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sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Convidada Escolhe: "Todos devemos ser Feministas e o conto Casamenteiros"


Todos devemos ser Feministas e o conto Casamenteiros
Chimamanda Ngozi Adichie
2012, 2014
À medida que ia lendo este livrinho da escritora nigeriana, mais forte se tornou a minha convicção de que são estes livros simples, mas tremendamente eficazes que podem ser o clique que vai ajudar os/as jovens a questionarem e a questionar-se acerca de muitas ideias preconcebidas que lhes são inculcadas desde o berço. Um livrinho magnífico, uma excelente prenda, um magnífico ponto de partida para uma conversa sobre o que é ser feminista, ou sobre o patriarcado, ou como os estereótipos condicionam a nossa forma de ver o mundo!

E o livro é eficaz porque com uma linguagem simples e partindo de exemplos da sua vida enquanto mulher, Chimamanda nos convida a ter uma perspectiva crítica sobre o que nos é “servido” como natural e normal. Não apenas na sociedade nigeriana ou nas culturas africanas, mas a nível global. Quando para alguns, feminista pode vagamente ser o mesmo que apoiante do terrorismo, a verdade é que para muitos/as a palavra está ainda dentro da categoria das palavras malditas, percepcionada como atributo de mulheres infelizes, que odeiam homens, que não gostam de se arranjar e estão sempre zangadas e sem sentido de humor! Ao longo de umas poucas páginas, a autora desmonta o mito de que hoje as mulheres já têm tudo o que querem. Porque elas continuam a ganhar menos do que eles, mesmo quando têm as mesmas habilitações; elas não podem aceder a certos espaços sem serem acompanhadas por um homem sob pena de serem molestadas ou humilhadas; elas são educadas a serem submissas, não serem demasiado ambiciosas, não serem duras, controlarem os seus impulsos, ao contrário dos rapazes que a sociedade quer afirmativos, ambiciosos, duros, impulsivos. Ela questiona exactamente essa educação que é nociva para elas e também para eles, porque lhes rouba, a todos e todas, a capacidade de ver e agir no mundo de forma plena e inclusiva. E Chimamanda não deixa também de mencionar quem se posiciona contra o feminismo e as feministas, invocando os argumentos da biologia, da cultura, ou da classe. E é clara relativamente aos/às que consideram não ser necessário usar a palavra feminista, quando se é a favor dos direitos humanos! “Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas escolher uma expressão vaga como direitos humanos é negar a especificidade e particularidade do problema de género. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de género tem como alvo as mulheres”.

“Casamenteiros” é um conto extraído da colectânea “A Coisa à volta do teu Pescoço”. É um pequeno conto que questiona a aculturação a que é forçada a jovem Chinaza, vinda de Lagos depois do casamento que os tios lhe arranjaram com um conterrâneo, médico interno em Nova Iorque. A ideia de ir viver num paraíso – a América, uma casa, um marido médico com uma boa situação, um casamento feliz – tudo isso se vai desmoronar no contacto com a realidade. Afinal o que lhe é apresentado é que se apague como africana, como mulher, como estrangeira, como diferente e passe a tornar-se igual aos outros da grande metrópole civilizada, para se tornar parte dessa massa homogénea e sem alma. E para isso, a metamorfose terá de ser total, mudando o nome, os hábitos, a cultura, os modos de falar e de estar, a comida, a língua!

Nia, a vizinha com quem ela se abre, a única pessoa que afinal ela tem naquele mundo estranho pergunta-lhe:
“ – Tu nunca dizes o nome dele, nunca dizes Dave. É uma questão cultural?
– Não – disse eu. Olhei para baixo, para o individual de tecido impermeável. Apetecia-me dizer que era porque não sabia o seu nome, porque não o conhecia.”

Julho de 2018
Almerinda Bento

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