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domingo, 27 de julho de 2014
Ao Domingo com... Carlos Ademar
Comecei a publicar há 10 anos. Fi-lo na presunção de que tinha uma profissão (inspetor da PJ) que me proporcionava acesso a histórias que, mescladas com o cimento da ficção, poderiam resultar em proveito e prazer dos leitores. Nunca quis (nem quero) seguir o modelo do policial tradicional, que vive muito do suspense que reside na descoberta do autor do crime e da forma como a ele se chega. Essa componente existe, mas está longe de ser a parte de leão dos enredos que crio. Nos meus livros procuro, essencialmente, refletir a vida portuguesa, seja na componente histórica, seja quando abordam o quotidiano. Procuro introduzir um valor acrescentado aos leitores (assim o entendo), que os leve a questionar sobre a realidade que os rodeia, no que toca, por exemplo à sociedade e à (in)justiça que nos rege. Nesta perspetiva, não me choca ser considerado um escritor de intervenção, talvez inserido naquela corrente que já alguém definiu como de Neorrealismo Revisitado – agrada-me até.
Em termos da abordagem à contemporaneidade, refiro o meu primeiro livro, saído em 2005, O Caso da Rua Direita, que aborda o crime de morte por encomenda, as dificuldades que oferece à investigação, bem como as dinâmicas que se podem gerar numa brigada de homicídios; Estranha Forma de Vida, publicado em 2007, trata o crime organizado associado a certos estabelecimentos de diversão noturna, com os vários tráficos inerentes (pessoas, drogas, armas, etc.), a violência estratégica e as dificuldades com que o atual sistema de justiça se debate para lhe dar combate (vai na terceira edição); Memórias de um Assassino Romântico, publicado em 2008, debruça-se sobre o efeito que o sentimento de injustiça pode gerar numa mente perturbada, que, dentro da sua loucura, procura repor os níveis de justiça que não sente.
Em 2012 saiu o meu último livro pela Oficina do Livro, O Bairro, que, centrando-se na Cova da Moura, trata a problemática que envolve os bairros degradados, as razões porque podem transformar-se em ninhos de criminosos e, na perspetiva do autor, a forma de tentar evitá-lo.
Relativamente a romances históricos ou de época, dou conta de O Homem da Carbonária, saído em 2006 (que se encontra esgotado após a segunda edição). Nele procurei dar a conhecer a Carbonária Portuguesa, organização tão desconhecida e que tanto peso teve na implantação da República. Procurei ainda levantar algumas questões sobre as causas que levaram à queda da Primeira República e consequente instauração da ditadura que liderou os destinos de Portugal quase meio século. O Chalet das Cotovias, o meu mais recente romance, saído em 2013, aborda os anos trinta, mais precisamente a edificação do Estado Novo sob a égide de Salazar, com tudo o que representou em termos de retrocesso civilizacional e que empurrou o país para as catacumbas do subdesenvolvimento europeu; o terceiro romance histórico é A Primavera Adiada, saído em 2010, que aborda o estertor do marcelismo e as desilusões dos primórdios da vida em liberdade.
Num outro registo, saiu neste ano de 2014, No Limite da Dor (o meu único livro de não ficção), em coautoria com Ana Aranha, da Antena 1. Com a devida contextualização histórica, não é mais do que a transposição das entrevistas realizadas a antigos presos políticos e as suas experiências dolorosas com a polícia política do antigo regime, que passaram no programa de rádio com o mesmo título. Para lançamento da Parsifal, editora de Marcelo Teixeira, onde saíram os meus mais recentes livros, participei numa coletânea de contos, em que trinta autores foram convidados a escrever sobre uma capital do mundo. Escolhi Bissau e o livro tomou o título de Contos Capitais.
Abordando o futuro próximo, encontro-me a aprofundar a minha dissertação de mestrado em História Contemporânea, defendida este ano na FCSH da Universidade Nova, tendo em vista a publicação em 2015 da biografia do capitão de Abril, Vítor Alves. Conto regressar à ficção e ao romance histórico em 2016, trabalhando sobre o princípio dos anos cinquenta do século XX, o estado do regime e as lutas, por vezes sangrentas, que ocorreram dentro da oposição clandestina que procurava combatê-lo. Muitos outros projetos fervilham, mas resisto e prossigo, como sempre, com um passo de cada vez.
Boas leituras!
Carlos Ademar
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Olá Cristina, gostei bastante deste post.
ResponderEliminarTenho muita curiosidade neste livro de Carlos Ademar, "O Chalet das Cotovias" desde que o vi à venda. Irei com certeza ler.
Gostei de conhecer mais o autor.
Beijinhos e continuação de boas leituras.
Obrigado Nuno pelas suas palavras. Os meus agradecimentos também para a Cristina pelo bem artilhado blogue e pela oportunidade que me deu de conhecer mais um recanto ( e nunca são demais) onde se fala e escreve sobre a escrita. Felicidades.
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