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sexta-feira, 5 de abril de 2019

"Os Meninos de Varsóvia" de Elisabeth Gifford

O primeiro impacto com a escrita desta autora foi, pode-se dizer, um pouco desafiante. Sobretudo porque é uma escrita jornalística, impessoal e sem grande emoção. Talvez tivesse preferido que fosse escrito na primeira pessoa. O "eu" daria um cunho pessoal mais forte e conquistaria depressa o leitor. 

Mas situando um pouco: o enredo passa-se no início da Segunda Guerra, em Varsóvia, Polónia, entre 1937 e 1945. Vamos conhecendo alguns judeus polacos, entre os quais, Misha, Sophia e suas famílias, que vêm as suas vidas alteradas, primeiro pouco a pouco, depois drasticamente. O Gueto de Varsóvia é criado e as leis vão sendo alteradas radicalmente.

A 1/3 da leitura, o horror é tanto e tantas vezes descrito que a indiferença com que lemos as primeiras páginas torna-se numa sensação incómoda. E somos obrigados a pensar, a sentir, a colocar-nos a questão de como terão conseguido sobreviver em tal ambiente e em tão deprimentes e difíceis condições. A fome, sempre e cada vez mais presente, que leva a um estado físico de indiferença face aos outros, a pesadelos contínuos com comida. E sempre o medo, cada vez mais medo, e os boatos que se queriam isso mesmo - "boatos" - mas que se verificaram verdadeiros. O impossível a acontecer! Pessoas apavoradas, famintas e desorientadas. O horror na terra, o inferno.

Um dos aspectos sobre a II Guerra que tenho vindo a notar nas leituras que faço, é o facto de muitas das pessoas não terem acreditado no que estava para vir. Os boatos circulavam mas eram notícias tão horríveis que as pessoas nunca pensaram serem verdadeiras! Quando se aperceberam da realidade já era tarde de mais.

Baseado em factos verídicos das vidas de Misha e Sophia, contada a partir do testemunho do seu filho, este livro tem, também, como pano de fundo uma história deveras conhecida por quem é apaixonado por este tema, a história do Dr. Janusz Korczak, um médico pediatra, pedagogo, judeu sexagenário, que deixou a medicina para se dedicar a tempo inteiro a crianças de orfanatos, muito conhecido na época pelas suas palestras pioneiras sobre educação e psicologia infantil e que teve a seu cargo, durante o Gueto de Varsóvia mais de 200 crianças orfãs. Não as querendo abandonar, foi com elas para o campo de concentração de Treblinka, entrando juntos para os vagões da morte.

A maior parte dos judeus que iam para Treblinka eram gaseados logo que chegavam. Misha e Sophia escaparam à morte. Fizeram parte dos 1% de judeus que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia. Misha era alto, bem constituído, olhos castanhos claros. Sophia era loira, de olho azul, bem como a sua irmã, Kristhina. Se tivessem outra constituição física sobreviveriam? 

Uma história que nos conta como se cruzaram os destinos deste jovem casal e do médico conhecido por "o bom doutor" e que irá marcar, certamente, quem se atrever a lê-la. 

Um livro que começou com 4 estrelas, a meio passou para 5 e acabou com 6 estrelas, bem gordas. 

Recomendo!

Terminado em 30 de Março de 2019

Estrelas: 6*

Sinopse
Profundamente apaixonados e prestes a casar, os estudantes Misha e Sophia fogem da Polónia, procurando escapar à ocupação nazi da capital, Varsóvia. Obrigados a regressar ao gueto, resta-lhes ajudar o mentor de Misha, o Dr. Korczak, a cuidar das 200 crianças que vivem no seu orfanato, conseguindo, assim, sobreviver.

Do outro lado do muro, a violência aperta as suas garras em torno deste pequeno oásis de esperança e bondade, criado pelo bom doutor de Varsóvia, e Misha e Sophia são obrigados a separar-se e a enfrentar os seus piores medos sozinhos.

Mas, apesar de todos os esforços em preservar alguma humanidade em pleno caos, numa manhã de agosto de 1942, o chamado Pequeno Gueto é cercado pelas tropas das SS, com instruções para encaminhar os seus ocupantes para Treblinka, o campo para onde quem vai nunca volta. O Dr. Korczak não desiste da sua missão e recusa abandonar as crianças e funcionários do orfanato, partindo com eles para o destino final.

O gueto de Varsóvia foi habitado por meio milhão de pessoas. Menos de um por cento sobreviveu para contar a sua história. Este romance é inspirado nos relatos reais de Misha e Sophia e na vida de um dos heróis silenciosos da Grande Guerra, o Dr. Janusz Korczak.

Cris

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