Livro pequeno, com frases curtas e capítulos curtos também que se lê num ápice. A narradora é uma menina de 7 anos, M, que acompanha, sempre que possível, o pai, caixeiro viajante, que vendia ferragens da marca Kramp pelo Chile, aquando da ditadura de Pinochet. Estas viagens com o seu pai, D, foram uma porta aberta de aprendizagens, de acontecimentos que ela soube aproveitar e que as meninas não tinham habitualmente.
D começa a verificar que quando leva a filha nas suas viagens, vende muito mais, ajudando até os seus colegas. É um mundo novo que se abre para M. O seu crescimento é marcado por estas viagens e pela profissão do pai que já mostra sinais de decadência. A mãe é descrita pela própria M como alguém ausente e triste. Deprimida?
A percepção do mundo vista pelos olhos de uma criança (de qualquer criança, na verdade) é diferente da de um adulto, tudo é maior, tem mais peso. Este livro fala-nos também sobre a mudança que a vida de M sofre. Tem a convicção que a sua presença é imprescindível para o pai, sente-se quase adulta. Consegue explicar o mundo e o seu funcionamento a partir dos produtos vendidos por M de uma forma que nos prende e faz sorrir!
Mais tarde, revisitando os lugares onde foi feliz verifica que essas percepções infantis podem não corresponder às que possui numa fase posterior. Romance autobiográfico desta escritora chilena que gostei muito de ler. Pega-se e lê-se numa tarde.
Terminado em 4 Abril de 2025
Estrelas: 5*
Sinopse
Uma menina acompanha o seu pai, um caixeiro-viajante, pelo Chile,
vendendo ferragens da marca Kramp, e elaborando toda uma teoria poética e
filosófica sobre o mundo, construída na fronteira entre a ingenuidade e
a sabedoria, através de metáforas criadas a partir dos produtos que
vende, dos filmes que vê, dos fantasmas da ditadura, e do contacto
social e cultural com um mundo em ruptura, interna e externa. Um livro
maravilhoso, vencedor dos prémios do Círculo de Críticos de Arte, do
Ministério da Cultura e do município de Santiago do Chile.
Cris
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