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segunda-feira, 29 de junho de 2020

"Existir Depois de Ti" de Carolina Setterwall


Peguei neste livro sem saber grande coisa sobre ele. Escolhi-o basicamente pelo título que, a meu ver, deixava antever o tema. Às vezes gosto de lançar-me no desconhecido e deixar-me surpreender pelo seu conteúdo. Conforme me ia embrenhando nesta leitura, ia ficando com a sensação que quem escreveu isto é porque o tinha vivido. Sente-se a transparência de sentimentos, a verdade nas palavras. Estava certa. Na contracapa, que li no final, refere que é baseado na experiência vivida pela autora.
    É um livro escrito na primeira pessoa, muito intenso,  denso em certas alturas. Poucos diálogos, páginas compactadas de sentimentos algo contraditórios mas puros, reais. A vida como ela é. Fala-nos sobre a perda, o luto, sobre as tentativas de recomeçar, sobre o sentimento de culpa que surge depois da morte de alguém que amamos.

    Gostei muito desta leitura embora não saiba se será apreciada por todas as pessoas. Eu fiquei presa às palavras da autora muito rapidamente. Numa primeira parte existem dois espaços temporais: a vida até conhecer o seu marido e a vida depois de o encontrar. Numa segunda parte, a perda, o luto, a solidão, a vida com um bébé. Os altos e os baixos.

    Achei interessante que para além do nome do seu falecido marido e do seu filho, todas as personagens são referidas como "o teu pai", "a minha irmã", "a minha melhor amiga" e assim por diante, sem especificacão de mais nomes. De igual modo, o livro está-lhe dirigido como se tratasse de uma conversa ou, talvez, como se a autora lhe escrevesse a contar a sua vida, as suas vontades, os seus mais profundos sentimentos.

    Muito transparente, verdadeiro nas suas palavras, sem esconder as contradições próprias do ser humano e retratando-as com uma especial delicadeza e uma crueza por vezes desconcertante. Recomendo vivamente!


    Terminado em 20 de Junho de 2020

    Estrelas: 5 *+

    Sinopse

    A noite passada, adormeci convencida de que teríamos milhares de dias à nossa frente. Mas não é assim. Esta é a nossa última noite. Carolina está a amamentar o seu bebé, quando recebe um estranho e-mail do namorado, Aksel, em que revela as suas senhas de computador e lhe dá instruções para seguir no caso de ele morrer. Carolina fica preocupada, mas depois irritada - este comportamento é típico de Aksel, que termina a mensagem com a frase: Vamos esperar pelo melhor! Nos últimos tempos, a relação entre os dois tem sido difícil, em especial com um bebé de oito meses para criar. Aksel morre inesperadamente e o mundo de Carolina sofre uma reviravolta incontrolável. Talvez para impor alguma ordem no caos, Carolina regista meticulosamente os acontecimentos nos meses após a morte de Aksel e explora os pequenos detalhes da vida antes da tragédia, na esperança de encontrar alguma explicação para a dolorosa situação com que passou a ter de lidar. Mas quando se depara com um novo relacionamento, Carolina sente-se reticente… Ela tem uma nova oportunidade para amar, mas será que desta vez vai resultar?
    Um empolgante romance de estreia, baseado na experiência da própria autora, que nos revela como a vida que vivemos pode mudar num breve instante.

    Cris

    domingo, 28 de junho de 2020

    10º Aniversário do Blogue


    Há dez anos atrás, depois de olhar confusamente para a minha lista de leituras que mantinha actualizada numa pasta do meu telemóvel, decidi colocar as minhas opiniões, por escrito, num blogue. As estrelas que atribuía não se mostravam suficientes para mostrar o quanto eu tinha gostado de um livro. 

    As primeiras opiniões custaram a sair. Tive de aprender a deixar ir a caneta e o meu coração. Escrevo o que sinto, umas vezes com mais paixão quando opino sobre aqueles livros de que gostei muito, outras com menos, sobre aqueles que não me atraíram tanto.

    Presentemente largo as leituras mornas a que atribuiria três estrelas, as leituras "suficientes". Leio as que considero boas (4*), as muito boas (5*) e as excelentes (6*). Não digo muito mal das que larguei delas por duas razões: primeiro porque na vida nunca se pode agradar a todos  e aquilo que não me agrada pode agradar a outro, e segundo porque deixo para mais tarde a leitura que, presentemente, me está a dizer muito pouco. Um dia, quem sabe?

    Mas hoje passei por aqui só para assinalar esta data e para vos dizer que trarei brevemente algumas surpresas para quem passar por aqui e pelo meu Instagram.

    E é só! Parabéns a mim, parabéns ao  blogue e parabéns a quem tem a pachorra de me ler!

    Cris

    quinta-feira, 25 de junho de 2020

    "O Dia Em Que Perdemos o Amor" de Javier Castillo

    A leitura deste livro fez-se célere por dois motivos. Primeiro, porque a trama possui características que levam o leitor a folhear as páginas com avidez, pois está sempre a acontecer algo que o leva a querer saber sempre o que vem a seguir; depois, porque queria saber como continuava o livro anterior... A conversa com o autor estava agendada e queria ler o livro para lhe colocar algumas questões sobretudo sobre a concepção desta história.

    História negra, aliás. Gostam de um livro com várias reviravoltas, onde uma personagem pode ser "má" e "boa" e vive versa? Onde a intriga, o ódio e o amor, a morte e o desespero andam a par? As pontas soltas são muitas, durante este e o livro anterior, mas parecem encaixar-se e fazer sentido, qual puzzle que se começa e quer terminar.

    O macabro, o bizarro, o oculto, tudo se junta e alia para um enredo diferente, em certas alturas intimidante. Personagens com mentes desequilibradas que nos assustam e nos levam a pensar como a mente humana pode deixar-se levar por caminhos obscuros, perigosos e terríveis.

    Este livro prima pela intensidade e originalidade. Só por isso o autor está de parabéns! O resto fica para vocês descobrirem!

    Não poderia deixar de vos confessar que a conversa,  via zoom, com o autor, na qual participei juntamente com outras convidadas, foi muito agradável (fotos abaixo). Foi muito interessante saber que o autor começou o seu primeiro livro (começo esse que prende de imediato porque extremamente original) sem saber o que ia escrever a seguir e, depois de ter algumas páginas escritas, fez uma paragem para arquitetar toda a trama dos dois livros. E digo-vos já que não deve ter sido tarefa fácil porque estes livros primam realmente pela originalidade e pela diferença.


    Terminado em 15 de Junho de 2020

    Estrelas: 5*

    Sinopse
    O inspector Bowring, chefe da unidade de Criminologia, tentará descobrir o que escondem a jovem e as notas amareladas que traz consigo e desvendar também a sua ligação com o caso de uma mulher cujo nome figura numa das notas e que aparece, horas depois, decapitada num campo.

    Cris




    quarta-feira, 24 de junho de 2020

    Experiências na Cozinha: "Comida Macrobiótica para Toda a Família"

    Nesta fase ainda tão caótica das nossas vidas, a visita entre amigos ainda obedece a certas cautelas e por isso as receitas só são provadas por quem as faz... Desta vez, só vos posso falar do que vejo e do que a Palmira me contou! E como confio na sua palavra, vou pôr mãos à obra e fazer este prato. Ela diz que ficou espectacular e eu acredito. As fotos não mentem. Cor e sabor no mesmo prato. E saúde, senhores, saúde!

    Receita fácil, que pode ser feita com a alteração de alguns ingredientes (os legumes) mas deve ser respeitado o uso do açafrão e do leite de coco. A abóbora também lhe confere maciez, por isso a Palmira aconselha.

    Ora toca a fazer que mais fácil não há!









    Palmira e Cris

    segunda-feira, 22 de junho de 2020

    A Convidada Escolhe: "E, de repente, a alegria"

    Não é fácil explicar porque gosto tanto dos romances de Manuel Vilas. Ele é atormentado pela escuridão mas busca a luz. O sofrimento de que tomou consciência quando escreveu um romance. Em "E, de repente, a alegria" há 107 capítulos de apego aos fantasmas do passado e à vida como ela era para abraçar o presente numa prosa delicada.
    "Eu andava deprimido sempre com Arnold de roda de mim.
    porque na altura vivia só para o Arnold Schönberg: repara que inventei um nome ilustre para as minhas angústias, talvez os livros sirvam para isso, para adornar as nossas dores."
    Uma esperança à qual umas vezes chama beleza, e outras, alegria,  e há que ter fé na alegria, porque sem ela a vida humana não prevalecerá." (pag.239)
    O que torna este romance arrebatador é a proximidade com o leitor que, apesar de tudo acaba por se identificar com um protagonista tão complexo mas verdadeiro, que dá nome a sentimentos e emoções que nem sempre conseguimos definir. A lucidez é inebriante. A busca da verdade e de si mesmo também.  O amor que se perpetua de pais para filhos, testemunho de vida, é o tema circular que Manuel Vilas não deixa cair, com rasgos de brilhantismo quando expande a sua análise para os outros. Política, sociedade, natureza humana são assuntos sobre o qual reflete.

    Eventualmente, não agradará a todos mas é um romance muito bom para muitos. A sinopse não deixa margem para dúvidas. Ouse
    Vera Sopa

    sexta-feira, 19 de junho de 2020

    Para os mais pequeninos: "Os Vizinhos"


    Que mensagem tão simples e, no entanto, tão bonita esta que este livro transmite!

    Uma menina (que importa o seu nome?) Vive num prédio de sete andares. Quando chega a casa vai subindo e passando em cada piso e fala-nos dos moradores de cada habitação. Todos são diferentes e todos parecem ser muito interessantes, com profissões bem esquisitas e divertidas!

    Até que chega ao seu piso e lá só encontra os seus pais, pessoas normais e aborrecidas. Uma seca, acha ela! Mas lá bem no fundo ela sabe que eles são ainda mais especiais que todos os outros moradores. E sabem porquê? Porque a amam muito!

    Cada ilustração dava uma história de tal forma são imaginativas. Que tal parar em cada uma e disfrutar dos desenhos, fazendo perguntas e respondendo às questões que os mais pequenos certamente irão fazer?

    Um livro a descobrir, cheio de uma imaginação muito fértil e divertida.






    Cris

    quarta-feira, 17 de junho de 2020

    Experiências na Cozinha: "Diário de uma Vegana"


    Não é fácil encontrar este livro cá em Portugal. Conheço Alana Ross das redes sociais e quando uns amigos foram ao Beasil pedi-lhes para trazerem este seu livro.

    Nada melhor que uma insónia que nos faz acordar às 4h da madrugada para irmos para a cozinha fazer granola. Adoro granola mas raramente a compro. Pelo que ouço dizer a de compra possui muito açúcar que todos sabemos que devemos evitar.

    E, aliás, gosto de experimentar granolas "novas".  O bom da granola é que podem substituir algum ingrediente que não tenham em casa por outro. Nesta, por exemplo, usei agave em vez de melaço de cana mas podem usar mel também. Os frutos secos, usei uma mistura deles e não somente a amêndoa e o caju.

    Deixamo-vos a receita e as fotos. Toca a fazer. Procurem na net. Há tantas formas de fazer granolas simples e mais saudáveis do que essas que vendem por aí. E muito mais barata! Ah! Cuidado com a temperatura do forno. Na receita diz 30 a 40m. Bastou 15m. Ficaria queimada se a deixasse por lá mais do que isso...





    Palmira e Cris

    terça-feira, 16 de junho de 2020

    A Convidada Escolhe: "Humilhação e Glória"


    Humilhação e Glória”, Helena Vasconcelos, 2012

    Este ensaio de Helena Vasconcelos tem como subtítulo “O acidentado percurso de algumas mulheres singulares”. Constituído por oito capítulos, para além da Introdução – Estudos Femininos, Mulheres e Cidadãs, A Ascensão segura das «Mulheres de Letras», O corpo das mulheres, O círculo das Belas-Artes, Em nome da Ciência e Misoginias – é um livro muito interessante e curioso, para quem quer ficar com uma visão geral da História com o foco nas mulheres, esclarecendo a autora na nota final que este não é um tratado e reconhecendo que faltarão “referências importantes a mulheres que têm dado o seu contributo inspirador”.
    Comecemos pelo princípio e pela questão da maternidade, que colocou a mulher “protegida”, “enclausurada”, “afastada” e “relegada” na ordem social. A autora destacou a americana Margaret Sanger (1879-1966), activista pelo direito feminino de evitar a maternidade, lutou pelo direito à contracepção e foi defensora da pílula. Ao longo do livro, Helena Vasconcelos por diversas vezes refere que o século XIX foi um século mau para as mulheres pois infantilizou-as. É um século conservador para as mulheres, embora seja o século em que surgem os movimentos das feministas reivindicando o voto feminino. Charles Darwin chegou a considerar as mulheres “dignas de estudo”, catalogando-as na espécie das raças inferiores e num estado de civilização “menos desenvolvido”(págs. 30 e 31). George Savage, o psiquiatra que tratou Virginia Woolf, aconselhava cautela às mulheres que liam e estudavam, tendo proibido o estudo a Virginia Woolf quando ela tinha quinze anos e tendo-lhe receitado quatro horas de jardinagem diária, obrigatoriamente.
    Mary Woolstonecraft (1759-1797), autora de “A Vindication of the Rights of Women” (1792) é pioneira e um nome incontornável na história dos feminismos. Escreveu ela que as mulheres não deviam deixar-se bajular pelos homens quando enalteciam os seus atributos de beleza, desprezando as suas qualidades intelectuais. Apercebeu-se do papel do sistema educativo e da tradição, no sentido de tornar as meninas subservientes. Chamaram-na de “imoral, louca, infeliz, feminista”! Por essa altura, em Portugal, no tempo de D. José I e do Marquês de Pombal, Gertrudes Margarida de Jesus escrevia “A Primeira Carta Apologética em favor e defesa das Mulheres”(1761).
    Madame de Stael e os Românticos desempenharam um papel importante no rebater as ideias de Mary Woolstonecraft, fazendo a apologia da “mulher-criança” e da “fada do lar”. Ema Bovary de Gustve Flaubert ou Anna Karenina de Tolstoi são exemplos de heroínas destituídas de direitos.
    Com a revolução industrial, impõe-se o modelo vitoriano da família nuclear e o conceito de “respeitabilidade” cultivado pela nova burguesia em que as mulheres eram esposas devotadas e mães extremosas. Este espartilho, esta rigidez nos comportamentos impostos às mulheres foram sempre um motivo de grande sofrimento para quem não se revia nestes normativos. Em alternativa, o refúgio dos conventos, mas havia quem preferisse o isolamento ou a morte, por não quererem ser nem mães nem esposas. A histeria (do grego hystéra=útero) foi uma das doenças ditas “femininas” que deixou de fazer parte do léxico das doenças neurológicas, quando na 1ª Guerra Mundial surgiram muitos homens com sintomas semelhantes aos que se atribuíam às mulheres histéricas.
    Aliás, o corpo das mulheres foi sempre e ainda é um campo de batalha. A menstruação que é “impura”, a mulher procriadora, a satisfação erótica destinada exclusivamente aos homens que podem satisfazer-se com prostitutas ou outras mulheres. O corpo das mulheres não lhes pertencia; o seu controlo pertencia aos pais, aos maridos, aos médicos e especialistas. A sexualidade feminina era reprimida, o desejo sexual considerado um distúrbio mental, uma aberração, uma doença. As teorias de Freud marcaram essa época e a muitas raparigas consideradas doentes e que foram confinadas em estabelecimentos psiquiátricos era-lhes imposto trabalho manual – tricot e bordados – como cura para a sua doença. Tal como a masturbação feminina era proibida, a menopausa nas mulheres era ignorada e ridicularizada. As grandes transformações começaram a operar-se com a entrada das mulheres num território até então exclusivamente masculino, quando a medicina passou também a ter mulheres médicas e psicanalistas. Lembremo-nos da luta heróica das sufragistas, muitas delas encarceradas em instituições psiquiátricas por terem sido consideradas doentes mentais.
    Seguidamente, Helena Vasconcelos refere mulheres marcantes pelo seu pensamento e obra, que revolucionaram o pensamento e a visão da mulher na sociedade. A escritora inglesa Virginia Woolf que advogou o direito a um espaço próprio que seja das mulheres e que estilhaçou os conceitos estanques de sexualidade com a sua obra “Orlando” (1928). Simone de Beauvoir e o “Segundo Sexo” (1949) contra o determinismo, os preconceitos e as ideias pré-estabalecidas que não davam hipótese de escolha às mulheres. Germaine Greer, uma feminista australiana polémica interessou-se pela questão do envelhecimento das mulheres e suas consequências. Dizia que a mulher era uma criada do marido e que trabalhava de graça para ele. Nos anos 90 do século passado, Camille Paglia advoga posições antifeministas e é célebre pelas suas posições e ideias muito controversas.
    Nestes capítulos iniciais do seu livro, a autora pontua algumas datas e acontecimentos importantes na longa caminhada das mulheres até alcançarem o estatuto de cidadãs. Em Portugal, o facto de a Inquisição ter vigorado por perto de três séculos, entre 1536 no tempo de D. João III até 1821, ajuda a compreender a perseguição e a menorização a que as mulheres foram submetidas. No 1º Código Civil em Portugal que data de 1867, elas aparecem com o estatuto de esposas e mães. Só em 1890 é autorizado o acesso das meninas aos liceus públicos, apesar de o ensino liceal existir desde 1836 por iniciativa de Passos Manuel.
    Como anteriormente já referi, o surgimento de movimentos reivindicando o voto feminino foi de extrema importância, num século em que muitos dos espaços de cidadania ainda estavam barrados às mulheres. Na Convenção Mundial contra a Escravatura que se realizou em Londres em 1840, foi impedida a participação de mulheres. Em 1848 realiza-se a 1ª Convenção pelos Direitos das Mulheres em Seneca Falls, Nova York. A Nova Zelândia vai ser o primeiro país no mundo a instituir o voto das mulheres em 1883. Não posso deixar de mencionar aqui um nome que, ao longo do livro nunca vi referido, a médica e feminista Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal a 28 de Maio de 1911, invocando a sua condição de chefe de família, assim torneando a lei que impedia o voto das mulheres portuguesas. O Estado Novo “apagou” os nomes de muitas activistas feministas do tempo da 1ª República, consideradas aberrações. Com efeito, elas não encaixavam na concepção estreita da santíssima trindade salazarista: Deus, Pátria, Família. Incontornável o papel pioneiríssimo, a figura de Maria Lamas e a sua obra ímpar “As Mulheres do meu País”, resultado de um trabalho de campo profundo por todo o continente e ilhas, de registo da vida das mulheres portuguesas.
    Portugal assina com a Santa Sé em 1940 a Concordata que proíbe o divórcio, uma das causas que vai mobilizar vastas massas imediatamente a seguir ao 25 de Abril, impossibilitadas de refazer as suas vidas por uma lei retrógrada que as impedia de voltarem a casar. Portugal vai viver a seguir à Revolução dos Cravos grandes transformações sociais, conquanto muitas delas tenham demorado a romper com os preconceitos e as discriminações de género que vinham de longe. Este fenómeno de discriminação e desigualdade entre mulheres e homens que enforma as sociedades e não apenas a portuguesa tem sido combatido por movimentos e organizações de mulheres que nos seus países e a nível internacional têm feito um trabalho assinalável com grandes avanços, sobretudo a partir do último quartel do século XX. A Declaração Universal dos Direitos do Homem data de 1948, após o fim da 2ª Guerra Mundial, mas só em 1979 é adoptada a Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação em relação às Mulheres.
    Na página 99, Helena Vasconcelos põe no seu livro uma pergunta que muitas pessoas (homens e mulheres) muitas vezes colocam, tendo em conta os extraordinários progressos das mulheres na sua luta pela cidadania plena: “O que falta então à mulher?”
    A verdade é que sempre que as mulheres lutaram e quiseram romper com o estabelecido, foram chamadas de atrevidas, de provocadoras e ridicularizadas. Nas Letras, quando se destacavam, achavam que elas eram imitadoras, não inovadoras ou criativas. Helena Vasconcelos nomeia mulheres renascentistas ilustres, que geralmente são ignoradas: Joana Vaz, Paula Vicente, Leonor Coutinho, Ângela Sigeia, Luísa Sigeia e Públia Hortênsia de Castro (séculos XV e XVI). Os conventos e as casas privadas de mulheres com dinheiro e elevado estatuto social eram o oásis no tremendo deserto cultural vigente na sociedade portuguesa dos séculos XVII e XVIII. Mariana Alcoforado, a Marquesa de Alorna ou Teresa Margarida da Silva Orta, autora do primeiro romance escrito por uma portuguesa, sujeito à aprovação da censura do Santo Ofício. No século XIX, o fechamento e a punição das mulheres que transgridem está bem patente no caso de Maria da Felicidade do Couto Browne, cujos escritos foram queimados pelo próprio filho, devido à ligação que a mãe tinha tido com Camilo Castelo Branco.
    No século XX, são muitas as escritoras que se destacaram como Agustina, Sophia ou Lídia Jorge, entre muitas outras. Lamento não ter visto assinalados os nomes de duas grandes escritoras injustamente invisibilizadas: Irene Lisboa e Maria Judite de Carvalho. Justamente, fala das Três Marias e do seu livro As Novas Cartas Portuguesas, que granjeou um eco internacional de solidariedade pelas escritoras levadas a tribunal pela moral conservadora e hipócrita do salazarismo marcelista no seu estertor.
    No capítulo O Corpo das Mulheres, a autora volta ao tema da ignorância e do preconceito relativamente ao corpo da mulher, os períodos de abertura e fechamento em termos da liberdade sexual, os temas da contracepção e do aborto que foram sempre muito sensíveis e da valentia das mulheres que conseguiram afrontar toda uma arquitectura patriarcal solidamente implantada. Neste capítulo destaca os nomes da bióloga Natalie Angier e do seu “Mulher: uma Geografia Íntima” que lhe deu o Prémio Pulitzer, a antropóloga americana Helen Fisher e a ceifeira portuguesa Catarina Eufémia, assassinada por uma GNR quando lutava pelos seus direitos como trabalhadora.
    No capítulo das Belas-Artes, a autora diz que muitos historiadores de arte olham para as artistas mulheres com alguma condescendência e leviandade, invocando o “jeito” em vez do génio. Entre várias artistas, nomeio aqui Josefa de Óbidos, Amélia de Sousa, Paula Rego, Maria Helena Vieira da Silva, Helena Almeida e muitas outras.
    São imensas as mulheres que se destacam no campo da Ciência. Geralmente fora do holofote mediático, mal pagas, a teimosia e o espírito de sacrifício são as marcas destas mulheres. Num campo em que não poucas vezes a religião esteve contra a ciência, a autora lembrou mulheres cheias de tenacidade que na sua época não baixaram os braços e lutaram contra a misoginia que as excluía do acesso à ciência. Em Portugal e no estrangeiro foram verdadeiras guerreiras.
    O último capítulo – Misoginias – é o remate que nos dá a conhecer alguns dos ideólogos que deram corpo às concepções que ainda hoje persistem, resistem e estão na base da desigualdade entre os géneros. “Quando uma mulher pensa, é o Diabo que pensa por ela”, proferida por um papa do séc. XV. Para S. Tomás de Aquino, a mulher era “um ser miserável e defeituoso”. O padroeiro dos bibliotecários, S. Jerónimo, considerava que “como o verme destrói a madeira, também uma mulher destrói o marido.” Tudo homens da Igreja. Contra a corrente do seu tempo, Gil Vicente traça personagens femininas cheias de graça, afirmativas, fortes, determinadas, cheias de vivacidade. Os cerca de trezentos anos da Inquisição foram uma tragédia para as mulheres, sendo que muitas, perseguidas como bruxas acabaram na fogueira, apenas porque eram mulheres insubmissas e com práticas não convencionais.
    O século XX foi aquele que maiores desafios colocou às mulheres: com a sua entrada em força no mercado do trabalho, quebrando as concepções da mulher presa ao lar por via das necessidades da guerra, mas remetendo-a de novo ao lar no pós-guerra, glorificando uma imagem fictícia da “mulher moderna” dos anos 50. Porém, o caminho das ideias que tinham posto as mulheres no início do século XX a lutar pelo voto e pela educação, a revolução sexual dos anos 60 com a democratização da pílula e dos meios anticoncepcionais, as vagas que se seguiram de feministas e de novas teorias e concepções, é um caminho de não retorno. De felicidade para as mulheres, como sujeitos de direitos e como participantes de pleno direito na transformação social para uma sociedade sem discriminações de qualquer tipo.
    Não consegui tornar este texto menos extenso. Volto à ideia inicial, expressa pela autora de que este livro é um ensaio, não é um tratado. Tem tanta informação valiosa, que me custou trazê-lo à minha apreciação, truncando-o de nomes e dados imprescindíveis.
    O meu obrigada a Helena Vasconcelos por esta obra de divulgação de uma história resumida das mulheres.

    1 de Junho de 2020
    Almerinda Bento


    segunda-feira, 15 de junho de 2020

    "O Carteiro de Auschwitz" de Joe Rosenblum

    Quando pensava que ja tinha lido tudo sobre o Holocausto, sobre a dor que os homens, deliberadamente, impuseram aos homens, vejo que estava enganada. É por livros destes que leio tudo, ou quase, o que me aparece sobre este tema. Este livro só não me tirou o fôlego porque mantive um certo distanciamento em relação à personagem principal e ao relatado por ele, distanciamento necessário para conseguir acabar esta leitura.

    Esta história é brutal. Devem lê-la! E sim, é verídica.

    Posto isto, e visto que não vos vou contar nada sobre ela, só me resta refletir aqui com vocês o que me veio à cabeça enquanto a lia.

    Até onde o Homem consegue resistir sem comida? Como se consegue viver, meses a fio, com um pedaço de pão e uma sopa aguada onde não boiava nada? Como se consegue suportar, fisicamente e psicologicamente, maus tratos consecutivos? Como pode um ser humano tratar o seu semelhante com tanta frieza, sem compaixão? Em nome de quem ou de quê foram cometidos tantos crimes?

    Mais uma vez verifico que a sorte teve muito a ver com a probabilidade de alguém escapar com vida aos campos da morte mas, também e sobretudo, à vontade férrea de sobreviver, de encontrar formas de arranjar comida extra e de manter uma atitude de esperança em dias melhores, de acreditar que a guerra poderia ter um fim.

    É inimaginável tudo o que estes homens passaram. Não tenhamos a ousadia de pensar que conseguimos colocar-nos na pele de quem tanto passou, de quem tanto viu. Aliás, para se ler este livro, deve-se manter um certo distanciamento para o conseguirmos ler até ao fim...

    Mas tenho a certeza de uma coisa: devem lê-lo!

    Terminado a 11 de Junho de 2020

    Estrelas: 6*

    Sinopse

    O Carteiro de Auschwitz é a história verdadeira de um adolescente a quem tentaram roubar a vida e os sonhos. Apanhado no turbilhão do Holocausto, este jovem sobreviveu a uma sequência de dramas tão angustiantes que se torna difícil aceitá-los como factos reais.
    UMA CONFIANÇA INABALÁVEL, UMA BONDADE SEM LIMITES,
    UM EXEMPLO PERFEITO DE BRAVURA E CARÁTER.
    Joe Rosenblum era ainda criança quando assistiu à invasão nazi da sua pequena cidade na Polónia. Foi por pouco que escapou à execução em massa de que foi vítima o irmão. Joe mudou-se primeiro para uma quinta, onde trabalhou, e cujos proprietários o protegeram e o ajudaram a prover o sustento da família durante algum tempo. Depois, viu-se obrigado a refugiar-se junto de ex-prisioneiros russos. A sua inacreditável jornada de sobrevivência começa após ser capturado pelos alemães.
    O MENSAGEIRO SECRETO QUE SOBREVIVEU AO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO MAIS TERRÍVEL DA HISTÓRIA
    Inteligente, criativo e extremamente pragmático, Joe desafiou a morte, transportou a esperança e deu um exemplo perfeito de humanidade, otimismo e perseverança. Com uma bondade sem limites, ele entregou mensagens secretas aos prisioneiros, salvou crianças da câmara de gás e devolveu a luz e a esperança ao coração dos homens num dos períodos mais terríveis da história mundial.
    UMA PODEROSA MENSAGEM DE FÉ E ESPERANÇA NA HUMANIDADE

    Cris

    quinta-feira, 11 de junho de 2020

    Experiências na Cozinha: "Cozinha Vegetariana para Festejar"


    Trazemo-vos hoje uma receita colorida e muito boa para estes dias mais quentes que se avizinham, "Quinoa com couve roxa e pistachio", deste livro da Gabriela Oliveira.

    Já vos temos dito que gostamos muito dos livros desta autora porque as receitas são muito fáceis de fazer e porque são receitas que dão sempre certo, mesmo alterando alguns ingredientes como foi o caso desta... Não tinhamos pistachios por isso usámos frutos secos. Ficou deliciosa na mesma, como sabíamos que ficaria!

    No fundo trata-se de uma salada de quinoa (cozida, claro!) com couve roxa cortada em juliana, cenoura ralada, salsa, cebolinha, sultanas e pistachios (substituímos por frutos secos). Tempera-se com azeite, sal se necessário, sumo de limão, oregãos e pimenta preta. Mais simples não podia ser!

    Dicas: a quinoa é feita como o arroz "frito" (salteia-se primeiro em azeite e alho e só depois se acrescenta a água quente) e a couve roxa, em juliana, salpica-se com sal e deixa-se actuar para perder um pouco a sua água e ficar mais macia.

    Nós servimos fria porque é o que apetece nestes dias mais quentes. Vejam como ficou apelativa (e gostosa, nós garantimos!).





    Palmira e Cris