Há livros que começamos a medo mas que nos convencem logo de início. Este foi um deles.
Comecei a medo sim. Tinham falado tão bem dele, tantas pessoas, que eu o passei a olhar de lado. Para mais a capa era, achava eu, um pouco colorida de mais. No fim do primeiro capítulo estava rendida. O enredo é sobre Alice, uma menina que vive com os pais numa quinta e praticamente não conhece mais nada para além desse espaço. Isso até poderia ser normal se ela não tivesse já 6 ou 7 anos. As ordens eram para ser cumpridas: não poderia passar de certos limites. Isso também poderia estar dentro dos limites da normalidade se... E os "ses" vão aumentando de quantidade e volume. Algo paira no ar, estranho. Barulhos que Alice ouve no quarto dos pais. A mãe que, uns dias não sai da cama e outros tenta desesperadamente esconder nódoas negras e mazelas. Alice cresce e aprende a ter medo do pai. Uns dias tudo parece estar bem até que, de um momento para o outro, algo assombra no olhar da figura masculina e a violência surge do nada.
Fiquei de imediato rendida à escrita da autora. Envolvente, realista.
E as flores? Como são elas para aqui chamadas? Confesso que dei a mão à palmatória: a capa traduz lindamente o conteúdo desta obra. As flores possuem um papel determinante pois Alice e os seus antepassados estão ligados ao comércio/linguagem das flores.
Não querendo avançar muito na história, posso afiançar-vos que a autora soube traduzir para o papel, de uma forma magistral, tudo o que sente uma vítima perante um agressor. Uma vítima de violência doméstica. E como, por vezes, se torna difícil ela libertar-se dos sentimentos de culpa, e de inferioridade que o agressor, com mestria, inculcou nela. Ao leitor apetece abanar o personagem! Não há como ficar indiferente.
Recomendadíssimo. Para além de mais, o livro é fisicamente muito belo. Nas suas páginas, florescem verdadeiras obras de arte.
Terminado em 8 de Abril de 2019
Estrelas: 6*
Sinopse
Alice tem nove anos e vive num local isolado, idílico, entre o mar e os canaviais, onde as flores encantadas da mãe e as suas mensagens secretas a protegem dos monstros que vivem dentro do pai.
Quando uma enorme tragédia muda a sua vida irrevogavelmente, Alice vai viver com a avó numa quinta de cultivo de flores que é também um refúgio para mulheres sozinhas ou destroçadas pela vida. Ali, Alice passa a usar a linguagem das flores para dizer o que é demasiado difícil transmitir por palavras.
À medida que o tempo passa, os terríveis segredos da família, uma traição avassaladora e um homem que afinal não é quem parecia ser, fazem Alice perceber que algumas histórias são demasiado complexas para serem contadas através das flores. E para conquistar a liberdade que tanto deseja, Alice terá de encontrar coragem para ser a verdadeira e única dona da história mais poderosa de todas: a sua.
Cris
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