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terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

"Um Lugar ao Sol" seguido de "Uma Mulher" de Annie Ernaux

Duas narrativas de uma autora que aprecio, dado o seu tom intimista. Annie Ernaux, como sempre, fala dos seus e, indiretamente, de si. Desta feita, os textos são um sobre o pai e outro sobre a mãe, ambos já falecidos quando escreveu estas linhas. 

Presente nestas linhas está a sua perda, os sentimentos por vezes contraditórios que unem pais e filhos, a ligação familiar que os unia. É, mais do que isso, um retrato social da época (foram publicados em 1984 e 1988 respectivamente); muito interessante de ler. 

Memórias felizes e tristes que a marcaram e que quis deixar escritas, num misto de sentimentos,  de modo a fazer o luto e a libertar o que lhe ia no interior. 

Não recomendaria começar por esta obra, caso nunca tenham lido Annie Ernaux. A mim, fez-me bem conhecer um pouco da sua vida antes de ter começado este livro. Pareceu-me que já a conhecia um pouco quando peguei nele e isso fez com que me sentisse em casa.

A ler!

Terminado em 7 de Fevereiro de 2023

Estrelas: 4*

Sinopse

Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, uma filha procura preencher um vazio que é seu, traçando em simultâneo um retrato coletivo sobre uma época, um meio social, uma ligação familiar. Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez cabe à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na história.

Neste volume reúnem-se os dois textos de Annie Ernaux sobre estas perdas: Um Lugar ao Sol, sobre o pai, publicado em 1984 e vencedor do Prémio Renaudot, e Uma Mulher, sobre a mãe, lançado em 1988. Duas peças literárias fulgurantes, misto de biografia, sociologia e história, onde resplandece a ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto da quebra desse elo vital.

Cris

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

"Misericórdia" de Lídia Jorge

Tenho mixed feelings ao falar-vos deste livro. Gostei mas não amei. Não foi para mim uma leitura fluida muito embora considere que algumas partes são de uma beleza tocante e muito actuais, de uma crítica por vezes subtil, por vezes declarada. 

Esta ausência de fluidez na leitura foi partilhada por muitos dos companheiros de um clube de leitura a que vou, sessão para a qual esta autora foi a escolhida. As opiniões divergiram mas este aspecto foi partilhado por muitos. 

E embora não se leia com fluidez, esta obra não deixa de manter o interesse no leitor. O tema, que me agrada muitíssimo, ronda aspectos como a velhice, o depósito de vidas que podem constituir os lares; as pessoas que lá trabalham (que não podem ser, de todo, uniformemente consideradas); do aspecto pesado da morte, sempre presente no dia a dia de quem lá vive; sobre a pandemia; os migrantes e tanto mais!

O discurso é feito na primeira pessoa. A narradora é a D. Maria Alberta Amado ou D. Alberti, como é tratada, uma senhora idosa que vive num lar, supostamente a mãe da autora. Colocar-se  na "voz" da mãe não deve ter sido tarefa fácil e sorrimos amiúde com as críticas acutilantes feitas pela idosa à sua filha. 

Vamos do sorriso ao franzir do sobrolho, refletindo no que está escrito. Deixo-vos uma parte que, precisamente, me fez parar para pensar:

"Mas eu preciso de alguma coisa que o Noronha não me pode dar. Um lugar seguro, inalcançável, inviolável, onde possa guardar o papel com a mensagem. Só que não há gaveta, não há bolso, não há bolsa, não há travesseiro, nem colchão, nem fundo de bainha nem sola de sapato a que só eu, sozinha, tenha acesso. E essa é a dificuldade de me encontrar a viver no Hotel Paraíso. Não há mais nada que seja só meu, nem o meu corpo, nem o meu espírito."

Não consigo descortinar a razão desta não fluidez de que vos falei, que acompanhou esta leitura. Que tem partes belíssimas, tem. Se tivesse tempo voltava a lê-lo? Sim, sem dúvida.

Terminado em 5 de Fevereiro de 2023

Estrelas: 4*

Sinopse

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

A Convidada Escolhe... “Um Dia chegarei a Sagres”

Um Dia chegarei a Sagres”, Nélida Piñon, 2021

Este livro foi-me oferecido pela minha amiga Guilhermina, grande amiga e editora em Portugal de Nélida Piñon, um dos “Amigos e Cúmplices de Lisboa” a quem a autora dedicou este livro. Com tantos livros que vou amontoando e em lista de espera para serem lidos, acabei por iniciar a sua leitura após o anúncio da morte da escritora brasileira de ascendência galega, em finais de 2022. Nélida Piñon foi uma personalidade marcante da cultura e literatura brasileiras, tendo sido a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras em 1966. A sua obra é extensa, tais como são os prémios e galardões com que foi distinguida ao longo da vida.

Um Dia chegarei a Sagres” é uma odisseia que decorre no século XIX e para a escrita da qual a autora se preparou ao longo de vários anos, tendo sido parcialmente escrita em Portugal. Nas palavras da própria autora “ Cheguei a Portugal sabendo por onde caminhar, mas precisava estar lá pessoalmente para captar a paisagem, os enigmas do povo, os locais onde o sangue foi derramado. Eu precisava descobrir de onde veio esse nosso idioma deslumbrante. Sou valente, audaciosa. Enfrentei a pandemia com a minha literatura”.

Mateus é o centro desta história. Homem do Minho, criado e educado pelo avô Vicente, Mateus tem um sonho. “Um dia chegarei a Sagres” é o mantra que repete ao longo do livro. A narrativa começa com Mateus em Lisboa, pobre, velho e doente, sabendo que já tem pouco tempo de vida e por isso quer contar a sua história.

Sagres foi o sonho, a ambição, mas foi também o local onde deixou os seus fantasmas. Na sua terra natal “a vida reduzia-se à terra, aos animais, ao sexo, ao pão e ao vinho. O sonho fora abolido.” (pág. 58) São, no entanto, o avô e o professor Vasco da Gama, que pela primeira vez lhe falara do Infante D. Henrique, as suas referências de infância, que o levam a ter esse sonho, essa ambição. “Enquanto forcejava o intelecto daqueles alunos a crer na soberania da história, eu acatava os seus preceitos sem resistência. Como sabendo que falava da vida que alguém no passado vivera por mim e que eu agora prosseguia em seu nome.” (pág. 22). “Na cozinha, à noite, perdia-me em conjeturas, de como chegar um dia a Sagres, a pé ou de barco. Ao encontro do Avis…” (pág. 23).

E enquanto não chega esse momento da partida, depois da morte do avô Vicente, a única pessoa que o ligava à terra, é o amor aos animais o único amor que Mateus conhece: a ovelha Antónia, o jumento Jesus, a galinha Filomena. Tal como o avô Jerónimo de Saramago, também o avô Vicente acolhia os animais em casa nas noites de Inverno. “ A morte do jumento doeu-me como nenhuma outra” (pág. 46). Mais tarde, já na viagem de Lisboa a caminho de Sagres adoptará o cão Infante que vai passar a ser o seu melhor amigo.

O amor, a ausência de amor, a inacessibilidade do amor, o sexo e a sexualidade são igualmente temas muito fortes nesta obra. A personagem da mãe Joana que o rejeitou à nascença levam-no a descarregar nas mulheres com quem tem relacionamentos sexuais a falta de amor que nunca recebeu da mãe. O amor por Leocádia tornado inacessível pelo poder controlador da tia Matilde. E a “teia de aranha” (pág. 261) em que o Africano “marcado por um estigma que só eu conheço” (pág. 293) o vai enredando, que o “afligia e atraía ao mesmo tempo” (pág. 262), irmana-o, pois “Minha febre é como a sua. Ambos sofremos.” (pág. 265).

Outras personagens marcam esta história que nos é narrada por Mateus, de que destaco Ambrósio e Amélia, ambas realçadas pela sua personalidade e sobretudo pela coragem em enfrentarem a pobreza e a fome, em muito assemelhando-se aos navegantes. Ambrósio é o alfarrabista que o acolhe na sua casa em Sagres e que compartilha com Mateus a paixão pelo conhecimento e pela história. Amélia, a mulher sem-abrigo que Mateus vai acolher em Lisboa, no final da vida – “a Bárbara reencarnada” que “Morreu para salvar Camões” (pág. 356) – com quem vai aprender “lições de generosidade” (pág. 353) e com quem se vai abrir como nunca antes fizera. “Amélia é a luz do dia. Sei-me vivo graças a ela. Ao deslizar em volta a mim ainda deitado, espera o meu coração se animar. Como querendo ela na sua modéstia apagar as doloridas razões que me expulsaram da paisagem do Algarve e trouxeram-me de volta a Lisboa, junto com meus fantasmas.” (pág. 379)

Um Dia chegarei a Sagres” tem como protagonista o povo que sonha e que sofre através de Mateus que narra a sua história. Alguns momentos marcantes como os descobrimentos, a figura do Infante e de D. Sebastião, o terramoto de Lisboa, a escravatura no Brasil, os reinados de D. Maria II ou D. Pedro V, põem em confronto os privilégios da Igreja e da Nobreza e a pobreza persistente do Povo. Uma escrita poderosa que revela um domínio perfeito e rico das palavras, fazendo jus ao profundo amor da escritora pela língua portuguesa.

Almerinda Bento

5 de Fevereiro de 2023


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

"Afirma Pereira" de Antonio Tabucchi

Que livro este! Pequenino mas tão bom! 

As redes sociais possuem algo de muito positivo e, para além dos amigos que fiz, leitores como eu, são as indicações e recomendações de livros que nos chegam a partir deles que mais adoro. Este livro foi uma maravilhosa descoberta. 

Imaginem um homem bastante gordo com os problemas de saúde daí resultantes com um discurso polido ou socialmente correto para uma época em Portugal - Lisboa de 1938 - que ao "falar" já podíamos estar a incorrer em perigo físico. Muitos são ainda os que se lembram dessa altura mas, para quem já nasceu depois do 25 de Abril, ás vezes, é fácil esquecer. Mas a História está aí e os livros existem para podermos tomar conhecimento dos factos. 

Então, voltemos ao nosso personagem inócuo, jornalista, responsável por um suplemento cultural do jornal Lisboa. Vida programada, cheia de rotinas, solitária, alheada do mundo em que vive e muito sem sabor a deste Sr. Pereira! Ao conhecer um jovem, Monteiro Rossi de seu nome, activista, a sua vida vai alterar-se quase sem dar conta. É aos poucos que se apercebe da censura que impera no país. Começa a alterar pequenos aspectos do seu trabalho e logo passa a ser vigiado e censurado. Não deve mudar nem alterar nada, são as ordens que recebe do director do jornal. 

Este despertar para a realidade de então é feito exemplarmente por Tabucchi (que viveu cá) e o leitor rende-se à sua escrita simples, contudo cheia de miudezas. A dúvida instala-se e o Sr. Pereira vai despertando devagar, acordando para uma realidade que não lhe era visível porque alheado... 

Preparem-se porque a forma de narrar este livro é fantasticamente diferente, mas não vos posso contar para não quebrar a surpresa. Dão logo por ela nas primeiras linhas. É como se fosse um depoimento do Sr. Pereira narrado por outrem que não sabemos quem, e só mais tarde poderemos fazer suposições.

Posso-vos garantir que o final é espectacular! Tão bom! Fico maravilhada quando leio um livro assim! 

Terminado em 15 de Janeiro de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Lisboa, 1938. Numa Europa varrida pelo fantasma dos totalitarismos, Pereira, um jornalista dedicado toda a vida aos casos do dia, recebe o encargo de dirigir a página cultural de um jornal medíocre, o Lisboa. Pereira tem um sentido um tanto fúnebre da cultura e prefere traduzir os romancistas franceses do século XIX, dedicar-se à elegia dos escritores desaparecidos, preparar necrológios antecipados.

Necessitado de um colaborador, contacta o jovem Monteiro Rossi que, apesar de ter escrito uma tese sobre a morte, está inequivocamente comprometido com a vida.

A intensa relação que se estabelece entre o velho jornalista, o impulsivo e idealista Monteiro Rossi e a namorada deste, Marta, irá resultar numa crise pessoal, numa maturação interior e numa dolorosa tomada de consciência que transformará profundamente a vida de Pereira.

Um romance magistral que conquistou a unanimidade da crítica, os mais importantes prémios e a resposta entusiástica dos leitores.

Cris

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

"Sami, O Rapaz que sobreviveu a Auschwitz" de Walter Veltroni

Por coincidência o livro anterior que li tinha um prefácio de Samuel (Sami) Modiano. Ainda é vivo, a caminho dos 93 anos. Olhando para a foto de Sami com o autor, que se encontra na badana do livro, fez-me pensar que qualquer dia não haverá sobreviventes desse pesadelo, que estejam vivos. Se já agora há gente maluca que nega que o holocausto existiu, então...

Bom, este é supostamente um livro dirigido a um público juvenil. Será sim. Mas, na minha leitura, esqueci-me muito rapidamente disso. O facto de ser contado na primeira pessoa, os factos fortíssimos narrados, tudo faz com que nos sintamos lá . É forte e é duro.

Sami vivia na Ilha de Rodes, na actual Grécia, era uma menino feliz. Começou tudo quando um dia é impedido de entrar na escola. Era judeu. Descreve as dificuldades sentidas e que pioravam de dia para dia. A lista do que não era permitido fazer é longa, sem sentido e impossibilita uma vida normal. A fome começa a fazer-se sentir. 

Aos 14 é deportado, juntamente com seu pai e irmã, para Auschwitz. Estava-se em Agosto de 1944 e permaneceu lá até Janeiro de 45, aquando da libertação do campo. Também depois a sua vida não foi fácil. Trabalhos forçados para os russos, ida mais tarde para o Congo, onde fez fortuna e a perdeu também. 

Mas os meses em Auschwitz são marcados pela fome, medo, trabalhos forçados, doença e também sorte. Um relato deveras impressionante. Foi o único sobrevivente da sua família.  

Mais um que é obrigatório ler! 

Terminado em 23 de Janeiro de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Aos 8 anos, Sami (diminutivo de Samuel) foi expulso da escola por ser judeu. Com apenas 14 anos foi deportado da ilha de Rodes, na atual Grécia, para Auschwitz-Birkenau, na Polónia, juntamente com o pai e a irmã. Chegaram em agosto de 1944 e em janeiro de 1945 os campos foram libertados. Sami foi o único da família que sobreviveu. Dedicou a maior parte da sua vida de adulto a divulgar o que se passou e como tem sobrevivido a essa experiência. Em 2005, Sami regressou a Birkenau, com um grupo de alunos italianos e acompanhado por Walter Veltroni. Em 2018, o autor percebeu a importância de fazer chegar este testemunho ao público jovem. Escreveu o livro em discurso direto, como se fosse o próprio Samuel, numa conversa com os leitores.

O livro, numa edição traduzida com o apoio do Centro para o Livro e a Leitura do Ministério da Cultura italiano, inclui fotos da família de Samuel, do próprio e do seu regresso a Birkenau. Nas palavras de Samuel Modiano: «Para que ninguém esqueça. Para que os erros do passado não se repitam.»

Cris

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Resultado do Passatempo Mensal "Toca a Comentar"

Anunciamos o vencedor deste passatempo referente ao mês de Janeiro. 

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

Assim, através do Random.Org, de todos os comentários efectuados nesse mês, foi seleccionado um vencedor! Foi ele:

Ryk@rdo

Parabéns! Terás que comentar este post e enviar um email para otempoentreosmeuslivros@gmail.com até ao próximo dia 20, com os teus dados e escolher um de entre estes dois livros: 

Cris

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Para os mais pequeninos - "Hora do Banho, Pê!"


Achei muito engraçada e didática esta colecção dirigida para crianças da creche e do pré-escolar.
Tratam-se de livros com formatos diferentes, jogos didácticos variados, que acompanham o crescimento da criança.

Este que vos trago hoje é de um formato já bastante conhecido por todos: um livro para a hora do banho. Por isso, pode ser destinado logo aos mais bebés, que, quase sempre, adoram esse tempo de brincadeira.

Boa prendinha para quem resolveu que 2023 era um bom ano para nascer!  😀




Cris

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

"70072, A Menina Que Não Sabia Odiar" de Lidia Maksymowicz e Paolo Rodari

Eu sei que talvez não devesse começar por aqui mas é mais forte que eu. Não gosto da capa nem sequer do título. A capa não representa, de todo, o conteúdo. O título, embora perceba a razão, também não me agrada. 

Posto isto avancemos nas considerações do que penso ser um livro que deveria ser lido por todos. POR TODOS. Podia ficar por aqui porque nem consigo descrever o que senti ao ler este testemunho real do que foi uma vida marcada pelos treze meses que viveu em Birkenau. 

Este livro foi escrito a duas mãos. Paolo deu voz ao testemunho de Lidia, Luda como sua mãe a tratava, e narra na primeira pessoa. Luda é bielurussa, tinha 3 anos quando a sua mãe, irmão e avós foram apanhados pelos nazis. Faziam parte da Resistência e andavam fugidos e escondidos nas florestas do seu país. O pai tinha já sido chamado a combater do lado Russo. Não eram judeus mas tiveram idêntico tratamento. 

As suas lembranças desses tempos são um misto de flashes que lhe surgem juntamente com os testemunhos de pessoas, antes e depois de sair do campo de concentração, de seus pais, biológicos e adoptivos.

Não é apenas um relato desses meses. Foi o antes, o durante e toda uma vida, vivida em Oświęcim, a povoação onde foi criada e que conhecemos por Auschwitz. A procura da mãe durante anos, de quem foi separada quando da libertação do campo. 

Um testemunho impressionante a ler, com prefácio do Papa Francisco e de Sami Modiano, outro sobrevivente, cujo livro também já li este ano e de que falarei a seguir. Obrigatório ler.

O texto é complementado por fotos da autora e família.

Terminado em 21 de Janeiro de 2023

Estrelas: 6*

Sinopse

Lidia Maksymowicz tinha três anos quando, em dezembro de 1943, entrou com a mãe no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, onde foi marcada com o n.º 70072. Durante treze meses, sobreviveu àquele inferno como uma das pequenas cobaias de Josef Mengele, conhecido como «o Anjo da Morte».

Em janeiro de 1945, após a libertação, sai de Auschwitz na companhia de uma mulher polaca, que decidiu adotar um dos «órfãos» deixados num local repleto de cadáveres.

É na casa desta mulher que Lidia vive e cresce. No entanto, a pequena sobrevivente não esquece o seu nome nem a mãe biológica: não deixa de acreditar que a mãe está viva, nem de a procurar. E, de forma quase miraculosa, as duas irão reencontrar-se, dezassete anos depois.

Do campo de concentração, Lidia recorda-se do silêncio necessário para sobreviver, sem poder sequer permitir-se uma emoção. Hoje, volvidos quase oitenta anos da sua prisão, dedica-se a preservar a memória do Holocausto, testemunhando «o que foi o Mal e que o Bem pode sempre prevalecer».

Cris

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

"Caderno de Memórias Coloniais" de Isabela Figueiredo

Livro escolhido para um grupo de leitura online em cuja reunião final tivemos o prazer de contar com a presença da autora que nos elucidou sobre algumas questões colocadas pelos participantes.

São memórias da autora que nasceu em Moçambique, Lourenço Marques, actual Maputo, e que, após alguns confrontos e tumultos marcantes, é enviada pelos pais em 1975 para Lisboa, para casa de sua avó paterna. 

O antes e o depois da descolonização sobre os olhos de alguém que viveu enquanto criança em Maputo e "retornou" a Portugal passando por toda uma oposição social aos retornados, que a excluiam e a marcaram também. Estrangeira em Portugal, foi isso que sentiu aquando do seu crescimento cá.

Escrita crua, visual e marcante. Uma crítica aguçada ao colonialismo com os seus aspectos negativos e racistas. Um despojar de recordações, uma catarse dos seus sentimentos para com a sua família, um amor/ódio face ao pai, já falecido. 

Gostei bastante da leitura mas as suas "memórias" divergem um pouco das minhas que nasci em Angola. Esse tempo significou para mim, que nasci no mesmo ano da autora, um tempo de liberdade e de muitas amizades que ficaram para a vida. Senti que para a autora esse foi um período de uma certa prisão, talvez imposta pela própria família. 

Terminado em 18 de Janeiro de 2023

Estrelas: 5*

Sinopse

«O "Caderno de Memórias Coloniais" relata a história de uma menina a caminho da adolescência, que viveu essa fase da vida no período tumultuoso do final do Império colonial português. O cenário é a cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, espaço no qual se movem as duas personagens em luta: pai e filha.»

Isabela Figueiredo, in «Palavras prévias»  

«Nenhum livro restitui, melhor do que este, a verdade nua e brutal do colonialismo português em Moçambique. Até porque, como a autora refere, ele aparece envolvido pelo mito da sua mansuetude – sobretudo quando comparado, como era sempre, com o apartheid sul-africano. Mito tão interiorizado pelos próprios colonos que através dele, como por uma lente, percepcionavam a realidade de que constituíam um elemento decisivo – como considerar-se a si mesmos violentos e prepotentes no tratamento que davam aos negros? A verdade escondia-se sob a boa consciência necessária à regularidade quotidiana da vida «paradisíaca» dos brancos. Para a desenterrar era preciso ir procura-la nas sensações infinitamente vibráteis e virgens de uma menina, filha de colonos, que vivia à flor da pele o sentido mais profundo de tudo o que acontecia.»  

José Gil, in «Sobre Caderno de Memórias Coloniais»

Cris