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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

"O Arquipélago do Cão" de Philippe Claudel

Quase a terminar este ano de leituras com um autor que descobri recentemente e pelo qual me apaixonei.  Pela sua escrita, claro está! Este é o terceiro livro que leio dele e a opinião mantém-se: a sua escrita é maravilhosa, cheia de mistério, intenções não declaradas à primeira vista, referências directas e indirectas a problemas mundiais actuais, de resolução urgente.

Fico presa às suas histórias, aos seus enredos quase macabros, aos seus personagens profundos, reveladores dos defeitos e qualidades do ser humano. Existem parágrafos que mereciam uma atenção redobrada não fora a impaciência que se apodera de mim e que me leva a desejar saber o final que antevejo espectacular.

O autor cria uma atmosfera estranha, imbuída de mistério. O leitor sente-a e, em todas as páginas,  o presságio de acontecimentos misteriosos, levam-no a estar num estado de alerta permanente. Para além desse ambiente, caracterizado com mestria, Claudel sabe falar-nos dos sentimentos humanos, daqueles que desejamos esconder porque feios e sujos.

Numa ilha sombria e quente, onde um vulcão ameaça vomitar a qualquer instante, três corpos vêm dar à praia.  Que fazer quando está  em jogo um empreendimento termal que pode assegurar um futuro próspero à ilha e aos seus habitantes?

Sem dúvida alguma o meu autor de 2019. Philippe Claudel. Que 2020 me traga mais livros dele!

Terminado a 22 de Dezembro de 2019

Estrelas: 6*

Sinopse
«A história que ides ler é tão real como vós o sois. Passa-se aqui, tal como teria podido desenrolar-se ali. Seria demasiado cómodo pensar que aconteceu noutro lugar. Os nomes dos seres que a povoam pouco importam. Poderiam ser alterados. Pôr os vossos no lugar deles. Assemelhais-vos tanto, procedendo do mesmo molde inalterável. Estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, fareis a vós próprios uma pergunta legítima: terá ele sido testemunha do que nos conta? A minha resposta é: sim, fui testemunha disso. Tal como vós o fosteCriss, mas não quisestes ver.»

Três cadáveres de homens negros dão à praia, numa pequena ilha perdida do arquipélago do Cão. Dominados pela força divina do vulcão Brau, as gentes do Cão vivem da pesca, da agricultura, da vinha. Todos se conhecem. Que fazer com aqueles corpos? Philippe Claudel, com mão de mestre, escreve uma história notável, uma negra parábola sobre o cinismo, a indiferença e a apatia moral que invade o nosso tempo, tendo como pano de fundo a tragédia das migrações mediterrâneas de hoje.

Cris

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