
Um dos meus destaques vai para uma professora, particular, de saxofone, que dá as suas aulas no mesmo edifício do Instituto, e com quem alunas, de uma escola secundária, confidenciam as suas vidas pessoais e amorosas, ocasiões em que ela aproveita para saber mais e intrometer-se. As mães também a contactam para que ela influencie as filhas nas suas vocações, segundo os seus interesses. São peculiares, insólitos e divertidos estes diálogos.
O segundo destaque é o enorme escândalo que rebenta quando se sabe do envolvimento sexual de uma aluna do último ano da referida escola secundária feminina, Vitória, com um professor. Surgem os inquéritos, as censuras e principalmente os comentários, julgamentos e mexericos.
O assunto sexo, que devia ser tabu tornou-se assunto banal, mas com grandes mistérios. A homossexualidade feminina também é abordada, embora se fique pela ambiguidade pois não fica bem definido se acontece ou não por parte de algumas alunas.
O terceiro e grande destaque é o facto dos alunos do primeiro ano do Instituto de Artes Dramáticas resolverem inspirar-se no escândalo, que saiu nos jornais, sobre a aluna e o professor, para fazer a sua encenação de fim de ano. O personagem desta encenação Stanley é namorado de Isolde, aluna da escola feminina e de saxofone e irmã de Vitória. Quando os alunos tomam conhecimento de que Isolde e seus pais vão assistir ao espetáculo, instala-se o alarme. A partir desta situação a fronteira entre a ficção e a realidade começa a ser ténue. O que é teatro, o que é real?
A autora utiliza os dias da semana para narrar os factos passados na escola feminina e os meses para os passados no Instituto de Artes, sem que exista uma ordem cronológica. Assim, o leitor pode por vezes sentir uma certa confusão e pensar se entendeu bem ou não a narrativa. Aconteceu-me isso. Contudo, o livro é interessante para quem goste do mundo da representação, é sensual, impertinente e descomplexado, conseguindo prender o leitor até ao fim.
Maria Fernanda Pinto
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