Em certos aspectos lembrou-me o "Se isto é um homem" de Primo Levy porque o tom da narrativa é semelhante: embora descreva horror atrás de horror, Eddy fala dos acontecimentos num tom frio, quase ausente. Quem for da área do comportamento humano saberá, certamente, analisar a questão e explicá-la. O leitor fica incomodado mas lê o que é narrado de uma forma desprendida, quase como se os factos fossem irreais. Não são, não foram, infelizmente!
Creio que, como leitora, não poderia ler este livro de forma diferente da referida anteriormente e, embora uma parte do meu cérebro tentasse visualizar o que lia, outra tentava não o fazer. As imagens não seriam agradáveis de todo e poderiam impedir-me de continuar...
Eddy e a esposa sobreviveram. Foram dos poucos que, por diversas vezes conseguiram manter contacto um com o outro durante os dois anos que estiveram em Auschwitz e, a maior parte das vezes, conseguiram sobreviver por uma questão de sorte. Um jogo de sorte ou azar. Era nisso que dependia a vida daquelas milhares de pessoas aprisionadas.
Eddy e Friedel sobreviveram. Mas quando o livro foi escrito, Eddy não sabia que Friedel sobrevivera também. Pena que não se conheça o seu percurso depois de ter sido forçada a sair do campo na hoje conhecida "marcha da morte". Juntar os dois relatos teria sido fantástico. No posfácio matamos a nossa curiosidade sobre aquilo que se sabe da vida de Eddy após os seus anos em Auschwitz. É por demais importante conhecer a forma como alguém conseguiu levar a sua vida para a frente, como foram tratados os sobreviventes quando chegaram a "casa", como o forte desejo de reconstrução impediu a ajuda correcta desses sobreviventes e como todos queriam esquecer o que se tinha passado. O horror vivido por muitos e o consequente desejo de recomeçar, a falta de informação que grassava nessa época, levaram a que não se desse a devida atenção a relatos semelhantes a este.
No entanto, o desejo de recomeçar a vida deixada para trás não impediu que muitos sobreviventes do Holocausto quisessem contar/escrever para não esquecer e para que o mundo soubesse o que se tinha passado por detrás dos muros.
Este livro é um relato histórico de uma parte negra da História. Não é para ser esquecido.
Terminado em Dezembro de 2019
Estrelas: 5*+
Sinopse
Em 1942, o médico judeu Eddy de Wind apresentou-se como voluntário para trabalhar em Westerbork, um campo de trânsito de judeus, no este dos Países Baixos, onde conheceu Friedel, uma jovem enfermeira. Os dois apaixonam-se e casam. Em 1943, foram deportados para Auschwitz num comboio de mercadorias e são separados, indo Eddy para o Block 9 e Friedel para o 10, onde se realizavam experiências médicas.
Quando os russos se começam a aproximar de Auschwitz, no Outono de 1944, os nazis decidiram apagar os seus vestígios e foi ordenado aos prisioneiros, entre os quais se encontrava Friedel, recuar até ao interior da Alemanha, no que se conheceria depois como «marchas da morte». Eddy, pelo contrário, escondeu-se e ficou em Auschwitz, onde encontrou um lápis e um caderno e começou a escrever.
Esta é a sua história.
Eddy de Wind escreveu um doloroso e comovedor relato dos horrores no campo, analisa e observa o comportamento das pessoas - tanto boas como más - e o que são capazes de fazer.
Descreve Auschwitz como nunca antes havia sido descrito.
Do interior e com a profunda impressão desse momento.
Cris
Quando os russos se começam a aproximar de Auschwitz, no Outono de 1944, os nazis decidiram apagar os seus vestígios e foi ordenado aos prisioneiros, entre os quais se encontrava Friedel, recuar até ao interior da Alemanha, no que se conheceria depois como «marchas da morte». Eddy, pelo contrário, escondeu-se e ficou em Auschwitz, onde encontrou um lápis e um caderno e começou a escrever.
Esta é a sua história.
Eddy de Wind escreveu um doloroso e comovedor relato dos horrores no campo, analisa e observa o comportamento das pessoas - tanto boas como más - e o que são capazes de fazer.
Descreve Auschwitz como nunca antes havia sido descrito.
Do interior e com a profunda impressão desse momento.
Cris
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