Um livro fabuloso! As razões tal tal foram várias, tantas que fiquei um pouco sem palavras não sabendo por onde começar... É realmente o meu tipo de livro favorito. Um romance onde a veracidade/actualidade dos factos surgem de tal forma em catadupa que nos parece mesmo que as personagens existiram/existem e que tudo aconteceu realmente. O pior é que situações semelhantes acontecem, sim.
Para que percebam a que coisas me refiro, levanto um pouquito o véu: o livro retrata-nos um pouco dos hábitos e costumes do povo afgão através das histórias de vida de duas mulheres, Rahima e de sua trisavó, Shekiba. É, pois, em dois espaços temporais bem diferentes que navegamos mas são tantos os pontos de encontro destas duas mulheres... E tantos anos volvidos, poucas são as transformações que se verificaram nos (ínfimos) direitos da mulher afgã!
Confesso que ler um livro destes nos dias de hoje é como se estivessemos a assistir a um filme de terror. A não ser que o consigamos ler achando que se trata de ficção apenas. A Mulher, como a olhamos na sociedade ocidental, pura e simplesmente não existe. Aqui, ela nasce para servir o homem, sem direitos e com muitos deveres. Pelo menos o dever de obedecer, de cuidar, de limpar, de ter filhos varões, de não causar problemas ao marido e de partilhá-lo com mais algumas esposas... Sem direito à palavra, à decisão, à educação! Sem direito sequer a sair de casa sem estar acompanhada de um homem. Sujeita a maus tratos, sem direito a heranças, nem que a lei esteja do seu lado. Sem opção. Com uma dependência tal que horroriza o leitor.
Algumas famílias, tendo somente filhas, viam-se a braços com sérios problemas logísticos pois dependiam do marido para tudo o que precisasse de ser adquirido fora de casa. Instituiu-se, deste modo, um costume - bacha posh - que se traduzia em vestirem uma das filhas de rapaz para que ela/ele ajudasse nos recados, acompanhasse as irmãs à escola (quando o pai permitia!), partilhando uma vida com os rapazes do bairro que nunca seria permitido de outra forma. Mas chegando à puberdade essa menina/rapaz via a sua vida mudar por completo, pois os seu estatuto mudava repentinemente e voltava a ser rapariga. Saliento o facto deste costume não ser ficção.
Não vos posso contar mais sem que cair na tentação de vos revelar demasiado destas duas histórias tão iguais e, contudo, tão diferentes. Até onde pode ir a maldade humana? Até quando a Mulher deixa de ser considerada como um ser inferior? Que podem esperar no futuro aquelas mulheres?
Recomendo vivamente a leitura deste livro! Forte, devastador, intenso mas carregado também de esperança. Um livro que me deixou presa às suas páginas, às suas palavras, aos seus ensinamentos.
Terminado em 27 de Maio de 2017
Estrelas: 6*
Sinopse
Cabul, 2007. Com um pai toxicodependente e sem um único irmão, Rahima e as
irmãs só podem frequentar a escola esporadicamente e mal lhes é
permitido sair de casa.
A Rahima, resta a esperança proporcionada pela bacha posh, uma prática antiga através da qual as raparigas podem ser tratadas como rapazes, e adotar o seu comportamento, até terem idade para casar. Como filho, ela pode ir à escola, ao mercado e sair à rua para
acompanhar as irmãs mais velhas. Rahima não é a primeira da família a
seguir esta prática pouco comum. Shekiba, sua trisavó, já o fizera um
século antes para tentar salvar-se.
Os destinos das duas cruzam-se numa história, ao mesmo tempo, bela e triste que nos fala da condição feminina num ambiente hostil.
O que acontecerá a Rahima quando tiver idade para se casar? Como
sobreviverá? E Shekiba, terá ela conseguido construir uma vida nova e
mais digna? A Pérola que Partiu a Concha é a história de duas mulheres que lutam para sobreviver no Afeganistão.
Para saber mais sobre este livro, consulte o site da Editorial Presença aqui.
Cris
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