, na realidade, não saberia dar outra alternativa. Porque para quem já leu posso afirmar: "assim ficou tudo resolvido e houve um ponto final como a vida real às vezes não dá".

Adorei e recomendo.

Terminado em 18 de Outubro de 2022

Estrelas: 5*

Sinopse

Gretel Fernsby tem 91 anos e vive em Londres há décadas, sempre no mesmo quarteirão de luxo. Leva uma vida confortável e tranquila, apesar do seu passado sombrio. Nunca fala da sua fuga da Alemanha, mais de setenta anos antes. Nunca fala dos anos do pós-guerra, passados em França com a mãe. Sobretudo, nunca fala do pai, o comandante de um dos mais infames campos de concentração nazis.

É então que uma jovem família se muda para o apartamento por baixo do seu, e Gretel acaba por fazer amizade com Henry, o filho do casal, apesar de o seu rosto lhe trazer memórias que ela prefere esquecer. Quando Gretel é confrontada com a escolha entre a sua própria segurança e a de Henry, sabe que está perante a oportunidade de expiar a sua culpa, mesmo que isso a obrigue a revelar os segredos que passou a vida a proteger.

Todos os lugares desfeitos é uma história devastadora e imensamente bela sobre uma mulher marcada por um terrível passado e por um presente onde nunca é tarde para a coragem e para a redenção.

Cris

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

"O País Dos Outros" e "Vejam Como Dançamos" de Leila Slimani



A vinda da autora para a apresentação do segundo volume desta trilogia foi o ponto de arranque para começar a ler estes dois livros, um a seguir ao outro. Como tal, na minha cabeça não faz sentido separá-los. Sinceramente, nem saberia como, visto já terem passado bastantes dias desde que os terminei e é num bolo que os vejo. Pena tenho de precisar de aguardar pelo último!

Já tinha lido o Canção Doce (ler aqui a review) e O Perfume das Flores à Noite (ler aqui)  e, por isso, a escrita de Leila Slimani não me era estranha. A fluidez com que a lemos é uma constante nestes seus livros muito embora as temáticas sejam muito diversas. 

Mathilde, de uma pequena aldeia francesa, apaixona-se por um oficial marroquino que combate no exército francês na Segunda Guerra.  Finda a mesma partem para Marrocos e Amine tudo faz para recuperar a quinta de seu pai. Tarefa dura porque o solo é pedregoso. Enquanto Amine trabalha incansavelmente, Mathilde sofre as primeiras desilusões porque a aculturação é difícil. Os costumes conservadores sufocam-na e ela é recebida como uma estrangeira, mas para "casa" as notícias são inversas à realidade vivida: está bem, feliz com o tratamento que recebe.

A maternidade prende-a e traz-lhe sentimentos contraditórios. Os conflitos familiares surgem a par do ambiente violento que Marrocos vive aquando da luta pela sua independência. 

Seguir, Mathilde, Amine, seus filhos Aïcha e Selim e também, a História e cultura de Marrocos, durante vários anos, resultou  num aprendizado muito interessante já que pouco sabia desse país e envolvi-me muito facilmente com os problemas desta família.

Como disse, leitura que se faz sem esforço, de estonteante rapidez! Para quando o último livro?

Tradução da querida Tânia Ganho. Irrepreensível "comme d'habitude"!

Terminado  em 12 e 16 de Outubro  respectivamente.

Estrelas: 5*

Sinopse (O País dos Outros)

Da aclamada autora franco marroquina Leïla Slimani, uma atmosférica e inquietante saga familiar que põe em relevo uma mulher enredada entre duas culturas, dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade com que cresceu.

Em 1944, Mathilde, uma jovem alsaciana, apaixona-se por Amine, um oficial marroquino que combate no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra, o casal muda-se para Marrocos e instala-se perto de Meknés. Amine dedica-se a recuperar a quinta herdada do pai, tentando arrancar frutos de uma terra pedregosa e estéril.

Enquanto isso, Mathilde começa a sentir o jugo dos costumes conservadores do novo país, tão sufocante quanto o seu clima. Nem a maternidade apaga a solidão que sente no campo, longe de tudo, num lugar que não é o seu e a verá sempre como estrangeira.

Sinopse (Vejam Como Dançamos)

1968, Marrocos: Mathilde, alsaciana, e Amine, oficial do Exército marroquino, são um casal com uma longa história atrás de si e um incerto futuro pela frente, à imagem do país onde vivem. Esta é a história de uma família hesitante entre a tradição e a modernidade, protagonizada por uma mulher enredada entre duas culturas, sufocada pelo conservadorismo do país onde escolheu viver e dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade. É também a história de um país que acabou de conquistar a independência e que procura o seu lugar, entre o espartilho religioso e o fascínio pelo Ocidente, entre a repressão e o hedonismo.

Leïla Slimani, uma das vozes mais importantes da literatura francesa, regressa à história da própria família para construir um romance cheio de personagens inesquecíveis e imagens fortes. Retratando um tempo e um lugar em que ressoam os ecos do Maio de 68 e as mulheres encetam o pedregoso caminho da emancipação, a escritora reafirma a sua impressionante destreza narrativa e o olhar clínico sobre a intimidade.

Cris