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domingo, 17 de novembro de 2019

Ao Domingo com... Elisabete Lucas


Poucas e ténues são as primeiras memórias da infância. Mas há escrita nalgumas delas e, claro, muita leitura (hoje e sempre).
Com uma mente que rima por tudo e por nenhuma aparente razão, levando-me a dar por mim a fazer continuamente associações de palavras e pensamentos, estranho não será que a minha primeira «obra» (a que me terei dedicado com a seriedade que o acto de criar/de imaginar sempre me mereceu) tenha sido um caderno cheio de poemas, que redigi ainda não tinha completado o quarto ano de escolaridade. Desconheço a sua actual morada, coisa de fraca importância para quem prefere a partilha dos escritos e das ideias.
Se alguma revelação há aí é de que a escrita é para mim uma necessidade. Pensar em mim sem escrever é pensar-me incompleta. O meu mundo precisa de outros mundos, nos quais possa inventar personagens, contextos, problemas e soluções, reviravoltas, mudanças, finais.
O que me traz a escrita? Seguramente um terreno enorme de possibilidades: de rir e de chorar, de pensar a dor e de a superar, de morrer e viver outra vez, de esquecer a realidade que me rodeia, que nos rodeia, ou transformá-la. Sobretudo, de ir além de mim própria. Talvez por isso, quando observo o mundo tenha tanta dificuldade em limitar-me aos factos. Não raramente, ao olhar estou a imaginar. Atento num pormenor que provavelmente não interessa a mais ninguém e de lá sigo rumo a uma narrativa.
Escrever é como um voo, por vezes arriscado, outras sossegado. Quem entra nele enfrenta com frequência o desconhecido, seja porque a rota nem sempre se conhece à partida, seja porque muitos são os imponderáveis que podem surgir, tanto nas histórias como na vida.
Já escrevi ficção e não-ficção. Já escrevi para adultos e para crianças. Todos os desafios que me levam à escrita são bem-vindos. Por isso, escrevo com a imaginação à solta, algumas vezes, mas também já o fiz para contar histórias reais (na sequência de entrevistas, por exemplo), outras vezes para apresentar ideias (ou mesmo para as perceber melhor, dado que redigir ajuda a interiorizar, obriga a parar mais, a pensar com uma consistência diferente).
De um lado o acto de escrever, relativamente solitário, ainda que possa ver-se acompanhado de um turbilhão de emoções e de um certo alheamento da realidade envolvente. Do outro, o partilhar. E um livro é aquele objecto fantástico com o dom de ser tantas coisas diferentes quando chega às mãos dos leitores. Nenhuma narrativa tem exactamente o mesmo impacto em todos ou suscita as mesmas emoções ou desperta as mesmas apreciações.
Para mim, escrever constitui uma certa forma de ser e de ver o mundo. Contudo, ninguém duvide de que os leitores tornam tudo bem mais interessante!

Elisabete Lucas
autora de A Gravidez do Meu Vazio e Outros Contos

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