Gosto de descer à terra, de vez em quando. Sair da minha zona de conforto, dos romances que habitualmente leio. Mas nada me preparou para as fotos que pululam no interior desta obra. Nada!
Que mais acrescentar quando o título é tão sugestivo?
Gostaria de vos poder dizer que o livro nos fala de um hospício imaginário. Gostaria mas não posso porque o livro retrata o que foi a vida (ou a morte) de muitos brasileiros até há bem poucos anos atrás! Hospício numa região de Minas Gerais, Barbacena, portas abertas de 1903 até 1980. E não se destinava somente a quem sofria de perturbações mentais. Foi o "lar" de muitos indesejados tais como homossexuais, prostitutas, mães solteiras incómodas para os grandes senhores, políticos, alcoólicos, negros, pobres... Todos os que ameaçassem a ordem pública.
Mais de 70% dos seus moradores não sofriam de demência.
Muros dentro, deixavam de existir. Mal alimentados, mal vestidos, sem os cuidados primários de higiene, torturados por se revoltarem (eram sujeitos a choques eléctricos, duches gelados, etc), a maior parte deixava de lutar e sucumbia ao fim de alguns anos. A Morte era uma convidada usual: em média, faleciam 16 pessoas diariamente.
Num lugar concebido para albergar 200 doentes, estavam 5000. Homens, mulheres e crianças. Com fome, com frio, sujos, nus. Até a morte os convidar a partir. E mesmo assim, podia não ser o fim de tudo. Os seus corpos eram vendidos para as faculdades de medicina ou queimados para venda dos ossos.
Deixo-vos um documentário retirado do Youtube: "Em nome da razão". Não vejam se forem impressionáveis. É de uma dureza brutal e inimaginável. Tal como o livro. Mas não há como ficar indiferente e não "olhar"!
Terminado em 11 de Maio de 2014
Estrelas: 6*
Sinopse
Um genocídio que roubou a dignidade e a vida a 60.000 pessoas.
Milhares de crianças, mulheres e homens foram violentamente torturados e mortos, no Brasil, no hospital de doenças mentais de Colônia, em Barbacena, fundado em 1903. A maioria foi internada sem diagnóstico de doença mental: eram meninas violadas que engravidaram dos patrões, homossexuais, epilépticos, mulheres que os maridos não queriam mais, alcoólicos, prostitutas. Ou simplesmente seres humanos em profunda tristeza. Sem documentos, sem roupa e sem destino, tornaram-se filhos de ninguém.
Em Holocausto Brasileiro, a premiada jornalista de investigação Daniela Arbex resgata do esquecimento esta chocante e macabra história do século XX brasileiro: um genocídio feito pelas mãos do Estado, com a conivência de médicos, funcionários e população, que roubou a dignidade e a vida a 60.000 pessoas.
Impressionante... uma falta de respeito pelos direitos humanos...
ResponderEliminaruma tristeza!!
As palavras são poucas e nao conseguem traduzir completamente este horror, Isabel!
EliminarGostaria de parabeniza-lo pelo blog, foi através de você que me enteressei em ler esse livro, nãoo havia visto indicação dele anteriormente, obrigada.
ResponderEliminarFico contente que tenha apreciado o blogue, Lucimiria, e que ele sirva de incentivo à leitura!
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