“Uma Beleza que nos
Pertence”
José Tolentino Mendonça
(Quetzal)
"Uma
das crises mais graves da nossa época é a separação entre
conhecimento e amor.” (p. 24)
“A
velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será
resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos
passos.” (p. 207)
“Uma Beleza que nos
Pertence” é a última obra de José Tolentino Mendonça (n. 1965),
editada pela Quetzal no final de 2019, tratando-se de pensamentos e
aforismos compilados a partir das obras do autor publicadas entre
2004 e 2018.
Numa
época marcada pela vida agitada em que vivemos, as exigências do
trabalho, a solicitação constante dos media face à aquisição
constante de bens materiais, a afirmação das redes sociais e a
utilização generalizada das tecnologias de informação e
comunicação têm privado o homem do silêncio, do encontro consigo
mesmo, da relação com os outros, com a natureza e, em última instância, com Deus.
Sem
se tratar de um discurso religioso, “Uma Beleza que nos Pertence”
é um livro de cabeceira que se lê de uma uma ponta à outra ou
pode-se abrir e escolher um texto breve e reflectir sobre o mesmo. Os
assuntos não são novos, mas esta compilação constitui uma forma
de apelo ao homem voltar a ter tempo para si mesmo numa tentativa de
a reflexão, em silêncio, o homem se poder encontrar consigo mesmo,
redescobrindo-se e compreendendo que é parte integrante da natureza.
O
tempo gasto pelas rotinas diárias e a forma como o sistema
capitalista se apresenta às pessoas, torna-as cativas de bens e
serviços dando a ilusão de uma felicidade momentânea em oposição
a uma frustração permanente e constante geradora de angústia. “As
nossas sociedades, que impõem o consumo como padrão de felicidade,
transformam o desejo numa armadilha. O desejo tem a dimensão de uma
montra e promete uma satisfação imediata e plena que evidentemente
não pode cumprir.” (pp. 206-207)
De
pensamento em pensamento, de máxima em máxima, distribuídos por
temas catalogados por ordem alfabética, concluímos que a humanidade
atingiu um nível de desenvolvimento sem precedentes e que interfere
com a melhoria das condições de vida das pessoas, mas também lhes
retira, em muitas situações, a capacidade de interagir uns com os
outros, ficando o ser humano isolado sobre si mesmo e dependente
dessas mesmas tecnologias.
Assiste-se
a um crescente movimento por parte das gerações mais novas à
redescoberta do meio rural como local privilegiado para as vivências
quotidianas, substituindo, deste modo, a vida agitada da cidade,
procurando o equilíbrio do ser humano com a natureza envolvente,
ganhando qualidade de vida e, acima de tudo, tempo para si mesmo.
Acima
de tudo e sem moralismos, há a ideia de caminho a trilhar, o
percurso e a vida enquanto ideia de viagem que se percorre, que se
vai trilhando, sem receitas e sem mapas, mas que é esse caminho e
essa viagem que nos ajuda a compreender o sentido da vida e da
humanidade.
“A
pessoa humana não é apenas o que já é, mas é um poder ser, um
ser a caminho, em vias de, como se estivesse destinada até ao fim a
nascer. Por isso, ao lado dos nossos sapatos, colocados
tranquilamente no armário, temos de guardar umas «sandálias de
vento», pois são elas que nos levam a compreender que a vida não
se cumpre nos mapas, mas no caminho e na viagem.” (p. 190)
Texto da autoria de Jorge Navarro
Ter tempo para nós próprios é fundamental. Parar, pensar, desfrutar do silêncio são factores de bem-estar e de desenvolvimento.
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