Não me canso de elogiar a escrita deste autor. Brejeira, atrevida, marota. E também bem disposta, que nos faz sorrir amiúde, que caracteriza pormenorizadamente os personagens sem, contudo, enjoar através de excesso de detalhes.
São livros pequenos, adequados para leituras de um dia só. Mas considero-os um relato fidedigno quer da época que pretende retratar quer de um estilo de personagem marcadamente citadino, malandreco.
Gosto mais de alguns livros do que outros, como seria de esperar, mas este encheu-me as medidas. O autor coloca-se, desta feita, na voz de uma jovem de 21/22 anos que escreve pela primeira vez num diário que lhe ofereceram. Estamos em Dezembro de 1968 e a acção decorre durante um ano num Portugal com um ambiente fechado mas em que os jovens teimam em alargar horizontes. Torna-se muito engraçado recordar aspectos dessa época! Para quem é mais novo é uma leitura importante. A comparação entre o Portugal de ontem com o de hoje torna-se inevitável.
E depois os nomes que Zambujal arranja para os seus personagens!!! Nora Rute, quem se lembraria de tal? Mas não ficamos por aqui: Sesinanda, Pedro Camilo, Sílvia Natália sāo outros tantos...
Admiro muito a imaginação fértil de Mário Zambujal. O seu estilo de escrita é inconfundível. Recomendo. Este foi um dos seus livros que mais gozo me deu ler.
Terminado em 18 de Outubro de 2019
Estrelas: 5*
Sinopse
Nora Rute é uma personagem de romance e, ao escrever o seu diário, vai escrevendo, no desconhecimento do que virá a seguir, o seu próprio romance. Ao mesmo tempo, acrescenta-lhe o registo de acontecimentos e usos que marcaram um ano (1969) desde a chegada do Homem à Lua à moda da minissaia, das manifestações estudantis a guerras em África, aos bares e cafés de Lisboa.
Narrativa de marcada originalidade, O Diário Oculto de Nora Rute coloca os leitores no caminho irrequieto de uma jovem que desafia as regras, as de uma sociedade machista de um pai austero.
Predominam as personagens que são membros da família, não só uma misteriosa tia Nanda, a prima Mé mas um quase desconhecido que parece ter conquistado, em definitivo, o amor de Nora Rute. E um primo ribatejano que lhe revelará o reverso das luzes e sombras da cidade.
Ao colocar-se na sua mente de uma forma travessa, Mário Zambujal, sem abandonar o seu estilo próprio de escrita, incorpora-o no espírito e na conduta de uma jovem que descreve no seu diário a agitação dos seus dias.
Cris
Este, apesar de nem ser dos últimos dele, não li. Também sou uma admiradora do Mário Zambujal. Além de gostar dos livros acho-o uma simpatia de pessoa e espanta que seja extremamente modesto em relação ao seu talento. Hoje anda tido a encher a boca com a palavra escritor...Gosto da escrita fluída e clara, que ele pratica. Já deve estar com uma idade bem redonda.
ResponderEliminarSabe tão bem intercalar uma escrita mais pesada com um livro dele! Beijinho
EliminarO ultimo que li foi Serpentina.
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