Escrito em forma de um diário realizado por uma mulher de cerca de 40 anos, Valéria, este livro surpreendeu-me muito pelas reflexões que somos levados a fazer após o terminus da sua leitura. É casada, com dois filhos já adultos e o espaço temporal decorre já no pós II Guerra, na década de 50, em Roma. Algumas analepses colocam-nos a par do seu passado.
A compra de um caderno despoleta nela uma vontade, cada vez mais crescente, de se colocar a nu perante as suas páginas. Despe-se gradualmente de preconceitos e receios perante uma escrita quase diária. Junto com essa auto-análise, que acaba por ser uma jornada de auto-conhecimento, o leitor vai conhecendo esta personagem e maravilhar-se com ela.
O problema é que Valéria sente que deve esconder o caderno. Logo aqui, o leitor apercebe-se das razões implícitas que a levam a fazê-lo freneticamente com medo que alguém o leia. A própria acção de o esconder leva a questionar-se dos motivos que a levam a tal. As questões sobre tudo na sua vida, multiplicam-se. Angústias reprimidas, frustrações e desejos que não sabia que possuía vêm ao de cima. Que papel possui no seio da sua família? Como a vêem os seus filhos e marido?
A narrativa vai crescendo de intensidade e uma trama que poderia parecer suave e ligeira torna-se forte e com momentos intensos de análise e revolta.
"Sei que as minhas reacções aos factos que anoto com minúcia me levam a conhecer-me cada dia mais intimamente. Talvez haja pessoas que conhecendo-se, conseguem melhorar-se; eu, pelo contrário, quanto mais me conheço, mais me perco." Pág 169
Leitura que se vai tornando desconfortável mas que é extremamente necessária.
Terminado em 5 de Maio de 2025
Estrelas: 6*
Sinopse
Roma, década de 1950: Valeria Cossati vai comprar cigarros para o marido, ignorando que sairá da tabacaria com um caderno que há-de mudar a sua vida.
Ao transformar esse caderno num diário secreto onde regista pensamentos e desejos do dia-a-dia, Valeria transforma-o num instrumento de emancipação: liberta-se das convenções sociais, do sentido de dever para com o marido e os filhos, dos limites autoimpostos que regem o seu pequeno mundo.
A partir daqui, tudo é questionado.
Valeria compreende que está em translação e decide conquistar o lugar que escolheu para si.
Clássico redescoberto, testemunho histórico de uma época, retrato primoroso da turbulência doméstica, O caderno proibido condensa a sede de liberdade de toda uma geração e das outras que se lhe seguiriam.
Precursora da linhagem literária mais disruptiva da modernidade – de Virginia Woolf a Natalia Ginzburg, de Marguerite Duras a Vivian Gornick –, Alba de Céspedes celebra aqui o poder da escrita e a audácia indómita de uma mulher numa sociedade em ebulição.
Cris
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