Temos cá bons escritores e não sabemos! Este livro foi uma grata surpresa e é prova disso! Foi-me enviado pelo autor e aguardava a sua vez na estante que é como quem diz, aguardava vontade minha. Não leio por obrigação. Quando assim é, nunca resulta e já sei que a leitura se vai arrastar. Por isso prefiro sentir este apetite e deixar que a vontade seja dona e senhora das minhas leituras. Por vezes nada leio da sinopse e nada espero. Assim, deixo-me surpreender e, neste caso, foi com muita satisfação que me envolvi na escrita e na história narrada por este autor.
É pela voz do narrador que, ainda em criança, nos conta como foi a sua infância no meio da serra, bastante longe da aldeia mais próxima, no Portugal de Salazar. Muito perspicaz mas também muito inocente, Rodrigo vive muito a solidão e o isolamento, mas faz-nos sorrir amiúde com as suas "descobertas" ou suposições que explicam o mundo segundo os seus olhos. Uma ironia fina, um toque de mestre numa escrita que faz o leitor sentir-se em casa mesmo quando as experiências vividas pelo pequeno narrador não correspondem às suas, nem são, tampouco, similares às recordações que possuímos.
O retrato de Portugal dessa época está muito bem conseguido. A pouca literacidade, a pobreza extrema, a ignorância e as baixas expectativas de todo um povo estão espelhados nas palavras do autor. O "salto" para França ou a ida para uma grande cidade portuguesa na busca de uma vida melhor de tantos portugueses. O retrato de um Portugal que muitos desconhecem (e ainda bem!) que me deu muito prazer em visitar e relembrar.
Depois, a tristeza de todo um povo quase que se pega ao leitor numa segunda parte em que essa criança é obrigada a crescer (mais depressa que o que é habitual hoje em dia) e sente-se essa melancolia nas palavras do autor.
Recomendo muitíssimo.
Terminado em 18 de Julho de 2021
Estrelas: 5*
Sinopse
Quantos silêncios e quantos sonhos cabem no peito de um homem?
Nascido para ser pastor, Rodrigo viveu a infância com os seus pais e irmãos numa velha cabana isolada na montanha, tendo desde cedo aprendido o silêncio, bem como a dor e a saudade, pela morte do irmão mais velho na guerra do ultramar. Os seus melhores dias foram passados na montanha com o avô Josué, a quem chamavam Celtibero, e na escola primária, onde conheceu os primeiros amigos e se deixou enfeitiçar por uma moira encantada. Rodrigo sonhava para si uma vida diferente, o avô incentivava-o a contrariar um destino que parecia certo, incitava-o a partir e correr mundo. Ouviu palavras idênticas a um homem que apareceu na montanha a tocar um tambor para os ancestrais.
Um homem que se viria a revelar primordial na sua vida, quando dilacerado pela angústia de ter de tomar uma decisão, foge de casa para viver na cidade grande, sem nunca mais dar notícias à família. Num mundo de cimento e rostos fechados, Rodrigo aprende que a solidão pode estar em todos os lugares, ainda que rodeado de gente. É salvo pelo amor que encontrou junto da rapariga que guardava no seu coração desde a infância. Volta à sua montanha, muitos anos depois, aquando da morte da sua mãe.
Voltará a tempo do tão desejado perdão? Saberá a sua montanha dar-lhe a paz que tanto procurou?
Num tom poético e intimista, este é um romance com personagens inesquecíveis, que nos fala diretamente à criança que já todos fomos, relembrando-nos verdades simples e preciosas.
Cris
Acredito que seja um livro com uma narrativa fascinante de ler
ResponderEliminarCumprimentos
Uma leitura bastante interessante! :)
ResponderEliminar.
O sonho realizado ...
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Beijos e um excelente dia, quer seja de férias ou de trabalho.
Não conhecia o livro. É sempre bom quando nos dão boas sugestões de leitura.
ResponderEliminarFiquei fascinada por este seu comentário e, logo depois, pela sinopse do livro. Quero muito ler!
ResponderEliminarObrigada por nos dar a conhecer tantos livros e autores, sempre de forma honesta e isenta.
Obgda pelas suas palavras! Boas leituras!
EliminarFiquei curiosa parece interessante. Gosto muito do título
ResponderEliminarÉ verdade, temos tantos e tão bons escritores e muitos passam despercebidos.
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