De David Safier já tinha lido o seu primeiro romance "Maldito Karma" e tinha ficado fã. O seu segundo livro "Jesus Ama-me" também mora nas minhas estantes mas, talvez graças a opiniões menos abonatórias, ainda lá permanece sem ser lido.
Desta vez, também movida por opiniões e comentários de amigos destas andanças dos livros, "Uma família feliz", comprado na recente Feira do Livro de Lisboa, saltou rapidamente na hierarquia dos livros a ler e passou para o topo das leituras. Não me arrependo de o ter feito.
Dotado de um humor fantástico, de uma ironia fina, diria mesmo, de um sarcasmo muito próprio, David Safier conquista-me pela forma como retrata a nossa sociedade.
Se em "Maldito Karma" é o mundo profissional a sua "vítima", desta feita acompanhamos a família von Kieren na sua interrelação, mas também no mundo que os envolve.
"Uma família feliz" é uma crítica mordaz que me fez soltar várias gargalhadas, e às vezes um riso contido, mas ainda assim sonoro, por causa dos locais onde me encontrava.
Graças a um mal-entendido os von Kieren mascaram-se de monstros e, por artes mágicas, são transformados, assumindo as suas identidades. Ao longo das breves páginas deste romance acompanhamo-los na sua aventura para voltarem a ser humanos. Cheguei ao fim das páginas deste
livro com pena de a história de apenas três dias ter terminado, pese embora ela estar concluída e, claro, ter um final feliz. Esta é daquelas leituras em que nos apetecia continuar a ler pela boa disposição que nos proporciona.
Afinal... "Todas as famílias têm monstros como estes"...
Uma leitura que recomendo para os dias de lazer que se avizinham, mas também para desanuviar da vida pesada que vivemos ou para aligeirar leituras mais pesadas. Um livro cheio de humor mas não acéfalo. Um autor que certamente continuarei a seguir. Uma pessoa sui generis que criou uma fundação na sequência do êxito do seu primeiro romance, a Fundação do Bom Karma, para promover a educação de crianças em todo o mundo.
"- O mestre (Drácula) – prosseguiu o motorista – também possui vários grupos empresariais . Entre eles, um a que deu o nome de um camponês da sua própria terra natal. Um voyeur que se chamava
Guguel.
Essa empresa era de Drácula? Isso explicava a lassitude da companhia da internet na hora de tratar dos direitos dos outros." (p. 122)
"Carreguei no botão do intercomunicador e chamei o meu criado Renfield, ou, como se dizia naquele século, o meu assistente pessoal. (...) Renfield era um jovem ambicioso, vestido com fato preto e camisa branca, que eu ainda não transformara com uma dentada numa criatura dos malditos. Nos cargos mais altos das minhas empresas, tal como em muitas empresas do planeta, trabalhavam muitos não vampiros desalmados." (p. 159)
"(...) Não tive pena dela. O meu estado de ânimo era semelhante a como quando vemos na televisão uma reportagem sobre crianças na guerra e nos interrogamos se noutro canal estará a dar o House. Ter-me-ia convertido num monstro insensível por ser vampira? Ou era apenas como muita gente normal?" (p. 222)
"(...)
- O molho bearnês está a transbordar!
(...)
Não continuou. O demónio também lhe deu com a sertã, ela voou contra a parede e aterrou ao pé do meu pai. Não se podia derrotar aquela criatura com recurso à força bruta. Portanto, havia que descobrir como era ele em termos de vontade. Com um pavor brutal e a tremer dos joelhos, aproximei-me dele enquanto retirava do lume a caçarola com o molho. (...)
Aproximei-me dos fogões e disse:
- Ei, tu, Gordon Ramsay... " (p. 247)
Fernanda Palmeira
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