“Uma Velha e o seu Gato” é a história de Hetty e de Tibby. Hetty era uma mulher fora do padrão. Tinha sangue cigano e desde sempre tivera comprtamentos fora do habitual. Com o tempo esses comportamentos levaram-na a ser rejeitada pelos filhos bem instalados na vida, que se envergonhavam de uma mãe que se vestia com peças desconexas e de cores garridas, que mendigava roupa às pessoas ricas que já não as usavam. Comprava e vendia roupa em segunda mão e assim vivia. Aprendera a escapar-se à polícia, à segurança social, aos funcionários do Estado que lhe ofereciam um lar de idosos para ela morrer em paz. Mas não era isso que ela queria.
A única companhia de Hetty era Tibby, o gato vadio que caçava pombos e os trazia para a sua dona comer. Hetty e Tibby eram almas gémeas: velhos vadios, selvagens, livres e que em liberdade queriam morrer.
Este conto passa-se na grande Londres feita de contrastes, de indiferença face ao estranho, de ricos e pobres, de pessoas esquecidas pelos filhos, de pessoas que sobrevivem como os gatos, de gatos que são o único consolo dos sem-abrigo. O Estado lá está inventariando quem deverá ser encaminhado para um lar ou, no terreno, a horas mortas, fora dos olhares dos cidadãos comuns, procurando no meio de prédios abandonados e em ruínas os cadáveres dos que morreram de doença, de inanição, de frio, de fome, de abandono.
A segunda história também é uma história de liberdade. “A História de Dois Cães” passa-se nos grandes espaços das fazendas de África. A narradora é uma menina de 14 anos, irmã de um rapaz um pouco mais velho, mas que assume um papel de supremacia face à irmã e enquanto treinador dos dois cães que há que domesticar.
No princípio era um cão – Jock – que frequentemente se ausentava, encontrando companhia junto aos “cães nojentos do complexo dos africanos” nas palavras dos pais da narradora e do seu irmão. Era, pois, preciso encontrar um companheiro para Jock para evitar as más companhias! Bill foi o cachorro encontrado para esse papel, só que nunca conseguiu cumprir esse objectivo. Não se adaptava a nada: não era cão de guarda, não era cão de trabalho, não era treinável, nem domesticável. Os seus latidos e comportamentos intempestivos levavam mesmo a que considerassem que aquele cão era estúpido. Fugia, atacava os galinheiros dos fazendeiros da vizinhança, era má companhia para Jock, pois incitava-o a acompanhá-lo e a ausentar-se por longos períodos. Fora dos períodos de férias da narradora e do irmão em que se esforçavam por treinar Bill e Jock, a verdade é que as notícias que recebiam dos pais quando estavam internos no colégio, eram desanimadoras: não havia nada a fazer, os cães estavam cada vez mais selvagens. A liberdade dos grandes espaços africanos era mais forte que qualquer tentativa de domesticação.
Almerinda Bento
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