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domingo, 15 de março de 2020

Ao Domingo com... Isabel Tallysha-Soares


Escrever sobre o real
Isabel Tallysha-Soares
(Autora de Eu, do Nada; Da Gaveta e O Homem Manso)

Creio que nenhuma ficção consegue ser mais interessante do que a realidade. O real é tão polivalente, tão inesperado e tão surpreendente que a ficção mais não é do que uma dissimulação da realidade. É por isso que quando me perguntam sobre os meus livros digo que escrevo pseudo-ficção e é, se calhar e também, por isso, que resolvi ter um canal para abraçar a realidade e a encapsular de digital, o House of Tallysha.

Escrevi o meu primeiro romance, Eu, do Nada (Coolbooks, Porto Editora) depois de o jornalista Pedro Rolo Duarte me ter desafiado a escrever o relato romanceado da minha família materna. Nos anos ’90, o Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica deliciosa sobre nomes estranhos de terras portuguesas. Uma delas era um tal de “Nada” (com um outro nome igualmente nada na vida real) que era a quinta dos meus antepassados e foi sobre o porquê de esse lugar se chamar “nada” que surge o Eu, do Nada. A Porto Editora pegou no livro e publicou-o através da chancela Coolbooks. Depois eu traduzi-o e agora uma editora britânica vai lançá-lo com o título I, from Nothing. Foi a realidade que fez este livro aparecer e a realidade leva-o, agora, a saltar as fronteiras da língua em que nasceu.

O mesmo germinar da realidade sucedeu ao meu segundo livro, Da Gaveta, também publicado pela Coolbooks, como têm sido todos os meus livros em Portugal. Neste caso, o registo veste-se de autobiográfico. Trata-se de uma viagem de auto-descoberta e o romance tem a particularidade de as personagens e os locais não terem nomes. O leitor fará a sua interpretação e, através das paisagens e dos exotismos descritos fará também a sua viagem. Posso dizer que a gaveta que dá nome ao livro existe mesmo e que foi essa gaveta uma das inspiradoras para o romance que começa com a frase enigmática “A Mãe vivia numa gaveta.”

Já no que toca ao meu mais recente livro O Homem Manso, é também baseado em factos e pessoas reais. Aqui, a personagem principal é ficcionada sobre alguém com existência verídica e tão superlativa que todos os episódios cómicos descritos no livro são apenas e só verdadeiros. Não foi precisa imaginação literária para os inventar. O título do livro, por seu lado, é um paradoxo. O homem manso é sobre coragem, é sobre como a mansidão de carácter leva alguém a actos heróicos de profundo amor ao próximo. É também um livro de resgate histórico sobre coisas, pessoas e factos alheios ao conhecimento público e que devem vir a lume para não ficar esquecidos. Foi essa espécie de salvação da memória que também tentei neste livro.

Em suma, o real é apaixonante e tão inspiracional que até parece ficção. Convido-vos, pois, a conhecerem melhor o real que se esconde sob ficção nas páginas dos meus livros.

Um beijinho a todos e um agradecimento especial a “O Tempo Entre os Meus Livros” (que me lembra dos meus blogues, a que não dou atenção por falta de tempo, essa matadora de coisas de gente). Vemo-nos por aí, quem sabe se entre páginas?

Isabel Tallysha-Soares

3 comentários:

  1. Muito grata a este projeto de divulgação de livros e autores que, deste modo, tanto contribui para a disseminação do gosto pela literatura. Obrigada!

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  2. Ainda não li nada da autora (só tinha conhecimento do livro "O Homem Manso").

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