Gosta deste blog? Então siga-me...

Também estamos no Facebook e Twitter

segunda-feira, 25 de março de 2024

"Teoria King Kong" de Virginie Despentes

Um gosto amargo mas bom ficou no meu palato depois de ter lido este livro. Passo a explicar… 

A escrita é crua, dura sem pejo de ferir susceptibilidades. Gostei e estranhei. Mas não a entranhei de todo.

Os temas tratados são muito pertinentes. A autora coloca o dedo na ferida, faz-nos pensar e pensar e pensar… Livro pequeno em formato de bolso, mas com uma mancha gráfica compacta, para ler sem parar mas também para voltar atrás e reler. E sublinhar.

Um auto-retrato onde descreve situações pelas quais passou na sua vida. Define-se a si própria como alguém que está contente como é, “mais desejosa que desejável” (pág. 10.). Contra a mulher perfeita, submissa aos valores que lhe querem impor, um ideal de mulher que, acredita, não existe. Aborda e desconstroi todos os estereótipos do que é ser mulher e ser homem.

Temas como a violação a que foi sujeita e as reacções e comportamentos durante e depois, suas e dos outros, a esse acontecimento, marcam um dos capítulos deste livro - (“com efeito, nisto da violação, é preciso sempre provar que não se estava de acordo”- pág. 45, “sempre culpadas do que nos fazem”- pág. 51). Seguem-se assuntos igualmente fortes como a prostituição (“A sexualidade masculina, em si própria, não constitui uma violência contra as mulheres se estas consentirem e se forem bem remuneradas. O que é violento é o controlo exercido sobre nós, essa faculdade de decidir em nosso nome o que é ou não é digno” - pág. 89), a pornografia (“Não é a pornografia que choca as elites mas a sua democratização” - pág. 104), reacções exteriores à sua pessoa, ao seu primeiro livro publicado: “Baise-moi” (“O que tenho de suportar enquanto escritora é o dobro do que um homem suporta” - pág. 144).

Não existe uma única página que não nos confronte e interpele. Desconstrói sentimentos de hipocrisia, recalcamentos que rondam as definições do que é ser mulher e ser homem.

Diria que é um livro marcante mas que é preciso ter estômago para o ler. Não foi o conteúdo que me chocou mas a forma de o expressar. Creio, no entanto, que foi esse o objectivo.

Terminado em 22 de Fevereiro de 2024

Estrelas: 5*

Sinopse

TEORIA KING KONG é um grito de guerra e uma interrogação feroz da sexualidade feminina. Virginie Despentes desafia os discursos bem-comportados sobre a violação, a prostituição e a pornografia a partir das suas próprias experiências, desconstruindo os modos de apropriação do corpo feminino que levam à subordinação social, económica e sexual.

Um manifesto iconoclasta e irreverente para um novo feminismo. 

Cris


1 comentário: