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domingo, 29 de agosto de 2021

Ao Domingo com... Filipa Pimenta e Ivone Patrão

Por Filipa Pimenta, 

Escrito em conjunto com Ivone Patrão. 

Autoras da coleção infantil Pactor Kids (4 livros publicados)





Num dia de sol, em 2019, eu e a Ivone Patrão, ambas psicólogas, investigadoras e docentes no ISPA, dirigimo-nos ao habitual local de almoço. Perto do ISPA e junto ao rio, sentámo-nos na esplanada com os nossos computadores – companhia habitual dos nossos almoços. O ritual era quase sempre o mesmo: pedíamos as nossas saladas de legumes assados e chévre, falávamos das investigações em curso, refletíamos sobre os estudos do ano seguinte, analisávamos os progressos dos alunos que orientávamos, trocávamos ideias sobre as aulas que dávamos. Mas nesse dia houve uma mudança no ritual. 

Debaixo do sol quente de verão e com o Tejo a brilhar à nossa frente, decidimos não abrir os computadores e ter um almoço sem trabalho no prato. Falámos então das praias que adoramos e cujos areais já estávamos a aproveitar naquela altura do ano, aos fins-de-semana (costumamos passá-los quase na mesma praia, entre o Carvalhal e Troia), falámos dos projetos para as férias e dos filhos (ambas temos filhos pequenos, com poucos anos de diferença). 

Perdemo-nos nas conversas sobre os miúdos, tal como faz a maior parte das mães! Há sempre mais uma história que nos faz as delícias partilhar. Na altura em que os coloridos pratos de legumes e queijo derretido aterraram na mesa, já tínhamos saltado das histórias sobre os nossos filhos para as histórias que contamos aos nossos filhos. Eram histórias sempre com um propósito particular, mediante o dia. Se o dia tinha sido difícil, depois de ouvirmos o que se tinha passado, como se sentiam, contava-se uma história de superação, de resiliência (por exemplo, um urso pequeno que quer subir a uma enorme montanha; acha inicialmente que não é capaz, mas depois há uma transformação, pela tentativa e através do apoio, e lá descobre em si recursos que o ajudam a superar o desafio). Se o dia tinha sido marcado por uma situação de grande birra, com visível dificuldade em gerir as emoções, lá se inventava uma história sobre gestão emocional, por exemplo, de uma estrelinha que certo dia numa fúria muito grande por não poder continuar a brincar, partiu um brinquedo; a seguir teve a oportunidade, com o apoio emocional da mãe, de aprender estratégias para melhor gerir as suas emoções.

“E se nós publicássemos isto num livro...?”

A pergunta não teve uma resposta óbvia ao início. Tanto eu como a Ivone estávamos habituadas a escrever artigos científicos com os dados da nossa investigação ou capítulos de livros para manuais técnicos, na área da psicologia clínica e da saúde. Um livro infantil nunca tínhamos escrito.

Mas entre uma garfada e outra as páginas imaginadas do livro começaram a ganhar forma. O livro seria composto por uma história infantil com um propósito claro: promover na criança uma competência que fosse importante para o desenvolvimento saudável. Depois vinham as estratégias, descritas de forma clara e com exemplos práticos, direcionadas aos pais (uma secção de Dicas Parentais). “E não nos podemos esquecer dos Professores e Educadores” – disse a Ivone, habituada a trabalhar com esta população. “Eles têm igualmente um papel muito importante na promoção de competências nas crianças”. E assim, juntámos às páginas deste livro, ali imaginado, uma secção para professores e educadores, com uma atividade para implementar na escola, em sala de aula. Como somos investigadoras, a ciência tinha de estar aqui de forma destacada e por isso decidimos que a última parte do livro apresentaria uma breve contextualização científica, uma pequena revisão da literatura, sobre a competência que estávamos a promover com o livro.

Por altura do café, o tema já era outro. “E por onde começamos?” As ideias sucediam-se como as ondas do Tejo, que se atiravam voluntariosas contra o passeio marítimo, uma atrás da outra. “Temos de falar da autoeficácia, da crença de ser capaz de atingir objetivos. Mas não podemos deixar de parte a autoestima (a baixa autoestima é hoje em dia uma questão clínica tão frequente, já em crianças)”. E a autoregulação emocional? É imperativa. Muitos são os pais que nos procuram no consultório com dificuldade na gestão das emoções em crianças, já a partir dos 3 anos.

Esta parecia ser a decisão mais difícil: que tema escolher...? Eram todos tão importantes, cruciais para o crescimento que nós, como mães, queremos para os nossos filhos: um crescimento extraordinário.

“E se em vez de um livro, escrevêssemos uma coleção de livros?”. Lembro-me do olhar da senhora que nos levou o multibanco para pagarmos o almoço, chegando-se a nós precisamente quando foi verbalizada em voz alta esta pergunta, com a certeza de se ter tido uma epifania. Lembro-me que sorriu, provavelmente por algo que pensou sobre o seu dia, e não necessariamente sobre o que tinha acabado de ouvir na nossa mesa.

Passadas poucas semanas pusemos mãos à obra. Outras poucas semanas decorridas recebemos um abraço confiante da Editora PACTOR, que acolheu este projeto. Assim que escrevemos a primeira história, a talentosa Mónica Catalá deu-lhe vida com magníficas ilustrações.

E assim nasceu a coleção Outstanding Growth e uma nova chancela dentro da editora – a PACTOR Kids.

Os três livros que já estão publicados pretendem o que nós desejamos para os nossos próprios filhos: promover competências que permitam aos mais pequenos um crescimento extraordinário, saber que são capazes (“O Urso Tobias que queria ver a lua de perto”), com uma boa capacidade para gerir aos emoções em momentos desafiantes (“A estrelinha que muda de cor”), com a capacidade para se divertirem com e sem o uso de ecrãs (“O pássaro Nimas dá asas à diversão”), com a capacidade de gostarem de si próprios, entre muitas outras competências e histórias, que em breve crescerão extraordinariamente nas prateleiras das livrarias. 

Olhando para trás, aquele almoço em que nos comprometemos a não trabalhar gerou um dos melhores compromissos que temos hoje em dia em mãos e que tanto gostamos. 

Sobre as autoras: 

Filipa Pimenta


Psicóloga Clínica e da Saúde, com mestrado e doutoramento em Psicologia da Saúde (ISPA). Terapeuta familiar e de casal (SPTF). Desenvolveu, durante 20 anos, intervenção clínica no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com crianças, jovens e famílias. Docente e investigadora no ISPA e no Applied Psychology Research Center Capabilities and Inclusion (APPsyCI), com publicação de vários artigos científicos e livros. Coordenadora do Projeto #GeraçãoCordão – Comportamentos e dependências online. Coordenadora do livro Intervenção em Ciberpsicologia. Coautora do jogo Missão 2050 – Promoção do uso saudável das tecnologias.

Ivone Patrão



Reconhecida Psicóloga Clínica e da Saúde, com mestrado e doutoramento em Psicologia da Saúde (ISPA). Terapeuta familiar e de casal (SPTF), desenvolveu, durante 20 anos, intervenção clínica no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com crianças, jovens e famílias. É também docente e investigadora no ISPA e no Applied Psychology Research Center Capabilities and Inclusion (APPsyCI), com publicação de vários artigos científicos e livros. Coordenadora do projeto #GeraçãoCordão – Comportamentos e dependências online, que deu origem a um livro de sucesso. Coautora do jogo Missão 2050 – Promoção do uso saudável das tecnologias.


Texto da autoria de Filipa Pimenta com o apoio de Ivone Patrão

2 comentários:

  1. É bom oferecer a nós próprios momentos de descontração e lazer. E, por vezes, é nessas alturas que novas e boas ideias surgem. Faço votos para que mais livros venham a caminho.

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  2. Fico sempre encantada com os livros infantis. Gosto de todos para a minha filha.

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