
Cresceu, assim, noutro país e apreendeu uma nova língua com outros significados culturais e, mais do que isso, outros costumes. Na escola era uma das melhores alunas. Inteligente, a leitura dava-lhe um prazer imenso, tanto mais que muitos divertimentos estavam-lhe interditos... O choque cultural, naturalmente, não se fez esperar. Esmagar o que aprendeu, esconder os seus desejos para obedecer ao que a família esperava dela não seria fácil. De todo. Como se apaga o nosso "eu"?
Escrito na primeira pessoa, este relado é de tal forma íntimo, revelador dos sentimentos vividos por essa menina/mulher marroquina, que alguns aspectos deixam de ter importância. Por exemplo, agora que cheguei ao fim desta leitura e que escrevo estas páginas, dou-me conta que não fixei o nome da personagem principal. Tão pouco me lembro de o ter visto escrito. E, no entanto, ela está tão bem caracterizada que, de imediato, ficamos cativos das suas palavras, do seu sentir. Que importa, portanto, o seu nome? Ele traduz, de forma inequívoca, o rosto de tantas meninas/mulheres que crescem e assimilam os costumes de um país mas que são condicionadas pelos costumes de seu país de origem.
Na contracapa está uma frase que, para mim, define espectacularmente este livro e com a qual concordo em absoluto: "um livro que fica connosco". Muito para lá do terminus da sua leitura, o leitor fica a pensar na situação que é retratada porque reflete uma realidade muito atual. Recomendo vivamente!
Terminado em 12 de Maio de 2017
Estrelas: 6*
Sinopse
Uma rapariga nascida em Marrocos e criada numa cidade interior da Catalunha aproxima-se da idade adulta. À rebeldia característica da juventude, ela terá de acrescentar um dilema: sair do seu mundo de emigrante ou permanecer nele. Um romance íntimo e honesto sobre a transição para a idade adulta, escrito em forma de monólogo interior, repleto de observações, histórias e memórias da terra natal da narradora, uma jovem viva e inteligente, apaixonada pela literatura e pela filosofia, completamente diferente do mundo iletrado e tradicional da mãe. Acessível, por vezes engraçado, mas sempre íntimo e repleto de observações e pensamentos pertinentes. Um livro que fica connosco.
Cris
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