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quinta-feira, 28 de maio de 2020

Para os Mais Pequeninos: "O Jardim: Porque é que os Caracóis Não Têm Patas?"

 
Este é o segundo livro desta colecção de que falo aqui. O primeiro foi este (link) e são dentro do mesmo género.

Todos sabemos que os miúdos em certas idades não param de fazer perguntas! São um poço de aprendizagem e estão abertos a tudo o que lhes quisermos ensinar. Com estes livrinhos são muitas as respostas que lhes são dadas e de uma forma divertida e com ilustrações muito engraçadas.

As páginas são mais grossas do que o habitual e algumas páginas têm dobras que se viram com muitas surpresas...

Ora vejam lá:







Cris

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Experiências na Cozinha: "Cosmética Natural"


Hoje trazemo-vos uma receita diferente! Receita porque é algo que vocês podem fazer com ingredientes que possuem na vossa cozinha, diferente porque não é para comer. Trazemo-vos um desodorizante natural feito com poucos ingredientes mas que, não possuindo químicos, é muito mais saudável. Não sei se sabem mas o que puserem na vossa pele, segundos depois está na vossa corrente sanguínea...

Assim, com óleo de coco (3,5 colheres sopa), bicarbonato de sódio (2 colheres sopa rasas), e amido de milho/maizena (1,5 colheres sopa) e 5 gotas de um óleo essencial (colocámos 3 de tee tree e 2 de lavanda), fizemos um desodorizante. 

Foi uma receita fácil que tirámos deste livro mas tantas mais há que queremos fazer que nem sabemos por onde começar. Por mim, preciso primeiro de arranjar uma balança de precisão que pese apenas alguns gramas porque já tenho outras receitas debaixo de olho!

Vejam como ficou:





Palmira e Cris

segunda-feira, 25 de maio de 2020

"Os Pássaros de Seda" de Rosa Lobato de Faria

Rosa Lobato de Faria é uma das minhas autoras preferidas. Creio que já o disse aqui recentemente. Do primeiro livro que dela li (já lá vão uns aninhos!) ficou-me o espanto de uma escrita única, pautada por uma fluidez que atropela a escrita falada e a mistura com as descrições e os pensamentos do narrador. Não achei possível que uma atriz, que eu ligava às telenovelas, escrevesse assim. Shame on me! É o que fazem os juízos de valor sobre pessoas que desconhecemos na sua essência e os preconceitos que pensamos não possuir.

Mais uma vez, adorei este Pássaros de Seda! As primeiras páginas tive de as reler. Já é habitual em mim. Antes de me sentir presa à história, o meu pensamento custa a concentrar-se e perco pormenores. Releio, portanto.
Para quem não está habituada à escrita da Rosinha, poderá ter, no início, algumas dificuldades. Mas não desistam, por favor! Mas, para mim, não foi a sua escrita (que adoro!) que me fez reler as primeiras 2, 3 pág. Talvez por não perceber quem era o narrador... Mas, tudo se esclarece depois.

RLF é uma exímia contadora de histórias. A sua imaginação é espectacular e leva-nos, neste caso, a um Portugal rural, de alguns anos já, com estórias e lendas que faziam parte das vidas das pessoas de então. São personagens, estes que ela inventa, capazes de nos fazerem acreditar que existiram na realidade. A verosimilhança transporta-nos para um lugar do passado português de uma ruralidade profunda e de extremos.

Estas personagens para além de serem credíveis, como referi, possuem personalidades que de estático nada têm. Como nós. Os seus comportamentos mudam, aprendem com os seus erros (ou não!) e não se limitam a ser "bons" ou "maus". Possuem vida. É um dos aspectos que mais gosto na sua escrita.

Recomendo sem reservas. A história é para ser lida e, por isso, não vou sequer contar nadica.

Terminado em 23 de Maio de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
Um livro que opõe os valores perenes da infância, do maravilhoso e do amor à precariedade das paixões e da fortuna.

Pedra Moura abrigou, por entre os pastos verdes e ventos secos, Diamantina e Mário. Ela foi a rapariga mais pura e bela que alguma vez aquela terra viu crescer. Tinha mais brilho que um diamante, era dotada como ninguém nas suas mãos de fada e no seu espírito imperturbável e astuto. Foi criada com Mário, que sempre considerou um irmão de alma, de apertos, um símbolo sempre presente, inquebrável, ao qual se segurava. No entanto, Mário, como tantos outros, sucumbiu àquela criatura que parecia ter vindo dos céus, amando-a cada dia, com um amor que sabia esperar, sofrer. Sabendo que Diamantina nunca olharia para ele senão com olhos de irmã, viveu toda a sua vida contentando-se em estar por perto. Das mãos dela saíam os mais belos pássaros de seda bordados em colchas que se tornaram famosas e tinham o dom de deixar boquiabertos quem quer que os visse.
Depois de uma infância em Pedra Moura, a ouvir as histórias do tio Zebra e a apreciar os diversos manjares da mãe Margarida, seguiram-se tempos conturbados e a vida de ambos seguiu rumos muito diferentes, mas Diamantina continuará a ser a protagonista da vida de Mário e, por isso, também deste livro, que ele escreve antes de morrer e lhe oferece.

Cris

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Para os Mais Pequeninos: "Fernão Não, Fernão Sim"

Acho que este livro é muito interessante sobretudo para os miúdos que já andam no 1º ciclo e que já têm uma ideia de como a História foi e é importante para se conhecer um povo.

Através de ilustrações muito sugestivas e encantadoras, ficamos a a conhecer Pedro Pulo, um rapazinho que não consegue estar parado no mesmo sítio durante muito tempo! Essa característica é tão marcante nele que começa a achar a sua terra pequena demais para ele. Tem, com urgência, de  partir à aventura e conhecer novas terras. Mas tem de se preparar convenientemente e assim vai até  à biblioteca para saber como fizeram todos os que, antes dele, tiveram a mesma ideia!

Um livro prefeito para dar a conhecer personagens verídicas da nossa História e que feitos conquistaram! E porquê este título? Pois é! Para descobrirem mais acerca das aventuras de Pedro Pulo podem ir à vossa livraria habitual e procurar este livro para o folhearem devidamente!

Ficam aqui algumas imagens:






Cris

quinta-feira, 21 de maio de 2020

"Uma Lágrima na Face da Índia" de Daniel Nunes de Sousa

Ouvi algumas meninas dizer bem deste livro (acho que foi no Bookgang da Helena Magalhães) e comprei-o. A escolha teve mais a ver com o título, confesso. A Índia sempre me fascinou mas sem desejar conhecê-la pessoalmente. Gosto de ouvir os relatos de quem lá vai. Sobretudo porque, normalmente, vão do oito ao oitenta. Os contrastes fazem desta terra um sítio de amor e de ódio. E têm sido estes contrastes tão fortes e tão marcantes que me têm afastado deste país.

As cinco estrelas que atribuo a este livro vão direitinhas aos aspectos relacionados com a cultura deste povo. Foi esta aprendizagem constante que senti ao percorrer estas páginas que fizeram com que facilmente atribuísse estas estrelas.

Como pano de fundo deste romance está a violência sofrida por muitas mulheres indianas, as mortes, espancamentos e violações a que são sujeitas, os seus desaparecimentos, a corrupção de algumas instituições que fecham os olhos às queixas. A impunidade com que tudo isso acontece.

Para primeiro romance deste autor, achei este livro muito bom. Alguns aspectos mereciam mais atenção e outra abordagem mas a escolha do tema pareceu-me muito apropriada e denota um estudo e conhecimento profundos que muito me agradou.

Terminado em 19 de Maio de 2020

Estrelas: 5 *

Sinopse
Noah, enfermeiro num hospital do coração de Londres, debate-se com uma vida sem rumo e decide partir para a Índia, em busca de conhecimento. A sua viagem leva-o a conhecer Sahana, uma jovem cuja vida se encontra perto de um abismo. Num país onde uma mulher só tem valor se casar com um homem, Sahana vê a sua vida entregue aos braços de um polícia impiedoso da cidade de Deli: Hasin, que esconde um terrível segredo e não abre mão da sua noiva, procurando segurar o casamento arranjado. Dividida entre a razão e o coração, Sahana foge com Noah, mas em pouco tempo, Hasin descobre-os e leva-a para parte incerta.
Porém, por meio de um desejo e amor sem limites, Noah vai enfrentar as regras de um país agarrado às tradições, onde a violência sobre as mulheres atinge proporções gigantescas. Conseguirá o enfermeiro de Londres reencontrar a sua paixão?
A ficção e a realidade enleiam-se num comovente e inesperado romance, onde os ecos culturais de uma Índia conservadora colocam o leitor no centro das intrigas de um país que ainda não aprendeu a respeitar as suas mulheres.

Cris

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Experiências na Cozinha: "Pão Caseiro"


Este livro já estava há demasiado tempo na estante à espera de vez. Agora que anda toda a gente a
fazer pão, resolvemos aproveitar e experimentar uma receita que a ambas pôs curiosa.

Primeiro temos de elogiar o livro. As imagens são belíssimas e, para quem goste de pão (como nós!), são um verdadeiro suplício ver tanta coisa boa e não provar logo, logo...

Mas, como estávamos a dizer, desta é que foi! Escolhemos uma focaccia que, como podem ver na receita, é muito simples de fazer. Ficou deliciosa!

Como não tínhamos fermento fresco utilizámos um saquinho de fermento seco. Ficou supimpa.








Palmira e Cris

terça-feira, 19 de maio de 2020

"Sob Céus Vermelhos" de Karoline Kan

Este é um livro de memórias. Como tal é uma viagem ao interior das recordações da autora. Ela própria refere que são contadas como ela as viveu e sentiu. Mas independentemente disso, é num livro de História que mergulhamos. Não um daqueles maçudos e aborrecidos, não!

Embora com uma escrita muito concisa, jornalística, quase sem emoção, este livro prendeu-me muito sobretudo pelas lições históricas que fui apreendendo sobre um país que conhecia ao de leve.

A escrita é, assim, muito directa mas nem por isso desinteressante. Pelo contrário. Embora o papel da mulher nas três gerações referidas (avó, mãe e autora) tenha sofrido algumas alterações para melhor há, contudo, um caminho muito longo a percorrer de modo a que se possa falar de igualdade de sexos em termos de oportunidades.

O forte papel do Estado na vida do povo, manipulando e desinformando, provoca no leitor, pouco habituado a viver tais situações, um misto de repulsa e de incredulidade. As formas de manipulação que ele, subrepticiamente, induz aos seus habitantes, produz no leitor uma sensação incómoda.

Recomendo vivamente esta leitura para quem gosta de aprender sobre culturas muito diferentes da nossa.

Terminado em 14 de Maio de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
Muito na linha de Cisnes Selvagens, de Jung Chang, mas tendo como objeto a China das novas gerações, este é um relato não ficcional e na primeira pessoa, com digressões para o passado (político e familiar) e a observação das múltiplas vertentes sociais e culturais da história moderna da China, em constante mudança.

Karoline Kan está na vanguarda dessa mudança: nasceu em 1989, como segunda filha - ainda durante a vigência da Política do Filho Único - numa China rural. Chegou ao ensino superior e conquistou a autonomia económica sem ter de se casar e fazendo o trabalho que escolheu: escrever para revistas e jornais de prestígio internacional. As grandes referências de Karoline Kan são Jung Chang, Xinran e Xiaolu Guo - todas elas autoras publicadas pela Quetzal.

Cris

segunda-feira, 18 de maio de 2020

A Convidada Escolhe: "Leva-me Contigo"

Leva-me Contigo”, Afonso Reis Cabral, 2019

Há precisamente um ano, Afonso Reis Cabral já ia no troço final da sua grande aventura: fazer a Estrada Nacional 2. Nesse dia 11 de Maio de 2019, em pleno Alentejo, entre Alvalade e Aljustrel, quando já só faltavam 116 kms para chegar a Faro e ver o mar, no seu vigésimo dia de caminhada, talvez já tivesse o nome para este seu diário do caminho. “Leva-me Contigo” tinha sido o pedido que um menino cigano lhe tinha feito na véspera, ao passar pelo Torrão.


Daquilo que sabemos de Afonso Reis Cabral, ele gosta de desafios e este foi gigante. Percorrer a mítica EN2, ou seja, 738,5 kms entre Chaves e Faro. A pé. Sozinho.

Bem, sozinho ele nunca esteve. Foi sempre seguido por quem ao fim do dia ia visitar a sua página de facebook, para acompanhar o que a cada dia acontecia ao Afonso, ao longo dos 24 dias que levou a fazer a totalidade do percurso. E claro, acompanhado pelas pessoas que ia encontrando na estrada e nos campos das diferentes regiões que atravessam o território e também peregrinos a caminho de Santiago ou de Fátima, ele peregrino para o mar. O próprio Afonso valoriza os incentivos que recebia nas mensagens de facebook e que o ajudaram a vencer as dores físicas e as dificuldades de um percurso tão longo e tão exigente, sem dias de descanso, debaixo de chuva e frio intensos ou de sol abrasador. Ouvindo o Stabat Mater de Pergolesi ou o Requiem de Mozart, os seus mortos que o acompanharam foram “miragens sobre a estrada” que o ajudaram, sem esquecer os bastões sugeridos por outros que já tinham a experiência de longas marchas.

À medida que vamos lendo os relatos do diário do caminho, ilustrados com fotografias, com o mapa dos troços diários com os quilómetros respectivos e as mensagens de facebook, apercebemo-nos que vai crescendo uma onda de solidariedade que nunca deixou o Afonso sozinho: os iogurtes, a água, os bilhetinhos, o descanso ao fim do dia, a água com o sal para acalmar os pés, a oferta de um bolo, de um almoço ou de uma cama, tudo isso o Afonso enumera e agradece no Obrigado final. .

Entristeci-me com a notícia da raposa morta na estrada e por saber que aquela linda coruja branca exausta que se deixou apanhar não conseguiu resistir.

Fui uma das pessoas que desde o início torci para que as pernas, a resistência física e psicológica e a capacidade de superação de Afonso Reis Cabral lhe permitissem chegar a Faro e foi com imensa alegria que ouvi na rádio pouco antes da hora do almoço a notícia de que o Afonso tinha chegado. Acredito que milhares de pessoas em todo o país rejubilaram com essa notícia em directo no vigésimo quarto dia daquela prova de resistência.

Afonso Reis Cabral deu-nos a oportunidade de acompanhar o seu esforço no conforto das nossas casas e estou certa que deixou muitos amigos, não só ao longo da RN2, mas por todo o país.

O pedido “Leva-me contigo” marcou a viagem de Afonso, assim como alguns conselhos que lhe deram durante a viagem e que ele partilhou connosco:

Faz o que gostas , segue em frente mas não te esqueças de olhar para trás.”

Não mintas e não faças tatuagens” ou

Quando quiser, descanse”.

Sim, Afonso, descanse. Mas não pare e não deixe de nos surpreender com a sua escrita e com os seus projectos.

11 de Maio de 2020

Almerinda Bento

sexta-feira, 15 de maio de 2020

"Sou Um Crime" de Trevor Noah

Falar sobre um livro autobiográfico faz-me pensar que estou, de certa maneira, a falar da vida de alguém. Não é o caso, de todo. Muito menos criticá-la ou achar que poderia ainda possuir mais elementos cinematográficos. Trevor Noah não precisa de nada disso. A sua vida dava um filme. Livro já deu! E que livro!

Quando alguém escreve sobre a sua própria vida decerto pensa que relatá-la pode trazer a outrém algo positivo e que pode, com o seu exemplo, motivar mais pessoas. Espero que assim seja.

Escrito na primeira pessoa, o autor relata muitos dos acontecimentos que o marcaram na infância até à idade adulta num país marcado por convulsões sociais muito fortes. O leitor fica preso tanto ao feitio irrequieto de Trevor como à conjuntura socio-política de um país marcado pelo apartheid, a África do Sul.

Palavras que, nestas páginas, se traduzem numa aprendizagem constante sobre a História desse país que nos levam a refletir sobre as causas e consequências de uma divisão racial tão marcada e injusta.

O único senão que posso apontar a esta obra e que me leva a dar somente 5*+ é sobre as páginas a mais que acho que este livro merece e não tem. Creio que faltou uma coisinha "assim"... Sei que o autor faz sucesso na sua vida profissional e gostava que tivesse referido mais detalhadamente como foi possível passar de uma situação de extrema pobreza para o oposto para que o leitor soubesse que é possível alterar o ciclo que a vida nos oferece quando nascemos.

Recomendo esta leitura!

Terminado em 9 de Maio de 2020

Estrelas: 5*+

Sinopse
Actualmente, Trevor Noah é o apresentador do The Daily Show, um dos rostos mais famosos da televisão americana e um humorista reconhecido em todo o mundo. Mas no dia em que nasceu era um crime - ou seja, era filho de mãe negra e pai branco. Para manterem uma relação inter-racial e para criarem este filho, os pais de Noah desafiaram as leis do apartheid na África do Sul.

Sou Um Crime conta a vida deste rapaz, que se sentia desconfortável nas zonas dos brancos e nos subúrbios dos negros, que aos sete anos teve de saltar de um carro em andamento para não morrer, que tinha de fingir não conhecer o pai, que cresceu num regime opressor e viveu os tumultuosos primeiros anos de liberdade do seu país, e que passou ao lado de um destino de pobreza e discriminação apenas por ter uma mãe rebelde, teimosa e exigente - uma mãe que é, no fundo, a grande homenageada deste livro simultaneamente comovente e divertido.

Cris

quinta-feira, 14 de maio de 2020

"Laranja de Sangue" de Harriet Tyce

Não sei se quem está muito habituado a ler thrillers poderá achar algumas coisas previsíveis nesta leitura. Não sei, não. Mas a mim algo me fez suspeitar de um personagem sem contudo imaginar o seu grau de envolvimento! A sua maldade foi muito superior ao que poderia sequer supor!

A personagem principal, Alison, não é uma mulher perfeita. Tampouco, mãe perfeita. Aliás, houve certas alturas, no princípio desta leitura, em que achei que o seu desenvolvimento como personagem obedecia a um certo cliché. Semelhante àqueles policiais onde o investigador é quase um bêbado inveterado com a vida toda enrodilhada mas brilhante na sua profissão e na sua forma de resolver os casos... Mas vi-me cada vez mais envolvida nos perturbantes estados psicológicos contraditórios de Alison, nas suas desculpas e tentativas de mudar de comportamento. Ela não é uma mulher perfeita mas...

Adorei este envolvimento que me apanhou de surpresa, este "gostar sem querer" desta personagem! E digo-vos mais: ela pode não ser perfeita mas o que a espera é mais do que vocês podem imaginar!

Um dos temas tratados nesta história refere a fronteira ténue que pode existir num relacionamento, entre aquilo que poderá ser considerado protecção e o abuso da parte de um dos envolvidos face ao outro. Essa fronteira pode mesmo não ser entendida e sentida como abuso, ou sê-lo já tardiamente, pela pessoa que é vítima na relação em causa.

Por todas estas razões digo-vos que é um livro muito viciante e envolvente. Lê-se rapidamente, como se não pudéssemos esperar por amanhã.

Terminado em 8 de Maio de 2020

Estrelas: 5*+

Sinopse
«Só mais uma noite. Depois acabo com isto.»
A vida de Alison parece perfeita. Tem um marido dedicado, uma filha adorável, uma carreira em ascensão como advogada e acaba de lhe ser atribuído o primeiro caso de homicídio. Só que Alison bebe. Demasiado. E tem vindo a negligenciar a família. Além de que esconde um caso amoroso quase obsessivo com um colega que gosta de ultrapassar os limites.
«Eu fi-lo. Matei-o. Devia estar presa.»
A cliente de Alison não nega ter esfaqueado o marido e quer declarar-se culpada. No entanto, há algo na sua história que não parece fazer sentido. Salvar esta mulher pode ser o primeiro passo para Alison se salvar a si própria.
«Estou de olho em ti. Sei o que andas a fazer.»
Mas alguém conhece os segredos de Alison. Alguém quer fazê-la pagar pelo que fez. E não irá parar até ela perder tudo o que tem.

Um thriller envolvente, com um final absolutamente inesperado e chocante, protagonizado por uma personagem muito empática.

Cris

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Experiências na Cozinha:

Numa das minhas últimas viagens trouxe um livro de receitas com couve-flor. É um legume que não fez parte do meu crescimento porque eu simplesmente odiava. Mas o paladar vai-se alterando e a forma de confeccionarmos os alimentos também e, já há algum tempo, que a couve-flor faz parte da minha alimentação.


Desta vez foi a Palmira a escolher a receita (Couve-Flor Gratinada) e a confeccioná-la. Eu não provei, como costumo fazer, mas pelo aspecto posso imaginar que estava uma delícia. A Palmira assim o garantiu!

Claro que alterámos a receita um pouquito: usámos um leite e uma manteiga vegetal ... Vocês podem fazer como gostarem mais.

Vejam as fotos. A receita está em francês mas com o google tradutor tudo tem solução, não é?






Palmira e Cris

terça-feira, 12 de maio de 2020

A Convidada Escolhe: "A Peste"

A Peste”, Albert Camus, 1947

Há livros que parece que estão à nossa espera para serem abertos e lidos na hora certa. Foi a leitura de uma crónica num jornal em que se fazia referência a “A Peste” de Camus, que me levou a encontrar este livro, na minha estante, no meio de muitos outros.

Logo no início, o narrador situa-nos num dia de Abril nos anos 40 do século passado em Orão, uma cidade desinteressante como tantas outras: árida, sem pombas, sem árvores, sem jardins em que os interesses dos seus habitantes são fazer negócios e enriquecer. Até que um dia, aparece um rato morto no patamar do prédio onde mora o doutor Rieux. Poucos dias depois tudo está enxameado de ratos mortos. A surpresa inicial dá lugar ao pânico, até que as autoridades ousam pronunciar a palavra peste. As previsões das autoridades sanitárias apontam para a possibilidade de metade da população da cidade vir a morrer. Mas dever-se-á dar toda a informação à população? A cidade não tem soro, aguarda que o mesmo venha de França e, entretanto, é decretado o encerramento da cidade. Para alguns, o assunto é encarado com desinteresse, mas a corrida às lojas e o açambarcamento dos bens de primeira necessidade é o primeiro sinal do medo que se instala definitivamente. Preces colectivas, mercado negro, esquemas mafiosos para fugir da cidade, violências, pilhagens, incêndios, juízos de valor que são suprimidos, especulação nos géneros essenciais, enterros em massa, cansaço das equipas sanitárias, desespero.

O que mais se ouve “Quando tudo isto tiver acabado…” ou palavras como “pico, planalto ou patamar” também aqui nos aparecem, o que revela que o padrão da pandemia daquela cidade Argelina se repete, mas agora em 2020 a um plano e a um nível muito mais alargado porque planetário.

O Dr. Rieux vai interagir com várias personagens que, embora sem formação nem ligação à saúde, são a sua equipa que o acompanha nas suas visitas domiciliárias e que actualiza os registos burocráticos necessários. Apoiam-se, lutam por salvar vidas, emocionam-se, desesperam, confessam-se, questionam-se. O padre Paneloux, que no início da peste fizera um discurso acusador, culpando os homens pela doença que se abatera sobre a cidade, perante o sofrimento e a morte de uma criança inocente, altera o seu discurso e põe em dúvida todas as suas certezas. Afinal será Deus mesmo misericordioso? Jean Tarrou que vai registando num caderno as suas impressões sobre a cidade, como se fosse um historiador, vem mais tarde confessar ao médico numa conversa num terraço de onde se conseguia ver o mar – “um lugar fora da peste” – que um dia decidiu “recusar tudo o que, de perto ou de longe, por boas ou más razões, faz morrer ou justificar que se faça morrer”, numa clara alusão a regimes opressores sustentados em pretensos grandes ideais. Joseph Grand, o eterno precário funcionário da Câmara, leva uma vida ascética e sonha encontrar as palavras certas para se exprimir e para escrever um dia um romance. Rambert, o jornalista apanhado pela peste e que quer sair da cidade para se juntar à pessoa que ama, que se exaspera por não ser atendido achando que as autoridades tomam decisões abstractas sem olhar ao particular, que tudo faz para tentar quebrar o cerco, mas que quando tem a oportunidade de sair, não consegue abandonar os seus amigos. Como era possível ser feliz, quando se tem vergonha de ser feliz sozinho, abandonando quem precisava de si? – assim pensa Rambert quando desiste de sair da cidade. Ao que o Dr. Rieux lhe diz: “Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos”. Afinal o que é a coragem? É morrer por um ideal ou morrer por amor?

Em torno da metáfora da peste, este livro convoca-nos a reflectir sobre o valor dos grandes ideais da humanidade em situações extremas: a amizade, a solidariedade, a paz, a crença num deus, a honestidade, a coragem, as convicções. A morte cuja magnitude e frieza quando vista pelo prisma dos números não deixa de ter o peso e o silêncio de uma derrota sempre que um indivíduo morre.

De repente, dez meses depois do primeiro sinal de peste, ela desaparece. A peste recua e o primeiro sinal é o regresso de ratos à cidade. “A doença partia como tinha vindo.” “Tinha-se apenas a impressão de que a doença se tinha esgotado por si ou talvez de que se retirava depois de ter alcançado os seus objectivos. De qualquer maneira, o seu papel tinha terminado.” Para Rieux, o médico habituado durante aqueles longos meses a conviver com dezenas e centenas de doentes que morreram de peste, a morte do seu amigo Tarrou, já depois de anunciado o fim da peste, foi a derrota definitiva.

No final, quando a cidade ainda receosa festeja com risos e com lágrimas o fim da peste, o Dr. Rieux volta ao terraço já sem o seu amigo Tarrou que nunca sucumbira na busca da paz e da felicidade, com a certeza de que “há nos homens mais coisas a admirar que coisas a desprezar”. Esta nota de esperança na humanidade é temperada com a ideia de que a alegria está sempre ameaçada pois “o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca.”

8 de Abril de 2020
Almerinda Bento

segunda-feira, 11 de maio de 2020

"Fica Comigo" de Ayòbámi Adébáyò

Junto com este empréstimo veio uma recomendação positiva e as palavras "vais gostar". A minha amiga livrólica acertou. Bateu fundo, bem cá no fundo, este livro.

Consoante ia virando as páginas e avançando na leitura o meu assombro aumentava. O casal, protagonista nesta história, que sendo também  o narrador, vai intercalando os seus pontos de vista e contando parte da história que vivem em conjunto, muito embora Yejide tenha um papel mais forte e predominante que Akin.

Yejide cresceu sozinha numa família constituída por muita gente. A sua mãe morreu ao dá-la à luz e isso marcou-a.  Marcou-a porque as outras mulheres de seu pai não a deixavam esquecer isso e, também, o facto de a considerarem inferior na linhagem...  Esqueci-me de referir que estamos na Nigéria por volta dos anos 80, palco de muitos confrontos e situações instáveis politicamente.

É um mundo cultural muito diferente aquele em que entramos ao folhear as páginas desta obra mas é-o, de igual forma, para Yejide. É uma moça universitária e, no entanto, a marca social que traz e as pressões a que está sujeita levam-na a aceitar e acreditar em situações, no mínimo, insólitas. Por seu lado, Akin, seu marido, está sujeito a pressões familiares e sociais de outro tipo mas não menos repressivas.

É um livro para se chorar, este. Um choro sem lágrimas, bem cá dentro, porque é contado de uma forma nua e crua mas não podemos deixar de repetir vezes sem conta: "Como é possível?"

Bem construído, desvendando mistérios pouco a pouco, como se quer, este romance prende o leitor, sobretudo porque escrito com uma crueza tal, que (temos a certeza), roça a realidade desse país. Verosímil. Assustador.

Terminado a 6 de Maio de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
Yejide e Akin estão casados desde os tempos de faculdade, onde se conheceram e apaixonaram. Agora, decorridos vários anos, Yejide espera por um milagre: uma criança. É o que o seu marido quer, e o que a sociedade espera dela - e, entre consultas de fertilidade, curandeiros e tisanas, Yejide tem feito tudo o que pode para consegui-lo. A família de Akin, no entanto, começa a dar sinais de impaciência, e quando sugerem ao jovem casal acolher em casa uma segunda esposa, mais jovem, os dois percebem que terão de encontrar uma solução rapidamente.


Percorrendo os anos turbulentos da Nigéria da década de 1980 até aos nossos dias, Fica Comigo é uma história sobre a fragilidade do amor conjugal e do colapso da família sob o peso exasperante da maternidade, bem como da contradição de valores que coexistem no interior de uma mesma sociedade.

Cris

sexta-feira, 8 de maio de 2020

"A cozinheira de Castamar" de Fernando J. Múñez

Uma leitura que se faz devagar devido às páginas (mais de 600) e ao tamanho da letra (miúda). No entanto, o enredo é apelativo porque o ritmo dos acontecimentos é muito rápido e o leitor cria empatia com alguns personagens, querendo protegê-los. Ao invés, a outros queremos que sofram tal qual o sofrimento que estão a infligir a outros personagens!

Fazemos uma viagem no tempo e vamos para o Séc. XVIII, para o final de 1720 e todo o enredo passa-se durante os dois anos seguintes. Espanha é palco de tumultos numa sociedade que reflete ainda as consequências da Guerra de Sucessão entre os Ha bsburgos e os Bourbon. Reina Filipe V numa corte onde imperam as intrigas, os amores ilícitos, os assassinatos até.

Clara é uma menina cheia de garra que mesmo a sua recente situação de pobreza não faz desanimar. Foi educada primorosamente e possui um grau de instrução muito acima do habitual à época mas, acontecimentos vários, levaram-na a perder a sua posição social e a sua riqueza e a  procurar trabalho como cozinheira. Mas Clara ama o que faz e os seus pratos são uma obra de arte tanto para o paladar como para a visão.

As descrições do ambiente vivido na época, dos pratos confeccionados por Clara, dos jogos de poder (e dos de alcova) tão frequentes nessa sociedade,  são minuciosamente carregados de pormenores cinematográficos, transportando o leitor numa viagem muito aprazível onde os sentidos do olfacto e da visão o fazem acreditar estar presente nesse mundo.

É um olhar feminino sobre este mundo que, com mestria, nos traz Fernando J. Muñez, nesta sua obra. Um olhar feminino num mundo de homens e onde a mulher tem o seu papel (inferior) bem definido. Conseguirá Clara mudar mentalidades?

Um romance para saborear com tempo, para apreciar os pormenores e ficar a conhecer como se moviam os homens num mundo palaciano de intrigas, segredos e mortes. E também de amor, claro!

Terminado em 3 de Maio de 2020

Estrelas: 5*

Sinopse
Clara Belmonte é uma jovem de uma família abastada que, após a morte do patriarca, um dos mais prestigiados médicos de Madrid, se vê cair na mais completa pobreza.
Apesar da educação primorosa que recebeu, Clara precisa de uma forma de sustento e acaba por se candidatar a um trabalho nas cozinhas do palácio ducal de Castamar, que conquista graças ao talento para a culinária que herdou da mãe.
Clara não é bem recebida nos primeiros tempos. A sua eloquência, bem como o rigor na limpeza das cozinhas e a ousadia no requinte dos pratos, depressa a elevam na atenção dos habitantes da casa e no ciúme dos colegas de trabalho.
Mas é Dom Diego, o duque de Castamar, quem Clara mais impressiona. Arrancando-o à apatia absurda em que vive desde o estranho falecimento da mulher, a jovem cozinheira fá-lo derrubar todas as barreiras, despertando-lhe o palato, o intelecto e, por fim, o coração.

Cris

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Resultado do Passatempo Mensal "Toca a Comentar"

E eis chegada a altura de vos comunicar o resultado do passatempo "Toca a Comentar" referente ao mês de Abril.

Este é o link para o post onde se encontra anunciado o passatempo.

A vencedora tem como nickname Maria e como não me aparece o apelido coloco aqui foto do perfil para que ela saiba que ganhou.


O livro a escolher é um de entre estes dois:


Maria, espero que vejas o post e que me informes qual desejas receber!

Beijinhos e parabéns!

Cris

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Experiências na Cozinha: "A Senhora do Monte"

Pusemos logo mãos à obra,  a Palmira e eu,  quando vimos esta dica neste livro cheio de coisas boas a experimentar! Quem tem a preocupação de utilizar o menos químicos possível nas suas vidas vai encontrar nele dicas preciosas.

São receitas de vários produtos de higiene,  beleza e bem estar, de produtos para a casa, de limpeza e ambientadores... um mundo para descobrir! É preciso é começar. Aos poucos.

Hoje trazemo-vos um produto de limpeza que ambas adoptámos muito rapidamente. É fácil, rápido de fazer e, sobretudo, com ingredientes que todos temos em casa. Quem não tem laranjas, limões, tangerinas?

Ora vamos lá combater o desperdício (usando as cascas desses frutos e uns frascos de vidro), poupar na quantidade de detergentes que compramos para a limpeza (este detergente dá para o chão, os azulejos, a bancada (se não for em mármore) e os armários da cozinha e as loiças sanitárias.

Eis o resultado:



  

Palmira e Cris



terça-feira, 5 de maio de 2020

A Convidada Escolhe: "A Terceira Mãe"


A Terceira Mãe, Julieta Monginho, 2008

De Julieta Monginho já conhecia “ Um Muro no Meio do Caminho” e confesso que de entre a vasta obra da autora, a escolha de “A Terceira Mãe” se deveu ao título e à capa belíssima e não ao facto de este livro ter ganho o Grande Prémio de Romance e Novela APE 2008. “Um Muro no Meio do Caminho” foi um dos grandes livros que li em 2019. 


A escrita de Julieta Monginho e a sua sensibilidade não deixam ninguém indiferente.

Talvez por a estrutura temporal do livro não ser linear, com capítulos curtos em que surgem as várias personagens que constituem o universo de Rosalina e por a leitura do livro ter decorrido neste período estranho de confinamento e de pandemia, possivelmente não aproveitei como devia a qualidade da escrita e nem sempre me foi fácil seguir a leitura, tendo por várias vezes parado e voltado atrás para melhor entender os contextos. Mas a linguagem é de uma delicadeza invejável que gostaria aqui de realçar.

O livro está dividido em 3 partes: Rosalina, Mena e Joana. Avó, mãe, filha. Na primeira parte  ̶  Rosalina  ̶  que é a parte mais extensa do romance, somos logo confrontados com a menina, que com a idade de quatro anos, foi levada de casa dos pais para casa da tia Alice e do tio Celestino. Rosalina é o “espaço vazio” entre os seis irmãos. Uma infância em que passou da Casa de Pedra para a Casa de Colmo onde o tio salazarista não se entusiasmava com o gosto pelas artes da sobrinha e lhe impôs um marido rico ainda menina. Uma menina que se preenchia desenhando e pintando pássaros em fitas de seda: “Os pássaros voavam continuamente. Desenhava-lhes as asas, às vezes só duas pinceladas negras que voavam, nódoa negra sobre o azul. Voava, ficava no pano, nódoa, lágrima. Inchava, a gaveta onde guardava as fitas que podiam prender, atar as mãos, amarrar o cabelo, apequenar os pés até sangrarem como os de uma gueixa. Ou então levarem-na com o vento a dar a volta ao mundo. A gaveta inchava e transbordava à medida que a barriga lhe inchava e transbordava, faixas de seda com asas perdidas, panos sobre panos sobre a vontade de voar. A mais bonita era branca e nela Rosalina tinha desenhado um melro sorridente. Cantava, o pássaro, quando Rosalina lhe fazia cócegas nas penas. Cantava «L’Amour», como ela cantara no primeiro sonho livre. Foi para cantar essa ária que o desenhou.”

Tal como mais tarde se preencherá com o filho Luís, ou com a filha Mena. Ou indo atrás da voz com as rezas à senhora de Fátima, acreditando no seu poder milagreiro para curar o segundo marido. Para trás ficaram os seus dotes no manejo dos pincéis ou no toque do piano. Vivendo, sobrevivendo à depressão, ultrapassando-a, descobrindo sempre alguma coisa nova naquela natureza-morta de Cézanne, cheia de vida. Ela é a D. Lina para o enteado, a D. Lina para o vizinho apaixonado do prédio em frente, a Mamie para a neta Joana.

Rosalina, aquela que percorre serenamente décadas em que o mundo se transforma, se democratiza, se moderniza. O esteio de Mena; o porto de abrigo de Joana. Mena e as suas fúrias e frustrações porque teve de mudar de terra, porque não concluiu o Conservatório, porque teve um marido violento, porque não tem dinheiro, porque não consegue comunicar com a filha. Joana à procura de si, à procura de ser feliz, à procura de crescer como responde à mãe quando esta lhe dizia que ela pertencia a “uma geração à qual nunca foi proibido nada, mas que pode guardar tanta fúria, tanto desespero”. E também a querer fugir de fantasmas, quando esses fantasmas podem estar ligados por uma fita pintada com um melro.

É disto que trata este livro. Um percurso de mulheres. Uma inquietação.

30 de Abril de 2020
Almerinda Bento





segunda-feira, 4 de maio de 2020

"Uma Outra Voz" de Gabriela Ruivo Trindade

Nada melhor quando um livro nos surpreende, nos intriga e nos arrebata!
Quando não estamos de todo à espera, melhor ainda.

Tinha este livro na estante, aguardando pacientemente a sua vez. Esquecido, confesso. Como muitos outros. Um desafio de leitura em que nos era solicitado um livro de um autor português que tivesse no seu nome (ou no título) a letra T, fez com que pegasse nele. No entanto, não leio à toa. Ele precisa de me agarrar nas primeiras páginas para que sinta vontade em lê-lo. Por isso vos digo que já era o quarto em que pegava... Nada me satisfez até ter pegado neste e ter sentido que este era o "tal"!

Uma árvore genealógica abre-nos as portas logo no início. Vamos voltar a ela muitas vezes para tentar descobrir quem é o narrador e que ligações tem ele com esta família e, mais propriamente, com o personagem referido na sinopse: João José Mariano Serrão. São cinco as vozes que dão peças a este puzzle mas, como é habitual em todos os puzzles, as peças finais é que nos dão a sensação de finitude. Essas peças são-nos oferecidas  pelo próprio João José numas folhas de um seu diário que resistiram ao tempo. Como em todos os puzzles depois de terminados, devemos afastarmos-nos para olhar para a obra final no seu todo...

E não poderia ter ficado mais agradada com esta. A construção de todo o enredo está primorosamente conseguida e estudada. Com um interesse crescendo, vamos entrando num Portugal que muitos só conhecem de ouvir falar, dos meados do séc XIX. Os pormenores históricos e culturais contados pelos diferentes narradores e que nos vamos dando conta quando avançamos na leitura e no aprofundamento do personagem em que se baseia esta estória, constituem uma delícia para o leitor.

Uma leitura que é um verdadeiro prazer e que recomendo sem reservas!

Terminado em 30 de Abril de 2020

Estrelas: 6*

Sinopse
João José Mariano Serrão foi um republicano convicto que contribuiu decisivamente para a elevação de Estremoz a cidade e o seu posterior desenvolvimento. Solteiro, generoso e empreendedor como poucos, abriu lojas, cafés e uma oficina, trouxe a electricidade às ruas sombrias e criou um rancho de sobrinhos a quem deu um lar e um futuro. É em torno deste homem determinado, mas também secreto e contido, que giram as cinco vozes que nos guiam ao longo destas páginas, numa viagem que é a um tempo pessoal e colectiva, porque não raro as estórias dos narradores se cruzam com momentos-chave da história portuguesa. Assim conheceremos um adolescente que espreitava mulheres nuas e ria nos momentos menos oportunos; a noiva cujos olhos azuis guardavam um terrível segredo; um jovem apaixonado pela melhor amiga que vê a vida subitamente atravessada por uma tragédia; a mãe que experimentou o escândalo e chora a partida do filho para a guerra; e ainda a prostituta que escondia documentos comprometedores na sua alcova e recusou casar-se com o homem que a amava. Por fim, quando estas vozes se calam, é tempo de ouvirmos o protagonista através de um diário escrito noutras latitudes e ressuscitado das cinzas muitos anos mais tarde.
Baseado em factos reais, Uma Outra Voz é uma ficção que nos oferece uma multiplicidade de olhares sobre a mesma paisagem, urdindo a história de uma família ao longo de um século através das revelações de cada um dos seus membros, numa interessante teia de complementaridade.

Cris