“Lisboa, chão sagrado” foi a coisa mais livre que já fiz. A regra máxima da literatura, kill your darlings, foi aplicada ao ponto não só de matar o que me é querido, mas também de matar a linguagem com que estou confortável. No percurso, quis lá saber: não interessava a minha vergonha, interessava fazer uma coisa apesar dela, que a chutasse para canto completamente. Como resultado, o que ali está é outra coisa e ninguém pode encontrar-me no lugar onde me escondi da paráfrase.
É que o que me interessa na escrita não sou eu e o que me interessa na literatura não é a sua capacidade de descrição do mundo. Para isso estarão os jornalistas, os antropólogos, os sociólogos. Interessa-me mergulhar no que está escondido, escarafunchar as feridas, ver como é que infectam. Faz-se da caneta um bisturi e expõe-se o que a ciência não pode contar. Interessam-me a dor e a vergonha, sem nunca fazer do romance um mar de tristeza. Em vez disso, quero-o como o oceano que une países e afoga cinismos. A literatura não é o peito dado à bala: é a bala que mostra o peito.
Ana Bárbara Pedrosa
Comecei a ler na Fnac a
ResponderEliminarMaria, o início prende, não achaste?
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar