Tenho muitas coisas para vos confessar sobre esta leitura.
A primeira é que apanhou-me de surpresa. Tenho a mania de, pelas capas, tirar o conteúdo. Nada de mais errado, eu sei, mas não consigo deixar de o fazer. Quando dou por mim já “fiz o filme todo” depois de olhar para uma capa. Não me engano tantas vezes assim e é por isso que, inconscientemente, o continuo a fazer. Se isso aconteceu neste livro? Sim. Se me enganei? Completamente!
A capa é belíssima. Sóbria, bonita como gosto. Espantou-me a escrita. É muito crua e o uso de alguns termos pode ferir susceptibilidades. Percebe-se que não é gratuito mas creio que não será leitura para todos os gostos. Eu estranhei, depois entranhei mas, mesmo assim, não foi fácil. Mantive essa estranheza em mim durante a leitura toda. O currículo da autora é invejável e não pude deixar de sorrir quando, na apresentação do seu livro, depois de lhe ter dito que o tipo de escrita utilizado pelo narrador fere o ouvido do leitor, ela retorquiu: "Também a mim".
A escrita é fluída, a história prende, alguns sorrisos surgem mesmo sem querer, dado as confusões inerentes à diferença existente entre os termos em português de Portugal e o do Brasil.
O narrador é um desbragado! Opina, emite juízos de valor, interpela o leitor, sem pudor nenhum. É quase uma personagem tal a interferência na narrativa. Mas há mais! Eduarda, o centro da trama, Mariana, jovem presa ao amor que sente por Eduarda, Noé que ama Eduarda mas que sente uma atracção por Matias, Matias, por sua vez que ama Noé e Dulcineia que se ama a si própria.
Espero uma nova obra da autora. Fiquei curiosa. Manterá o registo?
Terminado em 7 de Outubro de 2019
Estrelas: 4*
Sinopse
«Queria exagerar, ser o Werther, mas no exagero só veria adolescência. Evitou a explosão, o anacronismo, escondeu que queria fazer-lhe uma ode, compor-lhe uma ópera, invadir Lisboa com o seu exército montado em elefantes, dar-lhe mil camelos, erguer-lhe um palácio onde só pudessem entrar e-l-a e os seus livros.
Não restou nada de bom: insónias, fraqueza, ansiedade, aquela tristeza lenta, aquele abraço impossível, passeios furiosos pela madrugada de Lisboa, um escaravelho estúpido, um ego que já só serve para varrer o chão, a falta d-e-l-a, a falta d-e-l-a, a falta d-e-l-a, a certeza de que a teria seguido até um lar, até ao fim.»
Eduarda, Mariana, Noé, Matias e Dulcineia são os eixos desta história, numa teia que se estende de Lisboa ao Rio de Janeiro, do interior da Bahia à Palestina.
Nas ligações entre as personagens, a cama aparece como lugar de animalidade onde todos os conflitos, materiais ou emocionais, se resolvem: o amor, a falta dele, o tédio, a tristeza, o luto, a vingança, a excitação, o estímulo da decadência. De resto, são as expectativas frustradas, os desencontros, o improviso perante o novo.
Um romance de estreia arrojado, visceral e brutalmente honesto, que afirma Ana Bárbara Pedrosa como uma das novas vozes da ficção portuguesa.
Cris
Não sei devia conhecer esta autora mas no nome não me diz nada! Gostei da capa do livro, sim. Não sei se a escrita dela me impressionaria,nunca fui de me impressionar com vocábulos menos redondos. Agora fiquei com curiosidade, resta saber se será o tipo de curiosidade que devia ter! Estou em falta consigo. O livro chegou na sexta e eu no fim de semana não vim aqui dizer-lhe nada nem lhe escrevi. Peço desculpa! É lindo por fora e por dentro! Vamos ver quando consigo um tempo para o ler! Agradeço, mais uma vez.
ResponderEliminarÉ, este incomodou-me. Se bem que sempre achei que a escrita mais crua não me incomodava... Ainda bem que o livro chegou bem. Boa leitura!
EliminarUm dia destes, quando e o ler, também escreverei. Almerinda
ResponderEliminarEspero comentário! Beijinho
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