"Aaron Klein" de Paulo José Miranda

Nunca tinha lido nada até agora de Paulo José Miranda. Ainda estou a processar o quão bem arquitectada está esta história. Construção exemplar de personagens fictícios, Aaron e Vera, interligando-os com personagens reais (Hélder Macedo, George Steiner) e aprofundamento de ideias de Pessoa e Kafka. 

Gostei muito da história que serve de base a esta obra. Aaron Klein ronda os 70 anos. É um ser solitário, ama ler e escrever. Divorciado sem descendentes. Português, de descendência judia, viveu uma infância feliz em Lisboa até aos seus 9 anos. A sua ida para Telavive marcou uma viragem na sua vida para pior. Por razões que não fiquei a perceber - será que me passou algo? - a sua mãe começou a odiá-lo sem razão aparente.

Daí a um casamento estranho e não feliz, um divórcio já numa idade madura e um regresso a Lisboa, decorreu uma vida. Vida onde os livros, a leitura e a escrita foram sempre um suporte, uma âncora, um amor. O seu encontro nesta sua vida, um pouco insípida e solitária, com a narradora, Vera, e o amor filial nascido entre eles, incontestável aos olhos do leitor, foi o mote para um livro muito interessante e algo diferente.

Diferente porque, sendo o autor licenciado em filosofia, existem algumas discussões filosóficas, muito bem contextualizadas, as quais, confesso, não tiveram toda a minha simpatia porque um pouco incompreensíveis para mim.

Sem dúvida alguma estamos perante um livro com uma escrita muito cuidada que apreciei deveras! Na mira estão outras obras do autor...

Terminado em 24 de Janeiro de 2021

Estrelas: 5*

Sinopse

Aaron Klein, de Paulo José Miranda, sobressai no panorama da literatura Portuguesa contemporânea como uma intensa busca da interioridade mais íntima do ser humano, a partir da figura de Aaron Klein, judeu regressado a Lisboa, depois de ter deixado a cidade, ainda criança, partindo com os pais rumo a Israel, a terra prometida. A partir do ponto de vista das várias personagens que habitam o livro, num discurso vívido, denso e polifónico, a vida, o pensamento, a escrita de Aaron Klein são reconstruídos como um mosaico, em que ficção e realidade se cruzam, para esboçar um breve tratado da infelicidade humana. Personagens reais como Helder Macedo, George Steiner, Ricardo Ben-Olien, Fernando Gil juntam-se a Vera, Ruth Munzer ou Aaron Klein, para dissolver as barreiras entre entre ficção e real, literatura e ensaio, mostrando que, nos livros, como na vida, "todos somos estrangeiros sobre a terra".

Cris