O começo é abrupto, como se fosse o seguimento de uma ideia já referida: "Além disso..." colocando o leitor num estado de surpresa e atenção que me agradou. A escrita é corrida, algo repetitiva, quase oral, que me levou a ler algumas partes em voz alta para ver se funcionava melhor comigo. Mas nem assim me agradou. Gostos...
É um monólogo intenso, compacto, um fluxo de pensamento constante que, a mim, me cansou sobretudo pela quase inexistência de pontuação pese embora seja um livro muito pequeno em tamanho e páginas. A narradora é uma mulher que perdeu recentemente o marido, e que recorre a vários episódios do passado, saltitando entre pensamentos, acontecimentos com as duas filhas, o marido e ela própria e o presente.
O tema do Holocausto paira muito ao de leve e, não fora a referência de uma amiga a esse facto, creio que ter-me-ia passado despercebido muito embora a narradora, cujo nome nunca é referido, tenha mencionado que perdeu familiares "nos campos" e que a mãe morreu em 1942, não tendo conseguido realizar os projectos que tinha com ela.
O AVC do marido despoleta esta dor que é sentida, a dor do luto, uma intensa solidão que o leitor sente através das repetições de frases e pensamentos.
Compreendo a intenção da autora mas não me prendeu como esperava e gostaria.
Terminado em 30 de Março de 2025
Estrelas: 4*
Sinopse
Pela janela de um apartamento em Bruxelas vê-se uma mulher, quase sempre
vestida de roupão e envolta nas suas memórias. Ela acaba de perder o
marido. Por isso passa muito tempo ao telefone, a falar com as filhas,
uma em Ménilmontant, um bairro de Paris, outra na América do Sul, e com a
família espalhada pelo mundo.
Nesse labirinto de vozes, evoca o vazio que a cerca, com a delicadeza de
uma fuga musical. Para além do nome impronunciável da Shoah e do
silêncio dos sobreviventes, fala de uma solidão indescritível e dos
pequenos arranjos com a vida.
Memórias no meio das banalidades do quotidiano. Uma história de luto sublimada por palavras, Uma Família em Bruxelas é uma conversa íntima como um livro aberto.
Cris
Ao ler esta publicação lembrei-me do livro "E, de Repente, a Alegria", de Manel Vilas, que gostei muito. Porém, nem todos os autores nos conseguem agarrar com narrativas mais introspectivas.
ResponderEliminar