Ruanda, 1959. Genocídio. Mais um numa História cheia de momentos vergonhosos. Porque é que o Homem, na sua ânsia de poder, não fica satisfeito com nada nem olha a meios para obter o que pretende?
ESTE LIVRO É DURO. Narrado pela autora; não ficção. Este livro é pois uma memória autobiográfica da sua infância e da altura em que a sua família foi deportada para Nyamata em 1960, sítio inóspito e sem condições. A partir daí foram-se acumulando os ataques a membros da sua família, amigos e vizinhos e que culmina num genocídio. A autora conseguiu fugir para o Burundi e posteriormente para França, onde vive.
Inyenzi significa "baratas" e é usado de uma forma depreciativa contra os Tutsis. Dirigido a alguém que pode ser esmagado sem dó nem piedade.
"E as mães tremiam de angústia ao trazerem ao mundo um rapaz que se tornaria Inyenzi e que seria lícito humilhar, perseguir e assassinar com toda a impunidade. Estávamos cansados e por vezes cedíamos ao desejo de morrer. Sim, estávamos prontos a aceitar a morte, mas não aquela que nos foi dada. Éramos Inyensi, havia apenas que nos esmagar como baratas, de um só golpe. Mas retirou-se prazer da nossa agonia. Fez-se prolongar essa agonia com suplício intoleráveis, por prazer. Retirou-se prazer em retalhar as vítimas ainda vivas, em esventrar as mulheres, em arrancar os fetos. E esse prazer é-me difícil perdoar, vejo-o sempre diante de mim como um escárnio ignóbil." pág.123
Numa linguagem desprovida de sentimentalismos e muito crua, Scholastique conta o que viveu e mostra-nos os seus fantasmas e todas as suas feridas impossíveis de curar. Intenso e doloroso. Estrelas máximas para um tema terrível, onde o Homem mostrou o seu pior. Como se consegue ser resiliente e arranjar forças para sobreviver perante uma barbárie? Como se consegue voltar a pisar a terra onde o sangue dos familiares está entranhado na terra?
Aconselho muito.
Terminado em 21 de Agosto de 2025
Estrelas: 6*
Sinopse
Quando uma mulher tútsi tomava conhecimento de que estava para ser mãe, a angústia arrasava-lhe a felicidade: sabia que, pelo formato do seu nariz, o aspeto do seu cabelo, o seu local de nascimento, aquele bebé estaria destinado a tornar-se, aos olhos do seu país, um Inyenzi – uma barata.
Foi esta a designação dada aos tútsis do Ruanda durante décadas e foi com o argumento de que aquele povo mais não era que um inseto desprezível que a violência ganhou gradualmente rédea solta, até 1994, quando em cerca de cem dias perto de um milhão de pessoas foram brutalmente assassinadas.
Entre elas, quase toda a família de Scholastique Mukasonga.
Anos mais tarde, em França, Mukasonga vê-se rodeada por fantasmas que a impelem a escrever, a salvar do apagamento a história daqueles que já não a podem contar e a testemunhar como foi crescer constantemente entre o medo e o carinho extremos.
Inyenzi ou as Baratas é um documento duro e enternecedor, uma carta de amor repleta de feridas impossíveis de sarar, uma memória pessoal que importa enfrentar coletivamente.
Cris