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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A Escolha do Jorge: “Uma Beleza que nos Pertence”



Uma Beleza que nos Pertence”
José Tolentino Mendonça 
(Quetzal)


"Uma das crises mais graves da nossa época é a separação entre conhecimento e amor.” (p. 24)
“A velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos passos.” (p. 207)

“Uma Beleza que nos Pertence” é a última obra de José Tolentino Mendonça (n. 1965), editada pela Quetzal no final de 2019, tratando-se de pensamentos e aforismos compilados a partir das obras do autor publicadas entre 2004 e 2018.
Numa época marcada pela vida agitada em que vivemos, as exigências do trabalho, a solicitação constante dos media face à aquisição constante de bens materiais, a afirmação das redes sociais e a utilização generalizada das tecnologias de informação e comunicação têm privado o homem do silêncio, do encontro consigo mesmo, da relação com os outros, com a natureza e, em última instância, com Deus.
Sem se tratar de um discurso religioso, “Uma Beleza que nos Pertence” é um livro de cabeceira que se lê de uma uma ponta à outra ou pode-se abrir e escolher um texto breve e reflectir sobre o mesmo. Os assuntos não são novos, mas esta compilação constitui uma forma de apelo ao homem voltar a ter tempo para si mesmo numa tentativa de a reflexão, em silêncio, o homem se poder encontrar consigo mesmo, redescobrindo-se e compreendendo que é parte integrante da natureza.
O tempo gasto pelas rotinas diárias e a forma como o sistema capitalista se apresenta às pessoas, torna-as cativas de bens e serviços dando a ilusão de uma felicidade momentânea em oposição a uma frustração permanente e constante geradora de angústia. “As nossas sociedades, que impõem o consumo como padrão de felicidade, transformam o desejo numa armadilha. O desejo tem a dimensão de uma montra e promete uma satisfação imediata e plena que evidentemente não pode cumprir.” (pp. 206-207)
De pensamento em pensamento, de máxima em máxima, distribuídos por temas catalogados por ordem alfabética, concluímos que a humanidade atingiu um nível de desenvolvimento sem precedentes e que interfere com a melhoria das condições de vida das pessoas, mas também lhes retira, em muitas situações, a capacidade de interagir uns com os outros, ficando o ser humano isolado sobre si mesmo e dependente dessas mesmas tecnologias.
Assiste-se a um crescente movimento por parte das gerações mais novas à redescoberta do meio rural como local privilegiado para as vivências quotidianas, substituindo, deste modo, a vida agitada da cidade, procurando o equilíbrio do ser humano com a natureza envolvente, ganhando qualidade de vida e, acima de tudo, tempo para si mesmo.
Acima de tudo e sem moralismos, há a ideia de caminho a trilhar, o percurso e a vida enquanto ideia de viagem que se percorre, que se vai trilhando, sem receitas e sem mapas, mas que é esse caminho e essa viagem que nos ajuda a compreender o sentido da vida e da humanidade.
“A pessoa humana não é apenas o que já é, mas é um poder ser, um ser a caminho, em vias de, como se estivesse destinada até ao fim a nascer. Por isso, ao lado dos nossos sapatos, colocados tranquilamente no armário, temos de guardar umas «sandálias de vento», pois são elas que nos levam a compreender que a vida não se cumpre nos mapas, mas no caminho e na viagem.” (p. 190)
Texto da autoria de Jorge Navarro

1 comentário:

  1. Ter tempo para nós próprios é fundamental. Parar, pensar, desfrutar do silêncio são factores de bem-estar e de desenvolvimento.

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