Rosa Lobato de Faria é uma das minhas autoras preferidas. Creio que já o disse aqui recentemente. Do primeiro livro que dela li (já lá vão uns aninhos!) ficou-me o espanto de uma escrita única, pautada por uma fluidez que atropela a escrita falada e a mistura com as descrições e os pensamentos do narrador. Não achei possível que uma atriz, que eu ligava às telenovelas, escrevesse assim. Shame on me! É o que fazem os juízos de valor sobre pessoas que desconhecemos na sua essência e os preconceitos que pensamos não possuir.
Mais uma vez, adorei este Pássaros de Seda! As primeiras páginas tive de as reler. Já é habitual em mim. Antes de me sentir presa à história, o meu pensamento custa a concentrar-se e perco pormenores. Releio, portanto.
Para quem não está habituada à escrita da Rosinha, poderá ter, no início, algumas dificuldades. Mas não desistam, por favor! Mas, para mim, não foi a sua escrita (que adoro!) que me fez reler as primeiras 2, 3 pág. Talvez por não perceber quem era o narrador... Mas, tudo se esclarece depois.
RLF é uma exímia contadora de histórias. A sua imaginação é espectacular e leva-nos, neste caso, a um Portugal rural, de alguns anos já, com estórias e lendas que faziam parte das vidas das pessoas de então. São personagens, estes que ela inventa, capazes de nos fazerem acreditar que existiram na realidade. A verosimilhança transporta-nos para um lugar do passado português de uma ruralidade profunda e de extremos.
Estas personagens para além de serem credíveis, como referi, possuem personalidades que de estático nada têm. Como nós. Os seus comportamentos mudam, aprendem com os seus erros (ou não!) e não se limitam a ser "bons" ou "maus". Possuem vida. É um dos aspectos que mais gosto na sua escrita.
Recomendo sem reservas. A história é para ser lida e, por isso, não vou sequer contar nadica.
Terminado em 23 de Maio de 2020
Estrelas: 6*
Sinopse
Um livro que opõe os valores perenes da infância, do maravilhoso e do amor à precariedade das paixões e da fortuna.
Pedra Moura abrigou, por entre os pastos verdes e ventos secos, Diamantina e Mário. Ela foi a rapariga mais pura e bela que alguma vez aquela terra viu crescer. Tinha mais brilho que um diamante, era dotada como ninguém nas suas mãos de fada e no seu espírito imperturbável e astuto. Foi criada com Mário, que sempre considerou um irmão de alma, de apertos, um símbolo sempre presente, inquebrável, ao qual se segurava. No entanto, Mário, como tantos outros, sucumbiu àquela criatura que parecia ter vindo dos céus, amando-a cada dia, com um amor que sabia esperar, sofrer. Sabendo que Diamantina nunca olharia para ele senão com olhos de irmã, viveu toda a sua vida contentando-se em estar por perto. Das mãos dela saíam os mais belos pássaros de seda bordados em colchas que se tornaram famosas e tinham o dom de deixar boquiabertos quem quer que os visse.
Depois de uma infância em Pedra Moura, a ouvir as histórias do tio Zebra e a apreciar os diversos manjares da mãe Margarida, seguiram-se tempos conturbados e a vida de ambos seguiu rumos muito diferentes, mas Diamantina continuará a ser a protagonista da vida de Mário e, por isso, também deste livro, que ele escreve antes de morrer e lhe oferece.
Cris
Sempre gostei dos trabalhos da Rosa Lobato De Faria! Adorei a publicação!:)
ResponderEliminar-
Vagueio na abstinência ...
Beijos e uma excelente semana :)
Olá Cris,
ResponderEliminarmais um gosto que partilhamos, eu também gosto muito da Rosa Lobato de Faria. Comecei com o Prenúncio das Águas (Prémio Máxima 2000), depois de ler uma crítica do Eugénio Lisboa no JL, e gostei imenso da história e da escrita dela.
Resolvi comprar os que ela escrevera anteriormente e também os que iam saindo - creio ter lido todos e sempre com interesse.
Uma vez, há imensos anos, estive a conversar com ela na Feira do Livro, não estava mais ninguém, era no tempo em que a Feira abria mais tarde, mas como era o Dia da Criança (1 de Junho) era suposto abrir mais cedo; não se via quase ninguém mas ela lá estava à hora marcada. E foi amorosa, eu só levei um livro para ela me autografar (a ideia era ficar com uma recordação); fui e regressei de autocarro e vi-me aflita para carregar todos os livros que comprei.
Era uma senhora de múltiplos talentos (adorava ouvi-la dizer poesia) e de uma beleza invulgar.
Beijo Cris, e boa semana!
🌻
Olá Maria! São essas boas memórias que ficam e que nos fazem sorrir, não é? Ainda tenho 2 dela por ler. Estou a poupá-los... :)
EliminarAcredito que seja um livro fascinante de ler. Rosa Lobato faria só começou a ter sucesso já perto dos 60 anos. Inclusive na escrita de novelas. Mas escreve muito bem, pois já li escritos seus.
ResponderEliminar.
Cumprimentos
Proteja-se
Tinha referido que da autora só tinha lido "O Pranto de Júpiter" mas, nas minhas idas às estantes de livros, descobri que tenho "O Prenúncio das Águas" pelo que brevemente irei lê-lo.
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