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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

"Lisboa, Chão Sagrado" de Ana Bárbara Pedrosa

Tenho muitas coisas para vos confessar sobre esta leitura.

A primeira é que apanhou-me de surpresa. Tenho a mania de, pelas capas, tirar o conteúdo. Nada de mais errado, eu sei, mas não consigo deixar de o fazer. Quando dou por mim já “fiz o filme todo” depois de olhar para uma capa. Não me engano tantas vezes assim e é por isso que, inconscientemente, o continuo a fazer. Se isso aconteceu neste livro? Sim. Se me enganei? Completamente!

A capa é belíssima. Sóbria, bonita como gosto. Espantou-me a escrita. É muito crua e o uso de alguns termos pode ferir susceptibilidades. Percebe-se que não é gratuito mas creio que não será leitura para todos os gostos. Eu estranhei, depois entranhei mas, mesmo assim, não foi fácil. Mantive essa estranheza em mim durante a leitura toda. O currículo da autora é invejável e não pude deixar de sorrir quando, na apresentação do seu livro, depois de lhe ter dito que o tipo de escrita utilizado pelo narrador fere o ouvido do leitor, ela retorquiu: "Também a mim".

A escrita é fluída, a história prende, alguns sorrisos surgem mesmo sem querer, dado as confusões inerentes à diferença existente entre os termos em português de Portugal e o do Brasil.

O narrador é um desbragado! Opina, emite juízos de valor, interpela o leitor, sem pudor nenhum. É quase uma personagem tal a interferência na narrativa. Mas há mais! Eduarda, o centro da trama, Mariana, jovem presa ao amor que sente por Eduarda, Noé que ama Eduarda mas que sente uma atracção por Matias, Matias, por sua vez que ama Noé e Dulcineia que se ama a si própria.

Espero uma nova obra da autora. Fiquei curiosa. Manterá o registo? 

Terminado em 7 de Outubro de 2019

Estrelas: 4*

Sinopse
«Queria exagerar, ser o Werther, mas no exagero só veria adolescência. Evitou a explosão, o anacronismo, escondeu que queria fazer-lhe uma ode, compor-lhe uma ópera, invadir Lisboa com o seu exército montado em elefantes, dar-lhe mil camelos, erguer-lhe um palácio onde só pudessem entrar e-l-a e os seus livros.
Não restou nada de bom: insónias, fraqueza, ansiedade, aquela tristeza lenta, aquele abraço impossível, passeios furiosos pela madrugada de Lisboa, um escaravelho estúpido, um ego que já só serve para varrer o chão, a falta d-e-l-a, a falta d-e-l-a, a falta d-e-l-a, a certeza de que a teria seguido até um lar, até ao fim.»

Eduarda, Mariana, Noé, Matias e Dulcineia são os eixos desta história, numa teia que se estende de Lisboa ao Rio de Janeiro, do interior da Bahia à Palestina.
Nas ligações entre as personagens, a cama aparece como lugar de animalidade onde todos os conflitos, materiais ou emocionais, se resolvem: o amor, a falta dele, o tédio, a tristeza, o luto, a vingança, a excitação, o estímulo da decadência. De resto, são as expectativas frustradas, os desencontros, o improviso perante o novo.

Um romance de estreia arrojado, visceral e brutalmente honesto, que afirma Ana Bárbara Pedrosa como uma das novas vozes da ficção portuguesa.

Cris

4 comentários:

  1. Não sei devia conhecer esta autora mas no nome não me diz nada! Gostei da capa do livro, sim. Não sei se a escrita dela me impressionaria,nunca fui de me impressionar com vocábulos menos redondos. Agora fiquei com curiosidade, resta saber se será o tipo de curiosidade que devia ter! Estou em falta consigo. O livro chegou na sexta e eu no fim de semana não vim aqui dizer-lhe nada nem lhe escrevi. Peço desculpa! É lindo por fora e por dentro! Vamos ver quando consigo um tempo para o ler! Agradeço, mais uma vez.

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    1. É, este incomodou-me. Se bem que sempre achei que a escrita mais crua não me incomodava... Ainda bem que o livro chegou bem. Boa leitura!

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  2. Um dia destes, quando e o ler, também escreverei. Almerinda

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