O que Ulisses procura é a ilha de Crusoe. O regresso faz-se em direcção ao conhecido, à vida média, ao sítio de onde espantámos os monstros. Em lado oposto, sem direito a luta nem trirremes, Crusoe, o moderno, constrói pedaço a pedaço a terra onde não lhe é dado regressar. A viagem dele é ficar no sítio e transformá-lo. Repôr de memória a infância perdida, mesmo que servido apenas por selvagens. Não há mulher paciente para Robinson, nem filho que parta em buscas, mas a viagem não muda. Os heróis regressam todos, sempre, à mesma casa.
Teria dito o avô de Pedro aos visitantes, se o autor tivesse insistido. Pedro, o investigador indeciso, teria recuperado o fio (de Ariadne, diria o avô) até encontrar a origem familiar do mito. Paulo, aspirante a romancista, anotaria o verbo para explorações futuras. Lídia, a última amnésica do Império, teria sido a única a sorrir para fora, para o velho, mesmo sem ter prestado atenção nenhuma à prédica. Formam juntos um triângulo amoroso, diz-se no verso de "A cabeça de Séneca". Mas talvez não seja assim.
Paulo Bugalho
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