Susana Piedade foi uma escritora que me conquistou já há muito com os seus livros "As Histórias Que Não Se Contam" e "O Lugar das Coisas Perdidas" (opinião aqui e aqui).
Esta sua obra despertou desde logo a minha curiosidade e o facto de ter sido escolhida para o grupo de leitura da Leya foi o impulso que precisava para a ler. Neste grupo, o autor, sempre que possível, também participa o que torna a conversa ainda mais enriquecedora.
E o livro? Olhem, gostei muito. Retrata, entre vários temas, a questão da especulação imobiliária na cidade do Porto e a pressão exercida sobre pessoas idosas, normalmente solitárias, para que vendam/saiam das suas casas situadas em zonas nobres mas em prédios muito velhos. Uma situação que infelizmente não é ficção, e que raia a violência psicológica, fisica e que desconhecia totalmente. Os idosos sofrem pressões de vários tipos que os amedrontam e acabam por os levar a sair das suas casas, perdendo a vontade de viver, os seus poucos amigos e as referências de toda uma vida.
Mas para além de possuir este assunto como pano de fundo, outros transparecem. As dores do luto e as consequências muitas vezes irreparáveis que uma perda traz; a violência e o abandono a que os mais indefesos estão sujeitos; a maldade, que algumas vezes brota dos homens sem que nada nos seus passados o justifique (contrariando aquela célebre frase que só as "Pessoas magoadas magoam pessoas"); as vivências, as memórias e o amor/desamor de toda uma vida.
Piedade, a sua neta Madalena e a bisneta Catarina conquistam-nos e sentimos uma empatia imediata e uma ligação de amor profundo entre estas três mulheres.
Um livro nosso que sabe muito bem ler e que apetece sublinhar! O que gostei mais? A linguagem trabalhada mas que parece tão simples, a construção das personagens que nos parecem tão reais, a sensibilidade com que os temas são tratados. Muito bom!
Terminado em 31 de Outubro de2022
Estrelas: 5*
Sinopse
Em plena Baixa do Porto há uma rua icónica com uma fiada de prédios, onde os modos tripeiros convivem com a música dos artistas, a sinfonia das obras, a vozearia dos bares e os bandos de turistas curiosos. É numa dessas casas que vive a octogenária Piedade desde que se lembra e onde tem amigas de longa data. Mas o terror instala-se quando – ofuscados pelo potencial deste Porto Antigo – os proprietários e investidores não olham a meios para se livrarem dos velhos inquilinos, que vão resistindo às suas ameaças como podem, mas começam a sentir na pele as represálias.
Neste cenário tenso e desumano desenrola-se a história de Três Mulheres no Beiral, que é também a de uma família reunida por força das circunstâncias, mas dividida por sentimentos e interesses: Piedade, que trata a casa como gente; José Maria, o filho incapaz de se impor e tomar decisões; Madalena, a neta que regressa com a filha ao lugar onde foi criada para reviver episódios marcantes do seu passado; e Eduardo, o neto egocêntrico e conflituoso que sonha ser rico desde criança e a quem a venda da casa só pode agradar.
Com personagens extremamente bem desenhadas num confronto familiar que trará ao de cima segredos que se pensavam esquecidos e enterrados, Susana Piedade mantém a expectativa até ao final neste romance notável e de rara humanidade que foi finalista do Prémio LeYa em 2021.
Cris
Acredito que seja um bom livro de ler.
ResponderEliminarCumprimentos poéticos
Alguns relatos transmitidos pelas notícias sobre a especulação imobiliária são, de facto, chocantes. Gostaria de ler o livro.
ResponderEliminarUma publicação muito interessante. Obrigada pela partilha ...
ResponderEliminar.
Voltei ao lugar, onde o passado foi uma vida
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Beijo.
Boa noite...