"A Longa Viagem de Gracia Mendes" de Mariana Birnbaum é, na verdade, um relato sobre o trajeto épico e aventuroso de Gracia Mendes ou Gracia Nassi, (1510-1569), judia portuguesa e uma das mulheres mais ricas da sua época, que viria a chefiar uma das principais casas comerciais da Europa.
A narrativa é muito variada e estende-se desde o século XIII ao século XVII e tem como cenários vários países: Portugal, Espanha, Amsterdão, Veneza, Ferrara e Istambul.
Envolve judeus, a inquisição e as perseguições antissemitas em Lisboa, daí os problemas e complicações que a família de Gracia e ela própria sendo mulher e judia teve que enfrentar e ultrapassar.
Era muito difícil esconder a sua religião contudo, disfarçando sempre, os negócios desta família abastada eram levados sempre avante e incrementados dada a sua grande capacidade de intermediar e comercializar, conseguindo assim, apesar da perseguição, instalar-se com alguma segurança em número considerável de cidades europeias. Os governantes sabiam aproveitar-se, também, da sua condição de judeus porque, se por um lado eram sinal de prosperidade e comércio, por outro podiam tirar vantagem exigindo subornos em troca da sua segurança. Depois da morte do marido Gracia ficou à frente dos negócios em estreita relação com o cunhado tendo demonstrado uma grande capacidade de gestão a ponto deste quando morreu lhe ter legado grande parte da sua fortuna, ficando ela responsável pela viúva e sua irmã. Surgiram então os ciúmes que levaram à denúncia às autoridades da verdadeira religião de Gracia e deram início a perseguição inclusive aos depósitos de dinheiro, obrigando-a a fazer a sua última viagem até Istambul.
É uma obra muito interessante e empolgante que envolve anos de sofrimento e de luta, chantagens, perseguições que se prolongaram até ao rapto da filha de Gracia e ao seu casamento forçado com um nobre. Realça sobretudo a força da mulher judia que consegue vencer e ultrapassar as diferenças de sexo e religião, impensável naquela época.
Gostei imenso deste livro que sendo grande não me cansou, muito pelo contrário.
Maria Fernanda Pinto
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