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terça-feira, 15 de julho de 2014
A Convidada Escolhe: A Desumanização
O facto de a narradora Halla, uma criança de apenas onze anos, estar a sofrer pela morte recente da sua irmã gémea Sigridur prendeu-me de imediato ao livro. Para além da figura central que se sente incompleta e perdida com a morte da sua outra metade, do seu espelho - “tudo em meu redor se dividiu por metade com a morte” - as outras personagens que formam uma comunidade pequena e fechada a viver nos fiordes da Islândia carregam a tristeza, o desespero, a solidão, os pesadelos, os medos, os monstros. A certa altura, Halla – a “irmã menos morta” - diz: “Não havia mais miúdos. Era tudo velho. A gente, os sonhos, os medos e as montanhas.” A mãe que se auto mutila, o pai que escreve poemas e é quem está mais próximo de Halla, Einar que todos consideram tolo e cujo crescimento foi mutilado por uma tragédia que viveu quando ainda muito criança, Steindór a fazer as vezes de prior, a tia e “as nossas pessoas”, ou seja, a pequena comunidade de habitantes da aldeia que tudo sabem e que tudo controlam. Um mundo pequeno, fechado sobre si mesmo, de onde não é possível fugir!
É um livro que fala da morte, mas também do amor, do peso e da força das palavras, da música, do rigor e da emoção que há na música, do mundo que se desumaniza, dos homens e da sua relação interesseira com as mulheres, da vingança. É um livro triste em que o luto está sempre presente.
É também um livro muito visual em que a paisagem desempenha um papel muito relevante. A Islândia, os fiordes, o mar, o inverno e a neve que obrigam as pessoas a ficar em casa surgem ao longo do livro como a moldura que tudo envolve. É um livro duro, estranho e poético que, à semelhança de outros deste autor, me perturbou, mas de que gostei muitíssimo.
Dedicado ao seu irmão Casimiro e ao músico e amigo islandês Hilmar Orn Hilmarsson, Valter Hugo Mãe diz numa nota de autor no final do livro “Sei que este livro é uma declaração de amor esquisita, mas é a mais sincera declaração de amor aos fiordes do oeste islandês”.
Almerinda Bento
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