“Leva-me Contigo”, Afonso Reis Cabral, 2019
Há precisamente um ano, Afonso Reis Cabral já ia no troço final da sua grande aventura: fazer a Estrada Nacional 2. Nesse dia 11 de Maio de 2019, em pleno Alentejo, entre Alvalade e Aljustrel, quando já só faltavam 116 kms para chegar a Faro e ver o mar, no seu vigésimo dia de caminhada, talvez já tivesse o nome para este seu diário do caminho. “Leva-me Contigo” tinha sido o pedido que um menino cigano lhe tinha feito na véspera, ao passar pelo Torrão.
Daquilo que sabemos de Afonso Reis Cabral, ele gosta de desafios e este foi gigante. Percorrer a mítica EN2, ou seja, 738,5 kms entre Chaves e Faro. A pé. Sozinho.
Bem, sozinho ele nunca esteve. Foi sempre seguido por quem ao fim do dia ia visitar a sua página de facebook, para acompanhar o que a cada dia acontecia ao Afonso, ao longo dos 24 dias que levou a fazer a totalidade do percurso. E claro, acompanhado pelas pessoas que ia encontrando na estrada e nos campos das diferentes regiões que atravessam o território e também peregrinos a caminho de Santiago ou de Fátima, ele peregrino para o mar. O próprio Afonso valoriza os incentivos que recebia nas mensagens de facebook e que o ajudaram a vencer as dores físicas e as dificuldades de um percurso tão longo e tão exigente, sem dias de descanso, debaixo de chuva e frio intensos ou de sol abrasador. Ouvindo o Stabat Mater de Pergolesi ou o Requiem de Mozart, os seus mortos que o acompanharam foram “miragens sobre a estrada” que o ajudaram, sem esquecer os bastões sugeridos por outros que já tinham a experiência de longas marchas.
À medida que vamos lendo os relatos do diário do caminho, ilustrados com fotografias, com o mapa dos troços diários com os quilómetros respectivos e as mensagens de facebook, apercebemo-nos que vai crescendo uma onda de solidariedade que nunca deixou o Afonso sozinho: os iogurtes, a água, os bilhetinhos, o descanso ao fim do dia, a água com o sal para acalmar os pés, a oferta de um bolo, de um almoço ou de uma cama, tudo isso o Afonso enumera e agradece no Obrigado final. .
Entristeci-me com a notícia da raposa morta na estrada e por saber que aquela linda coruja branca exausta que se deixou apanhar não conseguiu resistir.
Fui uma das pessoas que desde o início torci para que as pernas, a resistência física e psicológica e a capacidade de superação de Afonso Reis Cabral lhe permitissem chegar a Faro e foi com imensa alegria que ouvi na rádio pouco antes da hora do almoço a notícia de que o Afonso tinha chegado. Acredito que milhares de pessoas em todo o país rejubilaram com essa notícia em directo no vigésimo quarto dia daquela prova de resistência.
Afonso Reis Cabral deu-nos a oportunidade de acompanhar o seu esforço no conforto das nossas casas e estou certa que deixou muitos amigos, não só ao longo da RN2, mas por todo o país.
O pedido “Leva-me contigo” marcou a viagem de Afonso, assim como alguns conselhos que lhe deram durante a viagem e que ele partilhou connosco:
“Faz o que gostas , segue em frente mas não te esqueças de olhar para trás.”
“Não mintas e não faças tatuagens” ou
“Quando quiser, descanse”.
Sim, Afonso, descanse. Mas não pare e não deixe de nos surpreender com a sua escrita e com os seus projectos.
11 de Maio de 2020
Almerinda Bento
Mais um livro que me parece muito curioso!
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Sentem-se famintos, pelo tempo que se alegra
Beijo, e uma excelente semana.
Ainda não li nenhum dos livros do autor, mas tenho curiosidade em descobrir a sua escrita.
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