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sábado, 9 de outubro de 2010

Soltas...

"As costas dela apoiam-se com força contra o meu peito, e é um consolo sentir o corpo dela - a vida de uma mulher que já passou por tanta coisa - apoiado em mim.  É como se transportasse um mundo."

"Se ao menos o sonho do poeta pudesse tornar-se realidade para todos nós. Ou talvez seja melhor que os sonhos continuem a ser apenas sonhos. Realizá-los pode confundir-nos muito. Não saberíamos se estavámos acordados ou a dormir."

"As reacções dos rapazes são um mistério - letras de uma língua q ue não sei falar. Põem-se todas juntas e o que se consegue, senão uma mensagem que precisa desesperadamente de ser traduzida?"

"Nós interpretamos tudo o que fazemos e vemos. É assim que conseguimos que o mundo faça sentido. E quanto mais experiência tiveres, e mais sensível for o teu espírito,mais verdadeiras e espantosas serão as tuas interpretações."

"A única maneira que temos para ficar com uma ideia da aparência de Deus é olharmos para nós próprios e para todas as coisas à nossa volta. Escutando, tocando... experimentando o mundo. Sabes o que é que o meu pai costumava dizer? "Os únicos olhos e ouvidos que Deus tem são os nossos!".

"(...)sou ainda demasiado nova para saber que as pessoas só precisam de recear pelas suas vidas para jurar que a noite é dia. E que conseguem acreditar que isso é mesmo verdade."

"(...) até que um médico faz uma palestra apoiado por diapositivos do tipo de homem com quem não nos devemos casar se quisermos manter pura a raça ariana.
Claro que o judeu aparece no topo da lista, (...) o número dois é um cigano,(...) seguido de um negro.E estalam risadas nervosas quando vemos anões e homens com lábio leporino. Mas nada se compara com os uivos de horrar e as gargalhadinhas maldosas quando aparece um gigante corcunda..."

"Aquilo que me lembro melhor do meu penúltimo ano é do nosso professor de alemão a informar-nos com voz orgulhosa que o alemão é superior ao inglês e ao francês porque até os negros conseguem falar as outras duas línguas."

"(...) mas todos os alunos copiam todas aquelas palavras tortuosas para os seus cadernos, como se atravessassem a vida como sonâmbulos. E é assim que passamos a aceitar que o carvalho já não é uma árvore. E se o Hitler decidir amanhã que a gravidade deixou de existir, será que vamos todos começar a voar?"

Uma ariana judia!


Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 656
Editor: Oceanos
ISBN: 9789724153001
Colecção: Mar de Histórias

Um livro espectacular! A palavra que me surge para caracterizá-lo é muito "cheio", isto é, um livro cheio de informação e de factos verídicos, cheio de mistério e romance, cheio pequenas de alegrias e grandes sofrimentos, CHEIO!

Estamos em 1933, em Berlim, temos 14 anos e somos uma adolescente alemã... Olhamos a vida através dos olhos de uma menina que espera da vida tudo o que esta lhe pode oferecer.

Com a crescente subida ao poder de Hitler, os valores que lhe foram incutidos desde criança, sobretudo por um pai que adora e que a adora também, são, subitamente, postos em causa. É instigada e obrigada a deixar de falar com os seus amigos judeus, a participar numa organização de juventude hitleriana feminina. Vê com espanto as pessoas transformarem-se, abdicando daquilo em que acreditam porque o medo começa a instalar-se. É no pai que essa transformação lhe causa maior dor. 

É a sua luta para se manter fiel a si própria que, página a página, assistimos entusiasmados e, ao mesmo tempo, tomamos conhecimento das mudanças graduais que se vão verificando numa Alemanha que se dizia aberta e liberal: um clima de crescendo terror para quem nasceu com alguma deficiência, para quem é judeu, para quem faz questão de manter os seus amigos independentemente da sua raça ou das sua deficiências físicas, para quem não pertence à "raça pura"!


Foi com muito prazer que no final de 650 páginas voltei ao prefácio e o reli.

Vale mesmo muito a pena ler este belíssimo livro! ("Mar" não percas!)


Terminado em 8 de Outubro de 2010

Estrelas: 5+

Sinopse




Em 1990, Richard Zimler descobriu numa cave de Istambul sete manuscritos do século dezasseis escritos por um cabalista chamado Berequias Zarco. Um deles narrava o pogrom de Lisboa em 1506 e a recriação dessa narrativa por Zimler resultou no best-seller internacional O Último Cabalista de Lisboa. Mas, o que revelavam os outros seis manuscritos?



Em Berlim, na década de Trinta, o descendente de Berequias Zarco, Isaac Zarco, está determinado a descobri-lo. Está convencido que o pacto entre Hitler e Estaline - para além de outros «sinais» - anuncia que uma profecia apocalíptica feita pelo seu antepassado está prestes a concretizar-se. Acredita também que, se conseguir descodificar esses textos cabalísticos medievais, pode salvar o mundo. 
Passado durante a subida ao poder de Hitler e a guerra que os nazis moveram contra os deficientes, A Sétima Porta junta Sophie Riedesel - uma jovem espirituosa, artística e sexualmente ousada - com um grupo clandestino de activistas judeus e antigos fenómenos de circo liderados por Isaac Zarco. Quando uma série de esterilizações forçadas, estranhos crimes e deportações para campos de concentração dizimam o grupo, Sophie, agora já adulta, tem de lutar com todo o seu engenho para salvar tudo o que ama na Alemanha - a qualquer preço.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Na 1ª folha?

Li, já não sei em que blog, uma crítica muito, muito positiva sobre este livro de Richard Zimler (autor de "O último cabalista de Lisboa) e pedi-o às BLX...


Ia-me dando uma "coisinha" má!!! O livro tem 654 páginas e pesa imenso, dificultando-me a vida pois não dá para transportá-lo com facilidade!


Mas o que eu queria mesmo postar aqui foi o que me aconteceu quando li a 1ª folha: não é que fiquei logo "agarrada" à história???? O que me acontece frequentemente é ler, as primeiras páginas (às vezes não somente as primeiras!), com dificuldade ou pelo menos sem grande entusiasmo.


Pois este senhor tem o condão especial de nos transportar, logo no prefácio, para uma história contada por uma idosa de 89 anos e ficamos "derretidos" com o carinho do seu sobrinho por ela ( sobretudo agora que o papel dos idosos na nossa sociedade tem vindo a perder cada vez mais importância!). E no 1º capítulo vamos directamente para Berlim, na época da subida ao poder de Hitler, vista pelo olhar de uma menina de 14 anos.


E mais não digo...Também só vou na página 130!

domingo, 3 de outubro de 2010

Mais e mais...










Estes agarraram-se a mim, desesperados por saírem daquele espaço sem janelas e, tive mesmo que os trazer...
  
e este foi emprestado! 


"A Casa do Sono" de Jonathan Coe


Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 346
Editor: Edições Asa
ISBN: 9789892307671

Gostei desta leitura que nos obriga a viajar entre o passado e o presente, fazendo-nos alternar no tempo a uma velocidade super, sem, no entanto, nos perdermos no enredo complexo que possui. 

Estamos perante vários problemas relacionados com o sono, desde acessos de sono profundo (narcolepsia), a uma falta de sono quase total (insónia), passando pela perda súbita dos sentidos (catapexia) resultante, também, desses problemas... 

Perante estes ingredientes temos de acrescentar uma pitadinha de sal e umas ervas aromáticas, ou seja, um pouco de romance e mistério que nos prendem definitivamente e nos obrigam a querer "degustar" mais e mais! 

Terminado em 2 de Outubro de 2010

Estrelas: 5*

Sinopse




Um enorme edifício no alto de uma falésia, o barulho das vagas, um labirinto de corredores vazios onde o ruído dos passos ecoa… A propriedade de Ashdown abrigou nos anos oitenta uma residência de estudantes: aí encontramos Sarah, que sofre de narcolepsia e não consegue distinguir os sonhos da realidade; o seu namorado, Gregory, que só atinge o orgasmo ao pressionar com os dedos os olhos de Sarah; Terry, um pretensioso crítico de cinema que dorme pelo menos catorze horas por dia e nunca consegue recordar o que sonhou; e Robert, capaz de amar sem limites. Quatro personagens simultaneamente trágicas e hilariantes, capazes de tecer entre si relações extremas que, contudo, não os impedirão de se afastarem. 

Doze anos depois, a residência é transformada numa casa de saúde especializada em perturbações do sono. Estranhamente, os ocupantes do edifício voltam a ser os mesmos. Mas nem sempre se lembram dos laços complicados que em tempos ligaram as suas vidas... Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.

Soltas...

"(...) mas pelo menos tinha um objectivo, um fim em vista. Quando é que toda essa energia se dissipara? Quando é que permitira que toda essa energia fosse varrida pelo deixa-andar?"

"Havia ainda qualquer coisa de murcho no edifício, um mofo, um cheiro a velho - como o vago odor de memórias tristes quando abrimos uma gaveta que há muito não usamos".

"Sim eu posso ocupar o meu lugar entre esta gente. Muita coisa pode ter corrido mal, posso ter cometido muitos erros, mas a verdade é que agora eu sei quem sou. Sei quem sou e aquilo que sou assenta-me bem."

sábado, 2 de outubro de 2010

E o melhor do mês de Setembro é...

Pela história, pela escrita e por nos fazer viajar...
Esta ideia "do melhor do mês" não é minha e espero que o Manuel de "Os meus livros" não leve a mal,"o seu a seu dono".
-"É claro que não. Fico feliz de ter influencido o seu blog ..."(Manuel)
Agradou-me bastante pois isto obriga-nos a escolher entre leituras que consideramos muito boas.

Sobre a escritora:
Tem dedicado grande parte do seu tempo a viajar e a escrever. É repórter e publicou duas obras em 2008: "O Vento dos Outros" e "Bana- Uma vida a cantar Cabo Verde". É publicado agora o seu primeiro romance "A Casa-Comboio", vencedor do prémio literário revelação Agustina Bessa-Luís

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A paixão numa ilha


Edição/reimpressão: 2008
Páginas: 216
Editor: Casa das Letras
ISBN: 9789724618272

Este livro foi-me aconselhado por um dos meus "vizinhos" do Anobii (http://www.anobii.com) e realmente vale a pena! Este autor tem uma escrita toda sua, peculiar, sui generis, muito fluída, com frases por vezes muito compridas com uma graça especial.

Algumas das situações descritas pareceram-me um pouco forçadas, como por exemplo o assassínio do bebé e algumas cenas de sexo mais explícito mas, no entanto, é-nos relatado muito bem o modo de vida dos pescadores nas Ilhas Canárias, os problemas da seca nessas ilhas, a emigração ilegal feita em barcos sem as condições necessárias e os desencontros que o amor proporciona.

Recomendo!

Terminado em 28 de Setembro de 2010 

Estrelas: 4*

Sinopse



Uma ilha, um amor adolescente, uma fantasia, um mito e uma seca torturante. A visão mágica da vida de uma comunidade de pescadores nas Ilhas Canárias.
O Ano da Seca decorre na Ilha Menor - retrato da ilha canária de El Hierro -, onde uma seca desesperante greta quer a geografia insular, quer as almas dos seus habitantes: enquanto os vulcões ardem, explodem os sentimentos feridos de personagens debruçadas sobre o abismo das paixões, sobre o segredo profundo dos seus corações exauridos até ao limite. 
Romance coral onde cruzam os seus destinos dois amantes demasiado jovens, um visionário que escreve nas paredes, um cão apaixonado até ao tutano, e mesmo a presença fantasmagórica de um bebé morto que ameaça todos os habitantes da ilha... Com uma força expressiva verdadeiramente surpreendente, Víctor Álamo de la Rosa afirma-se como um dos narradores mais singulares da recente literatura espanhola. O inusitado desenvolvimento metafórico e a perícia linguística deste romance salpicam o leitor, inundando-o de sensações. Experiência no limite, leitura inesquecível.

Soltas...

"Estava muda por dentro e por fora, e os sentidos tinham fugido para as zonas inóspitas do seu ser, procurando refúgio num corpo que sobrevivia agora entregue às fauces da tempestade, ao furacão que a arrasava arrancando-lhe pele raiz todos os fiapos de alegria que tinha reunido na sua ainda curta vida, nos seus momentos de exaltação sensorial com aquele jovem que fora o seu eu durante anos e que agora já lá não estava, já não existia mais para a amar e a tornar tão sua à sombra quente de uma gruta."

"Coisa dos ignotos caminhos da precisão da intuição, porque a ambos, tanto a Aquilino como a Efigenia, se lhes meteu no peito a um mesmo tempo uma mesma angústia, uma igual opressão que até no recém-nascido influiu, levando a agitar-se e a cabecear na barriga da mãe apressando-se finalmente a nascer, querendo também, fazer-se ao mar da vida."

"Mas não podia ser assim tão doce, tão denso o torpor que ia sentindo tão profundamente, esse desmaiamento, tão a arrebatar-lhe todas as forças, tão usurpador que vai e volta esquecendo-se de tudo e de si para entrar noutro espaço, noutra dimensão aberta no tempo para somente ela e ele, ela nele, ela sendo ele e nele uma sombra de brilhos, um feixe de fogo, um instante total de celebração, um borbulhar alegre de sangue que sangra feliz desmedindo gengivas, veias, abrindo a alma ao tropel da fome. O beijo."

"E então um dia foi reconfortante obter uma conclusão, o consolo de ter a certeza de que a felicidade não existia senão muito pontualmente, e que arriscar a vida toda na sua busca era abraçar uma utopia, sentir plena a incómoda certeza de ser humano."

"Era uma mágoa tão profunda, uma dor que emergia de tão fundo, que nem as lágrimas conseguiam ascender, porque naqueles abismos inóspitos reinava apenas uma barra de gelo à deriva, o ranger odioso da solidão campeando à sua vontade. Nesse estado até o simples acto de respira se complicava, porque inspirar fundo era impossível, como se o ar não conseguisse aproximar-se dessas funduras para abrir de par em par as comportas do alívio."

domingo, 26 de setembro de 2010

Uma palavra tua de Elvira Lindo

Edição/reimpressão: 2010



Páginas: 192
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722343244
Colecção: Grandes Narrativas

Já tinha há algum tempo este livro na estante em espera. 
Achei a leitura agradável, com uma escrita fluída e que se lê rapidamente em dois pedaços de tarde. Nada de muita emoção nem de algo arrebatador, mas não se pode dizer que seja um romance que não resulte visto que as personagens possuem "alma" própria.

Narrado por Rosário, conseguimos entrar tanto dentro de si mesma como de Milagros, sua amiga, e vamos construindo duas personagens, um pouco complexadas e carentes, que a vida não ajudou a superar determinados traumas.

Leitura leve mas que nos leva a terminar o livro sem nos aborrecermos.

Terminado em 26 de Setembro de 2010

Estrelas: 3*

Sinopse

Galardoado com o Premio Biblioteca Breve 2005, Uma Palavra Tua traz-nos as histórias de vida de Rosário e Milagros, duas mulheres desajustadas, dois percursos existenciais que se cruzam nas ilusões e realidades que dão forma ao medo de não merecerem ser felizes. Uma amizade feita de encontros e desencontros, de solidariedade e de influências mútuas entre duas varredoras de rua madrilenas, duas pessoas comuns, com vidas comuns que escondem uma natureza indomitável, grandiosa. Um romance arrebatador, irónico, que adquire a profundidade da nobreza humana de uma tragédia antiga no mundo contemporâneo.

Soltas...

"E falava de uma forma um pouco pomposa, como se fosse uma especialista, falava das pessoas, de mim, da vida,desunhava-se a falar, como se estivesse dentro do assunto, falava por falar e era daquelas pessoas que não conhecem o ponto parágrafo;(...)."

"São coisas a que nos acostumamos, habituamo-nos a que a desconsideração das pessoas não nos faça mossa. Ganha-se um calo na alma igual aos das mãos."

"Às vezes a inteligência é um veneno para a felicidade."

"E se, desde pequenos, nos repetirem as coisas muitas e muitas vezes, acabamos por acreditar nelas, agindo de acordo com a imagem que os nossos pais têm de nós. Ela, de tanto repetir que eu não era inocente, tirou-me a inocência, embora eu fosse inocente."

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"O Bom Inverno" de João Tordo


Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 292
Editor: Dom Quixote
ISBN: 9789722041379

"Pois é, João! Apetece-me dizer: Com esta é que me lix....!" Tenho de dar a mão à palmatória com este livro de João Tordo!

Explico porquê: Comprei o livro e estava bastante curiosa pois já tinha lido dois livros deste autor ("Hotel Memória" e "As três vidas") e tinha gostado bastante. Mas quando li a sinopse achei a história tola, sem jeito, tanto mais que, como tenho dito, prefiro livros que me façam viajar para lugares ou acontecimentos que tenham um fundo de verdade...nem que seja um "fundinho" pequenino! 

Nas primeiras 100 páginas (mais ou menos) não mudei a minha opinião e só continuei a ler porque o autor escreve excepcionalmente bem. A história pareceu-me fraca (quem sou eu para afirmar tal coisa?!) mas está, repito, muito bem escrito, o que me levou a ficar curiosa: "Como se vai desenvencilhar João Tordo?" e "Porque tem tantas críticas positivas?"

A certa altura, a história torna-se tão absorvente e o mistério é tal que não consegui largar o livro. Mais: não consegui adivinhar o desfecho, nem sequer apontar para um dos possíveis fins... o que, modéstia à parte, não me acontece muitas vezes neste tipo de livros, onde o suspense tem lugar na primeira fila.

Diferente do tipo de leitura que gosto e prefiro ler, este livro merece, no entanto e indiscutivelmente, cinco estrelas, pois é de uma imaginação sem limites! Deixo uma crítica: perdi uma aula de ginástica e quase um almoço porque tive de acabar de o ler, tal era a urgência ... Isso não se faz, João! Ai, ai...  


Terminado em 23 de Setembro de 2010

Estrelas: 5*

Sinopse

Quando o narrador, um escritor prematuramente frustrado e hipocondríaco, viaja até Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Coxo, portador de uma bengala, e planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer Vincenzo Gentile, um escritor italiano mais jovem, mais enérgico, e muito pouco sensato, que o convence a ir da Hungria até Itália, onde um famoso produtor de cinema tem uma casa de província no meio de um bosque, escondida de olhares curiosos, e onde passa a temporada de Verão à qual chama, enigmaticamente, de O Bom Inverno. O produtor, Don Metzger, tem duas obsessões: cinema e balões de ar quente. Entre personagens inusitadas, estranhos acontecimentos, e um corpo que o atraiçoa constantemente, o narrador apercebe-se que em casa de Metzger as coisas não são bem o que parecem. Depois de uma noite agitada, aquilo que podia parecer uma comédia transforma-se em tragédia: Metzger é encontrado morto no seu próprio lago. Porém, cada um dos doze presentes tem uma versão diferente dos acontecimentos. Andrés Bosco, um catalão enorme e ameaçador, que constrói os balões de ar quente de Metzger, toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e isola os presentes na casa do bosque. Assustadas, frágeis, e egoístas, as personagens começam a desabar, atraiçoando-se e acusando-se mutuamente, sob a influência do carismático e perigoso Bosco, que desaparece para o interior do bosque, dando início a um cerco. E, um a um, os protagonistas vão ser confrontados com os seus piores medos, num pesadelo assassino que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Soltas...

"Coxeei devagar pelo corredor, procurando evitar que a bengala fizesse demasiado barulho, e procurei um interruptor que acendesse uma luz, mas não encontrei nenhum. A perede pareceu-me morder os dedos"

"Bosco, ajoelhado, arfava. Com uma mão sobre a outra, pressionava levemente o peito de Don: a água turva saia-lhe da boca num fio contínuo, mas Don continuava morto."

"Havia muito tempo que não me sentava para escrever e dei-me conta de que tinha saudades. Tinha saudades da folha em branco, da eterna hesitação antes de começar; tinha saudades de ver as palavras formarem-se perante os meus olhos e serem conduzidas pelos meus dedos."

"Os cinco envelopes sobre a mesa olharam-me na cruel indiferença das coisas mortas. Retribuí o olhar e pressenti a melancolia de um final: fosse qual fosse, o futuro estava hipotecado."

domingo, 19 de setembro de 2010

"Meio Sol Amarelo" de Chimamanda Ngozi Adichie

Vencedor do Orange Prize 2007
Edição/reimpressão: 2009
Páginas: 544
Editor: Edições Asa
ISBN: 9789892305387
Colecção: Romance

Com base numa situação de guerra verídica, esta escritora leva-nos para África, mais propriamente para a Nigéria e para os conflitos que se traduziram em golpes de estado, situações de fome extrema, corrupção e assassinatos entre diferentes etnias (Ibos e Iorubas), numa guerra em que os civis foram, como sempre, os maiores prejudicados. O abuso do poder levado ao extremo...

São 500 páginas escritas com mestria, onde os personagens tomam corpo, desenvolvem a sua personalidade e vão-se interligando uns com os outras com o decorrer da acção. Se bem que os acontecimentos não sejam verdadeiros, não nos é difícil imaginar o que se terá passado nesta guerra entre a Nigéria e o Biafra em 1967/70.

Espectacularmente enriquecido com o dialecto Ibo, "vivemos" as personagens intensamente, as suas penas e dores, todas as suas alegrias e sofrimentos. Muito bom!

Um pouco de História:


"A República do Biafra foi um estado secessionista no sudeste da Nigéria. O Biafra era habitado maioritariamente pelo povo ibo e existiu de 30 Maio de 1967 a 15 de Janeiro de 1970.
Em 1960 a Nigéria tornou-se independente do Reino Unido. De forma semelhante aos outros novos estados africanos, as fronteiras do país não tinham sido desenhadas de acordo com territórios antigos. Daí surgiu que a região norte desértica do país contivesse estados muçulmanos feudais semi-autónomos, enquanto que a população do sul era predominantemente cristã e animista. O seu precioso petróleo, principal fonte de receitas, localizava-se no sul do país.
Após a independência, a Nigéria estava dividida por linhas étnicas, com os haussas e os fulanis no norte, os iorubas no sudoeste e os ibos no sudeste. Em resposta a motins ocorridos no ano anterior, de onde tinham resultado 30 000 ibos mortos e aproximadamente um milhão de ibos refugiados, em Janeiro de 1966, um grupo maioritariamente constituído por ibos, levou uma revolta militar com o objetivo de se separar da Nigéria." (retirado de wikipédia)


Terminado em 18 de Setembro de 2010

Estrelas: 5*

Sinopse


Com uma elegância apenas ao alcance dos grandes escritores, Chimamanda Ngozi Adichie entrelaça as vidas de cinco personagens inesquecíveis: Ugwu, um humilde criado de treze anos a quem o mundo se desvendará pela mão do seu senhor, Odenigbo, que, na intimidade da sua casa, planeia uma revolução. Este jovem professor universitário mantém uma relação apaixonada e sensual com a bela e mágica Olanna, cuja irmã gémea, Kainene, é alvo do amor desesperado de Richard, um jovem inglês a braços com o seu papel de homem branco em África.

Todos eles vão ser forçados a tomar decisões definitivas sobre amor e responsabilidade, passado e presente, nação e família, lealdade e traição. Todos eles vão assistir ao desmoronar da realidade tal como a conheciam devido a uma guerra que tudo transformará irremediavelmente.

sábado, 18 de setembro de 2010

Soltas...

"Fitou-o, deslumbrada. Assim era o amor: uma sucessão de coincidências que ganhavam significado e se tornavam milagres."

"Sempre que escorria a água de uma panela de feijão cozido, Ugwu olhava para o lava-louça sujo e viscoso e pensava que era igual a um «político»."

"Será o amor esta necessidade insensata de te ter ao meu lado a maior parte do tempo? Será o amor esta segurança que sinto nos nossos silêncios? Será essa sensação de pertença, de plenitude?"

"Talvez, afinal, ele não fosse um verdadeiro escritor. Lera algures que, para um verdadeiro escritor, nada era mais importante do que a sua criação literária, nem sequer o amor."

"Olhou para o seu tronco peludo e nu, e para a sua nova barba e os seus chinelos rotos, e, de repente, a hipótese de ele morrer - de todos eles morrerem - tornou-se tão evidente que foi como se uma mão se lhe fincasse no pescoço e lhe apertasse a garganta à laia de aviso. Abraçou-o com força."

"A guerra prosseguiria sem eles. Olanna expirou, inundada de uma raiva espumosa. Era precisamente essa sensação de inconsequência que a empurrava do medo extremo para o extremo da fúria. A sua vida tinha de ser importante. Ia parar de viver apaticamente, à espera de morrer."

"(...) enquanto ela desenrolava a bandeira de pano e lhes explicava os símbolos. Vermelho era o sangue dos irmãos massacrados no Norte, preto era o luto por eles, verde era a prosperidade que o Biafra teria um dia e, por último, o meio sol amarelo representava o futuro glorioso."

"(...) pôs-se a observar as crianças. Elas corriam fatigadas pela relva ressequida, com paus nas mãos a fingir que eram armas, imitando o som de disparos e levantando nuvens de poeira enquanto se perseguiam umas às outras. Até o pó parecia não ter forças. Estavam a brincar à guerra. Quatro meninos. Ontem eram cinco."

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pois também não...


Edição/reimpressão: 2008
Páginas: 430
Editor: Oficina do Livro
ISBN: 9789895552221

Pois! Este também não me convenceu... desisti.

Não terminado

Estrelas: 1*

Sinopse


às vezes a nossa vida começa quando alguém nos empurra para dentro dela. Uma leitura fascinante.
No momento em que Martin Grace põe o pé na "casa de café" de Filadélfia que Cornelia Brown dirige, a vida dela muda para sempre. Solto e charmoso, cara chapada de Cary Grant, Martin deixa Cornelia nas nuvens. Porém, no fim de contas, Martin será mais o mensageiro da mudança do que a própria mudança… Entretanto, do outro lado da cidade, Clare Hobbes, uma menina de onze anos de idade, é obrigada a sobreviver por conta própria, depois de a mãe, cada vez mais perturbada, ter uma crise e desaparecer. Inspirada em muitos órfãos das histórias que leu, Clare consegue ter coragem para procurar o pai. Quando pai e filha aparecem no café, Cornelia e a menina criam uma ligação tão inesperada quanto profunda. Juntas descobrem que o essencial na vida é sabermos ao certo o que amamos e porquê. Marisa de los Santos escreve com uma minúcia cheia de delicadeza, capaz de trazer à luz as perdas e as alegrias da vida.

domingo, 12 de setembro de 2010

Rebeca


Edição/reimpressão: 2001
Páginas: 352
Editor: Livros do Brasil
ISBN: 9789723808889
Colecção: Dois Mundos

Romance bem escrito, muito envolvente, com mistério suficiente para nos manter interessadas e agarradas ao livro durante um fim-de-semana inteiro e não nos fazer desistir, se bem que não é o meu género preferido. Li boas críticas em diferentes blogs.

Só. Queria mais. Esperava mais. Queria ter aprendido alguma coisa...

Terminado em 12 de Setembro de 2010

Estrelas: 3+

Sinopse

A consagração de Daphne du Maurier e da sua obra não é apenas a do êxito, mas, de justiça, a de uma escritora ilustre e de um romance perfeito no seu género, que ficará como um exemplo típico, e da maior categoria literária, da ficção que alia ao "suspense" um fino gosto estilístico e uma apurada penetração psicológica. Rebeca é, de facto, esse livro - aliciante, absorvente, vibrante de humanidade e de mistério.