Cris
Solitária é superação.
É esperança.
Quantas prisões existem em cada um de nós? E de quantas ainda tem o mundo de se libertar? «Eu e mamãe continuávamos ali, na gaiola dourada do edifício Golden Plate.
Éramos pássaros dentro de um viveiro luxuoso, mas uma jaula deixa de ser a vilã da liberdade só porque é pintada de dourado? Tínhamos asas condicionadas que vez ou outra nos levavam para outros pousos: nossa casinha no subúrbio distante ou para algum outro lugar, mas o retorno ao ‘criadouro’ era certo.
«Não há paz enquanto se habita o tumultuado quarto de despejo — seja ele real, seja metafórico.
O silêncio da solitária é um estrondo, uma trovoada de desprezo que não para de soar na cabeça e na alma.
(…) Foi com a consciência muito atenta a esse fato que Mabel e Eunice finalmente me deixaram chegar em suas vidas.»
Cris
Mimo, nascido em França mas filho de pais italianos, depois da morte do pai, é mandado pela mãe para Itália, para casa de um parente para aprender um ofício: esculpir pedra. A sua estatura muito pequena não influencia a sua maneira de ser e de ver a vida, muito embora tenha sofrido e sido gozado por isso durante a sua vida. Mas Mimo descobre que a pedra pode ser esculpida com amor e com arte. E é com este narrador que começa esta trama que se desenvolve em seu redor.
Sinopse
Agosto de 1986.
Num mosteiro italiano, um homem encontra-se às portas da morte, entregue aos cuidados dos monges que ali habitam.
Durante 40 anos, viveu entre eles, para «velar por ela».
«Ela» é a sua última obra, uma estátua que perturba quem a vê, mas cuja história e origem permanecem em segredo.
No leito de morte, o homem revisita o seu passado, desde os tempos de aprendiz de um escultor alcoólico e violento, no planalto de Pietra d'Alba, reduto da poderosa família Orsini.
Recorda sobretudo Viola Orsini, que gosta deste escultor anormalmente pequeno, com mãos de génio e mente livre.
Desde o seu primeiro encontro, na adolescência, Viola e Mimo percorrerão lado a lado a primeira metade do século xx, testemunhando a ascensão do fascismo e a agitação das guerras mundiais.
Ele torna-se um artista prodigioso, muito requisitado pela elite; ela tenta incansavelmente perseguir os seus sonhos de mulher emancipada.
Ambos se perderão e encontrarão continuamente, como amigos ou inimigos, sem que nenhum deles desista dos fortes laços que os unem.
Velar por ela é um romance arrebatador, que nos dá a conhecer duas personagens inesquecíveis e uma história de afetos que insiste em manter- se no tempo, contra todas as probabilidades.
Cris
É ficção pelo que as personagens que nele surgem não existiram mas relata uma realidade passada no séc. XIX, 1834, maioritariamente na Ilha de Barbados. Mesmo após o fim da escravatura, os escravos ficariam a servir como aprendizes durante seis anos para o mesmo senhor. Ou seja, continuariam escravos, com as mesmas condições (ou falta delas!).
Para Rachel, a protagonista desta história, foi a gota de água. O seu pensamento permaneceu sempre com as cinco crianças que lhe foram tiradas e das quais nada sabia. A sua fuga para Bridgetown, que depois a levou para outros sítios, em busca dos filhos é um caminho que percorremos com ela, partilhando os seus medos de ser descoberta, as suas alegrias e tristezas ao saber dos seus destinos. Fica-se preso às palavras da autora que tão bem soube traduzir esses sentimentos e passá-los para o leitor.
Não é difícil imaginar situações semelhantes que terão ocorrido nessa época nem tampouco extrapolar para outros relatos que conhecemos. As dificuldades dos ex-escravos não acabaram com o fim da escravatura e o racismo, infelizmente, nos dias de hoje ainda mostra os seus dentes.
Gostei e recomento muitíssimo esta leitura que se faz num ápice pese embora as suas 300 páginas. Nada em demasia, sem tempos mortos, um livro perfeito para quem gostar desta temática.
Terminado em 15 de Setembro de 2024
Estrelas: 6*
Sinopse
«É isto a liberdade?», pergunta-se Rachel enquanto corre por uma floresta mergulhada na escuridão.
Aterrorizada e exausta, foge da plantação onde passou toda a vida, do trabalho exaustivo e de um patrão brutal.
O mesmo que, naquela manhã de 1834, anunciou o fim da escravatura para depois acrescentar que todos teriam de servir como aprendizes durante seis anos ao abrigo da Lei da Emancipação.
Um escárnio cruel.
Foi então que algo em Rachel estalou.
Porque dentro dela há cinco rostos que o tempo não pôde apagar: os das crianças que lhe foram arrancadas, empurradas para um destino que ignora.
Estarão vivas? Serão escravas como ela? Se os encontrasse, reconhecê-la-iam? Encontrar os filhos torna- se a verdadeira liberdade.
A viagem é difícil, o caminho longo e perigoso, as informações não são de fiar, tal como as pessoas que lhe oferecem ajuda.
No entanto, ela continuará até que as histórias dos filhos – como as águas de um rio – se fundam com a sua, para criar uma história maior, a de uma família.
Só então, e pela primeira vez, será livre.
Dos campos de Barbados ao movimentado mercado de Bridgetown, da Guiana Britânica às florestas de Trindade, nestas páginas desenrola-se uma viagem de esperança, um hino à força do sangue e ao amor infinito de uma mãe.
Cris
A escrita de Isabela Figueiredo não me desilude. Depois de “A Gorda” e de “Caderno de Memórias Coloniais”, este, que é o mais recente romance da autora, tem a fluidez e a sinceridade de um romance do quotidiano, das pessoas concretas e nem sempre visibilizadas. Logo a começar o romance, a autora aguça o interesse para a leitura do que virá a seguir: “Quando conheci a minha vizinha do lado a minha vida mudou” (pág. 19) e termina com “ninguém entra na nossa vida por acaso” (pág. 292).
Um romance sobre a solidão, as solidões. Será a solidão uma escolha ou antes fruto de alguma coisa que correu mal? As famílias que se desentenderam? Uma paixão não correspondida? Uma mágoa que não se apagou? José Viriato e Beatriz são dois recolectores: do lixo dos outros, dos “despojos de consumo excessivo” (pág. 45), de cenas, imagens, detalhes captados em fotografias. Cada um com o seu percurso. Ele escolheu viver a sua liberdade, sem conta bancária nem patrões, fazendo o seu próprio horário ao avesso do dos outros; ela enclausurou-se, rodeou-se das suas lembranças, era misteriosa, com a alcunha de “Matadora” para os vizinhos que viam nela uma personagem de filme policial. Se a avó Josefa a viver em Mafra era a única familiar de José Viriato, os cães – Nossa Senhora e Revoltado – livres como ele, eram os seus companheiros e a sua “prioridade” (pág. 87). Beatriz não tinha qualquer familiar e a única amiga que tivera – Nani – há muito falecera.
Estamos no final da segunda década de 2000, antes da pandemia, o contexto que se vive no mundo e na Margem Sul, onde vivem, é-nos recordado: a violência no Brasil de Bolsonaro, a revolta dos coletes amarelos em França, o surgimento de um partido de extrema-direita em Portugal, as incursões racistas da polícia no Bairro da Jamaica. Observador atento aos pormenores, “às miudezas” (pág. 72), sentado no Café Colina, José Viriato atenta no envelhecimento das pessoas e na triste realidade de que “destratar os velhos se tornara costumeiro” (pág. 76) o que lhe traz sentimentos de culpa, ele também pouco atento e nada presente na vida da avó, “alguém na prateleira” (pág. 78), a viver sozinha em Mafra.
As suas histórias que estes dois solitários vão partilhar um com o outro vão-nos sendo desvendadas em flashbacks e igualmente esses episódios das suas vidas vêm agarrados à história, aos tempos a seguir à revolução, as eleições presidenciais, os retornados, os anos 80 e a droga. E se o passado foi decisivo para o que eles são na actualidade, o título do terceiro e último capítulo do romance – “O passado acabou” – é o apaziguamento de duas pessoas que conseguiram ultrapassar a sua solidão, apoiando-se, sem deixarem de ser livres e independentes.
Uma bela história de superação. E de esperança. Nada escrevi aqui sobre Cristo, o primeiro cão de José Viriato e sobre a relação entre eles, tão importante em momentos difíceis no desenrolar da sua adolescência. Fico-me por algumas citações: “Ele não era a minha sombra, mas uma parte de mim” (pág. 153), “Os cães eram a única prisão na qual queria viver” (pág. 239), “O Cristo e o lenço da minha mãe foram a única bagagem que carreguei para casa da minha avó.” (pág. 203).
7 de Novembro de 2024
Almerinda Bento
Falaram-me desta autora e a minha curiosidade levou a melhor, tanto mais
Sinopse
«"Morte na Pérsia", livro escrito na primeira metade dos anos 30 mas que se manteria inédito até 1995, é um relato de viagens como nenhum outro. Annemarie parte para tentar escapar à ascensão alarmante do nazismo na Europa mas também à família, à infelicidade amorosa e à sua própria depressão. Empreende assim uma viagem em que se depara com a impossibilidade radical de fugir de si mesma. As paisagens persas adquirem as tonalidades da melancolia e da angústia da escritora. É esta viagem, simultaneamente por estrada e pelos atalhos mais recônditos da alma humana, que faz de "Morte na Pérsia" um livro comovente.»
Carlos Vaz Marques
Cris
Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 5, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:
Já não tenho recordações muito específicas da história deste livro mas a ideia geral está ainda cá. É o que dá não fazer as opiniões a quente, como gosto…
Cris
Andava há muito para ler esta obra e espero não demorar tanto a ler a sua continuação pois, temo, será fácil esquecer-me de pequenos detalhes que podem fazer a diferença numa leitura.
No princípio não me cativou como esperava, sobretudo porque não conheço ninguém que o tenha lido e que não tenha gostado muito. Pensei por isso que entraria na história num ápice! Não foi assim e custou-me dar conta de tantas personagens e suas histórias pessoais que gravitam em torno de Olive e marido. Tampouco fixei seus nomes...
Da história de Olive, sim, gostei muito e fiquei muito curiosa em saber mais sobre ela. Apreciei, sobretudo, a forma como esta personagem foi construída e o seu carácter, das suas falhas enquanto ser humano, do seu crescimento, da maturidade crescente que lhe advém com a idade. Com muitas camadas, não é fácil sentir empatia com esta personagem de grande porte fisico e muito ríspida, para com os que a rodeiam, inclusive o seu marido que é um doce de pessoa. E, no entanto, é precisamente isso - essa complexidade - que é de particular interesse para o leitor.
Quero ler o quanto antes a "A Segunda Vida de Olive Kitteridge" e ver a mini série da qual já ouvi falar bem!
Terminado em 26 de Agosto de 2024
Estrelas: 5*
Sinopse
A obra mais importante e comovente de Elizabeth Strout, autora premiada de O meu nome é Lucy Barton e Tudo é possível. Em Crosby, uma pacata povoação costeira no Maine, todos conhecem Olive Kitteridge, a temível professora de Matemática do liceu, agora reformada, e Henry, o seu marido, farmacêutico gentil.
Lamentando os ventos de mudança que varrem a sua vila e o mundo, sempre pronta a apontar um dedo crítico, Olive nem sempre dedica aos que a rodeiam a sensibilidade ou tolerância que mereceriam.
Mas à medida que todas estas vidas se vão entrelaçando, Olive começa a conhecer-se melhor e a compaixão pelos outros e por si própria ganha terreno ao preconceito."
Cris
Leitura leve e algo divertida com um humor próprio que, em algumas situações, me fez sorrir.
Confesso que pelo hype que esta autora teve com o seu primeiro livro (que quero ler), "Leme", ia com expectativas altas para esta leitura e que, se não foram de todo defraudadas, também não corresponderam ao esperado!
Houve, no entanto, algumas crónicas que considerei mais oportunas/engraçadas:
- sobre considerações entre a diferença linguística Portugal vs Brasil
- sobre o cão Jesus e sendo ela Maria Madalena, ficou "montado um evangelho"
- sobre a Turquia
Não é um género que me atraia particularmente mas o humor de algumas crónicas é bom!
Terminado em 20 de Agosto de 2024
Estrelas: 4*
Sinopse
«Uma viagem vem connosco quando acaba.»
Das saudosas férias em família à dormida penosa numa cama com percevejos; da aprendizagem lenta da solidão ao ódio às festas de casamento que mais parecem carnavais; do martírio da insónia às árduas negociações entre mãe e filhas; da navegação cega pelas redes sociais ao poder conciliatório da literatura; da redescoberta da terapia ao reencontro com um primeiro amor: Deriva deambula por assuntos tão diversos e inesperados quanto o ângulo espirituoso ou afiado que Madalena Sá Fernandes escolhe para os abordar.
Um livro que confirma a desenvoltura literária de uma escritora que, olhando para si mesma e para o que a rodeia, devolve a cada leitor uma espécie de reflexo no espelho.
Cris
Numa altura em que a mulher era tratada, como fada do lar ou como moura de trabalho ou ainda, como mulher de má fama, Maria Archer traz-nos uma Esmeralda que é um pouco das três e este livro, caiu de supetão num Portugal moralista e de falsos costumes, em plena ditadura fascista e possuidor de uma censura impiedosa.
Com uma linguagem directa, crua, Maria Archer põe a nú os podres de uma sociedade em que a Mulher tem de pertencer a uma das três categorias acima referidas pelo que todas as que fugissem desse padrão não se enquadrariam.
Para além de Esmeralda temos tantas outras mulheres que giram em torno dela e que reproduzem fielmente os padrões de então. Implicitamente durante todo o romance, uma crítica ao Homem e aos padrões morais defendidos na época.
Maria Archer foi acusada de atentado ao pudor. Um livro que, infelizmente, ainda é actual. Porque em muitos lugares, ainda somos apenas mulheres. Permitirá a História da Literatura continuar a manter esta autora apagada?
Gostei e recomendo muito esta leitura.
Terminado em 19 de Agoato de 2024
Estrelas: 6*
Cris
Quando no ano passado li “A Força da Idade” de Simone de Beauvoir, lamentei já mal recordar “Memórias de uma Menina Bem-Comportada” que lera há muitos e muitos anos e que na altura teve um grande impacto no meu desenvolvimento. Aí, logo no início, se referia várias vezes a grande amiga Zaza e a enorme influência que essa amizade tinha tido na sua juventude e ao longo da vida. “As Inseparáveis” é um romance que vai ressuscitar essa amizade profunda entre Élisabeth Lacoin (Zaza) e Simone de Beauvoir. Para isso, em “As Inseparáveis” a autora cria duas personagens: Andrée que é Zaza e Sylvie/Simone, a narradora.
Conheceram-se com nove anos, numa escola de freiras católicas. Se antes de passarem a ser colegas de carteira, Sylvie não tinha amizades com ninguém em particular, “Todas as crianças que conhecia aborreciam-me” (p. 16), Andrée vai ser para ela uma revelação. Rebelde, confiante, frontal, independente (vai sozinha da escola para casa), habilidosa e muito inteligente, Sylvie vai nutrir pela colega uma amizade profunda, a tal ponto que, quando as férias as separam, confessa que “viver sem ela não era viver” (p. 22). Mas incapaz de revelar essa paixão, só para si própria confessava que “nos livros, as pessoas fazem declarações de amor, de ódio, têm coragem de dizer o que lhes vai na alma; porque é que isso não é possível na vida real?” (p. 29) e só bastante mais tarde lhe revelou que o que a ligava à amiga era muito mais do que estima.
No entanto, a narradora, ao aprofundar a sua convivência com a colega e com a família, vai descobrir insuspeitos aspectos da vida de Andrée, que sempre lhe parecera uma rapariga insubmissa e diferente do comum das jovens que conhecia. Filha de uma família numerosa, profundamente religiosa, tradicional, classista, conservadora, o destino que lhe estava previamente traçado, era o de não ter direito à escolha, de se moldar ao que a sociedade queria dela enquanto mulher, de reprimir desejos, de pôr a família em primeiro lugar e de seguir um destino igual ao da sua mãe, também ela castrada por uma mãe autoritária. A narradora descobre que a casa e a família de Andrée não passam de uma prisão; que os casamentos são arranjados, pois “um casamento por amor é considerado suspeito” (p. 84); que a alternativa ao casamento é o convento e que, afinal, a amiga é profundamente infeliz “Não tenho um minuto livre” (p. 79).
Em “As Inseparáveis” Andrée é a personagem central, sendo o papel da narradora o de desvendar a personalidade da amiga e em consequência, traçar o retrato de uma época, incidindo a atenção sobre a vida das mulheres e das raparigas de uma determinada classe social. Simone de Beauvoir tinha 46 anos quando escreveu este romance e o seu pensamento sobre a condição feminina estava amadurecido e já publicara “O Segundo Sexo” e “Os Mandarins”. Sendo “As Inseparáveis” um romance e não um ensaio filosófico, ele denuncia, contudo e de forma clara, a visão de um sector conservador e poderoso da sociedade francesa, o peso da ideologia da Igreja na construção do conceito de pecado ligado à sexualidade e aos sentimentos; os preconceitos de classe e de raça que discriminam pessoas e as tornam personae non gratae, ou, por exemplo, os medos daquele sector privilegiado da sociedade, de que o sufrágio feminino viesse beneficiar os inimigos da Igreja.
Na contracapa desta bela edição da Quetzal, com tradução de Sandra Silva, pode ler-se na sinopse, que o livro contém “um posfácio da filha adoptiva de Simone de Beauvoir – Sylvie Le Bon de Beauvoir – em que é feito um relato factual e cronológico desta amizade, da vida e do contexto familiar de Zaza, e um conjunto de cartas e de fotografias, As Inseparáveis é um livro de grande valor literário e documental e uma peça importante no conhecimento da vida e obra de Simone de Beauvoir”.
9 de Outubro de 2024
Almerinda Bento
R y k @ a r d o
Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 22, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros:
Terminado em 15 de Agosto de 2024
Estrelas: 5*
Sinopse
Uma história real que ilustra como a atrocidade da guerra devastou a vida de inúmeras mulheres. Erva é uma poderosa novela gráfica que conta a história verídica de Ok-Sun Lee, uma criança sul-coreana que, durante a Segunda Guerra Mundial, foi vendida pela família e explorada como «mulher de conforto», o eufemismo utilizado pelos militares japoneses para se referirem às suas escravas sexuais. Até hoje, este continua a ser um dos capítulos mais negros e chocantes da História. Ok-Sun Lee sobreviveu a décadas de desespero e, no fim da sua longa vida, tornou-se ativista pelos direitos das mulheres, dando a conhecer as suas dolorosas memórias. Com base nos seus relatos, Keum Suk Gendry-Kim ilustra o período que antecedeu a guerra a partir da perspetiva vulnerável de uma criança forçada a enfrentar as mais cruéis adversidades, valendo-se apenas da sua força e determinação para sobreviver. Com recurso a pinceladas a negro tão delicadas quanto duras, a autora descreve em pormenor a forma desumana como muitas raparigas de famílias humildes viveram a ocupação japonesa e a vida de sofrimento generalizado que herdaram.
Cris
Terminado em 13 de Agosto de 2024
Estrelas: 6*
Sinopse
Entre os sobreviventes de um mundo pós-apocalíptico devastado, coberto de cinzas e de cadáveres, um pai e o seu filho deambulam por uma estrada, empurrando um carrinho de compras cheio de objectos diversos que, supostamente, os ajudarão ao longo da sua viagem. Sob a chuva, a neve e expostos ao frio, avançam rumo às costas do Sul, com o medo colado ao estômago: hordas de canibais selvagens que vagueiam pelo território aterrorizam o que resta da humanidade. Conseguirão eles sobreviver e chegar ao seu destino? A adaptação a banda desenhada de um romance marcante da literatura contemporânea. Após O Relatório de Brodeck, Manu Larcenet volta a adaptar uma outra obra maior da literatura. Galardoada com o prémio Pulitzer em 2007, A Estrada obteve, em todo o mundo, um enorme sucesso, tendo sido adaptada ao cinema em 2009, com Viggo Mortensen no papel principal.
Cris