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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Para os Mais Pequeninos: "Simāo, o pequeno leāo. A Magia do Natal"

Um livro que, oportunamente, pode ajudar a alterar algumas consciēncias nesta época e ajudar os pais a criarem nos filhos o sentido de ajuda, nāo só no Natal mas durante todo o ano. As dicas finais podem ajudar os educadores.

Uma história simples, como devem ser as que sāo dirigidas a um público infantil, mas cheia de cor e com ilustraçōes divertidas e apelativas. 

Ora vejam:






Cris

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O Bibliotecário de Paris de Mark Pryor

Deste autor li O livreiro, o seu livro anterior, e a minha opiniāo (aqui!) foi muito favorável. As expectativas eram, pois, bastante altas e a capa deste O Bibliotecário de Paris fez-me imaginar outra história onde um passado pró ou contra nazi se escondia numa das personagens e que viria ao de cima e comandaria a acçāo. Nāo foi bem assim como tinha imaginado mas a intrincada trama elaborada pelo autor captou a minha total atençāo. E é preciso estar atento para poder observar os detalhes e tentar descortinar quem fez o quê...
      Um homem morre numa biblioteca em Paris. Esse facto despoleta uma sequência de pesquisas, sobretudo por parte de Hugo Marston, conhecido da vítima, que com o seu sentido apurado desconfia que algo mais se esconde na aparente morte natural do bibliotecário. 
      Como leitora nada experiente nestas questōes de mortes e assassinos (embora goste de um bom policial nāo os leio com a frequência que desejaria) acho que me deixo envolver facilmente pelas ciladas criadas pelos autores deste género literário. Isto para vos dizer que nada descobri deste mistério (o que me agrada sempre de sobremaneira, pois descobrir o assassino a meio nāo tem piada nenhuma!) e foi para mim uma surpresa total quando ele foi revelado.
      Espero que, brevemente, seja publicado mais algum livro deste autor, tanto mais que ficaram algumas pontas por explicar e que, suponho, é um bom começo para uma próxima aventura deste investigador americano em terras francesas. Já n'O Livreiro ele brilhou com as suas deduçōes claras em que a sua intuiçāo e o seu sentido apurado e dedutivo, fizeram as minhas delícias.

Estou pronta para outro, Clube do Autor!

Terminado em 27 de Outubro de 2017

Estrelas: 5*

Sinopse
O novo livro de Mark Pryor é um mistério para amantes de livros e um livro para amantes de mistérios.
      A morte de um oficial nazi durante a ocupação de Paris pode ser a chave para resolver um mistério do presente.
      O diretor da Biblioteca Americana em Paris é encontrado morto numa sala trancada. A polícia conclui que o homem morreu de causas naturais, porém o responsável pela segurança da Embaixada dos EUA tem a certeza de que algo errado se passou. A sua investigação leva-o até à cena do crime cometido durante a Segunda Guerra e as suas descobertas vão surpreender tudo e todos.

Cris

sábado, 28 de outubro de 2017

Na minha caixa de correio






  

  

  

  

Ofertado pela Lidel, um livro expectacular de fotografia onde a cidade do Porto e o Douro sāo os personagens principais. Em breve o meu comentário.
Comprado da Feira da Ladra, o livro Vegan Pantry e As Delícias de Ella, Para os Amigos.
Para lá do Inverno foi oferta Da Porto Editora.
Onde Cantam os Grilos foi ofertado pela Editora Cultura, uma nova editora que promete dar cartas.
Da Pergaminho chegou-me Autocontrole, de Augusto Curry.
As Falsas Memórias de Manoel Luz foi oferta da Minotauro.
Do clube do Autor, O Último dos Nossos. Deixou-me curiosa.
Da Quetzal recebi O Livro de Emma Reyes. Estou quase a acabar. Impressionante.
Superalimentos, foi oferta da Marcador. Um tema que é a minha praia.
O Que Faz Bem, O Que Faz Mal, chegou pelas māos da Esfera dos Livros. Receita a postar em breve.. Também desta editora um livro com um tema interessante: Stop.
O Simāo foi oferta da Booksmile. Um post para breve. Um livro apropriado para o Natal que está próximo.


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Novidade Porto Editora

Para Lá do Inverno
de Isabel Allende
No período mais conturbado das suas vidas, uma chilena, uma jovem imigrante ilegal guatemalteca e um professor norte-americano são apanhados por uma terrível tempestade de neve. Quando uma questão de vida ou morte os junta numa casa em Brooklyn, começa uma aventura de três dias que mudará as suas vidas para sempre.
      Numa trama que retrata a América dos dias de hoje, a autora chilena apresenta uma inesquecível história de esperança e segundas oportunidades, retratando um conjunto de personagens que encontram um futuro através da solidariedade e do amor.

Novidade Clube do Autor

O Último dos Nossos
de Adélaïde de Clermont-Tonnerre
Werner Zilch é um jovem carismático e empreendedor. Adotado desde tenra idade, vê-se confrontado com a descoberta das suas origens, tudo menos gloriosas. Aos olhos dos outros, pode ser considerado responsável pelos erros cometidos pelos seus antepassados? Como aceitar que o seu progenitor estivesse ligado ao nazismo?
      A par das personagens, surgem nomes que os leitores por certo reconhecerão, todos eles figuras marcantes do seu tempo. A saber: Andy Warhol, Truman Capote, Tom Wolfe, Joan Baez, Patti Smith, Bob Dylan… 
      Uma complexa história de amor que é, ao mesmo tempo, um capítulo ficcionado da nossa História. O leitor não conseguirá pousar o livro enquanto não descobrir quem é, na verdade, «O último dos nossos». 

Novidade Marcador

Superalimentos 
de David Wolfe 
Os superalimentos são simultaneamente um alimento e um medicamento, pois possuem elementos de ambos.
      São a classe dos alimentos mais potentes, superconcentrados e ricos em nutrientes do planeta – fornecem mais energia do que os alimentos comuns. Têm a capacidade de aumentar de forma tremenda a força vital e a energia do nosso corpo, e são a escolha ideal para melhorar e transformar a sua saúde. Com este manual dos superalimentos é muito mais fácil encontrar um estilo de vida melhor e compreender o impacto da alimentação no corpo humano..

Novidade Quetzal

O Livro de Emma Reyes
de Emma Reyes
Uma extraordinária história de vida num relato luminoso e sem qualquer tipo de sentimentalismo. Em 1969, a pintora Emma Reyes mandou a um amigo historiador, Germán Arciniegas, a primeira de 23 cartas em que revelava as duras circunstâncias da sua infância. O amigo ficou emocionado com as dolorosas memórias da artista e mostrou-as a Gabriel García Marquez, que incentivou Emma Reyes a continuar a escrevê-las. As cartas foram sendo escritas e enviadas a Arciniegas até 1997, que tivera também, entretanto, autorização da autora para as publicar após a morte desta. "O Livro de Emma Reyes", que apareceu pela primeira vez na Colômbia em 2012, tornou-se de imediato um clássico. O testemunho – que vai dos primeiros anos até à idade adulta – apaixonou os leitores pelas suas beleza e coragem, embora contasse a história de uma trágica infância e juventude.

Novidade Cultura Editora

Onde Cantam os Grilos
de Maria Isaac
Ainda bebé, Formiga foi deixado num cesto nos degraus da casa da Herdade do Lago.
      O mistério da sua chegada é apenas mais um na longa história da herdade e das várias gerações dos Vaz, que a assombra de lendas e maldições: uma fonte inesgotável de mistérios fascinantes para a imaginação do rapazinho cabeça de vento.
      Deslumbrado pela vida da família que venera de forma atrapalhada, Formiga corre e trepa a árvores, encolhe-se, faz-se invisível, inventa um pouco de tudo para conseguir acompanhar conversas, descobrir mais um segredo.
      Mas o último segredo que ele descobre revela-se demasiado grande para a curiosidade bem-intencionada de uma criança, e um erro seu acaba por destruir o único mundo que conhece e pôr fim à sua infância.
      Mais de vinte anos depois, Formiga regressa à Herdade do Lago e escreve para um leitor invisível, relembrando tudo o que foi e que não deveria ter sido.
      Uma história doce contada pela voz de um adulto que fala pela criança que foi um dia.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Escolha do Jorge: Viagem à União Soviética


A reedição do texto “Viagem à União Soviética” de Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013) segue em linha com a comemoração do centenário da Revolução de Outubro. Publicado inicialmente em 1973, a Cavalo de Ferro recupera um texto do escritor português, reflectindo as suas impressões relativas à viagem à União Soviética que teve lugar no início dos anos 70, juntamente com Fernando Namora e Alberto Ferreira.
      O texto pode ser inscrito no contexto de literatura de viagem ou simplesmente ser apreciado como um pequeno ensaio em que o autor passa a escrito as suas impressões sobre a sua experiência de três semanas nalguns dos pontos mais emblemáticos daquele que é o maior país do mundo e que, à data, constituía a grande referência em matéria de comunismo, ao mesmo tempo que se tratava de um país pouco visitado por turistas e quando tal acontecia era fortemente vigiado e articulado em consonância com o Partido Comunista.
      Se ainda hoje é difícil ter uma percepção clara e objectiva sobre o que é e como funciona a Federação Russa, nos anos setenta, para quem vivia no Ocidente, e estando em vigor a chamada “Política de Blocos”, era ainda mais complexo não só visitar a região, como deambular em pontos muito distantes geograficamente uns dos outros, ainda que acompanhado de um guia afecto ao regime de então. Alguns dos locais referenciados em destaque por Urbano Tavares Rodrigues são Moscovo, Leninegrado (S. Petersburgo a
partir de 1991), Tashkent, no Uzbequistão, a Sibéria Oriental, além de outros menos conhecidos e menos visitados.
      Com o presente texto, percebemos de imediato a orientação política do escritor, em linha com o comunismo, sem, contudo, que no decurso das ideias expressas, tenha como finalidade propor o comunismo em detrimento do capitalismo. Urbano Tavares Rodrigues pretende conhecer a realidade soviética, a forma como as pessoas vivem em pontos distintos daquele país que constitui um mundo fechado sobre si próprio. Ainda que a União Soviética seja apresentada como um país melhor quando comparado com os países do Ocidente, Urbano Tavares Rodrigues não faz a apologia do comunismo como o rumo que deverá ser tomado nos anos setenta. O próprio autor salvaguarda que as suas opiniões, aquilo que passa a escrito, reflecte somente aquilo que percepcionou durante a sua visita, não impondo as suas ideias como verdades absolutas, mas reconhecendo-lhes o carácter subjectivo.
      Urbano Tavares Rodrigues, no decurso deste seu périplo, derruba alguns mitos que ficaram associados aos trabalhos forçados. A Oriente, na Sibéria, desenvolvem-se novas cidades ligadas às centrais hidroeléctricas, símbolo de desenvolvimento económico da URSS em oposição à ideia de deportação dos inimigos políticos que eram deportados para os campos de trabalhos forçados, os gulag. “Mas hoje, para os soviéticos, a palavra «Sibéria» significa combate e vitória, triunfo sobre a natureza (mas com a mesma natureza viva, sem a aniquilar). Fábricas a elevarem-se aqui e além, sobretudo de celulose, sanatórios, bairros que, quase de um mês para o outro, mudam o rosto das povoações, escolas, todos os equipamentos da civilização. O clima é duro no Inverno, mas há compensações. Os estímulos morais não são palavras vãs na URSS.” (pp. 60-61)
      As creches, integradas nos complexos fabris, constituíam uma forma de apoio às famílias e, de facto, de acordo com o observado, as condições de outrora não deixam de ser invejáveis à luz das condições existentes actualmente, em Portugal, por exemplo. Só não é referido qual o preço que as populações tinham de pagar face à ideia de sujeição e ausência de liberdade e, não raras vezes, as doenças do foro respiratório e oncológico pagavam-se muito caro face à ideia de desenvolver o país, de o tornar mais forte.
      A ideia de a população ter mais dias de férias e a oferta de “pacotes turísticos” em sanatórios, por exemplo, era a forma (inevitável) de manter a população sujeita a preceitos políticos sem precedentes, fazendo com que as pessoas ficassem gradualmente debilitadas do ponto de vista da saúde e com uma esperança de vida reduzida.
      Outros aspectos igualmente interessantes têm a ver com o sistema de reforma associado às cooperativas como forma de planear a velhice.
      Também a compra da habitação a preços irrisórios, com rendas pagas ao Estado, por períodos muito reduzidos quando comparados com as práticas do Ocidente a este respeito, é algo que, aparentemente, é invejável, não fosse, ainda hoje, nas principais cidades russas, Moscovo e S. Petersburgo, a falta de habitação um dos grandes problemas do país.
      Outro dos aspectos que é referido face à dicotomia Ocidente versus URSS, face aos sistemas económicos distintos, é a destruição dos stocks imposta pelo capitalismo como forma de fomentar a produção industrial em linha com a ideia de uma sociedade de consumo fortemente estimulada. Já na União Soviética, o desperdício não se concebe, daí que as tendências da moda no que concerne ao vestuário, por exemplo, chegam, regra geral, àquelas paragens mais tardiamente. “Mas será isso importante?” (p. 29)
      Poderíamos enumerar mais exemplos, mais histórias, mais alguns relatos de Urbano Tavares Rodrigues, contudo, ficará para o leitor o prazer da leitura para que também possa tirar as suas conclusões.
      Em boa hora “Viagem à União Soviética” foi reeditada e, independentemente do centenário da Revolução de Outubro, o importante, creio, que é fazermos o balanço sobre ganhos e perdas após o desmantelamento da União Soviética, mas também compreendermos que o caminho do Ocidente entrou em ruptura com o capitalismo desenfreado, desregrado.
      O comunismo deu o que tinha a dar enquanto ideologia (e não só), não esquecendo que durante anos a fio, a União Soviética tentava criar a ilusão de um mundo perfeito, mas oco, afinal de contas.
      Por seu turno, o capitalismo também entrou em colapso com as suas sucessivas crises, arrastando milhões de pessoas para a miséria, na sequência de as democracias terem sido seduzidas e depois escravizadas face ao domínio e poder do capital. Um meio-termo talvez fosse o caminho a seguir, através da implementação de políticas económicas e sociais equilibradas em consonância com o meio ambiente. O futuro o dirá…

Texto da autoria de Jorge Navarro

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Para os Mais Pequeninos: "As Formas"

Livro pequenino para os mais pequeninos! 

As cores alegres dāo vida a quadrados, triangulos, rectangulos e circulos e levam o bébé a entrar no mundo das texturas e das formas. Simultaneamente, bonecos divertidos dirigem carros, camionetas, barcos e foguetōes precisamente formados por uma amálgama de cores diversas e texturas apelativas e através dos quais uma história pode ser imaginada e contada.

De folhas cartonadas, este livro torna-se seguro e mais duradoiro nas māos ainda desastradas dos pequeninos seres para quem se dirige e é também de mais facil manuseamento.

Desta colecçāo existem também os livros: Os Números, As Cores e As Palavras.

Ora vejam:





Cris

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O Jardim das Borboletas de Dot Hutchison

Que leitura espectacular esta! Que imaginaçāo surpreendente e fértil! Um pouco macabra, reconheço, mas a trama é de tal forma inquietante que fiquei presa de imediato. Mexe com os nossos sentidos, com o nosso estômago e pōe-nos o coraçāo a mil...
      Um livro onde as imagens visuais, que nascem das palavras fortes e cruas, permanecem connosco muito depois de o termos terminado, perpectuando o horror que sentimos quando o lemos. E sabem que mais? No mundo em que vivemos e que, por vezes, pode ser tāo cruel, nāo é difícil acreditar que a história aqui descrita poderia ter realmente acontecido... É essa verosimilhança, esse horror que pode estar escondido perto de nós, que assusta verdadeiramente o leitor. A mim fê-lo.
      Um jardim cheio de borboletas humanas, guardado por um jardineiro implacável. Sabem que as borboletas possuem uma esperança de vida bem pequena? 

Precisam de ler este livro. Adorei!

Terminado em 17 de Outubro de 2017

Estrelas: 5*

Sinopse
Perto de uma mansão isolada, encontra-se um jardim com flores exuberantes, árvores frondosas e... uma coleção de preciosas «borboletas». Jovens mulheres sequestradas e tatuadas para se parecerem esses belos insetos. Quem toma conta deste estranho lugar é o aterrador jardineiro, um homem retorcido, obcecado com a captura e a preservação de seus espécimes únicos. Quando o jardim é descoberto pela Polícia, os agentes do FBI Hanoverian e Eddison têm a tarefa de juntar as peças de um dos quebra-cabeças mais complicados das suas carreiras. Maya, uma das vítimas, ainda se encontra em choque e o seu relato está cheio fragmentos de episódios arrepiantes, no limite da credibilidade. O que esconderão as suas meias palavras?

Cris

domingo, 22 de outubro de 2017

Ao Domingo com... Paula Veiga


Sou a Paula Veiga, nascida em Lisboa, há 54 anos, advogada de profissão. Escolhi esta profissão
porque nunca soube lidar com injustiças e pensava que, de algum modo, poderia fazer a diferença. Enganei-me! Presentemente, sou completamente descrente na nossa justiça.
      Enquanto adolescente, sempre gostei de ler e talvez por isso mesmo tenha, naturalmente, evoluído para a escrita. Recentemente, coloquei a mim própria este desafio, o de escrever um romance, e foi por isso que comecei a escrever. Aprendi que, ao escrever, consigo exercitar a minha imaginação e julgo que foi isso mesmo que me seduziu na escrita. Adoro fazer pesquisa e dedico-me essencialmente aos romances históricos.
      Escrevo porque gosto de contar histórias, pois gosto de criar personagens e de lhes dar vida. Adoro acompanhá-los, durante alguns meses, enquanto decorre a elaboração de uma narrativa. Na parte ficcionada da narração, nunca sei como as personagens vão reagir a determinado acontecimento, desconheço como vai acabar a história e isso para mim é fascinante.
      Escrevo de um modo simples e fluido, porque quero chegar a todos os leitores e, fundamentalmente, porque gostava que aprendessem algo com aquilo que escrevo. Vivo intensamente todos os projectos que abraço e procuro sobretudo escrever sobre mulheres, especialmente sobre aquelas que ficaram esquecidas para a história ou aquelas que vestem a pele de tantas outras. 
      Escrevo principalmente ao Domingo, porque é o dia em que tenho mais disponibilidade, embora também escreva regularmente aos dias de semana, em qualquer lugar, na praia, no café, nas repartições públicas, durante o dia ou de noite.
      Vivo em Arruda dos Vinhos, com o meu marido, e sou uma pessoa que gosta de gozar os prazeres simples da vida, nomeadamente um almoço com os amigos ou com a família, uma festa pijama com as amigas, uma ida à praia, uma caminhada ou uma viagem. Vibro imenso com as viagens e elas são, sem dúvida, uma fonte de inspiração.
      Até ao momento já publiquei três livros, dois romances e um policial, mas todos de cariz histórico.
      Em Janeiro de 2017, foi editado pela Saída de Emergência, na colecção História de Portugal em Romances, a obra “A Rainha Perfeitíssima”. Trata-se de um romance histórico que nos fala de Leonor de Lencastre, que viveu no século dos Descobrimentos e muito fez pelos desfavorecidos, criando vários hospitais e misericórdias. Também deu uma notável contribuição à divulgação das artes e das letras, mandando publicar várias obras, entre as quais se destacam as de Gil Vicente.
      Desde muito cedo esteve destinada a ser coroada Rainha de Portugal. Casou com o primo, D. João II, a quem foi dado o cognome de “Príncipe Perfeito”, mas que nem por isso estava isento de defeitos que o levavam frequentemente a disputas com os nobres do reino. Estas contendas rapidamente se transformaram em atentados, configurando crimes de alta-traição e levaram não só à prisão e posterior execução do duque de Bragança como também à morte do duque de Viseu, D. Diogo, com um punhal no peito, às mãos de El- Rei.
      Leonor enfrentou durante a sua vida várias tragédias pessoais, sendo confrontada, desde muito nova, com a morte dos irmãos, do pai e, anos mais tarde, com a morte suspeita do príncipe herdeiro, num acidente. Depois da tragédia veio a desilusão, quando o seu marido, em substituição do seu próprio filho, tentou colocar no trono o seu descendente bastardo.
      Estas tensões levaram Leonor a recolher-se no Paço de Santo Elói, onde levava uma vida calma, afastando-se assim definitivamente da vida palaciana e onde passou a dedicar-se às causas sociais do reino.

Paula Veiga

sábado, 21 de outubro de 2017

Na minha caixa de correio

  

 

Esta semana foi assim:
Pelas māos da Presença chegou-me "Imagina Que Nāo Estou Aqui".
Comprado aquanda da presença da autora num evento na Gulbenkian, "Eu Matei Xerzade".
"Uma Mulher Desnecessária" foi ganho nos passatempos do JN.
"A Porta" foi ofertado pela Cavalo de Ferro. Curiosa com este livro depois da opiniāo do Jorge aqui no blogue.
"Elza, Minha Luz" foi oferta de uma nova editora. Um testemunho pessoal.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

"Milarepa" de Eric-Emmanuel Schmitt

Creio nāo ter demorado uma hora a ler este livro e, no entanto, ele atingiu-me com uma seta de que nāo estava à espera. Bom, o que me atingiu mesmo fortemente foi o ódio que é vivido por um dos personagens em relaçāo a um outro! Está descrito com um sentimento muito forte, quase palpável. Como pode um livro tāo pequeno transmitir tanto?
      Um tio que odeia mortalmente o sobrinho, sem que, aparentemente, exista razāo para tal. O sobrinho que, vendo-se o objeto desse ódio, tudo faz para retribuir na mesma medida. Mas, a dada altura, a reviravolta é brutal e a procura do bem torna-se uma constante.
      Mas para além desse ódio há também o purgar dessa raiva. E a história repetida mil e uma vezes para que a purga se faça. 
      Um livro, um conto, que nos fala da vida e da morte, do amor e do ódio. Para pensar.

Terminado a 12 de Outubro de 2017

Estrelas: 4*

Sinopse
Todas as noites, Simon tem um sonho recorrente. É a reencarnação do tio de Milarepa, o famoso iogue tibetano do século XI. Para quebrar os ciclos infinitos de reencarnação, Simon terá de contar a história de Milarepa e do seu tio, que nutria pelo sobrinho um ódio implacável, identificando-se com eles até ao ponto em que a sua identidade se funde com a deles. Mas onde começam os sonhos e termina a realidade? Neste livro, que é simultaneamente simples e maravilhoso, um conto no espírito do budismo tibetano, Eric-Emmanuel Schmitt traz-nos os temas mais importantes para o espírito humano: a vida, o amor, a morte, o bem e o mal.

Cris

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A Convidada escolhe: "A Louca da Casa"

A Louca da Casa, Rosa Montero, 2003

Este é o quarto livro que leio desta escritora e jornalista madrilena. Posso dizer que é uma escritora que me enche as medidas, leio-a com muito agrado e este é mais um livro surpreendente. É um livro repleto de citações, de referências a autores e às suas vidas, um livro que apetece sublinhar, copiar frases…
É uma reflexão sobre a literatura, a vida, a morte, as vidas que se vivem/ocultam dentro do narrador, sobre a imaginação, a loucura, a paixão, o poder, a vaidade, o mercado… em suma, a diversidade de temas que as vidas da escrita implicam e que ela tão bem conhece enquanto pessoa para quem, escrever e ler é como respirar.

Se em “Histórias de Mulheres”, Rosa Montero nos dera a conhecer histórias pouco ou nada conhecidas de mulheres, a partir da leitura de biografias ou diários, em “A Ridícula Ideia de não voltar a ver-te” desvenda-nos o diário que Marie Curie escreveu no ano a seguir à morte de Pierre Curie, em “A Louca da Casa” revela-nos detalhes curiosos e inusitados de vários escritores célebres como Rimbaud, Paul Verlaine, Hemingway, Tolstoi, Goethe, Melville, Truman Capote, Joseph Conrad, Oscar Wilde, García Márquez e tantos outros, ilustrando com as suas vidas, defeitos e qualidades os temas que aborda ao longo do livro. Dos portugueses faz referência a José Luís Peixoto (ps. 16 e 17) – “… estas agruras são compensadas com a fabulação criativa, com as outras vidas que os romancistas vivem na intimidade das suas cabeças. José Peixoto, um jovem narrador português, batizou estes propósitos de existência como os «e se…». E tem razão, a realidade interior multiplica-se e excede-se assim que nos apoiamos num «e se…»” – para introduzir o tema da imaginação (a louca da casa como lhe chamava Santa Teresa de Jesus), aquela que salta fora da rigidez e lucidez escrupulosa da razão.
Neste livro que é quase um diálogo com o leitor/a, a autora questiona-se, por exemplo, sobre o destino de algumas personagens reais que deram origem a personagens literárias; refere os fantasmas inconscientes que a perseguem e que são recorrentes nos seus textos; a insatisfação do escritor/a que quer sempre ser nomeado e, em última instância, aspira à eternidade não é senão um sinal de vaidade; num mundo dominado pelo mercado promovem-se os bestsellers tantas vezes sucessos de momento que não ficarão para a história e é sabido que um livro, que tenha poucas vendas e seja considerado um fracasso editorial, terá a guilhotina como destino.
Rosa Montero também fala de si como escritora e, embora deteste a tendência para se arrumar e catalogar a literaura e os/as escritores/as, identifica-se como “raposa a 100%” em oposição a autora-ouriço, pois tenta não se conformar, nem repetir. “Nunca se contentou com o que sabia” seriam as palavras que gostaria que um dia escrevessem na sua crenologia! E diz-nos como detesta aquelas perguntas que lhe fazem com imensa frequência sobre se há uma escrita de mulheres e sobre se ela se sente como escritora ou como jornalista… Ela que é antissexista e escritora e também jornalista aproveita para falar daquelas grandes escritoras que tiveram de se esconder debaixo dum nome de um homem para escrever e das muitas mulheres de escritores que tantas vezes foram tidas como musas… mas que não poucas vezes foram verdadeiras criadas e secretárias insubstituíveis para que os maridos viessem a brilhar como grandes escritores!
A certa altura Rosa Montero confia-nos um episódio que ela, jovem jornalista e um famoso actor de cinema,  protagonizaram há muitos anos. Talvez para nos recordar que a louca da casa anda à solta e que não podemos esquecer “… as quantidades de vidas diferentes que podem existir numa só vida…”, essa mesma história do tempo em que Rosa era uma jovem jornalista hippy em princípio de carreira vai surgir em dois momentos distintos do livro, baralhando-nos com desenvolvimentos e finais completamente diferentes e hilariantes.
“E se…” como diria José Luís Peixoto, Martina a “obscura irmã gémea” de Rosa que surge amiúde no livro não passar de uma personagem criada por Rosa Montero para nos recordar que autor e narrador são duas figuras distintas?
Quando acabo um livro gosto sempre de voltar ao princípio. Lê-se na dedicatória:

Para Martina, que é e não é.
E que não sendo, me ensinou muito.”

Outubro 2017
Almerinda Bento

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

"Uma Coluna de Fogo" de Ken Follett

Os Pilares da Terra foi um dos primeiros livros que li de Ken Follett (talvez mesmo o primeiro!) e soube logo que este autor teria sempre um lugar cativo na minha estante. Adorei a sua escrita, o trabalho de pesquisa que se adivinha por detrás das palavras e o enredo sempre verosímel em que as "suas" personagens coabitam com personagens reais. Seguiu-se Um Mundo Sem Fim e agora, ao fim de dez anos, termina a trilogia com Uma Coluna de Fogo. Creio que nāo minto ao dizer que qualquer dos livros pode ser lido separadamente mas se conseguirem lê-los por esta ordem, melhor será. O espaço temporal segue uma linha que importa obedecer.
      Que dizer? Levei tempo demais a lê-lo, eu sei, mas deveu-se ao seu peso, volume completamente anti-transportável. Essa foi a única razāo da demora das quase três semanas em que só conseguia pegar nele ao fim do dia.
      De resto, nada a apontar! Voltei de novo a Kingsbridge, desta feita o periodo narrado vai dede1558 até 1606 e navegamos por uma Inglaterra (e restante mundo) onde protestantes e católicos travam lutas religiosas que mais nāo sāo que guerras de poder. "Servir a Deus" e "vontade de Deus" era uma boa desculpa para mandar para a fogueira quem estivesse no lugar errado da religiāo (fosse ele qual fosse!). Jogos de poder onde a espionagem e as acçōes clandestinas tinham um papel importante nessas lutam que pareciam nāo ter fim.
      Ned Willard é um dos personagens centrais. Aquele pelo qual giram muitos outros, reais e fictícios. E sāo mesmo muitos os personagens mas isso nāo torna confusa a leitura. Esse facto é devido, sobretudo, à escrita de Follett, descritiva q.b. mas sem ser sensaborona, com vários focos de interesse ao mesmo tempo e detentora de uma pesquisa extraordinária que se vislumbra nos pormenores da caracterizaçāo dos personagens fictícios, tornando-os tāo reais quanto poderiam ser, caso tivessem existido.

Um livro completo, um livro de leitura obrigatória. 

Terminado em 11 de Outubro de 2017

Estrelas: 6*

Sinopse
Natal de 1558. O jovem Ned Willard regressa a Kingsbridge, e descobre que o seu mundo mudou. As velhas pedras da catedral de Kingsbridge contemplam uma cidade dividida pelo ódio de cariz religioso. A Europa vive tempos tumultuosos, em que os princípios fundamentais colidem de forma sangrenta com a amizade, a lealdade e o amor. Ned em breve dá consigo do lado oposto ao da rapariga com quem deseja casar, Margery Fitzgerald. Isabel Tudor sobe ao trono, e toda a Europa se vira contra a Inglaterra. A jovem rainha, perspicaz e determinada, cria desde logo o primeiro serviço secreto do reino, cuja missão é avisá-la de imediato de qualquer tentativa quer de conspiração para a assassinar, quer de revoltas e planos de invasão. Isabel sabe que a encantadora e voluntariosa Maria, rainha da Escócia, aguarda pela sua oportunidade em Paris. Pertencendo a uma família francesa de uma ambição brutal, Maria foi proclamada herdeira legítima do trono de Inglaterra, e os seus apoiantes conspiram para se livrarem de Isabel. Tendo como pano de fundo este período turbulento, o amor entre Ned e Margery parece condenado, à medida que o extremismo ateia a violência através da Europa, de Edimburgo a Genebra. Enquanto Isabel se esforça por se manter no trono e fazer prevalecer os seus princípios, protegida por um pequeno mas dedicado grupo de hábeis espiões e de corajosos agentes secretos, vai-se tornando claro que os verdadeiros inimigos ? então como hoje ? não são as religiões rivais. A batalha propriamente dita trava-se entre aqueles que defendem a tolerância e a concórdia e os tiranos que querem impor as suas ideias a todos, a qualquer custo.

Cris

sábado, 14 de outubro de 2017

Na minha caixa de correio

  


 

Ofertados pelo Clube do Autor: Olifaque, A Cicatriz do Mal e O Bibliotecårio de Paris.
Comprados em 2a māo, Retrato de uma Senhora e Diário de um Velho Louco.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A Escolha do Jorge: "A Porta"


"O melhor presente que se pode dar a alguém é impedi-lo de sofrer." (p. 135)

Em boa hora a editora Cavalo de Ferro recuperou “A Porta” da húngara Magda Szabó (1917-2007,) reeditando-o no mês de Setembro! Este romance intenso, tanto quanto electrizante deixa o leitor desconcertado e inquieto ao longo de toda a narrativa.
      Emerence, a personagem principal, austera no vestir, no falar e nas atitudes, capta a atenção do leitor desde a sua aparição, deixando este num estado de delírio e de estupefacção e, outras vezes, de incredulidade. Emerence era porteira de um prédio de um bairro na periferia de Budapeste e era conhecida pela sua força física e por ser exímia na forma como desempenhava as suas funções. Emerence trabalhava igualmente na lida da casa de várias famílias, mas é com Magda, a escritora, que ficamos a conhecer a vida e a integridade de Emerence, dado que esta empregada exerceu funções em sua casa durante quase duas décadas.
Sempre dura, quase sempre com um discurso próximo da crueldade, o leitor quase é levado a pensar que Emerence não tem quaisquer sentimentos, nem expectativas no que concerne à raça humana.
      Passado no segundo após-guerra, Magda, a narradora-escritora, dá-nos conta do que foi construindo em matéria de conhecimento sobre Emerence. A sua história, os seus segredos, as razões, no fundo, da sua rigidez e inflexibilidade perante tudo e todos.
      Para quem tudo perdeu durante o período nazi (antes e durante a guerra) e nada beneficiando, nem bendizendo dos russos (depois da guerra), Emerence arrasa as duas ditaduras, sem clemência e sem pudor, reduzindo o mundo ou a sociedade, melhor dizendo, a duas categorias, “aqueles que varrem e os que mandam varrer”. Banidas e extinguidas com um ódio visceral, as ditaduras de extrema-direita e de extrema-esquerda, Emerence reconstrói a sua vida com uma tal rigidez cristã, para lá dos valores estabelecidos pela moral calvinista, edificando para si própria uma nova ditadura como forma de se proteger de tudo e de todos.         Durante décadas, Emerence impôs sobre si própria este modelo inflexível, dentro da sua casa, a “cidade proibida” a que Magda várias vezes alude e que ninguém entra. “A Porta” desta “cidade proibida” é o que separa os dois mundos, a vida dos outros e a de Emerence, com os seus objectos e os seus gatos. E Viola, o cão, cuja guarda era partilhada com Magda e o marido. A bem da verdade, Viola estava de tal forma “educado” que era o discípulo de Emerence naquela que era a sua conduta austera. Ninguém, mas absolutamente ninguém, é convidado a passar para lá da porta, nem se deve aproximar. Emerence ataca com palavras e com o machado, se for caso disso…
      Mas há segredos por contar, há telhados de vidro, há fragilidades, medos, no fundo… Emerence por muito dura e inflexível perante si mesma e os outros, não deixa de ser vítima do tempo, o deus chronos, que, na verdade, é o único deus que respeita. "Se Emerence acreditava em algum facto, era no tempo, na sua mitologia pessoal, o Tempo era a mó de um moinho eterno, cuja moega vazava os acontecimentos da vida no saco que cada um trazia. Ninguém lhe escapava, segundo a crença de Emerence, que estava persuadida, mas sem compreender, que moía também o trigo dos mortos e enchia o seu saco, só que havia alguém que trazia a farinha às costas para se fazer o pão." (p. 126)
      E Emerence adoece… Magda e a vizinhança percebem que a velha senhora deixa de conseguir estar sozinha, precisando de cuidados médicos, hospitalares. Magda vê-se a braços com uma situação que lhe provocará temor e tremor, além de um sentimento de culpa e de remorsos, tendo em consideração o conflito moral que dali nasce. A doença de Emerence traz o desabar de todo o mundo, o universo que esta criou, mas também a vergonha perante a possibilidade de descoberta por parte dos vizinhos. É este jogo de verdade-mentira com que a vizinhança passa a lidar com Emerence como forma ou tentativa de a manter viva. Mas por quanto tempo? Mas não se faz esperar um desabafo final, uma última tortura da parte de Emerence porque esta não cede assim tão facilmente, é obstinada e orgulhosa. Magda tem ainda de ser atacada, uma vez mais, face à iminência de toda uma comunidade descobrir em que moldes funcionava o seu mundo, a sua ideologia, a sua ditadura. "— Ora, vá-se embora — disse Emerence, calmamente. — Não comprou casa e, todavia, pedi-lhe, e quantos tesouros lhe destinava para a mobilar; não teve filhos, e, todavia, prometi-lhe que os educaria. Reponha o aviso na porta, não quero ver ninguém que foi testemunha da minha vergonha. Se me tivesse deixado morrer, como eu estava decidida quando compreendi que já não seria capaz de efectuar um verdadeiro trabalho, eu velaria por si além-túmulo, mas agora já não suporto a sua presença. Vá-se embora." (p. 215)
      Sentimentos de culpa, remorsos, inquietação, perturbação são estados de espírito que Magda descreve sobre a relação de quase vinte anos com Emerence, mas, simultaneamente, o sentimento de gratidão da parte de alguém, frágil perante a imagem austera, que deu tanto a uma comunidade e que, no fundo, era o melhor exemplo de cristã sem que frequentasse a igreja aos domingos para de livrar dos pecados.
      “A Porta” de Magda Szabó é indubitavelmente uma obra-prima da literatura contemporânea, em que dificilmente esqueceremos Emerence, para o bem e para o mal. É, pois, um romance que conduz o leitor a reposicionar-se perante os valores instituídos pela sociedade, dando a ideia da possibilidade de utopias, quando não existem, mas a crença de um mundo melhor através de pessoas cuja personalidade, temperamento e valores, as torna sólidas.
      Ao longo da obra, compreendemos algumas das razões pelas quais Magda Szabó esteve impedida de publicar no seu país, quando a Hungria era parte integrante da “Cortina de Ferro”. Não há ditadura que não apresente fragilidades, que não cometa atrocidades, que não iniba os cidadãos de pensar, criticar. Não há ditadura que, na devida altura não desabe, sendo arrasada, inevitavelmente, transformando-se num mundo novo, numa nova ordem, reflexo do motor da História.
      “A Porta”, publicada em 1987, é a obra que conduz ao reconhecimento da escritora em termos internacionais, sendo o livro publicado em mais de 30 países. Em 2013, o romance foi adaptado ao cinema, pelo realizador Istvan Szabó, tendo Helen Mirren o papel de Emerence.

Texto da autoria de Jorge Navarro

Novidade "Edição Independente" de Gonçalo Dias

Manual de um Homicídio
de Gonçalo J. Nunes Dias

Marina, uma mulher de 38 anos com um relacionamento desgastado, apaixona-se por um colega de trabalho, casado e com um filho. Os dois têm uma relação tórrida. Um deles comete um assassinato.
      Oscar, um polícia de homicídios, é encarregue do caso. É um homem dedicado ao seu trabalho e à sua família, que goza e brinca com as típicas series policiais norte-americanas.


Entre os dias 12 a 16 de outubro, o livro estará disponível grátis, em qualquer formato digital,  na Amazon e no blogue do autor.
Está também a decorrer um “giveaway” de um exemplar em papel no Goodreads até 5 de novembro.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Convidada escolhe: O Plano Infinito

O Plano Infinito, Isabel Allende, 1991


Este é um dos livros iniciais de Isabel Allende e, à semelhança dos anteriores, foca-se de forma pormenorizada na caracterização de personagens e no acompanhar dos seus percursos de vida. Ao longo das quatro partes em que é dividido o romance, Isabel Allende, ao mesmo tempo em que nos dá a conhecer a vida de Gregory Reeves, faz um retrato dos Estados Unidos da América, da vida dura dos imigrantes vindos do México, do racismo e da segregação, do proliferar de seitas que arrastam multidões, dos anos loucos do amor livre e das drogas que marcaram a geração hippy, da carnificina que foi a guerra do Vietname de onde a América saiu derrotada e envergonhada, dos protestos dos movimentos pacifistas e anti-racistas e por fim o surgimento de um tipo de vida insustentável baseado no crédito fácil que viria mais tarde a eclodir na bolha financeira.
      Gregory Reeves é a personagem central, mas são inúmeras, diria mesmo demasiadas, as pessoas em torno dele, caracterizadas de forma viva e colorida. Se há relatos duros e sombrios, outros são engraçados e picarescos. As personagens “vêem-se”, são palpáveis, têm vida.
      Greg teve uma vida atribulada e difícil, aspirando antes do mais e, sobretudo, à aceitação e ao amor por parte dos outros. Desenraizado, percorrendo enquanto criança, a América do Norte na companhia de um pai pregador inflexível e de uma mãe fria e distante, até que a família se fixa numa comunidade de imigrantes predominantemente mexicanos. Aí, como, aliás, ao longo de toda a vida, e por diferentes motivos, sentir-se-á um estranho. Muito louro e branco é rejeitado e visto com desconfiança numa escola em que todos são morenos e usam uma linguagem diferente. Mas uma vez que é preso por um pequeno delito verifica que é tratado com benevolência por ser branco. Ou ainda quando chega à universidade de Berkeley percebe que lá só há brancos como ele.
      A sua vida amorosa que ele via ser a possibilidade de resgatar a felicidade que nunca tinha tido enquanto criança é um desastre. Nem amado pela mulher e muito menos pela filha, os piores anos da sua vida foram aqueles em que perdeu a “candura” e corresponderam aos anos da revolução sexual dos anos 60. Ao ser chamado para o Vietname, foi com a secreta esperança de morrer na guerra, mas, afinal, descobriu que “morrer é muito mais difícil que continuar vivendo”!
      Isabel Allende é brilhante nos relatos do horror da guerra que nos recordam muitos filmes emblemáticos sobre a guerra do Vietname. Greg regressa do Vietname e sente-se totalmente sozinho e fora do resto do mundo. Pode subir na carreira de advogado, mas a infelicidade, a ansiedade e a insatisfação são permanentes. Ele, tal como grande parte das personagens que o rodeiam não passam de ilhas sozinhas e isoladas. Greg leva uma vida de grande instabilidade e sofrimento, sem conseguir encontrar-se, chegar ao seu eu. Depois de se ter endividado com créditos e mais créditos para alardear um status falso, entra em falência. Tudo cai à sua volta. Será a terapia que vai fazer ao longo de anos que o irá ajudar a conhecer-se e dar-lhe as ferramentas para se levantar a partir do zero.
      No fim, percebe-se que Greg Reeves está a falar com Isabel Allende e que todas as personagens e acontecimentos que lhe está a narrar são a sua história de vida. Voltando ao princípio do livro, lê-se “quarenta e tantos anos mais tarde, durante uma longa confissão em que passou revista à sua existência e fez as contas dos seus erros e acertos, Gregory Reeves descreveu-me a sua recordação mais antiga…”
      Na dedicatória Isabel Allende escreve: “Ao meu companheiro, William C. Gordon, e às outras pessoas que me confiaram os segredos das suas vidas”. “O Plano Infinito” recheado de personagens é o retrato dessas muitas pessoas que confiaram os segredos Almerinda Bentodas suas vidas a Isabel Allende. Mais ou menos romanceado, mais ou menos verídico, é um livro denso com episódios de grande dureza e com personagens inesquecíveis.

Setembro 2017

Almerinda Bento