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domingo, 30 de agosto de 2015

Ao Domingo com... Madalena Barreto Condado

“Prometo, perante todos aqui presentes, que nunca terás fome de amor, pois eu o alimentarei, com cada pedaço da minha alma,
Prometo que nunca sentirás sede de amor, pois eu te saciarei com cada gota do meu sangue,
Prometo que nunca sentirás dor física, pois eu te protegerei, com cada parte do meu corpo,
Prometo secar-te as lágrimas, que vertas com os meus beijos,
Esperei por ti várias vidas sem antes te encontrar,
Definhei sem te poder amar,
Agora que te encontrei, entrego-me a ti,…”

E assim vos deixo um cheirinho de Yggdrasil, Profecia do Sangue
Chamo-me Madalena, nasci em Moçambique. E vivo em Lisboa na companhia do meu filho, do meu marido, dos meus cães e gatos. Desde cedo que adoro contar estórias transportando todos os que me ouvem àqueles locais fantásticos onde só a imaginação nos consegue levar e onde tudo pode acontecer. Adoro ler, animais, viajar, gelado de café, o som da chuva, o cheiro do mar, a companhia da lua, o escuro, mas acima de tudo adoro escrever. 
Este ano consegui reunir finalmente a coragem que me faltava para publicar o meu primeiro romance. Yggdrasil, é o primeiro livro da saga Profecia do Sangue. Aqui vamos conhecer Maria, uma jovem estudante portuguesa que podia ser qualquer uma de nós. Tive ainda a felicidade de participar nas colectâneas Premonições e Poema-me da editora Lua de Marfim. Sinto que este ano é finalmente o ano das grandes mudanças, o início da minha nova Era. Já não quero nem posso parar. Pelo que prometo muitas novidades para breve.
Irei continuar a escrever para já dentro deste género fantástico que tanto me fascina, um mundo onde acreditamos que a magia existe e que a imortalidade é uma realidade. Mas gostaria num futuro próximo de enveredar pelo género policial, onde mais que o crime, o mistério seja o fio condutor. Acredito que os meus livros são uma representação de quem sou, todas as personagens são de alguma forma uma extensão de mim, das pessoas que me rodeiam, de situações vividas dos locais visitados.
Sou uma curiosa por natureza e temerária por opção, pelo que ainda tenho muito para oferecer. Gostaria por isso de vos convidar a todos a virem até Glendalough para lá nas montanhas de Wicklow, onde a magia acontece no caloroso abraço dos MacCumhaill.

MBarreto Condado 

sábado, 29 de agosto de 2015

Na minha caixa de correio

  

  

 

Lorde foi oferta da Editora Elsinore.
Os outros ganhei nos passatempos do JN. E do Jornal Ionline

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

"Maze Runner, Correr ou Morrer" de James Dashner

Sei que todas as mães que gostam de ler ficam maravilhadas e contentes quando os seus filhos lhe seguem as pisadas. Mas, como já tenho referido, nalgumas idades não é fácil aconselhar livros tanto mais que estamos tão imbuídos nas nossas leituras que descuramos, um pouco, a literatura juvenil e nem sabemos que novidades existem por aí...

Por isso aqui fica a dica: aqui há dias, o meu filho mais novo, de 15 anos, estava a ler o primeiro volume da trilogia, "Maze Runner, Correr ou Morrer" de James Dashner, da Editorial Presença (disse-me que já tinha visto o filme) e estava a gostar. "Empolgante", foi o termo utilizado. "Tens de me comprar o segundo volume", pediu.

É o que vou fazer de seguida pois já o acabou! Depois digo-vos como correu a "saga" do segundo livro...

Para mais informações ver Editorial Presença aqui!

Sinopse

Quando desperta, não sabe onde se encontra. Sons metálicos, a trepidação, um frio intenso. Sabe que o seu nome é Thomas, mas é tudo. Quando a caixa onde está para bruscamente e uma luz surge do teto que se abre, Thomas percebe que está num elevador e chegou a uma superfície desconhecida. Caras e vozes de rapazes, jovens adolescentes como ele, rodeiam-no, falando entre si. Puxam-no para fora e dão-lhe as boas vindas à Clareira. Mas no fim do seu primeiro dia naquele lugar, acontece algo inesperado - a chegada da primeira e única rapariga, Teresa. E ela traz uma mensagem que mudará todas as regras do jogo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

E a avó pinta, pinta...- dizem eles! - "Jardins, 100 Imagens para Colorir"

Tinha cá em casa este livro de colorir, oferta da Editorial Pesença. Levei-o para férias, juntamente com mais dois do mesmo género, disposta a experimentar.

Antes de começar a pintá-lo lembrei-me que a minha mãe pouco tinha que fazer e a sua idade avançada já não permitia que desse caminhadas nem que visitasse sequer a praia pois cansa-se bastante. Perguntei-lhe se gostaria de pintar umas páginas...

Sei que a pintura é a sua casa (alguns dos seus quadros povoam as minhas paredes!) mas a idade fez com que as suas mãos já não fossem tão firmes quanto gostaria e lentamente foi abandonando aquilo que lhe dava prazer.

Como fiquei contente com a satisfação que lhe deu um livrinho tão simples! Agora só falto experimentar eu. Este fica para ela. O prazer de lhe oferecer algo, de vê-la feliz, ocupada, superou as minhas expectativas e o prazer que pensei retirar deste livro.

Os meus filhos dizem: "E a avó pinta...pinta..."

Para mais informações sobre o livro ver Editorial Presença aqui!




terça-feira, 25 de agosto de 2015

"Hanns e Rudolf" de Thomas Harding

Uma incrível e real história de dois alemães, um deles judeu, que vai sendo narrada em paralelo, como se de um romance se tratasse. Um documento de grande importãncia, narrado pelo autor, sobrinho-neto de Hanns Alexander, que no seu funeral se deu conta que a história de seu tio-avô não poderia ficar por contar.

Hanns, refugiando-se em Inglaterra com a sua família para fugir à guerra e aos ataques cada vez mais intensos aos judeus, juntou-se ao exercito inglês. No final desses anos terriveis era já capitão quando, com as suas buscas constantes para encontrar alguns responsáveis, o seu caminho se cruzou com Rudolf Hoss, "Kommandant de Auschwitz" e responsável por tantas mortes.

A sua captura foi para Hanns um ponto de honra, tal era a raiva que sentia pelos corpos que viu nos campos de concentração (sobretudo em Auschwitz) em que esteve no final da guerra e por todo o sofrimento que viu e que viveu.

Um livro imprescindível que quero ter na estante já que este me foi emprestado. A ler, sem dúvida!

Terminado em 20 de Agosto de 2015

Estrelas: 6*

Sinopse

Parte facto histórico, parte biografia, parte true crime, Hanns e Rudolf é a crónica da história esquecida do investigador judeu que perseguiu e capturou um dos mais importantes criminosos de guerra nazis.
Maio, 1945. No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, a primeira equipa britânica de investigação de crimes de guerra é reunida para caçar os oficiais nazis responsáveis pelas maiores atrocidades alguma vez vistas. Um dos principais investigadores é o tenente Hanns Alexander, um judeu alemão que serve no Exército Britânico. Rudolf Höss é o seu alvo mais esquivo. Hoss, como Kommandant de Auschwitz, não só é o responsável pelo assassinato de mais de um milhão de pessoas, como também quem aperfeiçoou o programa de extermínio em massa idealizado por Hitler. Hanns e Rudolf revela, pela primeira vez, a incrível história em redor da captura de Höss, um encontro que teve consequências até aos dias de hoje. Das campanhas no Médio Oriente da Primeira Guerra Mundial à Berlim boémia da década de 1920, passando pelo horror dos campos de concentração e aos julgamentos em Belsen e Nuremberga, este livro narra-nos a história de dois homens alemães - um judeu e um católico - cujas vidas divergiram e se intersetaram de um modo extraordinário.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

"Mesmo Antes da Felicidade" de Agnės Ledig

Acordar a meio da noite porque um barulho indistinto, mas forte, me fez sair do sono em que me encontrava e ficar contente por ter mais uns momentos de leitura não é frequente em mim. Épocas houve em que, tendo a insónia como a minha companheira noturna, pegava nos livros para que o sono, essa "coisa" longínqua, se apoderasse de novo de mim. Mas, felizmente, como isso são águas passadas, a meio desta leitura verifiquei com agrado que uma destas noites fui despertada inesperadamente. Que bom, pensei, assim tenho mais uns momentos de leitura!

A escrita da autora é simples, escorreita e a história fica-nos na pele. Ou melhor, no coração. Meninas (os), se gostam de um romance que vos emocione, mas que lêem com um enorme prazer, então este é o livro certo. Não consegui suster as lágrimas, nem tão pouco me incomodei com isso.

Para além da tragédia que é perder alguém muito querido, este livro fala-nos, sobretudo, de sentimentos que hoje são algo difíceis de encontrar logo à partida quando duas pessoas se conhecem. O conselho "Não fales com estranhos" ou "Desconfia de quem não conheces" tem, infelizmente, razão de ser, o que leva a que algumas atitudes realizadas por pessoas de bem não sejam corretamente interpretadas.

Julie tem um trabalho que não gosta, mal pago e é assediada pelo patrão. Tem bom remédio, dizem vocês? Mas é mãe solteira e Lulu, seu filho está em primeiro lugar. Paul, com idade para ser seu pai, conhece-a no seu local de trabalho e faz-lhe um convite. Com que intenções? Deverá Julie desconfiar?

Amor, perda, amizade, recomeço, saber recomeçar... Uma história que se lê num ápice, que nos encanta mas que nos marca também. Gostei muito e surpreendeu-me deveras.

Terminado em 17 de Agosto de 2015

Estrelas: 5*

Sinopse

Das lágrimas ao riso, um romance que nos faz regressar à essência da vida.
Há muito que Julie deixou de sonhar. Caixa num supermercado, mãe solteira, aos 20 anos passa os seus dias num trabalho mal pago à mercê de um patrão abusador. Não tem escolha: para dar o melhor que pode ao filho de três anos, Lulu, que é a luz dos seus olhos, a caixa Julie encaixa tudo isto e mais, se preciso for.
Mas um dia, o seu destino cruza-se com o de Paul, um cliente sexagenário que fala com ela, se comove com a sua situação e lhe estende a mão. Aos seus olhos, Julie não é uma mulher invisível, um robô que debita frases e suscita indiferença ou desprezo, mas uma mulher inteira, interessante, respeitável e respeitada. É este homem que, comovido com a sua história, a convida a ela e a Lulu para se juntarem a ele e ao seu filho Jérôme na sua casa de praia, na Bretanha. Magoada e abandonada pelo pai e por todos os homens que passaram pela sua vida, Julie desconfia de tanta generosidade. Mas por Lulu, para que o seu menino veja o mar e faça castelos de areia, ela acaba por aceitar…
Será que a felicidade encontrou finalmente o caminho da vida de Julie? Ou estará o destino apenas a preparar-se para lhe puxar o tapete – outra vez?

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Escolha do Jorge: Verão Ártico

Damon Galgut (n. 1963) é conhecido do público português através dos romances "Um Quarto Desconhecido" e "O Impostor", ambos publicados pela Alfaguara. "Verão Ártico" é a mais recente obra de Damon Galgut publicado recentemente pela Jacarandá.
"Verão Ártico" constitui uma biografia romanceada de um período da vida de Edward Morgan Forster, o escritor inglês que viveu entre 1879 e 1970, conhecido por alguns romances e contos tendo almejado grande projeção através de "Passagem para a Índia", o romance publicado em 1924.
Damon Galgut através de um discurso sensível e profundamente humano presenteia-nos com uma obra nos fala ao coração e à alma. Trata-se, pois, de uma obra que nos agarra desde as primeiras páginas e graças também ao facto de a escrita ser bastante visual, o leitor consegue vislumbrar muitas das descrições relativas a Inglaterra, Índia e Egito, países onde decorre a narrativa.
Damon Galgut não procura valorizar somente as capacidades e virtudes de E. M. Forster, mas tenta apresentar, na medida do possível, um homem com todas as suas qualidades e defeitos que lida com a sua tristeza e angústia não só devido à sua mãe ser uma pessoa bastante dominadora, mas também pelo facto de não saber como lidar com a sua homossexualidade. Tendo em consideração de tinham passado menos de vinte anos do processo de Oscar Wilde, E. M. Forster por muito que se sentisse atraído por outros homens, não chegou a concretizar um ato sexual a não ser depois dos 30 anos e quando estava fora do seu país, durante a 1ª Guerra Mundial.
Morgan, como é habitualmente tratado na obra e entre os seus amigos, vislumbrava a relação homossexual como uma visão romântica daquela que existia na Grécia Antiga, embora o contexto histórico, mas também social e económico fosse também outro no início do século XX. Morgan Não o concretizou esse "amor grego", embora tenha mantido, durante o período em que decorre a narrativa, duas relações afetitivas (à distância), de amor fraternal sem a dimensão sexual.
Masood, um indiano a quem Morgan deu lições de Latim, tornou-se no seu primeiro amor arrebatador que motivou a sua primeira viagem à Índia antes da 1ª Guerra Mundial. Mohammed foi o segundo amor de Morgan, um egípcio com quem conviveu em Alexandria ao longo de três anos no decurso da 1ª Guerra Mundial.
Nunca conseguindo concretizar o amor sexual com nenhum dos seus amantes, estes, por seu turno, nunca deixaram de lhe ser fiéis naquilo que de mais puro e sério que pode conter uma amizade. São inúmeras as passagens, os momentos em que Masood e Mahommed, tanto presencialmente como através das suas cartas que demonstram o mais sincero amor por Morgan. Foi esta a forma que Morgan encontrou para se relacionar com estes dois indivíduos, evitando danos maiores no que respeita à sua tristeza e angústia crónicas. Por outro lado, é este ponto de equilíbrio que Morgan conseguiu fazer brilhar aquela ideia de "amor grego" que, afinal, é mais de natureza espiritual que carnal. "Não fazes ideia de quanto o teu amor por mim me ajuda a suportar todos os meus problemas. Amo-te tanto que, sempre que me acontece qualquer coisa nova, não consigo deixar de pensar imediatamente em ti. Desejo ardentemente partilhar contigo o acontecimento, e desespero-me quando me apercebo de que estás tão longe." (p. 295); "(…) O verdadeiro afeto deixa qualquer coisa atrás de si, algo que perdura, com a sua misteriosa vida própria" (p. 311)
É interessante que do ponto de vista histórico e até social que as eventuais relações homossexuais estabelecidas entre alguns dos amigos e conhecidos de Morgan são fortemente hierarquizadas e até fundamentadas de acordo com a ideologia do Império Britânico de então, na medida em que há um senhor e um escravo refletindo-se, pois, esta mesma relação de força e de dependência entre aquele que ama e o amado à semelhança da sociedade grega e até romana da Antiguidade.
A questão de raça e de estatuto são frequentemente abordadas ao longo de "Verão Ártico" dado que aquele género de relações não só são mais difíceis de concretizar de forma assumida – à data – na Inglaterra, daí a abordagem de Searight, um militar de alta patente destacado na Índia explica a Morgan que naquele país as pessoas têm uma relação diferente com o corpo, fomentando, nesse sentido, uma maior abertura e facilidade, portanto, nas relações homossexuais independentemente de não serem propriamente bem vistas do ponto de vista da social.
Ao longo da narrativa, percebemos que também Morgan na sua relação com os seus dois amantes mantém claramente as ideias de raça e de estatuto sendo ele próprio o senhor e os amantes os amados (ainda que não se verifique a concretização do ato sexual).
Mais tarde, já na sua segunda viagem à Índia e com o objetivo de terminar o livro "Passagem para a Índia", Morgan estabelece uma relação de natureza sexual com um funcionário real (com algumas nuances de escravo) e é ao longo dessas páginas em que se percebe de modo claro o prazer de Morgan ao exercer força perante o seu amado (sem amar) graças ao exercício de poder sobre aquele. O próprio Morgan tem consciência da situação fazendo também a transposição dessa relação eminentemente física para a forma como a Grã-Bretanha exerce o seu poder no mundo.
Damon Galgut apresenta-nos um livro que está para além da temática da homossexualidade de E. M. Forster, é, pois, um livro pejado de humanidade e de sentimentos sem cair no sentimentalismo ridículo e sem sentido. Olhamos para um escritor que lida com todos os aspetos, dimensões da sua vida, anseios, receios, dificuldades e concretizações à semelhança de todas as outras pessoas.
À sua maneira, E. M. Forster e tantos outros amigos da sua geração contribuíram de uma forma ou de outra para, aos poucos, o seu país encarar de forma igual quem se considera de alguma forma diferente.
Damon Galgut tem garantidamente o dom da palavra capaz de prender o leitor sempre motivado ao longo de toda a narrativa, não esquecendo o facto de que procura sempre respeitar o personagem principal, as pessoas com quem aquele se relacionou e, em última instância, o próprio leitor.
A escolha do título do livro por Damon Galgut foi igualmente interessante e bem conseguido dado tratar-se de um conjunto de contos que E. M. Forster nunca viria a publicar.
"Verão Ártico" constitui uma agradável e doce surpresa no âmbito das publicações que tiveram lugar ao longo deste ano.

Excertos:
"Morgan teve a sensação desagradável de que o assunto se tinha desviado e de que estavam a falar de coisas diferentes. Ainda assim, respondeu:
- Eu também.
- Está ansioso por ver o seu amigo?
- Muito.
- Tem sentido a falta dele? Conheço tão bem essa sensação. E sou obrigado a procurar consolo noutro lado. Felizmente, nunca é preciso procurar muito, aqui na Índia. É mais difícil em Inglaterra, como bem sabe.
- O quê?
- Consolo.
Lançou-lhe um olhar cúmplice, e continuou:
- Mas conheci um guarda a cavalo em Hyde Park, ainda há poucas semanas.
Assustado pelo rumo que a conversa tinha tomado, Morgan decidiu tossir ligeiramente e fitar o mar. Searight tinha-se voltado para ele na cadeira, uma atitude de completa confidência. Depois de uma pausa, começou a falar do calor. Parecia ser um novo tema de conversa, mas era uma derivação sub-reptícia do tema anterior. Durante os últimos dias, a temperatura tinha disparado em flecha; muitos dos passageiros tinham começado a dormir no convés. E já reparara Morgan que alguns dos homens andavam de calções?
- Os mais velhos deviam ser proibidos - disse Searight -, por terem as pernas feias.
Segundo ele, muitos poucos ingleses tinham as pernas bonitas, um problema qualquer com os joelhos. Mas, na Índia, havia muitas pernas bonitas. E pernas à mostra por todo o lado, como Morgan teria a oportunidade de ver. Havia muito mais pele à vista na Índia do que em Inglaterra; eram os hábitos de lá." (p. 15)

"[Paris] tornou-se um enorme cenário para o seu pequeno e radioso espetáculo. Era a primeira vez que viviam juntos naquela intimidade contínua, sem outros amigos ou familiares por perto. Talvez, pensou Morgan, fosse assim um casamento: uma espécie de completude entre duas pessoas, como sombras coloridas bloqueando o resto do mundo. Seria capaz de viver com Masood daquela maneira, pensou, numa cidade desconhecida, sem nunca se sentir aborrecido ou infeliz.
(...)
Tudo isto atravessara o espírito de Morgan num turbilhão incoerente, enquanto Masood se voltava finalmente e bocejava, despertando. A consciência do amor era importante, mas também parecia improvável. Eram demasiado parecidos, encaixavam demasiado bem juntos para que o amor acontecesse. A definição do amor é a impossibilidade, o desejo de atravessar uma barreira intransponível.
Então, seria qualquer outra coisa, uma ternura confundida, uma proximidade fraternal. Voltou a pôr a sua máscara social." (pp. 39-40, 42-43)

"Ao longo dos meses que se seguiram, sonhou com Mohammed quase todas as noites. Talvez lhe ocupasse todas as horas de sono porque tinha sido banido das que passava acordado. Morgan não podia falar dele a ninguém, exceto a quem – como Florence Barger ou Goldie – o havia conhecido apenas à distância. Havia também algo de humilhante nas demonstrações de dor por uma relação que ninguém testemunhara. Não, aquele era um sofrimento privado, tal como a luxúria ou a literatura, que vivia sobretudo nos seus sonhos.
(…)
No início, sentira-se como um grão de pó à procura de outro grão de pó – era assim que via a morte. Mas à medida que os meses foram passando, as emoções mais profundas vieram à superfície. Morgan não estava obcecado por Mohammed, mas sim oprimido por ele: sentia uma dor constante dentro de si." (pp. 287-288)

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"O Jantar" de Herman Koch

Um livro, duas partes distintas.

Na primeira, nada. Pouco sucede. Algumas descrições dos personagens e situações passadas efetuadas pelo narrador, um dos membros de um casal que vai jantar com outro casal, parentes por sinal. São páginas e páginas em que o leitor aguarda (que algo aconteça) num mar de palavras bem escritas. Um mar calmo mas de águas turvas. Espera-se algo sem saber o quê.

Na segunda, as águas agitam-se e o inesperado acontece. Duas famílias reunem-se durante um jantar para resolver qual a solução a dar a certas atitudes dos filhos que levaram a consequências devastadoras e trágicas.

Uma leitura com um desfecho improvável, que nos deixa desconfortáveis e prontos para refletir sobre até onde o amor nos pode levar para defender um filho... É, precisamente quando descobrimos o que os personagens/pais pretendem fazer, que se trava um combate interior no leitor e nos colocamos ora dentro dos seus papeis como pais, ora fora deles como meros observadores.

Por outro lado, o narrador, ao contar-nos a história sob a sua perspectiva, infunde no leitor um certo grau de aversão por outro personagem, seu irmão, candidato a um cargo político. Essa antipatia vai-se esbatendo com o decorrer da narrativa quando nos debatemos com os verdadeiros valores morais que estão subjacentes a essa persanagem e que em nada condizem com os apresentados por seu irmão, o narrador.

Terrível pensar onde o ser humano pode chegar para defender o que julga ser seu! Um drama familiar violento que é resolvido de forma violenta também! Até onde um pai é capaz de passar por cima dos seus valores e crenças para defender o seu filho? Até onde sou capaz de ir? E tu?
Um livro que faz pensar.

Terminado em 14 de Agosto

Estrelas: 4*+

Sinopse

Até onde iria para proteger a sua família?
Noite de Verão em Amsterdão: dois casais encontram-se para jantar num restaurante. A trivialidade da conversa, sobre férias e trabalho, entre garfadas satisfeitas e sorrisos educados, deixa adivinhar um jantar aparentemente normal. Aparentemente. É quando chega o prato principal que descobrimos que os casais não se juntaram para jantar pelo prazer da refeição e da companhia, mas para discutir um acto de violência ignóbil perpetrado pelos filhos de ambos. Entre status e família, vamos descobrindo até onde as pessoas estão dispostas a ir para defender o que é seu e impedir o seu pequeno mundo de cair por terra. A natureza do mal exposta à mesa de jantar e a subtileza (i)moral da narrativa faz desta uma história incómoda, provocadora e controversa, que arrasou as tabelas de livros mais vendidos. Uma narrativa surpreendente, tensa e brilhante que não deixará ninguém indiferente.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

"A Eterna Demanda" de Pearl S. Buck

O prefácio deste livro faz uma incursão na vida desta escritora tão conhecida pelo seu romance "Terra Bendita". A Eterna Demanda, terá sido, segundo o seu filho, o romance que Pearl Buck tinha em mãos quando da sua morte em 1972 mas que, por contingências várias, andou desaparecido e só foi recuperado em 2012, tendo sido terminado pelos seus descendentes, que tentaram colmatar a parte que faltava com aquilo que pensavam ser o seu estilo.

Com uma enorme e vasta obra, Pearl, mais uma vez, encanta o leitor. Posuidora de uma escrita segura, envolvente e mágica, fiquei completamente enredada na história de Rann, um menino que possui uma tal ânsia de saber que o impulsiona e o move para fora de portas. O mundo é a sua casa e, desde o interior da barriga de sua mãe, Rann quer comquistar e saber tudo o que há para ser conquistado. TUDO.

Tendo sempre por companhia uma enorme solidão, Rann, contudo, não está só. Acompanha-o uma sede de saber, uma memória extraordinária que o leva a questionar tudo e todos. A sua vida é uma eterna demanda. Primeiro prente saber tudo no menor tempo possível. Depois pretende encontrar-se, saber o que vai querer ser na vida. Daí a saber que quer ser escritor vai um passo muito longo, misturado com aquilo que a vida lhe oferece: conhecimento mas também dor. Cresce e aprende a uma velocidade estonteante. Falaríamos, hoje, de uma criança sobredotada, com uma sede deconhecimento inesgotável.

Confesso que estava à espera de notar, nesta obra, dois estilos diferentes. O primeiro, escrito pela autora, e depois uma segunda parte, continuada pelos seus herdeiros. Não notei. Ainda bem. Talvez, se Pearl a tivesse acabado, esta obra não terminasse assim... Mas creio que dentro do possível e para que não se desvirtue o que ela escreveu, o final foi bem conseguido!

Recomendo! 

Terminado a 12 de Agosto de 2015

Estrelas: 5*+

Sinopse


Sou suficientemente americana, talvez, para querer casar-me contigo passando por cima de tudo aquilo que sou, mas, ai de mim, chinesa que baste para saber que devo ponderar.
Que pode o conhecimento dos livros contra a experiência íntima da vida? Randolph, jovem de extraordinária criatividade, parece ter um destino traçado para o êxito. Nascido nos Estados Unidos, parte pela Europa e Ásia com o desejo de descobrir o mundo vivendo-o, numa sede interminável de sabedoria.
Numa estadia em Paris, o seu caminho cruza-se com o de Stephanie. Filha de pai chinês e mãe norte-americana, também ela procura compreender e encontrar um lugar que seja seu, dividindo-se entre duas culturas aparentemente opostas. Separados durante longos intervalos e assim entregues aos seus fantasmas pessoais, preparam-se os dois para descobrir que se pode conciliar o conhecimento e a experiência, bem como as heranças ocidental e oriental, mas isso terá um preço…

domingo, 16 de agosto de 2015

Ao Domingo com... Lara Corrêa

Quando era pequena, sempre gostava de imaginar mundos e situações. Sempre gostei de terras encantadas em que as plantas e animais falavam e eram nossos amigos, onde existiam princesas, fadas e bruxas malvadas. Adorava imaginar a história de cada um desses seres, de como se relacionavam e dos conflitos que viviam e a solução para resolvê-los.

Ainda bem pequena, fui desafiada com os outros alunos da classe a escrever e confeccionar um livro para a Mostra Cultural da escola.  Lembro-me de senti-me muito animada com a tarefa, mas também um pouco preocupada por não saber sobre o que escrever. Utilizei, então, o que adorava na época: animais. E criei uma fábula de uma leoa de circo e seu domador. 

“A Leoa do Circo”, foi uma das maiores satisfações por algo que já construí, pois, além de escrever a pequena história, também pude ajudar a confeccionar o livro. Hoje, não tenho muita certeza se ainda possuo-o guardado, até porque muitos anos se passaram, mas guardo-o na memória com muito carinho, pois foi a partir dele que comecei a escrever.

Anos se passaram e eu já não imaginava tantos reinos encantados, mas parti para escrita de pequenos poemas românticos. Fiz das minhas agendas fieis companheiras e lá guardava cada uma das minhas singelas criações. Ainda hoje, um parente ou outro comenta que possui guardado um dos meus pequenos poemas, com que eu adorava presenteá-los.

Algo muito marcante foi o elogio da minha prima, poetisa com vários livros publicados, Lúcia Helena Corrêa. Ela foi a primeira a ver talento em algo tão simples e suas palavras e incentivo estão guardados no meu coração para sempre.

Saindo da adolescência e entrando na vida adulta, embora tenha me distanciado um pouco da escrita, permaneci imaginativa, até o momento em que, ao ler um livro de uma brasileira, senti que era o momento de pôr uma das minhas histórias no papel e assim nasceu “Nunca me Esqueça”.

Meu primeiro romance, Nunca me Esqueça, foi um desafio a ser vencido por mim, pois apenas sonhara em ser escritora profissional. Pensei que publicar seria muito difícil, que talvez nenhuma editora se interessasse por meu original, mas fui surpreendida com várias respostas positivas.

Hoje, Nunca me Esqueça está disponível no Brasil e em Portugal em formato físico e digital e representa um sonho realizado e primeiro degrau da minha carreira de escritora.

Lara Corrêa

        

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Os Muitos Nomes do Amor" de Dorothy Koomson

Pouco tenho a dizer deste livro. Em poucas palavras: adorei!

Sabem aqueles livros que, poucas páginas lidas, já vos fazem estar noutro lugar e noutras vidas? E que custam a largar para voltar para a nossa vida porque precisamos com urgência saber o final? Pois é, este é um deles.
A escrita de Dorothy é apaixonante, os personagens tão reais que às vezes olhamos para o lado e visualizamos/imaginamos a sua presença, os cenários integram-se na história sem que seja preciso grandes descrições. A trama então, nada há a apontar! Perfeita! 

Cheia de pequenos /grandes mistérios que prendem a nossa atenção e que fazem com que a personagem principal - uma mulher negra adoptada por um casal branco e que acidentalmente conhece a sua família de origem - nos seja muito querida porque aje como um de nós, com hesitações, dúvidas mas também com coragem e determinação. Temas como o racismo e a adoção são subtilmente e sabiamente abordados.

Uma história cheia de imaginação mas que bem podia ser real, que nos leva a mergulhar de imediato nas palavras da autora, escrita com uma mestria verdadeiramente invejável.
Nota máxima pelas horas de leitura em que estive completamente submersa na trama.

Terminado a 11 de Agosto de 2015

Estrelas: 6*

Sinopse

Clemency Smittson foi adotada em bebé, e a única ligação à mãe biológica é um berço de cartão com borboletas pintadas à mão. Agora adulta, e em constante conflito com sentimentos de perda e rejeição, decide mudar drasticamente de vida e voltar a Brighton, a cidade onde nasceu.
Mas Clem não sonha que é lá que vai encontrar alguém que sabe tudo sobre a sua caixa das borboletas e a verdadeira história dos seus pais biológicos.
E quando percebe que nem tudo é o que parece, e que talvez tenha sido injusta com aqueles que mais a amam, haverá tempo para recuperar o que foi perdido?

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A Escolha do Jorge: A Viagem Vertical


São poucos os livros que nos agarram de imediato a partir da primeira página mantendo a atenção do leitor até ao fim da narrativa. Os autores que conseguem tal proeza gozam de facto de mestria nas palavras e até genialidade capazes de prender o leitor com a mesma expetativa e inquietação ao longo de toda a obra.
Em concreto, imaginemos o septuagenário Federico Mayol, o personagem principal de "A Viagem Vertical", no dia a seguir à comemoração das suas bodas de ouro do seu casamento ser surpreendido pelas seguintes palavras de Julia, sua esposa:
"- Se não tivesse tanto medo de ti, se o meu caráter fosse mais forte, atrever-me-ia agora a dizer-te o quanto me gostaria… (…) Está bem (…), tu assim quiseste, querido. Queria dizer-te o muito que me gostaria que te fosses embora, que te fosses embora desta casa para sempre e me deixasses só. Sim, dir-te-ia isso. Vai-te embora, Federico. Deixa-me só, quero saber quem sou, preciso disso." (p. 11)
Perante uma abordagem desta natureza, Federico Mayol mói e remói a cabeça em busca de explicações para o sucedido que é simultaneamente uma proposta-decisão da sua esposa Julia. Mayol deambula pelas ruas de Barcelona, de bar em bar, junto dos amigos e dos seus três filhos à procura de respostas, assim como de soluções face à sua atual situação de crise matrimonial que a bem da verdade se vai traduzir em crise existencial.
Mayol vê-se confrontado com o facto de afinal os amigos não serem assim tão seus amigos até porque os seus verdadeiros amigos, os da velha guarda, esses já partiram, restando apenas os encontros com uns quantos amigos apenas como forma de passar o tempo, falando assim da atualidade política, e outras questiúnculas do quotidiano.
Federico Mayol é um fervoroso nacionalista catalão tendo em tempos tido assento parlamentar naquela província independentemente de não ter tido estudos. Federico Mayol vive sob o estigma de ter-se visto obrigado a abandonar os estudos quando a escola foi encerrada quando era adolescente, nas vésperas da guerra civil (1936-1939), tornando-se um voluntário da Cruz Vermelha durante esse período conturbado da história do seu país.
Mesmo com uma baixa escolaridade, Mayol é daqueles casos de sucesso em termos profissionais na medida em que construiu uma grande companhia de seguros cuja direção passou ao seu filho mais velho, agora com 50 anos de idade.
É na sequência desta crise familiar que Mayol constata que afinal também os seus filhos vivem vidas com bastantes problemas sobretudo de natureza emocional, pois também o seu filho mais velho sente-se desiludido com o emprego e deixou de amar a sua esposa. Sente-se triste e frustrado, sentimentos que conduzem à incompreensão por parte de Mayol. Também a sua filha vive uma situação permanente de adultério consumado, o que colide com a formação de católico convicto de Mayol ainda que não seja praticante. Já o filho mais novo dedicou-se à pintura e é encarado por Mayol como uma pessoa desprezível na medida em que vive no mundo dos sonhos assumindo como novo desafio receber a inspiração através dos sonhos para pintar o Porto Metafísico pelo qual se tornou permanentemente obsessivo.
Face a uma tomada de consciência de que a realidade dos outros à sua volta também aguarda por melhores dias, Mayol embarca então numa viagem à procura de si mesmo que tanto geográfica como pessoalmente se trata de uma viagem vertical, sem retorno, ao contrário da Odisseia que se apresenta como uma viagem circular, com retorno.
Neste sentido, Mayol viaja até ao Porto, Lisboa e Madeira para périplos de curta e média duração até que o destino e o sentido da viagem o chamem para embarcar rumo a um próximo destino que possa servir de ancoradouro à sua própria vida.
É neste contexto de viagem dentro da viagem que o leitor ganha consciência da importância do narrador que não está ali por acaso. O narrador vai desempenhar um papel deveras importante no decurso da narrativa, tornando-se a questão central da narrativa cabendo-lhe os desígnios de Mayol relativamente à concretização dos passos a dar a partir da Madeira.
É com este narrador que "A Viagem Vertical" vai ganhando brilho tornando-se naquele género de obras que desperta o leitor para a arte da literatura não só no que respeita à história, à narrativa em si mesma, mas à forma como a narrativa é apresentada, tornando-se, nesta obra em particular, um livro dentro de outro livro que não só enaltece o escritor, mas também empolga o leitor graças à experiência estética que lhe é facultada.
O acaso é uma das pedras de toque nesta obra na medida em que a descrição dos passos dos vários personagens é vista sob a forma de um jogo de computador em que o leitor consegue visualizar mentalmente. É esse acaso que faz e simultaneamente não faz a realidade acontecer.
É também durante estas pequenas viagens dentro da grande viagem da vida que Mayol compreende que há um tempo para tudo na vida e que agora que está sozinho todo o tempo que constata que tem bastante dificuldade em fazer novas amizades e que as pessoas, à semelhança da sua longínqua e amada Barcelona, também vivem com as suas tristezas e frustrações.
"No fim da minha vida, pensou Mayol, será melhor sentir o pó do caminho, a incerteza. E quando a morte me visitar, que me encontre sem família, sentindo apenas fadiga e sensação de perda e um alegre desconsolo.
No fim de contas, sempre estive assim. Só." (p. 84)
"Sentiu uma angústia cósmica, um desassossego profundo ao ver que não sabia para onde encaminhar os seus passos, a sua vida." (p. 121)
Entre uma Lisboa cuja localização geográfica alude a uma cidade em que nunca se sabe se é o início ou o fim de uma viagem, e uma Madeira com inúmeras alusões de Platão à Atlântida, o mítico continente afundado, levanta-se uma outra questão fundamental, a importância do lugar e a necessidade constante de o homem sentir que ocupa um lugar no mundo em que vive.
É neste sentido que é apresentada a tese do "homem fora do lugar", pois, segundo Mayol, "sem querer, [Julia] fez-me um pequeno favor ao transformar-me em alguém consciente de ser um homem fora do lugar. Porque isso é o que sou. Um velho, um homem fora do lugar." (p. 54)
Em sentido mais alargado, Mayol vai mais longe ao afirmar "(…) Só os velhos são verdadeiros homens, pois estão fora de lugar. Que absurdo pensar que um homem deve ocupar um lugar na vida, que absurdo, e no entanto muitos jovens acham que têm de lutar para ter um lugar no mundo, um sítio que não existe porque todos os homens estão fora de lugar, mas só os velhos o sabem e por isso têm a possibilidade de sentir-se felizes ao saber-se fora do mundo e afundando-se cada dia mais no seu atraente abismo próprio. Além disso, pensava Mayol, os velhos podem enganar a morte e jogar com ela imitando a astúcia enganosa da vida." (pp. 201-202)
Este "abismo próprio" é nada mais que a própria "Viagem Vertical" a que todos estamos sujeitos, em que toda a humanidade embarcou, e simultaneamente o espaço e o tempo em que pode ser feliz.

Texto elaborado por Jorge Navarro

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"O Fim das Estações" de Will North

Tendo lido os dois livros deste autor (Entre o Céu e a Montanha e Água, Pedra, Coração) e gostado muito, estava bastante expectante com esta leitura. Gostei e envolvi-me com os personagens principais muito embora alguns merecessem uns valentes abanões...

Will North sabe como ninguém descrever os cenários, as paisagens e os personagens. Com descricões pormenorizadas dos locais e das situações passadas, o autor apresenta-nos uma história passada num ambiente idílico, junto ao mar, na época balnear. Leitura apropriada para esta época e óptima para levar de férias. Leve q.b. mas repleta de personagens complexos e de histórias dentro da história que nos levam a passear entre presente e passado sem que nos percamos.

Colin encontra Pete, a mulher que amou toda a sua vida, entre a vida e a morte. Num espaço de poucos dias tenta desvendar o mistério que se lhe depara. Quase em coma alcoólico, com hematomas no corpo, Pete não poderia ter-se deslocado para aquele local sozinha. E este mistério leva-o a tentar protegê-la da sua própria família, temendo que esta lhe tenha feito algum mal. Mas aprende que não conhece Pete tão bem quanto pensava e que o amor pode estar noutro lugar...

Terminado em 7 de Agosto de 2015

Estrelas: 4*+

Sinopse

A caminho do trabalho, Colin Ryan encontra Pete - a mulher que ama há 30 anos e que é casada com o seu melhor amigo - caída inconsciente numa curva perigosa da estrada. Acreditando tratar-se de uma tentativa de suicídio, Colin faz o que sempre fez desde que se iniciou a sua amizade turbulenta: trata de Pete e conforta-a, atento às pistas que poderão resolver o mistério que a deixou quase moribunda à beira da estrada enevoada.
No típico estilo de Will North, simulaneamente lírico e apaixonante, O Fim das Estações reúne um brilhante elenco de personagens que ganham vida no belíssimo cenário de Puget Sound, no estado norte-americano de Washington.
Para mais informações sobre o livro ver Editorial Presença aqui!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Convidada Escolhe: Lugar Caído no Crepúsculo

Este é um livro de "interrogações e dúvidas sobre o que nos espera". É uma longa reflexão sobre a morte e sobre a passagem do ser para o não ser. Sendo que um dia um doutor detectou através de pesagens que há uma diferença de 21 gramas entre o peso de uma pessoa antes e depois de morrer e que essa diferença apenas existe nos seres humanos, diz-se que esse é o peso da alma: 21 gramas. Este é o título do segundo de entre os seis cadernos de que é feito o romance "Lugar caído no Crepúsculo".
O primeiro caderno e o epílogo têm como personagem central o falecido actor Tomás Mascarenhas, um homem amado pelo povo como figura pública que irá ter honras de luto nacional, após uma fulminante síncope cardíaca que o apanhou inesperadamente em plena hora de ponta na baixa lisboeta.
Os restantes quatro cadernos versam os quatro "lugares" para onde se encaminham as almas, consoante o percurso dos mortais que as habitaram enquanto vivos. O Limbo é porventura o caderno mais bem humorado de todos, aonde Erasmo Fernandes – o narrador – chega quando a sua vida acaba na Terra. O Limbo é uma coisa indefinida, uma sensaboria, um marasmo, uma modorra e é tal o desespero de quem por lá vegeta que há um movimento que se organiza e que o elege como porta-voz para que interceda junto a Deus para acabar com o sofrimento daquela modorra eterna e sem esperança. Mas o problema é que não há maneira de chegar ao inacessível Deus. Felizmente, há um papa alemão que decide abolir o Limbo por decreto papal… Todo este caderno é bem divertido, cheio de humor e ironia, em que a Igreja e os doutores eclesiásticos não são poupados.
No Purgatório, Albuquerque é designado pelo Criador como escriba para fazer o relato do que é o Purgatório e assim se redimir dos pecados terrenos. O Purgatório é uma "estação depurativa para a limpeza da nossa alma, quando encardida por pequenos e médios erros e pecados". Apesar dos milhões de almas que aí habitam, o silêncio é total; é um "não-lugar" da eternidade, sem qualquer interesse e o narrador Albuquerque queixa-se amargamente da tarefa que lhe foi incumbida. Também aqui há uma crítica impiedosa à Igreja, aos padres, aos seus vícios privados mascarados de públicas virtudes; aos médicos e à medicina que aproveita das maleitas dos doentes para ter poder e viver desafogadamente; até os taxistas que se aproveitam dos incautos clientes para fazer dinheiro desonestamente não são poupados. Muitas destas personagens vegetam no purgatório aguardando a redenção dos seus pequenos delitos para passar ao Paraíso. Albuquerque que tinha sido escritor e se nega a abjurar o que escreveu em vida será obrigado a viver eternamente no Purgatório, a pior coisa que lhe podia acontecer. "Alguns de vós sabereis que os livros, por bons ou maus que sejam, representam também «o caminho, a verdade e a vida» daquele que os escreveu".
No Paraíso, o narrador que conhecemos apenas pelas iniciais S.B., ao contrário do que pensava, foi levado por um anjo para o Paraíso, quando pensava que iria para o Inferno. Em vida tinha sido um homem rico, solitário, dado às artes e à literatura, proprietário de uma quinta e agnóstico e a conhecida frase dos Evangelhos "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino dos Céus" levá-lo-ia a pensar que o seu fim seria o Inferno e não os céus. Também este narrador é feroz na crítica às igrejas, às religiões e aos seus cultos pela soberba e hipocrisia que caracteriza muitos dos seus responsáveis e representantes. No entanto, há por lá santos mártires quase todos anónimos, o papa português João XXI e João Paulo I, que morreu envenenado. Descobre também que a Literatura não é precisa no Paraíso e é com grande felicidade que enumera diversos encontros com "guerreiros românticos" como Che Guevara ou Salgueiro Maia, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Charlie Chaplin, Salvador Dalí, Miró, Fernando Pessoa, Kafka, Samuel Beckett, Pablo Neruda, Lorca, John Lennon, Elvis Presley, Mozart, Bethoven, Verdi, Wagner, Callas ou Amália, entre muitos outros. "Pintores, músicos, escritores, artistas, há-os em abundância no Paraíso."
Por fim, o Inferno é narrado por Fernão Lourenço, um ex-corretor da Bolsa de Lisboa, alguém que em vida nunca soubera nada do género humano. Entra na barca do Inferno do senhor (Gil) Vicente no Cais das Colunas e atravessa o rio em direcção à margem esquerda do rio. Chegado ao Inferno, descobre que é povoado por todo o tipo de malfeitores, de economistas e dos responsáveis da actual crise financeira mundial, de ditadores entre os quais um português, carcereiros, juízes, torturadores, os maiores egos do mundo e milhentos inquisidores do Santo Ofício. Como refere Fernão Lourenço "o Santo Ofício parecia fazer parte da história do Inferno" e quando se compara com a maior parte daqueles facínoras, considera que as suas maldades terrenas como corretor da Bolsa não são merecedoras de um castigo tão grande como é aquele terrível e eterno frio do Inferno gelado.
O epílogo retoma a personagem do actor Tomás Mascarenhas cuja alma acompanha e observa o funeral do seu corpo de que se soltou, desde o momento da morte até ao cemitério dos Prazeres.
Esta é uma reflexão por vezes divertida e bem disposta sobre a morte, um tema frequentemente tratado "com respeito" e até com pudor, pois é muito diversa a forma como cada um de nós encara o fim da jornada, de acordo com as suas convicções filosóficas. João de Melo quis dedicar este romance extraordinariamente bem escrito "À memória viva da minha Mãe. Na sua morte." É a homenagem de um homem agnóstico a uma mulher com profundas convicções religiosas.

Almerinda Bento

sábado, 8 de agosto de 2015

"O Diário de Helga" de Helga Weiss

Nunca estamos preparados para certas leituras e nunca é demais ler sobre alguns assuntos. Com um tema como o Holocausto é assim que penso e sinto. Quando os relatos se fazem na primeira pessoa e se tratam de experiências reais, vividas pelos autores, nunca se está preparado e nunca é demais. Nem se consegue traduzir por meras palavras o que se acabou de ler porque é de toda uma vida que se trata que se viu envolvida e rodeada por tantos horrores...

Helga Weiss começa a escrever o seu diário com oito anos, em 1938. Vivia em Praga e era judia. Mais tarde, com a invasão nazi é deportada juntamente com a sua família para a cidade de Terezín, para o campo de concentração de Theresienstadt, que foi criado pelos alemães para ser mostrado como sendo um campo-modelo e que mais não era do que um local de passagem para Auschwitz. Perder aos poucos a dignidade, ver quem está ao seu redor ser humilhado e maltratado, foi só o começo. Enquando aí permaneceu foi relatando os seus dias. Trabalho intenso, fome constante e doenças. E a incerteza do amanhã sempre presente.

Mais tarde é transferida para Auschwitz e o seu diário fica escondido entre as paredes de Terezin. Se achava que tinha conhecido o horror em Terezín, estava enganada. Tudo o resto escreveu depois da guerra ter terminado já com 15 e poucos anos. Sobreviveu. Ler a entrevista que finaliza o livro foi também muito impressionante para mim. A sua força de viver manteve-a sempre alerta. As dificuldades que lhe sucederam no pós-guerra davam outro livro, também ele certamente de leitura ávida como este livro que Helga nos deixou.

LEIAM!

Terminado em 5 de Agosto de 2015

Estrelas: 6*

Sinopse

Em 1938, quando começa a escrever o seu diário, Helga tem oito anos. Juntamente com o pai, a mãe e os 45 000 judeus que vivem em Praga, sofre com a invasão e o regime nazi: o pai é impedido de trabalhar, as escolas estão-lhe vedadas, eles veem-se confinados ao seu apartamento. Depois têm início as deportações, e os seus amigos e familiares começam a desaparecer.
Em 1941, Helga e os pais são enviados para o campo de concentração de Terezín, onde vivem durante três anos. Helga regista o seu dia a dia — as condições duras, as doenças e o sofrimento, bem como os momentos de amizade, criatividade e esperança —, até que, em 1944, são enviados para Auschwitz. Helga deixa o diário com o tio que o esconde no interior de uma parede, para o preservar.
Do pai, nunca mais recebem notícias mas, milagrosamente, Helga e a mãe sobrevivem aos horrores de Auschwitz e aos penosos transportes dos últimos dias da guerra, conseguindo regressar a Praga. No momento em que regista as suas experiências desde Terezín, Helga tem quinze anos e meio. Faz parte do grupo muito reduzido de judeus checos que sobreviveu.
Reconstruído a partir dos cadernos originais, recuperados mais tarde de Terezín, e das páginas soltas nas quais Helga escreveu depois da guerra, o diário é aqui apresentado na íntegra, acompanhado por uma entrevista com Helga e ilustrado com os desenhos que fez durante o tempo que passou em Terezín. O Diário de Helga é, assim, um dos testemunhos mais vívidos e abrangentes escritos durante o Holocausto.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

"Espero Por Ti em Luanda" de Rui Calisto

Não sei se esta história é veridica. Pareceu-me que, no seu essencial, reproduz com nitidez uma altura que muitos querem recordar e muitos outros, esquecer.

Rui (Calisto?) era um menino brasileiro, de apenas nove anos, que foi visitar familiares a Luanda. Num espaço de pouco mais de um ano viveu e creceu muito rapidamente. Apaixonou-se como as crianças o sabem fazer, com intensidade. Pela terra e pelas gentes da terra. Viveu dias de paz e de guerra. De amor e de sofrimento. E é pelas suas palavras que entramos na capital e vivemos com eles esses momentos.

Lembro-me que muitos diziam que África era um amor à primeira vista! Os tons e as pessoas mesclavam-se com os sabores e cheiros e fundiam-se num só. Quem chegava não queria mais partir. Era a terra de quem lá nascia e de quem chegava. As portas abertas, a confiança e a alegria espelhadas nas gentes.

Não sei se esta história é verídica mas isso tampouco importa. Revi-me nela em muitos aspectos. Isso sim fez a diferença. Fez-me recordar os cheiros e os sabores de uma Angola que não esqueci e que guardo no meu baú das recordações de menina.

Li quase tudo num dia, acabei na madrugada do dia seguinte. Não usei velas para acaber a leitura noturna, como Rui fazia em tempo de guerra, nem li debaixo da cama, tal menino com medo dos tiros de metralhadora. Mas li a pensar nisso...

Terminado em 2 de Agosto de 2015

Estrelas: 5*

Sinopse

Aos nove anos de idade, Rui vive um drama intenso. Corria o ano de 1974, e a radiosa e próspera Luanda transforma-se num inferno. Milhares de portugueses são ameaçados pelas guerrilhas, sentindo as suas cabeças a prémio. Muitos são assassinados. O menino é obrigado a crescer.
No meio deste terrível cenário, surge uma elegante e terna morena de olhar intenso, que o vai fazer perder-se de amores.
Poderá um coração apaixonado manter-se vivo entre as tormentas da guerra?s

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Escolha do Jorge: Pyongyang – Uma Viagem à Coreia do Norte

Para os apreciadores de novelas gráficas, o nome de Guy Delisle (n. 1966, Canadá) é certamente conhecido sobretudo por obras que obtiveram um grande sucesso, como Shenzhen (2000), Pyongyang: A Journey in North Korea (2003), Burma Chronicles (2007) e Jerusalem (2011), obras que se encontram disponíveis em língua inglesa no mercado português.
Em junho chegou às livrarias a tradução portuguesa de Pyongyang – Uma Viagem à Coreia do Norte, obra que conta na primeira pessoa a experiência do autor desta novela gráfica à Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo e um dos últimos bastiões comunistas.

O autor visitou a Coreia do Norte durante dois meses para desenvolver um projeto no âmbito da animação. Durante esse tempo e de acordo com os textos e respetivos cartoons, Guy Delisle dá-nos uma visão muito pessoal de como foi a sua estadia em Pyongyang.
Acompanhado permanentemente por um tradutor e um guia, Guy Delisle vai-nos dando conta daquilo que é e não é permitido fazer naquele país que apresenta nos dias que correm um misto de leninismo-marxismo, a herança estalinista, maoísta e muita, muita loucura à mistura capaz de levar milhões de pessoas à fome graças às suas políticas sem precedentes.
É graças ao sentido de humor do autor que este consegue manter a sanidade mental durante a estadia em Pyongyang fazendo piada sobre as várias situações pelas quais é obrigado a passar. É esse mesmo sentido de humor que também nos ajuda a ultrapassar a ideia de que vários milhões de norte-coreanos vivem não só na pobreza, mas totalmente controlados por um Estado que os esmaga física e intelectualmente porque de acordo com o regime não passam de proletários que dedicam a sua vida à República Popular da Coreia do Norte centrada na política do culto do “Pai da Nação” (Kim Il-Sung) que continua a ser presidente mesmo depois da sua morte, em 1994.

Pyongyang – Uma Viagem à Coreia do Norte é, pois, uma obra notável que proporcionará as delícias dos apaixonados das novelas gráficas, contribuindo igualmente para a (in)compreensão daquele país asiático que se apresenta como sendo uma fortaleza, isolado de tudo e de todos e à espera da sua própria implosão.

Texto elaborado por Jorge Navarro

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

"A Fuga de Auschwitz" de Joel C. Rosenberg

Gostando de ler livros sobre esta época, este título despertou a minha curiosidade. Fuga? Poucos abordam este tema, precisamente porque se contam pelos dedos da mão os que conseguiram fugir desse inferno que foi Auschwitz. Muitos tentaram. Demasiados morreram. Alguns conseguiram, pouquíssimos. Queriam fugir do inferno mas também, avisar o mundo cá fora do que se passava lá dentro.

Não vos vou contar a história de Jacob, o rapaz judeu alemão, que ao fim de alguns anos conseguiu fuigir do campo de extermínio. A personagem é fictícia. Não deixa, contudo, de ser verosímil porque o autor se baseou em muitos factos que realmente aconteceram.
As cartas de alguns presos para os seus entes queridos, afirmando que se encontravam bem de saúde e que só eram obrigados a trabalhar para o esforço de guerra alemão, existiram realmente. Assim como o facto de muitas delas referirem entes queridos já falecidos e para os quais enviavam "abraços e beijos", tentando dessa forma que os parentes percebessem que algo de errado se passava.

O "Protocolo de Auschwitz", um documento feito por alguns prisioneiros que reuniram "provas" do que se estava a passar dentro dos campos, também existiu. Saber que o mundo fechou os olhos ao extermínio dos judeus e de todos os que se encontravam prisioneiros, que não quis ouvir, que não quis ver, mesmo quando relatos vivos e provas documentais conseguiram escapulir-se dos campos de concentração, dói.

E hoje? Quantos relatos nos passam pelos olhos e não nos chegam ao coração?
Gostei muito desta leitura. Muito mesmo. A nota máxima

Terminado em 31 de Julho de 2014

Estrelas: 6*

Sinopse

Uma terrível escuridão ameaça a Europa. À medida que Hitler implementa a «solução final», um judeu e um pastor protestante precisam de confiar nas suas capacidades e num Deus que já não sabem se existe ou não, a fim de escapar aos horrores de Auschwitz. Inspirado em relatos reais de presos e deportados e nas histórias dos poucos que conseguiram escapar aos campos de extermínio, A Fuga de Auschwitz é uma obra impressionante que depressa se tornou bestseller internacional. Nele encontramos os horrores escondidos por trás dos muros dos campos de concentração, a luta diária dos sobreviventes e a coragem de todos aqueles que tentaram escapar aos nazis.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A Convidada Escolhe: Portugal Pelo Mundo Disperso

«Portugal Pelo Mundo Disperso», obra constituída por 32 ensaios, coordenada por Teresa Cid, Teresa
F. A. Alves, Irene M. F. Blayer e Francisco C. Fagundes, não foi uma leitura corrida para mim, ao contrário fui lendo e apreciando. Embora o tema transversal seja o mesmo, a emigração portuguesa, o exílio ou na generalidade a diáspora, a diversidade das abordagens interessou-me bastante.
A paixão dos portugueses por conhecer novas gentes e novos destinos manifestou-se sempre e mais notoriamente a partir da expansão. A aventura, o procurar uma vida economicamente melhor, perseguições políticas ou religiosas e mais recentemente a procura de mais saber junto de instituições estrangeiras a fim de poderem ser alcançados objetivos que em Portugal não seria possível alcançar, são alguns dos motivos que levaram e levam os portugueses a sair da sua pátria.
Neste livro são estudadas várias levas migratórias, para vários destinos e em várias épocas, bem como os diversos modos como foram melhor ou pior conseguidas as adaptações, as influências levadas e adquiridas, os filmes que foram realizados e que se debruçaram sobre este tema, as festas dos emigrantes nas terras de destino e ainda as que lhes são proporcionadas em Portugal aquando das suas visitas. As esculturas existentes em Portugal dedicadas aos emigrantes são também alvo de estudo, bem como testemunhos artísticos, populares e jornalísticos dos portugueses dispersos. Saliento o estudo feito tendo como base o correio da Venezuela nomeadamente, nas «Cartas do Leitor» e «Histórias de Vida» onde se encontram registos de vivências de vida dos emigrantes naquele país.
O tema da emigração esteve sempre presente na literatura portuguesa. Interessaram-me muito, porque gosto de literatura, as abordagens e análises feitas por alguns ensaístas aos autores emigrados ou exilados, a análise da sua vivência, dos seus motivos e da sua obra e as semelhanças e as diferenças como aceitaram estar longe do seu país. José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena, Miguel Torga, Mário Henrique Leiria, Onésimo Teotónio Almeida e outros. A obra de João de Melo «Gente Feliz com Lágrimas» é revisitada na sua versão escrita e fílmica de Zeca Medeiros, porque "existem imagens de diáspora na obra", bem como «A Quinta Essência» (a crise de identidade de um macaense dividido entre duas culturas) de Agustina Bessa-Luís no ensaio Memórias de Macau.
Vários outros ensaios se dedicam a obras literárias, consideradas contributos para os estudos da diáspora portuguesa, independentemente do autor ser ou não português e da língua em que se exprime.
Um dos ensaios debruça-se e analisa quatro romances portugueses do último meio século, nos quais é dada voz a emigrantes portugueses em França, com personagens bilingues, que misturam as duas línguas e usam estrangeirismos no seu dia-a-dia. É muito interessante.
No ensaio que tem como alvo o romance «Lisbonne, Paris, Tôkyo: Jaime Baltasar Barbosa», de Brigitte Paulino-Neto, francesa, filha de pais há muito radicados em França, que a autora analisa com pormenor, a minha atenção foi chamada para a bifurcação cultural e tradição migratória portuguesa, próxima ou longínqua, para um povo sempre dividido entre os que ficam e os que partem, um presente com a memória do passado, confronto da atualidade com o histórico.
A literatura de Macau, por intermédio do livro em chinês, «As Alucinações de AO Ge» de Liao Zixin, que nascida no Camboja, fixou sua residência em Macau onde ainda reside, deu lugar a um ensaio, sendo a autora, segundo o ensaísta, fruto de uma certa diáspora. A narrativa em apreço foi publicada alguns meses antes da transição administrativa do território de Macau para a China, sendo as suas personagens chamadas de «macaenses-portugueses».
Dos descendentes dos primeiros emigrantes libaneses no Brasil nasceu uma literatura de ficção em língua portuguesa na qual se conjugam várias tradições e onde se nota também uma mistura de línguas, espelho da vivência real nas várias comunidades. Este tema foi abordado num dos ensaios.
O êxodo açoriano, recurso para vencer a miséria, cativou poetas, cronistas e ficcionistas. Dos seus autores se ocupa o ensaio "Emigrar os sonhos como se os tivesse".
A finalizar escritores e artistas que em diversos registos, dão testemunho da criatividade portuguesa pelo Portugal disperso.
Desta obra muito interessante ficou-me o que foi afirmado algures: a literatura de expressão ou inspiração portuguesas, indicia, muitas vezes, que não pertencemos a um único sítio mas sim a muitos lugares.

Textos de: Helder Macedo | Jorge Fazenda Lourenço | Maria Luísa Leal | Gilberta Pavão Nunes Rocha | Eduardo Ferreira | Maria Zina Gonçalves de Abreu | Mário T. Cabral | Maria Isabel João | Daniel Ribas | Tiago José Lemos Monteiro | Maria Beatriz Rocha-Trindade | Lélia Pereira da Silva Nunes | Maria Teresa Nascimento | Anabela Branco de Oliveira | Onésimo Teotónio Almeida | Ana Aguilar Franco | Paula Mendes Coelho | Isabel Maria Fernandes Alves | María Noguera Tajadura | Tania Martuscelli | Mónica Simas | Francisco Cota Fagundes | Isabelle Simões Marques | Jaime Baltasar Barbosa | Lourdes Câncio Martins | Gustavo Infante | Rosa Maria Sequeira | Álamo Oliveira | Ana Mafalda Leite | Brigitte Paulino-Neto | Eduardo Bettencourt Pinto | Fernanda Dias | Pedro Paixão

Maria Fernanda Pinto

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"Cinco Dias de Vida" de Julie L. Timmer

Terminei este livro com uma lágrima no canto do olho e por várias vezes me emocionei com a sua leitura. São duas histórias que decorrem paralelamente quase não existindo ligação entre elas. O elo de ligação é a internet, dois amigos virtuais que não se conhecem pessoalmente e que nunca se encontram.

As suas vidas são marcadas por diferentes acontecimentos, que muito bem poderiam suceder a qualquer um de nós. Os temas são diversos e passam pela adopção provisória, pela sua aceitação ou não por parte dos membros de uma família, e vão até a doenças incapacitantes (Doença de Huntington) que mudam por completa a vida de quem as tem ou da sua família. Como adoptar sem que haja uma entrega total e quando é que se está preparado para deixar ir embora quem se amou como um filho verdadeiro? Como se vive com uma doença que cada dia que passa nos consome as forças e nos limita cada vez mais, até passarmos a um estado vegetativo?

Soctt e Mara são os protagonistas destas histórias e não se conhecem. São amigos na internet. As suas vidas não se cruzam verdadeiramente. Nunca se cruzam verdadeiramente...

Gostei muito desta leitura. A vida é assim mesmo. Vários caminhos, várias histórias. Alguns pontos de contacto. Poucos e muitas vezes virtuais. Umas têm um final feliz. Outras não.
Uma leitura empolgante. Um final que dói.

Terminado em 25 de Julho de 2015

Estrelas: 5*

Sinopse

Mara é uma advogada de sucesso, tem um casamento feliz, é uma mãe dedicada. Tem, também, uma doença devastadora que esconde do marido e da filha pequena. Ama-os demasiado para aceitar ser um fardo para eles. E tudo corre bem durante alguns anos. São anos maravilhosos mas sobre os quais paira a sombra da sua decisão aquando do diagnóstico: viverá enquanto puder manter-se digna. Agora que o seu corpo está finalmente a ceder, Mara estabelece um doloroso prazo: dentro de cinco dias, acabará com a sua própria vida.
A mais de mil quilómetros de distância, Scott tem também apenas cinco dias para cuidar de Curtis, um menino que acolheu em sua casa e que será agora novamente entregue à mãe, que está prestes a terminar uma pena de prisão. Foi com Scott que Curtis conheceu a estabilidade e o amor e desfrutou plenamente da infância pela primeira vez. O que o espera é uma angustiante incógnita. Para proteger Curtis, Scott tem agora de abdicar dele para sempre.
Mara e Scott são duas pessoas em contagem decrescente. Inesperadamente, as suas vidas vão cruzar-se e unir-se numa amizade que os acompanhará ao longo da semana mais difícil das suas vidas. E, no final dessa dura semana, qual deles estará feliz? Qual estará de luto? E qual deles terá desaparecido para sempre?

domingo, 2 de agosto de 2015

Ao domingo com... Miguel Quintas Martins

Sempre agi em conformidade com as “minhas” ambições. Sempre defini os “meus” caminhos, liberto
de arrependimentos futuros...e digo “minhas e meus " não por egocentrismo mas pela alegria com que escrevo...e hoje tenho consciência da “minha” felicidade para libertar o “meu” desejo.

Nunca morri...mas renasci vezes sem conta, repleto de ideias e desejos acerca de tudo o que amo. Sinto que sou com a devida precaução, um gatinhar de aprendizagem, um andar de compreensão e fundamentalmente um correr de encontro á ambição.

Apesar de ter caminhado em inúmeras vidas, continuo a crer imprescindível que a ingenuidade esteja de mão dada com as vivências que preenchem a alma, de outra forma a curiosidade não serviria as minhas metas pessoais. Levantar questões é a intransigência  que me move de forma a desc
ortinar e dar o devido valor ás descobertas do caminho que percorro...
  
Será que o sonho faz parte de uma vida? Ou a vida faz parte de um sonho? É neste antagonismo que habita o meu bem estar, que defino as “minhas” palavras, construindo enredos mediante o estado de espírito que me rodeia.
Considerando que cada ser humano é um retrato do somatório das suas experiencias, acredito que padeço das ideias remanescentes da curta vida em que me encontro agora. E sei que essas mesmas ideias provêm do sonho que ainda agora nasceu.

Será que voltarei a renascer? Não se trata duma dúvida existencial, mas sim da vontade que me consome. Terei de ser determinante e responder de uma forma decisiva e concreta que não quero voltar a renascer. Sempre tive o discernimento de me considerar um privilegiado e ter tido a felicidade como “minha” companheira fiel, da qual nunca me queixei, nunca discuti, nem nunca me abandonou. Por isso acredito que o meu ex libris é este estado de alma nunca antes  desbravado.

Quem sou eu? Sei o que fui, mas também sei o que sou e acredito no que serei. Defino-me  simplesmente sendo alguém. Alguém com a idade que tem, e caminhos percorridos como tantos os que leem as palavras que escrevo.

O “Meu” nome é Miguel Quintas Martins, nascido no dia 20 de Abril de 1976 em Angola, na quinta da Sagrada Família. Portugal é o lar do “meu” corpo e o Universo o lar da “minha” mente...e com os livros que escrevo procuro definir de forma simples o mundo em que vivemos, procuro entender com facilidade ( não das palavras que ainda agora foram lidas mas com as palavras que escrevo os livros que são vividos por mim) as experiencias e desejos de cada um de nós.

“O Suserano”, é um romance, uma história, um enredo englobando suspense e mistério. Repleto de factos históricos em consonância com a ficção que muitas vezes idealizamos acrescem casos amorosos, justiça, guerras, frustrações sociais, percas sentimentais, violência psicológica e ideais assumidos pelos personagens criados para a obra em questão.  

...despeço-me desejando a todos boas leituras e que se divirtam tanto a ler este “meu” livro, como eu me diverti a escrevê-lo.

Bem hajam.

Miguel Quintas Martins...

livrosmiguelquintasmartins@gmail.com

sábado, 1 de agosto de 2015

Oficialmente de FÉRIAS!



Livros para levar na bagagem...

Na minha caixa de correio


Entrei finalmente de férias. Comigo vou levar o iped e um pilha de livros e ainda este visitante que chegou esta semana a minha casa, oferta do Clube do Autor.