Este tema constitui a minha paixão literária. Leio tudo o que apanho sobre II Guerra, ficção ou não. Não me lembro de ter deixado nenhuma leitura a meio, por acabar. Claro que gosto mais de uns do que outros, mas o facto de aprender sempre mais qualquer coisa sobre essa época, impede-me sequer de pensar em largar um livro sobre esta temática.
Não creio que este livro seja dirigido para aqueles que se vão estrear no tema ou, tão pouco, para aqueles que esperam dele um romance corrido, fluído, onde as lágrimas correm sem darmos conta. Eu simplesmente, adorei! Porque é muito gráfico, porque é escrito com a frieza só possível a quem lá viveu e presenciou tudo. Encontro a mesma escrita nua e crua nos livros de Primo Levi. Significará, talvez, distanciamento. Nunca indiferença.
O primeiro parágrafo é brutal no seu conteúdo e na realidade que transmite. Lembro-me da primeira vez que me apercebi do facto que passo a descrever (teria de fazer um grande esforço para me recordar em que livro foi) e de como fiquei marcada por essa realidade! Começa assim: "Quando a Segunda Guerra mundial terminou, os sobreviventes começaram a regressar, vindos dos campos de concentração nazis. Porém, as pessoas que tinham permanecido nas suas casas durante a guerra não foram capazes de ouvir os prisioneiros a descrever aquilo por que tinham passado. Diziam que ouvir aqueles horrores era demasiado doloroso e provocar-lhes-ia pesadelos, ou então desconsideravam as nossas descrições, considerando-as tremendamente exageradas".
O autor foi um sobrevivente dos campos de concentração. Viu, ouviu, viveu. A fome, as selecções consecutivas, a corrida feroz pela vida, as doenças, a imundice, a brutalidade. As informações nesta obra surgem em catadupa e o leitor quase nem tem tempo para se preparar para elas. O personagem principal, Alex Ehren, criado por Otto B. Krauss, tem muito da sua vivência. Acredito que o autor retratou-se e revelou acontecimentos pelos quais passou.
No meio do caos que se vivia no campo de Auschwitz, existia um bloco com muitas crianças a cargo do célebre Dr. Mengele. Alguns adultos tomavam conta deles e tentavam contrariar uma das regras, a de que não era permitido ensinar. Tudo servia para transmitir conhecimento: os jogos, as canções, as peças de teatro inventadas, os prémios.
A sua análise sobre um facto que verificou anos mais tarde (existiam mais sobreviventes entre os adultos que trabalharam no Bloco das Crianças do que os que trabalharam em qualquer outro lugar) levou-o a acreditar que a missão a que eles estavam sujeitos, levaram-nos a resistir mais e mais...
Terminado em 14 de Janeiro de 2020
Estrelas: 6*
Sinopse
Um romance autobiográfico sobre o bloco das crianças no campo de Auschwitz-Birkenau, da autoria de um sobrevivente do holocausto.
Dormíamos num beliche para quatro pessoas mas, em alturas de sobrelotação, éramos sete e por vezes oito de cada vez. Havia tão pouco espaço que, quando um de nós precisava de aliviar a pressão no corpo, tínhamos todos de nos virar num emaranhado de pernas, peitos e barrigas ocas como se fôssemos uma criatura com vários membros, um deus hindu ou uma centopeia. Desenvolvemos uma relação de intimidade, não só física, mas também mental porque sabíamos que, embora não tivéssemos saído todos do mesmo útero, iríamos certamente morrer juntos.
Alex Ehren é um poeta, prisioneiro e professor no bloco 31 de Auschwitz-Birkenau, o bloco das crianças. Ele passa os dias a esforçar-se por sobreviver enquanto dá aulas ilegalmente às crianças do seu grupo, tentando protegê-las o melhor que pode dos horrores inconcebíveis do campo. Mas tentar ensinar as crianças não é a única atividade ilegal em que Alex está envolvido. Ele escreve um diário...
O romance autobiográfico de Otto Kraus, um sobrevivente do holocausto, foi originalmente publicado com o título The Painted Wall. Narra a história verídica de várias centenas de crianças judias que viveram no campo de Auschwitz-Birkenau entre 1943 e 1944.
Cris
Um livro que gostava muito de ler, mas ainda não surgiu a oportunidade.
ResponderEliminarAchei uma leitura diferente das que tenho feito sobre o Holocausto, Alexandra. Gostei muito.
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